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Quer Jogar?
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E-book540 páginas6 horas

Quer Jogar?

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Sobre este e-book

Quer jogar? Tesouras não cortam só cabelo. Nesta distopia, diversas pessoas pagam um alto preço para assistir e ter a chance de entrar no honrado O Jogo, no qual há um grupo de pessoas e, ali, um assassino. Na Temporada 11, no entanto, algumas coisas dão errado, mudando o destino desse evento para sempre. Entre assassinatos brutais e disputas entre jogadores, a plateia faz apostas e observa-os com fogo nos olhos, mal podemos esperar para descobrir o que acontecerá a seguir. Dilva Camargo Artista Visual
IdiomaPortuguês
Data de lançamento13 de nov. de 2023
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    Quer Jogar? - Renatha Pessoa

    I

    OS ESCOLHIDOS

    Prazer em conhecê-lo

    Espero que adivinhe meu nome

    Mas o que te confunde

    É a natureza do meu jogo.

    The Rolling Stones

    (Sympathy For The Devil)

    Havia milhares de pessoas em uma sala branca onde não tinha nada além de paredes, teto e chão. Estavam todos de pé com uma prancheta, uma caneta e um papel com perguntas básicas sobre cada indivíduo (nome, etnia, data de nascimento e coisas do tipo). Aquelas eram as inscrições para o Jogo, que já estava na temporada 11. O Jogo é bem simples: algumas pessoas ficam em um lugar enquanto tentam sobreviver, desvendam quebra-cabeças e alguém sai com um milhão de dólares. Meio sem graça, não? Foi o que muitos pensaram antes de pesquisar mais sobre, mas tem um detalhe muito especial: toda temporada é diferente. Cada temporada tem uma surpresa. Na verdade, mais de uma surpresa. Quem não gosta de surpresas? De qualquer forma, o mais interessante é que cada temporada tem regras diferentes. Cada temporada tem mais inscrições. A cada temporada, há mais pessoas na grande sala branca onde Noah estava naquele momento.

    Ele anotou tudo que sabia sobre si mesmo e deu uma descrição completa: Noah Hirsch; 19 anos de idade; homem; branco; 1,83 metros de altura; 73 kg; olhos castanhos; cabelo castanho; aniversário dia 03/09. Entregou a folha para uma das pessoas que estavam ali apenas para recolher as inscrições e ficou pensando o que teria de diferente nessa temporada. Mesmo que não entrasse, poderia ficar assistindo. Era a primeira vez que se inscrevia; estava um pouco confuso. Havia perguntado para uma senhora como funcionava e ela disse que alguém iria explicar mais tarde. Noah não insistiu naquela conversa e continuou parado.

    Pensou que o tema seria futurístico por conta das roupas dos organizadores e por causa da estética do lugar que, mesmo sendo apenas uma sala branca, não era nada brega e, muito menos, barato. Poderiam ir para uma nave espacial que os levaria até Marte e deveriam tentar sobreviver por lá de alguma forma. Poderiam ir para outros planetas, claro, mas Marte parecia ser o mais interessante de todos para Noah. Não entendia muito sobre planetas.

    Alguém testou algum microfone. Noah olhou para os lados. Não tinha notado que havia um palco; mal conseguia ver quem estava em cima dele. Algumas pessoas começaram a aplaudir, outras não sabiam o que fazer. Noah tentou focar na imagem que estava no outro lado do salão testando o microfone; parecia ser um homem gordo.

    – Boa tarde, senhoras e senhores! – disse com o microfone funcionando perfeitamente. – Acho que seria coerente seguirmos para nosso pequeno ritual. Primeiramente, agradeço a todos vocês por terem vindo! Agradeço principalmente nossa plateia VIP, que nos ajuda a manter o Jogo em boas condições, com uma boa quantia em dinheiro, e nos apoia dando sugestões para podermos melhorar a cada temporada. Devo lembrá-los de que os que não forem escolhidos ficarão aqui, assistindo ao Jogo conosco. Há câmeras por todo canto para ajudar a plateia a escolher em quem apostar, então não se preocupem porque nunca estarão entediados! Nossas salas também foram feitas especialmente para dar conforto a todos. Não se preocupem com nenhum tipo de trabalho, estarão seguros conosco, apenas devem pagar uma taxa de entrada na qual creio que todos já pagaram.

    Ele fez uma pequena pausa e virou uma página, estava lendo um texto.

    – Temos algumas regras. A mais importante é que só pode sobrar um jogador. Os jogadores não podem sair, apenas quando ganharem. Não podem sair matando todo mundo igual aconteceu na temporada 4, apenas o assassino pode matar os outros até sobrarem apenas três ou quatro jogadores, isso o assassino decide. Nesta temporada, teremos exatamente sete jogadores, sendo um deles o assassino. Ninguém sabe quem é o assassino, apenas descobrem quando ele contar. A plateia ficará assistindo por meio de câmeras, como disse anteriormente. Há exatamente sete salas de teatro, decoradas minuciosamente por profissionais para parecerem uma sala de ópera com várias peças feitas de ouro e uma estética reconfortante, cada uma dedicada a um jogador. Vocês podem trocar de sala quando quiserem. Em cada uma, há poltronas, claro, mas também colocamos jogos de mesa de sinuca, por exemplo, banheiro, comida ilimitada e um lugar confortável para dormirem. Já os jogadores estarão em um lugar que não posso revelar, mas prometo que é muito diferente de todos os outros anos. Já tivemos uma mansão, um cruzeiro, um labirinto, uma casa abandonada e muitos outros cenários. Agora vamos começar a chamar os jogadores da temporada 11. Escutem com atenção.

    Pegou um envelope do bolso e retirou um pequeno pedaço de papel onde estavam os nomes. Ajeitou os óculos e começou a ler:

    – Grace Bohr, Anthony Grimaldi, Sarah Huntington, Ella Orman, Ava Windsor, Alessandra Findlay e Noah Hirsch, subam ao palco, por favor.

    Houve mais aplausos. Noah esperava que a cerimônia fosse mais demorada e elegante, mas parecia que queriam fazer aquilo tudo o mais rápido possível. Noah foi o primeiro a subir no palco, o que fez com que algumas pessoas já começassem a sussurrar comentários e teorias entre si. Ele chegou muito rápido, será que ele é o assassino? Noah não gostou muito dos comentários, principalmente porque ele só chegou antes dos outros porque saiu correndo, não porque estava perto.

    Depois, chegou uma garota acima do peso, com longos cabelos pretos e olhos claros, de batom vermelho que ressaltava os detalhes marcantes de seu rosto. Parecia estar muito feliz por estar ali. Usava uma boina vermelha, um vestido de seda marrom e botas. Estava sorrindo e fazendo sinais para a plateia, que os retribuía. Após vários beijinhos serem jogados no ar, Noah olhou para seu lado, onde estava uma bela garota, muito mais bonita do que a outra. Seu cabelo era curto e castanho-escuro, seus olhos eram cor de mel. Usava um casaco preto que ia até seus joelhos, um cachecol vermelho, calças jeans, mocassins em couro escovado e uma blusa preta. Ela não parecia ser tão extrovertida quanto a primeira; ficava olhando para a plateia e não fazia nada, apenas ficava parada esperando as outras pessoas virem. Noah não conseguia tirar os olhos dela, que nem sequer notou sua admiração.

    Outra garota chegou. Ela tinha o cabelo longo e rosa, olhos azuis-escuros. Usava um vestido longo em lamê, com gola alta, sem mangas, tinha cor dourada e um efeito pregueado. Usava um colar que formava um v duplo e tinha vários diamantes com lapidação baguete forrando a treliça, tendo também um segundo torque de diamantes de lapidação brilhante no colo com uma simetria perfeita. De qualquer forma, o detalhe que mais chamava atenção era a tsavorita verde, de 65,26 quilates, extremamente rara e removível. Usava tantos anéis de prata que não vale a pena descrever cada um deles. Não tinha como ver seus sapatos porque o vestido era longo. Ela tinha a idade de Noah, talvez fosse até um pouco mais nova. Seu rosto longo, com descendência italiana, esbanjava autoconfiança, principalmente por causa do nariz romano que ficava sempre empinado. Era uma das únicas garotas que Noah tinha visto que realmente merecia ter tal atitude porque, querendo ou não, era belíssima. Na sua opinião, a garota de cabelo castanho era mais bonita, mas muitos discordariam sem pensar duas vezes.

    Logo atrás dela, veio uma loira com cabelo longo e extremamente bagunçado, com delineado forte e, no mínimo, com 1,70 m de altura, não seria exagero falar 1,80 m. Tinha olhos verde-claros, uma blusa preta com uma foto do Angus Young fazendo as devil horns¹, calças jeans, botas pretas e vários anéis de prata.

    Ela deve ser a assassina!, pensou Noah, que imediatamente tirou seus olhos da garota bonita. Não, não pode ser, não iriam colocar alguém tão óbvio! Mas não duvido que ela possa tentar matar alguém mais cedo ou mais tarde. Se ela realmente não for a assassina, vai conseguir acabar com qualquer um que sobrar. Então decidiu olhar para a plateia e desviar o foco.

    Um garoto subiu no palco e ele tinha óculos redondos e olhos castanho-claros, igual ao seu cabelo. Usava uma roupa simples – suéter, calças jeans e tênis brancos – e parecia estar mais determinado do que qualquer outra pessoa. Havia uma garota ao seu lado usando um vestido de veludo cor-de-rosa que ia até seus joelhos, tinha mangas longas e um corte v. Usava uma corrente, brincos em ouro branco, 18 quilates. Sem anéis. Seu cabelo era longo, passava um pouco dos seus ombros, era loira natural e tinha olhos castanhos. Usava batom nude.

    O homem fez um gesto para que os jogadores ficassem em linha reta, então falou os nomes enquanto apontava para cada um: Alessandra tinha a boina vermelha, a bonita aos olhos de Noah era Ella, a outra loira era Grace, a loira natural era Ava, o outro garoto era Anthony, a garota com cabelo rosa era Sarah e Noah era Noah. A plateia aplaudiu mais uma vez e o homem voltou a falar no microfone.

    – Escolham em quem irão apostar e logo serão levados para as salas. Podem conversar entre si e, claro, daremos um tempo para fazerem suas decisões. Os jogadores serão lembrados de sua reputação com frequência durante o Jogo, ou seja, nós vamos falar o que a plateia está achando deles. Porém pensamos em fazer uma coisinha diferente. A equipe decidiu deixar as surpresas para mais tarde! Enfim, agora é hora deles irem para onde devem ir. Boa sorte para todos os sete jogadores!

    Ele sorriu, o bigode grisalho cobria um pouco o sorriso. Algumas pessoas da equipe subiram no palco, injetaram alguma coisa neles para que desmaiassem e os levaram para o lugar. Simples assim.

    ...

    Eles acordaram meia hora depois. Todos acordaram no mesmo momento. Estavam em um quarto com uma suíte e uma cama de casal, também tinha um armário, um tapete, uma cômoda e uma janela. Sobre a cômoda, tinha apenas uma caixinha de música, algumas joias jogadas de qualquer jeito e um relógio que marcava exatamente 18:32. O quarto claramente fora organizado por alguém antes que eles entrassem, mas havia algumas roupas jogadas no chão e outros objetos fora de ordem.

    Anthony foi o primeiro a ter alguma reação: um sorriso malicioso surgiu no seu rosto logo que percebeu onde estava. Grace olhou para ele sem expressar nada, não confiava naquele cara. Não confiava em ninguém. Não confiava nem na garota de cabelo rosa que estava no outro lado do quarto.

    – O que nós fazemos agora? – perguntou Noah.

    – Já assisti ao Jogo algumas vezes, sei exatamente o que devemos fazer. – Anthony olhava para os lados como um maníaco, procurando pistas em todo lugar possível. – Primeiramente, devemos nos apresentar uns para os outros, não?

    – Sabemos nossos nomes, isso é mais do que o suficiente – comentou Grace, arrumando seu cabelo com a mão.

    – Ah, qual é?! Não seria mais divertido se a gente ficasse fazendo mil e uma perguntas inúteis apenas para julgarmos uns aos outros e formarmos grupinhos falsos nos quais ninguém realmente confia um no outro? É assim que funciona! Começamos a discutir nossas personalidades, depois discutimos sobre quem deveria lavar a louça e depois alguém leva uma facada e é eliminado do jogo para sempre.

    Ele riu de si mesmo e olhou para o chão ao notar os olhares tortos dos outros. Levantou-se e começou a andar de um lado para outro.

    – Tudo bem, eu começo. Mesmo que não queiram ouvir, tenho certeza de que meus torcedores querem saber um pouco mais sobre mim. Bem, tenho 21 anos de idade e pretendo me tornar cientista, mas gosto de jogar RPG com meus amigos nas horas vagas. Amo astronomia e meu planeta favorito é Saturno. Amo pinturas do período da Renascença e...

    – A gente tem que sair daqui logo, é isso que eles querem! Vamos procurar pistas! – interrompeu Alessandra.

    – Você nunca assistiu ao Jogo antes, dá para ver. Ou será que está se fazendo de sonsa para fingir ser a boazinha inocente que nunca faria nada? Acho que eles vão dar algum tipo de recado antes de sairmos daqui.

    Anthony apontou para um canto, tinha uma câmera ali, todos ficaram em choque pelo fato de ele saber onde ela estava.

    – Eles darão um recado logo, então vamos nos entreter.

    Grace revirou os olhos, não estava com paciência para aquilo.

    – Eu concordo com ela, acho que devemos tentar sair daqui e explorar o lugar. Não sabemos onde estamos, acho que isso deveria ser o mínimo, então vamos ir procurando alguma carta ou sei lá o quê. Cada um explora um canto do quarto, depois ficamos na cama e falamos sobre o que achamos. Se tiverem um recado, iremos escutá-lo, mas vamos ser úteis enquanto esperamos – disse Sarah.

    – E o tal recado pode estar escondido aqui no quarto – adicionou Noah.

    Anthony parou na frente do armário, respirou fundo e fez um movimento com os ombros indicando que não se importava.

    – Tudo bem, cada um explora uma parte do quarto, isso com certeza vai dar certo! – disse ironicamente.

    Os outros pareceram estar satisfeitos de qualquer forma. Assim combinado, cada um decidiu explorar um canto. Não deu muito certo. Em poucos minutos, tudo estava uma bagunça e mal sabiam para onde ir. Anthony foi o único que conseguiu fazer algo consideravelmente útil. Abriu o armário e olhou o que tinha dentro: diversos perfumes caros, um pequeno espelho, livros e caixas recheadas de acessórios. Todos olharam em sua direção quando retirou o espelho de dentro do armário.

    Noah fingiu estar indiferente com a descoberta e voltou a investigar as gavetas (tarefa que havia dado a si mesmo já que mais ninguém estava fazendo isso). Achou várias coisas jogadas, pareciam ter sido deixadas por alguém que usava o quarto com certa frequência. Entre elas, tinha folhas com senhas, um grampeador, alguns colares e balas de menta. Sarah olhou em alguns cantos, mas o máximo que encontrou foram pares de sapatos escondidos em um canto. Alessandra não sabia para onde ir, então ficou olhando em lugares aleatórios e não encontrou nada. Grace procurou no banheiro e encontrou sabonete líquido, escovas de dente e só. Além disso, tinha uma banheira e um vaso sanitário. Não havia mais nenhum produto em nenhum lugar, nada que fosse interessante. Não havia nenhuma mensagem suspeita no espelho, não tinha nenhum sinal de assassinato, não havia nada de estranho.

    – Eu achei alguns números! – gritou Noah quando notou que foi o único que encontrou alguma coisa. – Temos algumas senhas agora! Temos seis senhas: 3234, 5098, 6794, 6222, 9065, 7011.

    – Agora essa merda virou um joguinho de quebra-cabeça? A gente vai ter que procurar os códigos para abrir algumas portas e achar a saída? Ah, me poupe! Guarde isso no seu bolso, talvez a gente use isso no futuro – disse Anthony em tom de liderança.

    Talvez – murmurou Grace para si mesma, indignada com a audácia do garoto.

    Noah fez o que Anthony mandou e ficou parado, já tinha visto todas as gavetas. Anthony notou e se sentiu obrigado a fazer um comentário:

    – Viu? Ninguém encontrou nada útil! Só estamos andando em círculos sem saber por onde começar! Eu ainda acredito que devemos ficar parados e que o plano é dormirmos aqui.

    – Você é um incompetente se realmente acha que a melhor opção é ficar parado esperando e tentar dormir! – disse Grace, ainda no banheiro.

    – O pior é que talvez ele esteja certo – admitiu Alessandra. – Não tem nenhum cofre no armário?

    – Não – respondeu o garoto, olhando para Grace.

    Alessandra se sentou na beira da cama e olhou para Anthony, que segurava o espelho enquanto verificava se não tinha comida nos dentes.

    – Já viu os frascos de perfume? E as maquiagens? – perguntou Grace.

    – Não, mas não parecem ter nada. Eu já disse: não tem nada para fazer agora. Eles não dariam o jogo de graça para nós! Eles deixaram os jogadores em um banheiro na temporada 5, lembram? Talvez seja isso. Esse pode ser nosso Jogo.

    – Para de reclamar e olhe os frascos logo! – disse Grace.

    – Não precisa ficar irritadinha, só estou falando.

    Anthony passou as mãos em tudo, não tinha como abrir. Alessandra ficou decepcionada, Anthony ficou orgulhoso de si mesmo. Grace finalmente saiu do banheiro e se sentou ao lado de Noah.

    – E agora? Querem me ouvir e tentar seguir o modelo de sempre? Vocês já deveriam saber a ordem dos eventos na maioria das temporadas: no início, ficamos nos questionando, apontando uns para os outros e tentando resolver tudo de uma vez, mas nessa fase tudo ainda parece ser uma brincadeira... até alguém aparecer morto. Todos entram em pânico, as perguntas se tornam mais frequentes, é aí que todos querem saber cada detalhe sobre os outros, assim se sentem mais seguros com a ilusão de grupos seguros, o que pode levar até a lutas mortais entre dois grupos, algo que facilita muito a vida do assassino. Vocês sabem em quantas temporadas foi o assassino que ganhou? Exatamente! Todas! Isso acontece porque ele manipula os jogadores, forçando-os a seguir essa maldita ordem que pode levar a diversos caminhos; todos planejados! Eu não vou ser manipulada – comentou Ava, que estava quieta até então.

    – Talvez não seja manipulada porque é a própria assassina – comentou Sarah. – Como sabe de tanta coisa?

    – Eu sou a única que assistiu às outras temporadas?

    – Eu assisti à última – admitiu Alessandra.

    – Sou novato – comentou Noah. – Vim aqui porque meus pais falaram que é muito legal ficar assistindo. No final, acabei sendo escolhido.

    – Eu assisti algumas temporadas, sei do que Ava está falando – comentou Ella. – Pensando bem, os jogadores sempre seguem esse raciocínio e só pensam em seus oponentes depois da primeira morte. Seria inteligente quebrar esse ciclo ao invés de seguir o roteiro.

    Todos se entreolharam, sem saber o que fazer. Todos olharam para Anthony depois de um breve momento; ele apenas se sentou no chão e fez um gesto para que fizessem o mesmo. Ficaram sentados em círculo, Noah e Grace ficaram na cama, mesmo assim estavam incluídos no círculo.

    – Eu já me apresentei, mas, se quiserem, posso continuar – disse Anthony, quebrando o silêncio.

    – Eu começo – disse Grace. – Tenho 19 anos, toco guitarra em uma banda chamada Ossos Crucificados e amo Black Sabbath.

    – E como a senhorita chegou aqui?

    – Chegando.

    Anthony sorriu, os outros ficaram quietos. Grace estava um pouco incomodada com as atitudes dele, com certeza se achava o melhor de todos e achava que ganharia usando a boa e velha manipulação.

    – Eu descobri o Jogo por meio do meu pai – disse Sarah.

    – Eu também. Meu plano não era jogar, queria apenas acompanhar minha melhor amiga, que sempre vem com alguns outros amigos – disse Ava.

    – E quem é essa melhor amiga? – perguntou Anthony.

    – O nome dela é Laura, tenho certeza de que você não a conhece.

    – Realmente não conheço, mas poderia.

    – E isso te ajudaria? – perguntou Sarah, também irritada com a atitude de Anthony. – Agora me dê um motivo para confiar em você, Anthony.

    – Eu sou inteligente, bonito e charmoso – respondeu imediatamente. – Precisa de mais algum motivo?

    – Sim, eu preciso. Talvez realmente seja inteligente, já que decorou cada passo dos últimos jogadores, mas bonito e charmoso? Ah! Só pode ser piada! Ainda acho que você sabe demais sobre o Jogo por outros motivos, mas quem sou eu para ter alguma conclusão agora?

    Grace olhou para ela com certa admiração, agora Anthony tinha perdido a paciência completamente. Respirou fundo e tentou recuperar a calma para continuar a conversa.

    – Seu nome é Alessandra, né?

    – Sarah. Eu sou a Sarah.

    – Ah, sim! Sarah! Você...

    – Não vamos brigar – interrompeu Alessandra. – Não sei o que você queria falar e nunca vou saber, mas não vou deixar vocês ficarem assim. Estamos aqui para falar sobre nós mesmos, não para ficarmos irritados por motivos idiotas e começarmos brigas idiotas. Se quiserem brigar, esperem até conhecer todo mundo direitinho, senão vão se irritar com cada um dos jogadores.

    Silêncio. Ava decidiu falar antes que Alessandra continuasse:

    – Sinceramente, não sou uma pessoa muito interessante. Estou estudando moda e quero me tornar estilista, eu mesma fiz a maioria das minhas roupas! Eu já pintei meu cabelo de diversas cores, já viajei para vários países e fiz muitas coisas legais. Uma vez eu fui ao Egito e consegui entrar em uma pirâmide!

    Grace e Sarah não esperavam nada de diferente vindo dela, Alessandra foi a única que pareceu estar interessada na vida de Ava.

    – Eu já fui para Paris, é uma cidade linda – disse Alessandra.

    – Eu concordo, mas prefiro Roma – respondeu Ava.

    – Ricos conversando é uma coisa muito engraçada – disse Grace. – Por que eles demoram tanto para dar o maldito recado? Anthony, você sabe alguma coisa sobre isso?

    – Não estão demorando, vocês que são muito apressados! Recém chegamos e a conversa está agradável, aproveitem!

    – Não é muito agradável conversar com pessoas sabendo que uma delas quer te matar – disse Ava.

    – Não posso discordar, mas vocês se inscreveram e estão aqui porque querem. Mesmo se quisessem apenas assistir, sabiam que tinham chances de entrar. Aliás, vocês notaram que só temos adolescentes aqui dentro? Acho que sou o mais velho entre nós! Também tem mais meninas.

    – Anthony, você é o assassino? – interrompeu Noah.

    – Não! Por que diria isso?

    – Sei lá, acho que você tem jeito de assassino.

    – Jeito?

    – Você realmente acha que colocariam uma menina como assassina? Já aconteceu antes, mas sei lá, eu sinto que, nessa temporada, deveríamos ter um assassino e não uma assassina. Seria estranho se fosse o contrário. Imagina uma menina matando dois homens! Só se fosse com veneno!

    – Na última temporada, a assassina era uma mulher – comentou Grace. – Ela venceu e matou vários homens, acho que eram cinco. Ela também matou todas as mulheres.

    – Então eles eram uns fracotes; eu e o Anthony não somos tão fracos!

    – Cala a boca – disse Anthony.

    – Ficou bravo porque fui sincero? Não tente fingir ser bonzinho, sei que pensa da mesma forma. Além disso, todos nós somos brancos, pelo menos isso é justo! Se tivéssemos um xing xong, ele começaria a lutar karatê e todos morreriam em dois segundos! Mesmo assim, colocam homens e mulheres uns contra os outros, sabendo quem é o mais forte. Tivemos algumas mulheres espertas no passado, mas você realmente vai deixar uma mimada, uma magrela com cabelo rosa, uma gordinha baixinha, a menina mais básica que já vi na vida ou uma loira alta te matar? Eles só botam mulheres porque todo mundo acha sexy ver mulheres fortes, com personalidade, nesse tipo de situação, mas acredito que mulheres venceram nas últimas temporadas por fraude. Os assassinos são treinados por alguns meses antes do Jogo começar, isso explica minha teoria.

    Sarah semicerrou os olhos, mas não falou nada.

    – Isso é ridículo – disse Ella. – Se as assassinas foram uma fraude, por que os assassinos não seriam? Talvez tudo isso seja uma maldita fraude e nós somos apenas marionetes para que tudo dê certo para o assassino ou para a assassina.

    Noah não queria brigar com ela. Para ele, Ella era apenas mais uma gostosa que queria comer. Talvez fosse a garota mais linda que viu na vida, mas não tinha paciência para algum relacionamento. Não ficaria discutindo com um monte de gente que provavelmente viraria presunto em pouco tempo.

    – Com o que vocês trabalham? – perguntou Anthony, mudando de assunto.

    – Eu entrei na faculdade de Artes – respondeu Alessandra.

    – Eu trabalho em uma loja de roupas – respondeu Grace.

    – Eu sou uma legista, mais ou menos – respondeu Sarah.

    Todos olharam para ela, que já esperava essa reação.

    – Meu pai é legista e me ensinou essas coisas desde sempre, então eu sempre trabalhei com ele desde pequena. Nunca fiz nenhuma faculdade de verdade, mas faço isso desde uns dez anos de idade.

    – Então a mini Sarah gostava de abrir cadáveres? – perguntou Grace sem esperar alguma resposta.

    – Mini Sarah amava abrir cadáveres, a Sarah de hoje também, mas não acho que teria tanta graça ficar abrindo gente viva. É mais fácil identificar as doenças dos mortos. Também dá para descobrir vários segredos sobre eles, principalmente quando são casos criminais. Já quando se abre um humano vivo, deve ser meio chato. Não vejo graça em cortar as tripas de alguém por pura diversão, só fica legal quando se tem motivo.

    – Acho que um bom prêmio seria um ótimo motivo.

    As duas se entreolharam, Sarah deu de ombros.

    – Se acham que sou a assassina... achem o que quiserem, porque vamos ficar no achismo por um bom tempo. Ser legista é o mesmo que ser médica, o contrário de assassina.

    – É um bom ponto – disse Ava. – Eu não estou trabalhando em nada no momento, nem estudando.

    Mimada de merda, pensou Grace para si mesma. O pensamento ficou visível em seu rosto, mas ela não falou uma palavra sequer. Mal podia esperar para que Ava morresse, ficava irritada só de ouvir sua voz.

    – Você não disse que estava envolvida com moda? – perguntou Anthony, erguendo uma sobrancelha.

    – Sim, mas não é nada profissional. Eu sempre gostei de costurar e considero isso um hobby. Quero que vire minha profissão, claro, e já falo como se fosse, mas ainda não é.

    Um alarme ensurdecedor tocou. Ele foi breve, porém notável.

    – Olá, jogadores! – disse uma voz, a voz do homem que estava no palco há poucos minutos. – Vimos que vocês estão conversando e se dando bem, mesmo assim, é necessário continuar, não é mesmo? Não se preocupem, não vou ficar dando um sermão a cada cinco minutos; essa é a primeira e última vez que irei falar com vocês por um bom tempo. Vocês estão prestes a descobrir onde estão e o que devem fazer; ou não! Talvez fiquem empacados, sem saber o que fazer! Vocês terão todo o tempo do mundo para jogar, a nossa temporada mais longa durou quatro meses e a menor durou uma semana. Tudo depende de vocês. Toda ação terá uma reação, toda escolha mudará alguma coisa. Será que algum jogador qualquer poderá ganhar dessa vez? Ou será que o assassino ganhará novamente? Repito: tudo depende de vocês. Daremos tudo que precisarem, menos segurança. Vocês estão no Jogo. Estão sendo assistidos por aproximadamente quatrocentas mil pessoas, muito mais do que isso, fazendo com que cada sala tenha aproximadamente cinquenta mil torcedores. O jogador que tem a maior torcida no momento é Anthony Grimaldi, que tem 77.936. O que tem a menor torcida no momento é Noah Hirsch, que tem 36.540. Os outros querem que eu revele sua posição no placar?

    – Sim! – gritaram ao mesmo tempo.

    – Tudo bem. Em segundo lugar está Grace Bohr, com sua torcida de 74.063 torcedores; em terceiro lugar está Ella Orman, com sua torcida de 64.328 torcedores; em quarto lugar está Sarah Huntington, com sua torcida de 63.611 torcedores; em quinto lugar está Alessandra Findlay, com sua torcida de 43.809 torcedores; em sexto lugar está Ava Windsor, com sua torcida de 47.420 torcedores.

    Ava se sentiu extremamente ofendida, estava boquiaberta e com a testa franzida. Anthony estava com o nariz empinado, se sentindo dono do mundo. A raiva de Grace aumentou ainda mais ao ver que Anthony tinha mais torcedores. Ella ficou indiferente e apenas deu um suspiro. Sarah ficou orgulhosa de si mesma por ter tantas pessoas ao seu lado; não esperava aquilo. Alessandra ficou um pouco decepcionada e fez beicinho.

    – Caso o Jogo esteja consideravelmente calmo, posso avisar vocês sobre a mudança de torcedores, algo geralmente frequente. Tirando isso, vocês apenas vão poder falar conosco quando forem fazer suas confissões, isso será explicado melhor mais tarde. Durante a noite, não há nenhuma câmera ligada; isso acontece das dez e meia da noite até oito horas da manhã. Nesse período, o assassino ataca, mas ele não pode atacar em nenhum outro horário. É proibido. Caso faça isso, será eliminado e morto por um dos nossos profissionais. Hoje pensamos em fazer uma festinha para vocês, apenas para comemorar a primeira noite. O que acham? Deixaremos as câmeras ligadas por meia hora, depois vocês ficarão livres.

    – Sim! – repetiram.

    – Perfeito! Ah, eu me expressei um pouco mal! As câmeras não são desligadas, mas não são mostradas para as torcidas. E não se preocupem, elas nunca serão transmitidas e apenas as temos para gravar os assassinatos, nós só os mostramos no final da temporada. Podem fazer o que quiserem e não precisam ter medo de terem sua privacidade invadida.

    Teve um momento de silêncio, Noah olhou para Ella e ficou imaginando como usaria todas as cantadas que conhecia durante a festa.

    – A chave está embaixo do travesseiro – disse o homem.

    Grace pegou o travesseiro e o jogou no chão, a chave realmente estava ali. Todos ficaram indignados. Como conseguimos ser tão burros?, pensou Anthony. Grace foi até a porta lentamente, colocou a chave, destrancou e abriu. Tudo que viu foi um pequeno corredor que dava na porta do banheiro. Olhou para a direita, era uma sala de estar conectada com a cozinha. Tudo era muito moderno e bonito, assim como o quarto – as paredes eram brancas, o sofá era preto e grande, não tinha televisão e tudo parecia ser muito confortável. Também tinha algumas plantas decorativas de plástico e um tapete no centro da sala.

    Tinha uma área de lazer com uma piscina e três espreguiçadeiras. Tinha uma mesa longa com salgados, doces e muita bebida alcoólica, também havia uma caixa de som com música eletrônica. Anthony ficou parado olhando para os lados, aquilo não parecia um cenário do Jogo. Ele já tinha visto pessoas ficarem num manicômio abandonado na segunda temporada, num cruzeiro na sétima e numa casa supostamente assombrada na primeira. Havia assistido à primeira quando era muito pequeno, mas se lembrava muito bem do estado do lugar. Era uma casa com vários efeitos práticos que faziam os jogadores enlouquecerem. A assassina, Maria Machado, era muito esperta. Ela colocava diversas armadilhas e matava suas vítimas de formas horrendas (enforcando em uma árvore; trancando no porão para os ratos comerem; envenenando sanduíches...), mas a morte favorita – e mais marcante – para Anthony e muitos outros foi a dos ratos. A vítima ficou lá por semanas, mas os outros jogadores achavam que era alguma assombração e, quando tentaram entrar no porão, não encontraram a chave. Maria a havia queimado na lareira. Também não tinha como arrombar porque ela conseguira lacrar a portinha perfeitamente.

    Nora fora uma jogadora muito importante. Resolveu vários detalhes da maioria dos assassinatos e foi a primeira a suspeitar de Maria. Foi a última a morrer, sendo torturada até não aguentar mais. Seus dedos foram arrancados, assim como seus dentes. Seus olhos foram furados, seus pés não tocavam no chão porque estava amarrada, seu corpo foi encontrado com diversos hematomas e cuspia sangue durante seus últimos minutos de vida. Foi um grande espetáculo.

    Ao lado da cozinha, tinha uma porta que, com certeza, devia ser a porta da frente. O Jogo geralmente não tinha nenhuma porta, só na fase final quando o último sobrevivente saía.

    – Puta merda – sussurrou Anthony. – Eles... não... não!

    – O que foi? – perguntou Noah de boca cheia, comendo vários enroladinhos de salsicha ao mesmo tempo.

    – A porta! Eles só colocam a porta quando o último sobrevivente sai! Eles, eles querem, eles...

    – Calma – disse Ava, se aproximando –, acalma seu coração. É só uma porta.

    – Vocês não entenderam! Tem mais coisa.

    – Um corredor com outros apartamentos?

    – Acho que seria bom a gente tentar arrombar essa maldita porta logo; acho que deve ter alguma coisa – continuou Anthony, ignorando o comentário. – Talvez sejam mais jogadores!

    – A gente vê isso amanhã, agora vamos comer enroladinho de salsicha! – disse Noah, voltando para a mesa.

    Anthony ficou encarando a porta por mais um tempo, então se juntou aos outros. Era uma das piores festas da sua vida e ninguém parecia estar muito animado (exceto Noah, que estava vidrado nos salgados). Alessandra estava sentada no sofá olhando para o nada, pelo menos tinha alguém mais entediado do que ele.

    – E, então, Sarah – disse Grace, se aproximando com um copo de plástico vazio na mão que há pouco tempo estava cheio de cerveja. – Quem você pretende matar primeiro?

    Ela sorriu e se apoiou no vidro que impedia que elas caíssem do prédio.

    – Não tenho certeza, mas estava pensando em matar a Ava, o problema é que ela provavelmente vai morrer em meia hora por estar perto de alguém pobre – apontou para Grace.

    – Eu também pensei em matar ela, acho que é uma boa opção. Ela não tem um pingo de personalidade!

    – Exato! Talvez ela seja a assassina, acho meio estranho essa atitude dela. Sinceramente, estou suspeitando de todo mundo e não tenho uma opinião definida. Você também é muito suspeita.

    – Eu?

    – Você.

    – Por quê? Só porque eu sou bonita?

    – Bonita e louca, as duas coisas geralmente andam de mãos dadas.

    – Já começou a ser estratégica?

    Grace suspirou e moveu lentamente a cabeça.

    – Hoje não, amanhã talvez. Essa festa está uma merda, principalmente por causa desse microfone que colaram no meu peito com fita crepe.

    – Fita crepe! Além de psicopatas, são mão de vaca!

    – O microfone fica indo de um lado para o outro! – Parou por um segundo para refletir. – Já parou para pensar que umas cem mil pessoas estão assistindo essa conversa nesse exato momento? Nós estamos em uma tela gigante, em um lugar maior que um estádio de futebol, sendo assistidas por pessoas que

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