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Tecituras das Cidades - História, Memória, Arquivos e Museus
Tecituras das Cidades - História, Memória, Arquivos e Museus
Tecituras das Cidades - História, Memória, Arquivos e Museus
E-book581 páginas6 horas

Tecituras das Cidades - História, Memória, Arquivos e Museus

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Sobre este e-book

"Tecituras das Cidades: História, Memória, Arquivos e Museus" é resultado das pesquisas científicas de estudiosos que se dedicam a analisar questões pertinentes aos estudos das cidades e às inúmeras possibilidades de abordagem que envolvem o cotidiano urbano. Nessa obra a preocupação se volta para os arquivos e museus em suas mais variadas formas de abordagem: são olhares teóricos e sínteses sobre a memória e a história de instituições ligadas à conservação de documentos e à formação e preservação do patrimônio histórico. Em um país tão carente de políticas públicas de conservação e cuidado com a sua história, no qual surgem casos lamentáveis como o ocorrido com o Museu Nacional do Rio de Janeiro em 2018, é fundamental revelarmos e analisarmos o trabalho dos envolvidos na quase heroica e nem sempre cumprida tarefa de construir e manter essa parte tão essencial da identidade brasileira.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento27 de nov. de 2023
ISBN9786586723816
Tecituras das Cidades - História, Memória, Arquivos e Museus

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    Pré-visualização do livro

    Tecituras das Cidades - História, Memória, Arquivos e Museus - Yvone Dias Avelino

    Yvone Dias Avelino

    Edgar da Silva Gomes

    Arlete Assumpção Monteiro

    (Organizadores)

    Tecituras das Cidades

    História, Memória, Arquivos e Museus

    São Paulo

    e-Manuscrito

    ²⁰²³

    Dedicamos o livro Tecituras das Cidades: História, Memória, Arquivos e Museus à mestra e amiga Ana Maria de Almeida Camargo, referência na arquivologia brasileira.

    (in memoriam)

    SUMÁRIO

    Apresentação

    Museu de Rua PUC/SP – Projeto e Processo, criando e recriando a História (1946-1984)

    Yvone Dias Avelino; Jorge Cláudio Noel Ribeiro Junior

    Arquivo da Cúria Metropolitana de São Paulo: Jair Mongelli, 38 anos de histórias e memórias...

    Edgar da Silva Gomes

    A cana-de-açúcar, engenhos, acervos e museus na costa mediterrânea da Península Ibérica

    Arlete Assumpção Monteiro

    Archivos de la Iglesia en Chile: mantenimiento y conservación de documentos

    María José Navasal Castillo; Marcial Sánchez Gaete

    O CEDIC e seus acervos: documentação, memória e direitos humanos

    Heloisa de Faria Cruz

    Memória, arquivo e museus: acervos públicos e privados das escrituras dos e/imigrantes

    Maria Izilda Santos de Matos

    O contradito sociodromotópico universidade e museu como instâncias de tensão macroestrutural

    Eugênio Trivinho

    A questão fronteiriça Brasil-Venezuela na política externa do Império: história e documentos (1859-1900)

    Luciara Silveira de Aragão e Frota

    O Museu do Assentado, a Nova Museologia e a Museologia Social

    Marília Xavier Cury; >Leonardo Giovane Moreira Gonçalves

    A exposição Artes Indígenas e a ação educativa na Mostra do Redescobrimento

    Marília Xavier Cury; Denyse Emerich

    A interpretação de um acervo

    Marcos Horácio Gomes Dias

    Papel da militância na constituição do patrimônio cultural do MST

    Rose Elke Debiasi

    Tiro de meta: o futebol de mulheres e o Museu do Futebol

    Zuleika Stefânia Sabino Roque; Enny Vieira Moraes

    Museo Nacional del Aire y el Espacio de Estados Unidos

    Germán Adolfo Medina Pérez; Luz Estela Carrero Flores

    Cinema, memória cinematográfica e as cinematecas mundiais

    Mauro Luiz Peron

    O Ipiranga e suas tantas margens: sobre um exercício de contrabalancear narrativas visuais em museus e arquivos

    Luciana Pasqualucci; Carlos Lima Junior

    Museus, imersão, interatividade e inovação

    Ettore Quaranta; Lucas Olles

    APRESENTAÇÃO

    Estamos disponibilizando mais uma obra coletiva produzida por pesquisadores do Núcleo de Estudos de História Social das Cidades (NEHSC) da PUC-SP e seus convidados, pesquisadores de renomadas instituições de ensino e pesquisa nacionais e estrangeiras. A temática que fará parte da coleção Tecituras das Cidades: História e Memória desta vez são instituições arquivísticas e museológicas, resultando assim na edição: Tecituras das Cidades: História, Memória, Arquivos e Museus. Este livro é fruto das pesquisas científicas de estudiosos que se preocupam em analisar questões pertinentes aos estudos das cidades e as inúmeras possibilidades de abordagem que envolvem o cotidiano urbano.

    Nesta obra, nossa preocupação de pesquisa se volta para os arquivos e museus em suas mais variadas formas de abordagem: são olhares teóricos e sínteses sobre a memória e a história das mais diversas instituições ligadas à conservação de documentos e à formação e preservação do patrimônio histórico.

    Em um país tão carente de políticas públicas de conservação e cuidado com a sua história, no qual surgem casos lamentáveis como o ocorrido com o Museu Nacional do Rio de Janeiro em 2018, é fundamental revelarmos e analisarmos o trabalho de todos os envolvidos na quase heroica e nem sempre cumprida tarefa de construir e manter essa parte tão essencial da identidade brasileira.

    O Núcleo de Estudos de História Social das Cidades (NEHSC), vinculado ao Programa de Estudos Pós-graduados em História e ao Departamento de Graduação em História da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, em seu percurso de mais de 30 anos de existência, vem se dedicando aos estudos das Cidades e tudo o que as envolve. Inicialmente, esse núcleo de estudos focou suas atenções em discussões pontuais e transitou entre as mais diversas e relevantes temáticas que entrelaçam história e memória e seus respectivos recortes culturais. A temática Cidade sempre foi objeto dos seus integrantes, cujos interesses, como vimos, foram se ampliando e se diversificando com olhares para seus sujeitos, seus espaços, suas instituições e linguagens.

    O núcleo atua ainda na disseminação do conhecimento através de palestras e encontros organizados de forma institucional ou interinstitucional, ou ainda com a participação de seus membros em congressos, simpósios e encontros nacionais e internacionais. O NEHSC, na figura de sua fundadora, a Profa. Dra. Yvone Dias Avelino, tem também muito orgulho da rede de colaboradores que iniciaram suas trajetórias acadêmicas como pesquisadores, professores ou alunos na PUC-SP e hoje carregam seu nome para outras instituições, como, por exemplo, a célula de pesquisadores na Universidade Federal de Uberlândia e ainda o NEHSC de Fortaleza, do Piauí, do Amazonas e do Pará.

    São Paulo, 2023.

    Yvone Dias Avelino

    Edgar da Silva Gomes

    Eduardo Guilherme Piacsek

    Ficha1Ficha2

    Museu de Rua PUC/SP – Projeto e Processo, criando e recriando a História (1946-1984)

    Yvone Dias Avelino¹

    Jorge Cláudio Noel Ribeiro Junior²

    Primórdios

    Estabelecer uma conexão com a nossa memória propiciou-nos o resgate de uma experiência inédita, o Museu de Rua, e entusiasmante, pois nos reaproximou de pessoas que participaram intensamente dessa trajetória, e que hoje suscitam imensas saudades. Foi um tempo de aprendizado e de fortalecimento de perenes laços de amizade e colaboração.

    Em 1979, constituiu-se um grupo de pesquisa que se reuniu semanalmente ao longo de vários meses para confeccionar um museu de rua. Planejou-se dispô-lo na calçada da Rua Monte Alegre, diante do campus da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), e em outros locais. Através das imagens e textos expostos, pretendia-se que alunos, funcionários, professores e transeuntes conhecessem a trajetória dessa instituição e suas relações com a História do Brasil.

    Montar um museu a céu aberto, a princípio, pareceu algo inovador na área museológica de então. Entretanto, pouco antes, em 1978, fora inaugurada nas ruas do Centro da cidade de São Paulo uma exposição com painéis fotográficos de imagens urbanas dos finais do século XIX. Essa exposição pioneira se serviu da pesquisa no acervo do Departamento do Patrimônio Histórico da Prefeitura Municipal de São Paulo (DPH).

    Inicialmente esse primeiro projeto estava previsto para ser apresentado em três pontos do Centro da capital. Mas a excelente acolhida popular determinou que a exposição se espraiasse por outros bairros da capital e por várias cidades paulistas. Ao todo, realizaram-se 80 mostras. Esse projeto se propunha a viabilizar à população uma leitura das transformações por que passou a cidade de São Paulo, desde a sua origem até então.

    O projeto inaugural do Museu de Rua foi desenvolvido por Júlio Abe Wakahara, arquiteto, museólogo e fotógrafo, no âmbito do Museu Histórico da Imagem Fotográfica da cidade de São Paulo. O ponto de partida foi o acervo de fotografias de Militão Augusto de Azevedo e Aurélio Becherini produzidas entre 1887 e 1954, e sobre as quais foram editados álbuns comparativos. Eles apresentavam uma feição progressista da cidade de São Paulo, submetida a acelerada alteração de seu espaço físico.

    01ok2

    Jornal Porandubas, São Paulo, ago. 1979.³

    Inspirado no projeto e na metodologia implementados na cidade, no início de 1979 o grupo da PUC-SP decidiu fazer algo semelhante, destinado ao universo acadêmico daquela instituição e imbuído do clima democrático ali reinante. Um reduzido grupo de professores, funcionários e estudantes apresentou a ideia à reitora, Profª Nadir Kfouri, que lhe deu apoio entusiasmado. Com a assessoria de Júlio Abe Wakahara e equipe, nasciam o projeto e o processo do Museu de Rua da PUC-SP.

    Historiografia

    Em nível historiográfico, estabeleceu-se um diálogo com Ingrid H. Ambrogi, Ralf Castanheira Flores e Elaine Jardim. Eles definiam um Museu de Rua como

    [...] espaço de produção e democratização do conhecimento produzido, a partir das interações sociais e na relação com o espaço urbano, tendo em vista ter sido esta uma experiência de exposição de acervo fotográfico sobre a cidade e na cidade nas ruas do centro da capital paulista. (AMBROGI et al., 2020)

    Também serviram de guia os estudos da História Cultural, então recém-inaugurada e liderada por Jacques Le Goff (1992) e por Pierre Nora (1984), integrantes da terceira geração de intelectuais da Escola dos Annales.

    Definindo-se como um filósofo que elegeu a História como foco de sua reflexão, Pierre Nora realizou trabalhos sobre identidade e memória. Em seu livro referencial Os lugares da Memória, ele inventariou os objetos sobre os quais repousa a memória nacional francesa. A obra se divide em três volumes, resultantes de seminários do autor na École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS), de Paris. Nora (1984, p. 19) propõe que

    [...] os lugares da memória sejam entendidos da forma mais completa da expressão, desde a mais material e concreta como os monumentos aos mortos e os Arquivos Nacionais, à mais abstrata e intelectualmente construída, como a noção de linhagem de geração, ou ainda de região e de homem de memória.

    A partir de Nora, entendemos que um museu é um lugar de memória, independentemente de seu porte. Segundo esse autor, o crescimento industrial inseriu o mundo inteiro na dinâmica da mundialização, da massificação e da midiatização. Demoliram-se, assim, as instituições e ideologias que conservavam e transmitiam valores e que garantiam a passagem regular do passado até o presente. Ao mesmo tempo, essas instituições e ideologias selecionavam elementos do passado a serem conservados e, depois, usados na preparação do futuro, mediante reação, progresso ou revolução.

    Considerava-se que a memória se distanciaria cada vez mais da História. Memória é aqui relacionada à vivência dos sujeitos. A memória não é a História, pois esta é uma operação puramente intelectual, uma análise concebida no interior de um campo epistemológico que confere alto grau de sacralização do passado.

    Nessa perspectiva, tanto os monumentos públicos como os museus assumiram as funções de autorrepresentação nacional e de ampliação de seu significado simbólico. No plano imaginário, a soberania do rei foi transferida para uma nova entidade coletiva: a nação. No campo jurídico e emocional, a nação assumiu conotações ideológicas precisas. Tornou-se necessário criar uma memória para a nação, construir-lhe um passado capaz de ser assumido como legado comum a todos os seus membros, aglutinar tradições e escrever sua História enquanto biografia nacional.

    Ainda com Pierre Nora (1984), em lugares de memória, uma sociedade, grupo, nação, família, etnia ou partido registra deliberadamente suas lembranças ou então as reencontra como parte essencial da sua identidade. Nora elenca vários tipos de lugares: os, que são os arquivos, bibliotecas e museus; os monumentais, que são os cemitérios, altares da pátria e conjuntos arquitetônicos; os simbólicos, que são as comemorações, festas, peregrinações, centenários e emblemas; os funcionais, que são os manuais, autobiografias e associações. Ocorre aqui uma gradação de etapas: começa com o costume vivido no inconsciente social, passa por aquilo que foi depositado nos arquivos e chega à tradição de vida registrada no consciente histórico. Portanto, o que caracteriza um lugar de memória é ele ter sido investido de uma aura simbólica, ou seja, já ter sido objeto de rituais.

    A razão fundamental para um lugar de memória existir é: parar o tempo; bloquear o esquecimento; fixar um estado de coisas; imortalizar a morte; materializar o instante para fechar o máximo de sentido com um mínimo de signos. Fica claro que – eis o que os torna apaixonantes – os lugares de memória vivem de sua adaptabilidade à metamorfose, assimilam um incessante ressaltar de significados e o surgimento dos atalhos imprevisíveis em suas ramificações. (NORA, 1984, p. 12) Daí que um grande desafio para o historiador é construir uma reflexão acerca da memória e da História. Nora aprofunda a diferença entre esses dois conceitos:

    Memória e História longe de serem sinônimos... tudo opõe uma à outra. A memória é a vida, sempre carregada por grupos vivos, e nesse sentido ela está em permanente evolução, aberta à dialética da lembrança e do esquecimento, inconsciente de suas deformações sucessivas, vulnerável a todos os usos e manipulações, susceptível de longas latências e de repentinas revitalizações. A História é a reconstrução sempre problemática e incompleta do que não existe mais. A memória é um fenômeno sempre atual, um elo vivido no eterno presente, a História é uma representação do passado. (NORA, 1984, p. 16)

    Por aí se percebe a relevância de exposições como o Museu de Rua, pois são espaços que reúnem memória, lembranças, História, pesquisa e análise.

    Painéis na calçada

    O Museu de Rua PUC-SP – Projeto e Processo foi inaugurado em 22 de agosto de 1979, no 33º aniversário da instituição, permanecendo ativo nos seis anos seguintes. Constituiu-se numa aula ao ar livre sobre essa universidade e circulou constantemente por seus principais campi. Compunha-se de 30 painéis fotográficos montados sobre displays de dupla face, com dois metros de altura por um metro de largura. Em anos seguintes, a exposição ganhou mais alguns painéis, para atualizá-la.

    A mostra nasceu num contexto que abrangeu dois níveis. O primeiro nível, nacional, foi a resistência a uma ditadura já nos estertores, uma frente democrática integrada por ilustres figuras, entre elas o arcebispo Dom Paulo Evaristo Arns, campeão dos direitos humanos na sociedade paulistana e brasileira e, desde 1971, Grão-chanceler da PUC-SP.

    O segundo nível, local, foi a ação da reitora Nadir Kfouri e dos vice-reitores Casemiro dos Reis Filho (acadêmico), Edênio dos Reis Valle (comunitário) e Armando Caropreso (administrativo). Esse grupo liderou a etapa definitiva na construção de uma universidade capaz de antecipar utopicamente a democracia brasileira e de lançar pontes até o povo das periferias. Nadir Kfouri foi a segunda mulher a ser reitora (1977-1980) na história das universidades brasileiras; para seu segundo mandato (1980-1984), foi a primeira reitora a ser eleita pela comunidade universitária.

    Na área acadêmica, a proposta democrática da Reitoria se materializou na pesquisa e na docência críticas, no acolhimento a uma dezena de professores perseguidos pelo regime militar, na recepção a encontros da intelligentsia nacional, de lideranças estudantis e de vários segmentos sociais. Na frente comunitária, destacou-se a atuação do Instituto de Estudos Especiais, a dinamização do teatro Tuca – celebrado templo da resistência democrática – e a Assessoria de Imprensa e Comunicação (AIC) que editava o jornal quinzenal Porandubas⁴, vocalizando as inquietações e avanços da comunidade universitária.

    Desse efervescente caldo de cultura, brotou afinal o Museu de Rua da PUC-SP, que contou com a colaboração de múltiplas mãos. A pesquisa histórica e as entrevistas de História Oral ficaram a cargo de equipe da Pós-Graduação em História liderada pelas professoras Yvone Dias Avelino e Luciara Silveira de Aragão e Frota. O texto final, diagramação e montagem dos painéis foram coordenados por Jorge Claudio Ribeiro e Roberto Coelho Barreiro Filho, da AIC, respectivamente, editor e secretário do Porandubas. O planejamento visual e o formato definitivo dos painéis couberam ao arquiteto Júlio Abe Wakahara e a seu colaborador Milton Susumu Nakamura. Cada painel do Museu de Rua PUC-SP – Projeto e Processo se compunha de textos explicativos, fotos históricas e ilustrações atraentes.

    A exposição foi dividida em três momentos, abordando os acontecimentos e tendências que construíram a história de uma universidade enraizada na cidade de São Paulo, na História brasileira e reconhecida internacionalmente. O Museu de Rua da PUC-SP logo foi assimilado pela comunidade universitária e pelo público geral, que nele se viu refletido como ante o espelho de sua face mais progressista. Entretanto, a aceitação desse progressismo não foi unânime, pois, em setembro de 1983, sete painéis foram depredados. Talvez essa agressão prenunciasse o incêndio que destruiria o Tuca, um ano depois.

    O reparo de pequenos danos decorrentes do uso cotidiano e transporte ocasional era prontamente providenciado pelo pessoal da Assessoria de Imprensa e Comunicação. Entretanto, a incúria da gestão seguinte à da Profª Nadir produziu dano definitivo ao PUC-SP – Projeto e Processo. Após a troca da equipe da AIC, alguns painéis foram submetidos a uso inadequado e o conjunto dispersou-se e se deteriorou em depósito impróprio. Por fim, os painéis acabaram num contêiner de resíduos na rua Ministro de Godoy.

    Mas que conteúdos eram exibidos no Museu de Rua da PUC-SP? Eles foram divididos em três momentos históricos.

    Primeiro momento: contexto nacional, trajetória da universidade

    Esse momento apresentava a concepção inicial da instituição, as unidades que a constituíram e as tendências culturais das décadas 1940-50. Em 1946, ano de sua fundação, a PUC-SP orientava-se por um catolicismo sensível à necessidade de composições políticas, sociais e ideológicas. A identidade nacional se apoiava no nacional-trabalhismo – um populismo pressionado pela crise do pós-guerra, que exigia criatividade na resposta aos impasses e às demandas da democracia.

    A Igreja Católica atuava como interlocutora no nascente espaço político. Esse contexto estimulou a criação de universidades em metrópoles como o Rio de Janeiro, Porto Alegre, São Paulo e outras cidades da América Latina. Essas instituições pretendiam formar lideranças católicas capazes de intervir na sociedade civil e nas instituições de Estado. Para tanto, pretendia-se instilar princípios filosóficos católicos e competências nas lideranças laicas e, assim, participar da composição do poder, oferecendo alternativas mais modernas do que as formas tradicionais de influência do catolicismo.

    A identidade da nascente Universidade Católica se pautou por um projeto filosófico-educacional, pela organização institucional e pela composição social de professores, alunos e funcionários. Mantendo seu caráter confessional, essa instituição pretendia criar formas específicas de inserção no cenário político nacional.

    Essa Universidade surgiu da ampliação dos horizontes de uma Ação Católica que até então se movia nos limites do neotomismo. Naquele período, vivia-se enorme efervescência cultural, tanto no Brasil como no mundo. Ao final da Segunda Guerra, em vários países, eram amplamente buscados novos caminhos. O Brasil apressou a derrocada do Estado Novo e incentivou debates sobre novas tendências de redemocratização da sociedade.

    A Igreja se inseriu nesses novos caminhos através do pensamento democrata-cristão. Inspirado pelo espírito democrático dominante, o cardeal Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta, de São Paulo, empenhou-se na implantação da Universidade Católica na cidade – em consonância com o que fizera o cardeal Dom Jaime de Barros Câmara no Rio de Janeiro.

    Em 1946 foi fundada a Faculdade Paulista de Direito, cujos estatutos foram redigidos na parceria de Dom Paulo Pedrosa, abade do Mosteiro de São Bento, e dos docentes André Franco Montoro e Pedro Galvão de Souza. Pouco depois, em 1950, a Universidade se transferiu para a Rua Monte Alegre, num prédio doado pela Ordem das Irmãs Carmelitas. Esse patrimônio de 18 mil m2 era valorizado por uma capela decorada com azulejos pintados por Pedro Nava retratando episódios da vida de Santa Tereza de Ávila, fundadora das carmelitas e primeira Doutora da Igreja.

    A Universidade Católica de São Paulo inaugurou no Brasil um sistema que assimilava unidades preexistentes, como a incorporada Faculdade Livre de São Bento e a agregada Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Sedes Sapientiae, das cônegas de Santo Agostinho. As unidades agregadas eram vinculadas academicamente à Universidade, embora administrativamente autônomas. A Universidade Católica passou a ser mantida pela Fundação São Paulo e, posteriormente, recebeu de Roma o título de Pontifícia, o que lhe conferiu respaldo internacional em nível político e religioso.

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    Jornal Porandubas, São Paulo, ago. 1980.

    Em 1970, em decorrência da Reforma Universitária, a Faculdade Sedes Sapientiae agregou-se definitivamente à PUC-SP, levando seus cursos e doando, por 90 anos, os prédios na Rua Marquês de Paranaguá; doou também sua biblioteca, que correspondia a mais de 80% do acervo da Biblioteca Central (hoje denominada Profa Dra Nadir Kfouri). Agregaram-se ainda: a Faculdade de Engenharia Industrial (FEI), a Escola de Administração e Economia Coração de Jesus, a Faculdade de Medicina de Sorocaba e a Escola de Jornalismo Cásper Líbero.

    Segundo momento: ditadura e resistência

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    Jornal Porandubas, São Paulo, ago. 1980.

    O segundo momento do Museu de Rua abrangeu os anos 1960, marcados por ebulição na PUC-SP e no ambiente político-cultural brasileiro. Ouviam-se ainda os ecos do desenvolvimentismo do presidente Juscelino Kubitschek e da rápida passagem de Jânio Quadros pela Presidência da República e do vice João Goulart, deposto pelo movimento civil-militar, que logo se revelou uma ditadura (1964-85). No cenário nacional, em 1968 essa ditadura promulgou a Lei nº 5.540 (convênios MEC-USAID), um divisor de águas na política educacional brasileira.

    O símbolo dessa movimentação foi a imposição de uma Reforma Universitária. Na PUC-SP, que assimilou a reforma a seu modo, abriu-se espaço para maior unidade administrativa e uma significativa expansão. (BARREIRO FILHO, 1999) Quantitativamente, a Universidade ampliou seus cursos; qualitativamente, incorporou o crescimento do corpo docente, criou um projeto educacional e aumentou o próprio patrimônio.

    No nível eclesial, dois eventos cruciais determinaram novos rumos. O primeiro evento foi o Concílio Vaticano II (1962-65), realizado em Roma. O segundo evento foi o seminário Missão da Universidade Católica na América Latina, de 1967, ocorrido na cidade colombiana de Buga, por iniciativa da Comissão Episcopal para América Latina (Celam). O documento final desse seminário definiu orientações para as atividades acadêmicas e firmou um compromisso político das instituições superiores católicas com a solução dos problemas sociais. Inspirada por esses eventos e pelas conclusões que emanaram, a PUC-SP elaborou uma proposta curricular ampla e humanista. Essa tarefa ficou a cargo de uma comissão composta pelos professores Casemiro dos Reis Filho (Educação), Joel Martins (Psicologia) e pelo funcionário José Nagamine (Assessoria Técnica de Planejamento).

    Assim, foi criado o Ciclo Básico, com duração de dois semestres, obrigatório para todos os cursos. Seu objetivo era propiciar uma formação crítica e humanista, promovendo o diálogo interdisciplinar para estudantes de diferentes cursos e áreas, através de conteúdos voltados para a realidade social latino-americana.

    A FEI, a Administração e Economia Coração de Jesus e a Cásper Libero não aderiram a esse projeto e se desligaram da mantenedora. Mediante acordo firmado em 31 de março de 1971, as unidades remanescentes constituíram Faculdades, articuladas em departamentos.

    Espaço privilegiado de ancoragem da identidade da PUC-SP foi o Teatro da Universidade Católica (Tuca). Inaugurou-se em 11 de setembro de 1965, com a estreia da peça Morte e Vida Severina. Esse poema de João Cabral de Melo Neto, musicado por Chico Buarque e representado por estudantes de vários cursos da PUC-SP, resultou de intenso processo comunitário e de pesquisa acadêmica. Morte e Vida afirmou o valor da juventude universitária, afrontou aquela época de chumbo e trouxe uma luz de esperança à sociedade brasileira. O espetáculo contou com a direção de Silnei Siqueira, cenário de José Armando Ferrara e supervisão do escritor Roberto Freire. Fez enorme sucesso no Brasil, sendo também encenado no exterior, tendo conquistado o primeiro lugar no Festival Mundial do Teatro Universitário, em Nancy, França.

    Terceiro momento: reforma e democracia

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    Jornal Porandubas, São Paulo, ago. 1980.

    O terceiro momento do Museu de Rua enfocou a década de 1970, a resistência à ditadura e a afirmação da PUC-SP como espaço cultural democrático. Prosseguindo com a Reforma Universitária, apoiada nos documentos progressistas da Igreja Católica, foram implantados os cursos de pós-graduação e consolidada a relação entre ensino e pesquisa, dentro de um ambiente de autonomia.

    Sob a reitoria do Prof. Dr. Geraldo Ataliba Nogueira (1973-77), foram implementadas as carreiras docente e administrativa e realizada a reforma estatutária. Destaque para o papel representado pela vice-reitora administrativa, irmã Leda Maria Pereira Rodrigues, na organização da estrutura interna da Universidade. (AVELINO, 2020) Nesse período, a PUC-SP aprofundou a resistência democrática à ditadura militar. Foram fundadas as associações dos professores (Apropuc), em 1976, e dos funcionários, em 1978. Era respeitada a representação dos centros acadêmicos dos estudantes.

    Exemplo do espírito de resistência da Universidade foi a acolhida em julho de 1977, início da gestão Nadir Kfouri, da 29ª Reunião Anual da indômita Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, cuja realização o governo havia proibido nas instituições oficiais de ensino. Nessa mesma época, a PUC-SP acolheu docentes atingidos pelo AI-5 e organizou grandes eventos sobre questões inspiradas por Dom Paulo Evaristo Arns. Realizaram-se seminários sobre a opressão social, a cultura e a participação popular, a situação do índio e do menor abandonado, entre outros temas.

    As retaliações não demoraram. A primeira ocorreu em 22 de setembro de 1977, quando a PUC-SP foi invadida por forças policiais comandadas pelo coronel Erasmo Dias, então secretário estadual da Segurança Pública e mais tarde deputado estadual. Naquela noite, em que se celebrava a reconstrução da UNE em congresso secreto realizado horas antes nas dependências da Universidade, foram detidos mais de mil estudantes. A grave agressão à autonomia universitária recebeu imediata solidariedade e repúdio por parte da indignada sociedade brasileira e internacional.

    Outra retaliação ocorreu na mesma data de 22 de setembro, dessa vez no ano de 1984. Nesse dia foi ateado fogo ao teatro da Universidade, o Tuca. Esse ambiente foi qualificado como um templo da resistência democrática, sendo palco de espetáculos de artistas críticos ao regime militar, além de manifestações políticas. Após dois anos de empenho da comunidade universitária e da sociedade brasileira, o Tuca renasceu das cinzas, mais funcional do que antes.

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    Jornal Porandubas, São Paulo, ago. 1980.

    Essa odisseia de uma Universidade notória no cenário educacional do Brasil foi retratada em seu Museu de Rua e no jornal Porandubas. Resistindo à incúria e à destruição, essa memória mantém-se conservada em portal virtual.

    E agora?

    Sendo da natureza da memória afrontar teimosamente o olvido, apresentaram-se planos de recuperar e atualizar o Museu de Rua PUC-SP – Projeto e Processo, apoiados na convicção de que sempre haverá oportunidade para produções historiográficas desse tipo.

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    Jornal Porandubas, São Paulo, ago. 1980.¹⁰

    Muita luta foi empreendida na construção da PUC-SP. No entanto, as gerações, invariavelmente novas, que adentram os campi desconhecem essa luta, bem como as origens e os momentos significativos que marcaram a identidade progressista dessa Universidade.

    É forte e justa a sensação de que na vida tudo se acelera. O tempo parece tudo devorar, e a memória certamente será apagada sob novas memórias. Historiadores se defrontam com um campo perigoso e fascinante: a memória e a chance enorme de sua manipulação.

    A esse respeito, o historiador Leandro Karnal faz bem-humorada provocação: Na atual conjuntura, a única maneira de resgatar o passado é dar um Google. Se o sistema de busca identificar algo, ocorreu. Se nada aparecer, está findo o debate.

    Cabe aos vivos evitar que o passado seja sepultado e garantir que o debate permaneça no mundo real.

    REFERÊNCIAS

    AMBROGI, I. H. (et al.). Museu de Rua: o espaço urbano como espaço expositivo e a construção da memória coletiva. In: AVELINO, Y. D. Irmã Leda: uma historiadora construtora de ideias e devotada à juventude. e-book. São Paulo: Educ, 2020.

    AVELINO, Y. D. Irmã Leda: uma historiadora construtora de ideias e devotada à juventude. e-book. São Paulo: Educ, 2020.

    BARREIRO FILHO, R. C. Igreja, Estado e Universidade - Estudo de caso: PUC-SP, seus 50 anos (1946-1966). Tese (Doutorado em História), PUC-SP, São Paulo, 1999.

    LE GOFF, J. História e Memória. Campinas: Unicamp, 1992.

    NORA, P. Les lieux de mémoire. Paris: Gallinard, 1984.

    Internet

    JORGE CLAUDIO N. RIBEIRO. Incêndio TUCA (Parte 1/2). 14 set. 2010. Disponível em:

    JORGE CLAUDIO N. RIBEIRO. Incêndio TUCA Parte 2/2. 15 set. 2010. Disponível em:

    MUSEU DE RUA. Disponível em: https://www.museuderua.com.br.

    PUC-SP. Memória PUC: Jornal Porandubas. s/d. Disponível em: .

    TV PUC-SP. Não se cala a consciencia e um Povo! part-0. 18 set. 2007. Disponível em:

    TV PUC-SP. Não se cala a consciencia e um Povo! part-02. 18 set. 2007. Disponível em:

    TV PUC-SP. Não se cala a consciencia e um Povo! part-03. 18 set. 2007. Disponível em:


    1 Professora Titular do Departamento de História da PUC-SP, Coordenadora do Núcleo de Estudos de História Social da Cidade (NEHSC) da PUC-SP e Editora da Cordis - Revista Eletrônica de História Social da Cidade (www.pucsp.br/revistacordis).

    2 Professor Livre-Docente e Titular em Ciência da Religião da PUC-SP, onde lecionou por 45 anos. Jornalista, editor e escritor sênior.

    3 Cf.: PUC-SP. Memória PUC: Jornal Porandubas. Disponível em: .

    4 Cf.: PUC-SP. Memória PUC: Jornal Porandubas. s/d. Disponível em: .

    5 Cf.: PUC-SP. Memória PUC: Jornal Porandubas. s/d. Disponível em: .

    6 Cf.: PUC-SP. Memória PUC: Jornal Porandubas. s/d. Disponível em: .

    7 Cf.: PUC-SP. Memória PUC: Jornal Porandubas. s/d. Disponível em: .

    8 Documentários sobre a invasão e o incêndio estão disponíveis no YouTube. Cf.: JORGECLAUDIONRIBEIRO. Incêndio TUCA (Parte 1/2). 14 set. 2010. Disponível em: . TV PUC-SP. Não se cala a consciencia e um Povo! part-0. 18 set. 2007. Disponível em: .

    9 Cf.: PUC-SP. Memória PUC: Jornal Porandubas. s/d. Disponível em: .

    10 Cf.: PUC-SP. Memória PUC: Jornal Porandubas. s/d. Disponível em: .

    Arquivo da Cúria Metropolitana de São Paulo: Jair Mongelli, 38 anos de histórias e memórias...

    Edgar da Silva Gomes¹

    Um espectro está assombrando os muros da academia: o espectro da história oral. A comunidade intelectual italiana, sempre suspeitosa das novidades de fora – e ainda assim tão subserviente para descobertas estrangeiras -, se apressou a pôr de lado a história oral antes de procurar entendê-la e saber como usá-la. O método empregado foi o de imputar à história oral pretensões que esta não possuía, de modo a deixar a mente de todos à vontade para recusá-las. (PORTELLI, 1997, p. 25)

    Em uma versão mais curta, este artigo de Portelli, publicado no periódico Primo Maggio (PRIMO MILANO, 1979, p. 56-60), já dizia do pouco apreço e do preconceito com o novo dentro da academia de seus intelectuais encastelados seguros de si com os métodos clássicos de se produzir história. O texto crítico permaneceu válido em sua publicação estendida, aqui no Brasil, no ano de 1996. Ouso dizer que ainda encontramos alguma resistência por parte de historiadores consagrados em suas linhas de pesquisas mais tradicionais, prefiro não os citar para não causar melindres.

    Em 2010, na Casa de Cultura Japonesa (FFLCH-USP), no lançamento do número 7 da revista Oralidades, dossiê Corpo e Esporte, o professor Carlos Sebe, uma das maiores autoridades do país quando o método/tema de pesquisa é história oral, se minha memória não me trai neste momento, disse que, ao se fazer história oral, devemos transcrever o texto sem interferências, pois o texto é a fala em si, ele já está produzido para ser publicado.

    A história oral tem componentes incontroláveis que fascinam o historiador, pelo menos me fascina, a memória, o tempo, as representações, temos de lidar com os sistemas de representação de um grupo, de um povo ou de uma nação, de uma cultura. O tempo, segundo Lúcia Villas Bôas (2015, p. 246), é uma categoria organizadora do conhecimento e uma forma de controle do mundo social em que se vive, entendida aqui tanto no sentido do que ocorreu como no de conhecimento do ocorrido, de modo a restituí-lo de maneira inteligível, por meio de formas argumentativas, de acordo com o espaço de experiência e horizonte de expectativa de uma dada época.

    Segundo a mesma autora, nas relações entre memória e história houve um longo caminho a ser percorrido para que essa discussão se tornasse uma questão epistemológica central da disciplina histórica (VILLAS BÔAS, 2015, p. 246). Eu acrescentaria que a tradição do uso do documento escrito entre os historiadores, por um longo tempo, restringiu um pouco outras fontes de pesquisa distantes dessa tradição, mesmo depois da Escola dos Annales. "Ah! Mas que absurdo você está dizendo? Só se for para os que estão fora do círculo fechado da academia, que ainda lentamente aceita novidades"!

    Mas por que toda essa argumentação inicial? Para dizer que, neste texto, minha fonte, meu documento por excelência é a memória de um arquivista especial para minha trajetória de 23 anos pesquisando no Arquivo da Cúria Metropolitana de São Paulo, onde tive o privilégio de conviver e de presenciar algumas experiências da vida profissional do arquivista e historiador Jair Mongelli, que está há 38 anos trabalhando nesse arquivo, no qual exerceu várias funções, dos seus 60 anos de vida. Como poderemos ler neste documento histórico que começa a se delinear a seguir.

    Jair, boa noite! Estamos dando prosseguimento a mais um projeto do Núcleo de Estudos de História Social da Cidade, o NESHC, da PUC-SP, que é o livro Tecituras das Cidades: História, Memória, Arquivos e Museus. E minha escolha, foi escrever sobre o Arquivo da Cúria Metropolitana de São Paulo. Temos muitos trabalhos de pesquisadores reconhecidos que beberam dessa fonte, mas temos poucos textos discorrendo sobre a história desse importante arquivo. Não tenho aqui nenhuma pretensão de fazer a história do Arquivo da Cúria, porém gostaria de utilizar uma fonte viva que está há ³⁸ anos trabalhando com muita dedicação e afinco para que pesquisadores como eu consigam trazer para suas pesquisas o máximo de qualidade.

    Essa fonte é Jair Mongelli, que está para além do conhecimento técnico dos documentos, o Jair é bastante receptivo ao acolher alunos de graduação, dando uma ótima aula-recepção para nossos futuros pesquisadores, recebe com a mesma dedicação pesquisadores renomados e pessoas comuns que desejam realizar algum tipo de pesquisa. E ultimamente tem recebido também alunos de colégios nos anos finais do ensino médio para, com sua dedicação, apresentar um possível universo profissional para esse alunado em vias de se encaminhar pelas veredas de uma profissão. Vamos agora iniciar nossa incursão na construção de mais um importante texto-documento para a história oral.

    Jair Mongelli, como foi seu primeiro contato com o Arquivo da Cúria? Quem é o Jair profissional, que, formado em História, assume a difícil missão de ajudar a organizar o arquivo que estava se mudando para o Ipiranga?

    Primeiro eu gostaria de agradecer a oportunidade de estar transmitindo um pouco da minha história e poder também em paralelo tá falando da história do arquivo.

    A sua história se confunde com a história do arquivo, por isso você é minha fonte.

    É muito interessante que meu e-mail que antigamente era jairmongelli, aí eu tinha que ficar falando, Olha como se escreve Mongelli..., eu assumi jairdoarquivo, primeiro que é mais fácil de escrever, e como muita gente me chama de Jair do Arquivo, mesmo dentro da igreja...

    Como tudo começou? Eu estava no primeiro ano de faculdade, entrei em 84 na USP, e estava precisando trabalhar, e olha só que interessante – eu frequentava a paróquia Nossa Senhora da Lapa, e lá a gente ganhava ou comprava o jornal O São Paulo, e o jornal OSP, no primeiro número de dezembro de 84 deu uma notícia (vou falar olhando para você, eu acho melhor)², deu uma notícia que tinha sido inaugurado o novo arquivo, o arquivo metropolitano, em 30 de novembro de 1984. Isso me encantou muito porque, de certa forma, associou, naquele momento, duas coisas que eu amo, que é história e igreja, então foi muito interessante e eu pensei: Já que estão inaugurando o arquivo³, talvez precisem de mais pessoal. Tá, como eu tinha sido seminarista em 82, eu fiz um ano de seminário e foi ótimo... E olha, naquela época eu pensei: Talvez precisem de uma carta de apresentação. Então, eu fui conversar com o

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