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Relações interpessoais: Concepções e contextos  de intervenção e avaliação
Relações interpessoais: Concepções e contextos  de intervenção e avaliação
Relações interpessoais: Concepções e contextos  de intervenção e avaliação
E-book609 páginas7 horas

Relações interpessoais: Concepções e contextos de intervenção e avaliação

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Sobre este e-book

Falar de relações interpessoais é abordar um campo amplo de pesquisa, já que inúmeros processos psicológicos se entrelaçam para produzir comunicações e a percepção destas. Tal fato fez o tema ser abordado historicamente por diferentes abordagens teóricas na psicologia e áreas afins, visando desvelar aspectos específicos de cada um desses processos.


Longe de dar conta de tal complexidade, esta obra apresenta diferentes perspectivas e contextos em que as interações sociais ocorrem, buscando trazer atualizações que subsidiem a prática profissional no campo das relações interpessoais. Os autores são renomados pesquisadores em cada um dos aportes tratados e trazem o que há de melhor e atual em cada um dos temas.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento7 de dez. de 2023
ISBN9786553741256
Relações interpessoais: Concepções e contextos  de intervenção e avaliação

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    Pré-visualização do livro

    Relações interpessoais - Daniel Bartholomeu Psicólogo

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

    (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Relações interpessoais : concepções e contextos

    de intervenção e avaliação. -- São Paulo :

    Vetor, 2016.

    Vários organizadores.

    Bibliografia.

    1. Avaliação psicológica 2. Relações

    interpessoais.

    16-02522 CDD – 150.287

    Índices para catálogo sistemático:

    1. Relações interpessoais : Avaliação psicológica 150.287

    ISBN: 978-65-5374-125-6

    CEO - Diretor Executivo: Ricardo Mattos

    Gerente de Livros: Fábio Camilo

    Capa: Rodrigo Ferreira de Oliveira

    Projeto gráfico: Adriano O. dos Santos

    Revisão: Mônica de Deus Martins

    © 2016 – Vetor Editora Psico-Pedagógica Ltda.

    É proibida a reprodução total ou parcial desta publicação, por qualquer meio existente

    e para qualquer finalidade, sem autorização por escrito dos editores.

    Sumário

    Prefácio

    Seção 1 – Novas perspectivas na análise das relações interpessoais

    1. O modelo circumplexo: um exemplo de representação para dados interpessoais

    Breve histórico

    Aspectos psicométricos do modelo circumplexo

    Referências

    2. A tessitura do encontro: aportes teórico-metodológicos para a renovação criativa das relações humanas

    Proposição do problema

    Micropolítica das relações humanas

    Os dizeres da psicologia e da pedagogia

    Dispositivo grupal e renovação criativa das relações

    Considerações finais

    Referências

    3. Qualidades relacionais percepcionadas

    Qualidades relacionais percepcionadas

    Método

    Resultados

    Discussão

    Referências

    4. Psicólogo(a) do amor: um(a) profissional raro(a) e necessário(a)

    Clínico(a) do amor

    Psicólogo(a) da noite

    Agente de relacionamentos

    Psicólogo(a) forense do amor

    Professor de psicologia do amor

    Pesquisador(a) do amor

    Discussão

    Referências

    5. The dark side of love

    Introduction

    Definitions of passionate love

    The nature of love: a focus on Brazil

    Obstacles in romantic relationships

    A reconciliation: when do obstacles spark passion? When do they destroy a relationship?

    The end of the affair: introduction

    The emotional aftermath

    Casual and more serious relationships

    The neuroscience of breakups

    Dealing with loss

    In conclusion

    References

    6. Habilidades sociais: marco teórico-conceitual, instrumentos de avaliação, aplicabilidade e intervenção

    Definição e breve histórico

    Conceitualização

    Instrumentos de avaliação

    Aplicabilidade e diagnóstico

    Intervenção

    Considerações finais

    Referências

    Seção 2 – Relacionamento interpessoal no contexto educacional/esportivo

    7. Relação professor de Educação Física e alunos: teoria, investigação e intervenção

    Intervenção

    Objetivos da educação física e do desporto

    Relação do professor de EF e desporto com os alunos

    Formação e construção da identidade profissional

    Intervenção do professor

    Considerações finais

    Referências

    8. Relação treinador-atleta: teoria, investigação e intervenção

    Modelos de liderança no desporto

    Liderança carismática e transformacional

    Liderança transformacional no desporto

    Implicações para a intervenção

    Referências

    9. Relação instrutor de exercício físico e praticantes desportivos: teoria, investigação e intervenção

    O problema da adesão ao exercício físico e o fenômeno Intention-Behavior Gap

    A importância do líder do programa de exercício físico

    Relação instrutor-praticante de EF: promoção da prática desportiva e prevenção do abandono

    Implicações para a investigação e intervenção

    Referências

    Seção 3 – Relacionamento familiar e questões do desenvolvimento humano

    10. Explorando o conflito trabalho-família e suas interações com emoções e carreira

    Introdução

    Ciclo de vida e trajetória de carreira

    O conflito entre trabalho e família

    Práticas e políticas de qualidade de vida e equilíbrio trabalho-família

    Considerações finais

    Referências

    11. Conflito trabalho-família em profissionais de saúde: teoria, investigação e intervenção

    Teoria e modelos conceptuais

    Teorias e modelos do conflito trabalho-família

    Teoria dos sistemas ecológicos

    A teoria dos papéis

    A teoria dos limites e das fronteiras

    Teoria do Conflito

    Investigação e intervenção

    Implicações do conflito trabalho-família para a prática

    Conclusão

    Referências

    12. A família diante da morte do filho: repercussões nas relações familiares e estratégias de enfrentamento[17]

    Elaboração do luto

    Recordar para elaborar

    A morte inesperada dos filhos

    A morte e sua repercussão nos relacionamentos interpessoais

    O apoio oferecido pelos profissionais de saúde

    A espiritualidade como estratégia de enfrentamento

    Considerações finais

    Referências

    13. Cuidado paterno e relações familiares no enfrentamento da anorexia e bulimia[18]

    Aspectos da vinculação e apego entre pai e filha

    Traços de personalidade e estilo parental

    Aspectos psicopatológicos do pai

    A perspectiva do pai sobre o funcionamento familiar

    Participação do pai no tratamento

    Referências

    14. Relações interpessoais de cuidadores familiares de portadores de doenças crônico-degenerativas que evoluíram a óbito[19]

    Introdução

    Desenvolvimento

    Considerações finais

    Referências

    Seção 4 - Psicopatologia e relações interpessoais: delineamento de seus contornos

    15. Crescimento pós-traumático e relações interpessoais em mulheres acometidas por câncer de mama[20]

    Introdução

    Desenvolvimento

    Considerações finais

    Referências

    16. O que não mata, engorda?: relações interpessoais no campo da psicopatologia do comportamento alimentar em uma concepção transgeracional

    Introdução

    Referencial teórico

    Método

    Resultados e discussão

    Considerações finais

    Referências

    17. Escolha objetal amorosa e conjugalidade: reflexões psicanalíticas

    O desenvolvimento da libido e o processo de escolha amorosa

    Do narcisismo a outras formas de satisfação da libido

    Vínculos e mecanismos de identificação conjugais

    Considerações finais

    Referências

    18. Cobrança de resultados: leitura das frágeis relações interpessoais no esporte

    O foco da questão

    E as relações interpessoais nas atividades físicas: como se estabelecem?

    Formatações indevidas num mundo complexo

    O equilíbrio no momento caótico

    Pontuando atitudes

    Referências

    Sobre os autores

    Organizadores

    Conselho Editorial

    Autores

    Prefácio

    A organização desta obra é fruto dos esforços de pesquisadores que atuam sobre o tema das relações interpessoais em diferentes âmbitos e perspectivas, sendo, portanto, um desafio na medida em que implica uma articulação teórico-metodológica complexa que deve ser feita com delicadeza e esmero. A amplitude do tema e sua transversalidade impactam diretamente na multiplicidade de abordagens dos autores aqui elencados bem como dos contextos possíveis, uma vez que, ao se pensar em psicologia, o tema relacionamento humano é quase inevitável, pois tudo que tentamos chamar de psicológico constrói-se num processo de interação interpessoal, sendo o ser humano uma espécie sociável.

    Desse modo, seus organizadores e autores renomados e versados na pesquisa em relações sociais provêm de diferentes regiões do Brasil e da Europa visando catalisar aportes teóricos e pesquisas que forneçam ao leitor uma perspectiva ampla do tema e atualize de fato seus conhecimentos sobre o tema com o que tem sido produzido de mais recente. Considerando tal multiplicidade de contextos em que as relações humanas podem ocorrer, optou-se nesta obra por apresentar temas relacionados ao contexto familiar e educacional/esportivo, compreendendo estes como âmbitos que tendem a causar impacto direto, sobretudo, no início do processo de desenvolvimento humano, já que a família é o primeiro núcleo de contato social da criança, estendendo-se frequentemente para a escola e as atividades esportivas à medida que se desenvolvem.

    Com isso, a preocupação central desta obra foi apresentar teorias contemporâneas sobre o relacionamento interpessoal, indicando os modelos e aportes metodológicos para servir de base para a compreensão dos constructos psicológicos que subjazem ao tema, bem como de suas formas de avaliação e intervenção. A primeira parte desta obra apresenta tais perspectivas não só em âmbito nacional como internacional.

    A segunda parte trata de estudos sobre o relacionamento humano dentro do contexto educacional/esportivo, visando caracterizar a atualidade do conhecimento produzido nesses âmbitos e seu impacto para o desenvolvimento pessoal. A terceira parte da obra aborda estudos envolvendo as relações sociais no contexto familiar e suas implicações para o desenvolvimento humano, com capítulos que fazem a transição do relacionamento que produz condutas adaptadas às patológicas, introduzindo, assim, a seção final deste livro que apresenta dois capítulos levantando aspectos dos relacionamentos interpessoais em quadros psicopatológicos específicos. Assim, o livro tenta organizar temas ao redor de situações específicas em que os relacionamentos humanos estão implicados sob diferentes perspectivas teóricas como também incluindo diferentes aspectos do desenvolvimento humano normal e patológico, mas sem esgotar possibilidades nos temas, abrindo questões e indicando lacunas a serem abordadas em outras obras sobre o tema no que se refere ao direcionamento das pesquisas na área.

    Com os melhores desejos que esta obra seja um catalisador de novas investigações no campo das relações interpessoais, desejamos a todos boa leitura e ótimo proveito.

    Os organizadores

    Seção 1 – Novas perspectivas na análise das relações interpessoais

    1. O modelo circumplexo: um exemplo de representação para dados interpessoais

    Gleiber Couto

    Luc Vandenberghe

    José Maria Montiel

    Daniel Bartholomeu

    Breve histórico

    O clássico modelo grego da personalidade categorizou as pessoas em quatro tipos (fleumático, colérico, sanguíneo e melancólico). Todos pertenciam, de acordo com suas predisposições fisiológicas a uma dessas categorias. No início do século XX. Wilhelm Wund mostrou que essas quatro categorias escondiam duas dimensões dicotómicas. As pessoas mais fleumáticas são altas em extroversão e estáveis, os mais típicos coléricos também são altamente extrovertidos porem instáveis, os melancólicos são instáveis e introvertidos, enquanto os sanguíneos são extrovertidos e estáveis. Assim, não se trata mais de categorias fechadas, mas de duas dimensões graduais, cada uma com dois polos, que expressam diferenças quantitativas entre pessoas. Alguns anos mais tarde, Carl Gustav Jung apontou que pessoas extrovertidas desenvolvem sintomas neuróticos diferentes de pessoas introvertidas, quando são altamente instáveis. Finalmente, as pesquisas de Hans Jurgen Eysenck (1947) forneceram um embasamento científico para uma análise da personalidade como uma combinação dessas dimensões (extroversão-introversão e instabilidade emocional – estabilidade emocional).

    Outro modelo emergiu de observações diretas das interações entre os indivíduos e seu ambiente. Marston (1928) descreve quatro padrões de personalidade: dominância, indução, submissão e complacência. Porém, esses quatro tipos também são o resultado da combinação de duas dimensões quantitativas. De acordo com o autor, elas têm início na percepção que a pessoa tem de si mesma, como sendo capaz de controlar o ambiente social ou como sendo controlada por ele e da sua percepção do ambiente, como hostil ou amigável. As duas dimensões de Marston (controlar versus ser controlado e ambiente hostil versus amigável) parecem pressagiar as que Sullivan (1953) propôs como a base de sua teoria da personalidade, a saber: amor versus ódio (afiliação) e dominância versus submissão (poder). Essas duas dimensões se tornariam os eixos da bússola da personalidade de Leary (1957), que, baseando-se na teoria interpessoal de Sullivan, publicou o primeiro modelo circumplexo da personalidade.

    Em 1946, Cattel propôs um modelo da personalidade consistindo de 36 dimensões quantitativas chamado de Standard Reduced Personality Sphere. Alguns anos depois, em 1951, Freedman, Leary, Ossorio, e Coffey apresentaram um modelo circular contendo 16 tipos de interações denominado Interpersonal Purposes. As descrições nesse modelo agregavam variações crescentes de intensidade para as interações marcadas na medida em que a posição de um sujeito se desloca do centro do círculo para a periferia. Stern (1958) apresentou outro modelo circular de avaliação da personalidade contendo um conjunto amplo de atividades classificadas em termos bipolares como categorias de dependência versus independência; agressividade versus timidez; entre outras. Nesse caso, a posição de um sujeito era marcada conforme a declaração de suas preferências sobre cada atividade. Lorr e McNair (1963) desenvolveram o Interpersonal Behavior Circle, com 14 setores ordenados em Sociabilidade, Afeição, Cuidado, Consentimento, Deferência, Submissão, Degradação, Inibição, Desinteresse, Desconfiança, Hostilidade, Reconhecimento, Dominância e Exibição. Eles construíram um inventário composto por uma lista de termos que descrevem várias classes de comportamento interpessoal que são usados por clínicos para distinguir entre as pessoas dentro de grupos de pacientes e não pacientes. As correlações entre os itens do inventário e as cargas fatoriais na matriz demonstraram que quando plotadas sobre o primeiro de dois fatores revelavam uma ordem circular do agrupamento de itens. Rinn (1965) sugeriu, a partir de uma revisão da literatura, que os domínios de estudo sobre as emoções, interações interpessoais e atitudes poderiam todos ser conceituados em um modelo teórico derivado de estruturas circumplexas. Apontou que diferentes dicotomias que foram propostas para descrever o comportamento interpessoal podiam ser definidas como diferentes aspectos do circumplexo. Assim, dimensões básicas como dominância – submissão, controle – autonomia, extroversão – introversão podem ser tratadas como diferentes aspectos de uma estrutura circumplexa geral derivada do comportamento interpessoal.

    Mais recentemente, Donald Kiesler (1983) apresentou uma versão própria do circumplexo interpessoal. Esse Circulo Interpessoal é uma representação do universo das atitudes interpessoais que caracterizam a personalidade. Foi construído como uma taxonomia compreensiva do domínio bidimensional de personalidade baseado nos eixos poder e afiliação, integrando e expandindo a teoria interpessoal de Sullivan (1953) e a bussola de Leary (1957). O modelo contém 16 categorias que são rotuladas pelas letras de A a P e distribuídas ao redor da circunferência no sentido anti-horário. As 16 categorias interpessoais são Dominância (A), Competição (B), Desconfiança (C), Frieza Afetiva (D), Hostilidade (E), Isolamento (F), Inibição (G), Insegurança (H), Submissão (I), Deferência (J), Confiança (K), Calor Afetivo (L), Amigabilidade (M), Sociabilidade (N), Exibicionismo (O) e Segurança (P).

    Paralelamente a estes, outros estudos reportaram resultados sobre a aplicabilidade dessas concepções também para o comportamento social e emocional, por exemplo, Schaefer (1959; 1961) relatou como resultado de muitos estudos sobre comportamento socioemocional de mães com relação a seus filhos que dois fatores são responsáveis pela explicação da maior parte da variância nas matrizes de correlações que expressam as classes dessas interações. Quando a localização de cada variável é representada graficamente em um espaço bidimensional, suas posições se assemelham a um círculo. Ao longo dos anos seguintes, vários estudos relataram uma ordem circumplexa nos dados provenientes de estudos sobre desordem de personalidade (SOLDZ et al., 1993), afecções psiquiátricas (BLACKBURN; RENWICK, 1996), relações familiares (LIPPA, 1995) e psicoterapia (GURTMAN, 1996) e também comportamentos sociais (PINCUS; GURTMAN, 1998), entre outros. Esses achados ilustram a crescente proliferação de trabalhos encontrados na literatura especializada e juntos demonstram a força de aplicação dos conceitos propostos pelo modelo circumplexo e das ideias derivadas dele para vários domínios do comportamento interpessoal.

    Aspectos psicométricos do modelo circumplexo

    Esta seção do texto pretende apresentar, de forma simples e compreensiva, as propriedades psicométricas que devem ser consideradas ao se demonstrar a aplicabilidade do modelo circumplexo a um conjunto de dados. Desse modo, não será apresentado um aprofundamento técnico nas operações matemáticas e testes estatísticos subjacentes a tais propriedades. O objetivo é tornar compreensível ao leitor o modo como funciona o modelo a partir da explicitação de sua lógica interna e de como são realizadas certas demonstrações, e não ensinar como realizá-las. Ao leitor interessado nos detalhes, recomenda-se a leitura dos textos originais citados ao longo da exposição que são uma fonte razoável de conhecimento sobre o modelo.

    Em seguida são apresentadas as principais características do modelo circumplexo e discutidas as duas técnicas mais frequentemente usadas na literatura para demonstrar a imersão desta estrutura em um conjunto de dados. Também, são analisadas as principais críticas, bem como as propostas para solucioná-las. Ao final é apresentada uma aplicação relevante do modelo para a psicologia, especialmente para o estudo das interações interpessoais.

    Thurstone (1947) reconhece que o modelo mais difundido para representação de dados psicológicos é o agrupamento estrutural independente. As condições ideais para verificação desse modelo podem ser observadas quando, em um conjunto de dados, os itens ou escalas apresentam cargas fatoriais diferentes de zero em um e apenas um fator. Dessa forma, seriam encontrados, entre os itens ou escalas, aglomerados independentes revelando uma estrutura simples. Nem todos os conjuntos de dados de domínios psicológicos específicos apresentam condições para serem representados por meio de estruturas simples. Em alguns casos os dados revelam configurações de itens que demostram estruturas complexas. Dessa forma, a organização circumplexa dos dados se apresenta como um exemplo desse tipo de estrutura complexa (ACTON; REVELLE, 2004).

    O termo circumplexo foi uma expressão apresentada por Guttman (1954) para descrever uma estrutura de dados quando um conjunto de variáveis, que designam traços qualitativamente diferentes de um domínio específico, apresenta uma ordem sem início ou fim. Dessa forma, as diferenças entre essas variáveis podem ser reduzíveis a diferenças em duas dimensões ou planos e, quando representadas graficamente, mostram-se igualmente distribuídas ao longo da circunferência de um círculo de forma equidistante do centro. Tais características, que conferem uma ordem circular à distribuição, referem-se às implicações geométricas dedutíveis da matriz de correlações entre essas variáveis, na qual se ilustra que um grupo de correlações sistematicamente aumenta e outro diminui (GUTTMAN, 1954).

    Uma estrutura correlacional com essas características permite uma representação geométrica de variáveis qualitativamente diferentes numa sequência determinada por similaridade conceitual que se reflete por meio de variações na intensidade das correlações. Para verificar a presença de uma ordem circumplexa, é necessário que os elementos mostrem entre eles uma forma de transitividade ordenada, assim, se e , então . Quando duas dimensões ortogonais se cruzam, é possível que segundo uma das dimensões e que segundo a outra. Se a amplitude das correlações ao longo da matriz passa gradualmente de altas e positivas para altas e negativas, então a análise fatorial revela essa ordem circular das variáveis em um plano bidimensional.

    Fabricar, Visser e Browne (1997) apresentaram uma revisão dos artigos publicados entre os anos de 1974-1996 no PsycLIT da American Psychological Association que identificou 209 textos com referência ao termo circumplexo, mais especificamente dentro do domínio de personalidade e representações circumplexas da personalidade, além de psicologia social. Uma busca mais recente entre os anos de 1997 e 2014 na base de dados LILACS, apenas com o parâmetro Circumplexo Interpessoal retornou apenas um artigo em português enquanto os termos Cirumplex Interpersonal retornou um total de 154 referências. Em consequência, pode-se considerar que o modelo circumplexo tem recebido certa atenção no campo da psicologia. Uma observação apontada por Fabricar, Visser e Browne (1997) e confirmada pela busca mais recente é de que os métodos mais frequentemente utilizados nas pesquisas envolvendo o modelo circumplexo são a análise fatorial e o escalonamento multidimensional (Multidimensional Scaling – MDS).

    A análise fatorial (AF) é uma técnica estatística comumente usada para reduzir as propriedades espaciais definidas por um número de medidas (itens ou escalas) para um espaço consideravelmente menor de dimensões subjacentes. Nesse caso, o foco é dirigido sobre as dimensões que definem a redução, ou essencialmente, suas propriedades espaciais. Cada dimensão representa uma variável não observada (latente), mas que determina a distribuição das medidas em propriedades espaciais designadas de acordo com a correlação de uma com as outras. Assim, o objetivo dessa análise é determinar primeiro o número de dimensões a que se podem reduzir as propriedades espaciais de um conjunto de medidas, e em segundo lugar, permitir a atribuição de significado a cada dimensão. Dessa forma, as dimensões de um espaço podem ser classificadas de forma arbitrária. A análise realmente identifica uma configuração de pontos em um espaço menor, ou seja, um com menos dimensões que o número de medidas. De forma semelhante, o escalonamento multidimensional (MDS) produz uma matriz de classificação de similaridades entre todos os pares de objetos (variáveis ou medidas) de interesse. Um mapa perceptual das posições relativas para cada objeto no espaço bidimensional é construído. Ele permite identificar dimensões subjacentes inerentes às avaliações feitas pelos sujeitos quanto a estes objetos. Como na análise fatorial, a representação gráfica é examinada para determinar a extensão com que o padrão observado corresponde a um ordenamento circular dos objetos e se tal ordenamento é consistente com as predições de pesquisa. Essa abordagem tem as mesmas vantagens da análise fatorial. Primeiro, ela produz uma representação gráfica sobre os dados observados que pode ser prontamente comparada com a representação circumplexa hipotetizada. Segundo, é um procedimento estatístico amplamente disponível em vários programas e que são familiares para muitos pesquisadores em psicologia.

    Tradicionalmente, as conclusões sobre a adequação de um conjunto de dados se alicerçam em certas particularidades do modelo, que envolve um tipo de redução com características bastante peculiares das propriedades espaciais. Por exemplo, as medidas não se apresentam aglomeradas, pelo contrário, apresentam-se distribuídas de maneira não necessariamente uniforme, ao longo da circunferência de um círculo. Também, independentemente do número de medidas utilizado, a redução pode ser realizada utilizando-se apenas duas dimensões. Essa proposição não é uma exigência incondicional, pois quando as medidas apresentam-se de forma enviesada, como é o caso de muitas variáveis nesse tipo de modelo, que exige além de polaridade entre as variáveis, similaridade entre elas, a inserção de mais dimensões, três ou quatro pode produzir um ajuste melhor dos dados (FISHER, 1996).

    Contudo, várias críticas têm sido dirigidas (FABRICAR; VISSER; BROWNE, 1997; ACTON; REVELLE, 2004) à tentativa de acessar a estrutura circumplexa apenas por meio da representação gráfica obtida pela organização das variáveis no espaço bidimensional usando suas cargas fatoriais (AF) ou coordenadas espaciais (MDS). Esse procedimento foi nomeado de forma caricata como eyeball test, ou, em uma tradução livre, teste do olhômetro. Isso porque a demonstração de que as variáveis formam um circumplexo depende de que elas se distribuam, visivelmente, na forma de um círculo. Assim, tanto a análise fatorial quanto o MDS apresentam as mesmas limitações. O pesquisador precisa fazer um julgamento amplamente subjetivo e não quantificável quanto à forma com que o gráfico obtido corresponde a um padrão circular tão bem como a extensão com que o ordenamento dos objetos corresponde ao ordenamento hipotetizado. Adicionalmente, tanto em um como no outro procedimento, os indicadores de ajustamento não trazem informações particulares sobre a estrutura circumplexa. Por exemplo, no caso do MDS o índice de Estresse apenas informa a qualidade de ajuste dos dados a uma solução bidimensional. Nenhuma restrição é feita sobre a solução de que os objetos podem ser colocados ao longo da circunferência de um círculo no espaço bidimensional. Assim, o ajuste pode ser excelente, apesar de não apresentarem uma estrutura circumplexa. Embora o modelo tenha aplicações para diversas áreas e as técnicas sejam usadas para analisar a estrutura dos dados, segundo Fabricar, Visser e Browne (1997), as duas principais técnicas utilizadas não fornecem parâmetros adequados para demonstração da estrutura circumplexa. Apesar de terem aspectos positivos, elas apresentam claras limitações, principalmente sua natureza descritiva e de caráter exploratório e sua aplicação acaba por encarregar o pesquisador de decisões mais subjetivas do que se gostaria de admitir no exercício da pesquisa científica.

    Portanto, uma reflexão importante aponta para uma série de requisitos elementares que podem ser deduzidos da ideia de uma estrutura circumplexa. Primeiro, essa estrutura implica minimamente que as variáveis estão inter-relacionadas. Segundo, uma estrutura circumplexa implica que o domínio em questão pode perfeitamente ser bem representado por apenas duas dimensões. Terceiro, uma estrutura circumplexa implica que as variáveis não se agrupam ao longo dos dois eixos, como em uma estrutura simples, mas sim que há sempre variáveis no espaço intersticial entre qualquer par de eixos ortogonais (SAUCIER, 1992). No caso ideal, esta qualidade será refletida em espaçamento igual de variáveis ao longo da circunferência do círculo (GURTMAN, 1994; WIGGINS; STEIGER; GAELICK, 1981). Em quarto lugar, uma estrutura circumplexa sugere que as variáveis têm um raio constante a partir do centro do círculo, o que implica que todas as variáveis têm comunalidade igual nas duas dimensões do circumplexo (FISHER, 1997; GURTMAN, 1994). E por último, a estrutura circumplexa implica que todas as rotações são igualmente boas representações do domínio (CONTE; PLUTCHIK, 1981; LARSEN; DIENER, 1992).

    Com vistas a solucionar o problema e apresentar critérios mais rigorosos e, portanto, capazes de proporcionar suporte mais confiável sobre a questão da avaliação da estrutura circumplexa, foram desenvolvidos critérios que supostamente avaliam várias propriedades requeridas de um circumplexo. São analisados em seguida cinco critérios propostos para avaliar as propriedades mencionadas. Primeiro, a ausência de uma rotação ideal dos eixos para melhorar o ajuste dos dados. Este é um critério pouco explorado na literatura, mas tem por objetivo avaliar a característica de estabilidade do círculo, pois não importa o quanto se gire, o círculo permanece igual. Também, alguns critérios mais populares que avaliam as propriedades de intersticialidade e igualdade de espaçamento das variáveis e a constância do raio. Os critérios apresentados foram selecionados por terem tido sua eficácia demonstrada para avaliar a diversidade de propriedades circumplexas citadas.

    Um aspecto relativamente negligenciado sobre a estrutura circumplexa tem sido o fato de que não deve haver uma rotação de preferência. Em um verdadeiro circumplexo, todas as rotações deverão apresentar igualmente boas representações do domínio (CONTE; PLUTCHIK, 1981; LARSEN; DIENER, 1992), não em termos de variância explicada, o que não é afetado pela rotação, mas em termos dos critérios de rotação serem ortogonais ou oblíquos. O Teste de Variância (TV) foi desenvolvido para ser sensível às mudanças de ajuste vinculadas às mudanças na rotação quando há interticialidade em contraposição a uma estrutura simples. No entanto, não é sensível à rotação quando há um circumplexo parcial ou estrutura simples parcial. Por exemplo, quando existe uma distribuição circumplexa de variáveis de um lado do círculo, mas no outro não. A equação para TV é:

    Sendo que as notações matemáticas descritas aqui se aplicam às equações que descrevem os cinco critérios circumplexos que se seguem: f = fator, nf =número de fatores, v = variáveis, nv = número de variáveis, = ângulo de rotação, = posição angular da variável v, R = R de Mikowski, = carga fatorial sobre o fator f da variável v, = carga fatorial sobre o fator f da variável v e ângulo de rotação .

    Outro teste, que avalia o grau em que a rotação em uma matriz fatorial faz diferença em um indicador de qualidade de ajuste é o Teste de Rotação (TR). Isto é, nesse caso é estimado se o tamanho de diferença do coeficiente de variação do indicador de qualidade de ajuste é pequeno. Em um circumplexo, a rotação não deve fazer nenhuma diferença, todas as rotações devem ser igualmente boas. Estimativas do TR referentes a um indicador de qualidade de ajuste variam em função do ângulo de rotação. Para cada ângulo, TR encontra a soma da variância entre as variáveis por meio do quadrado das cargas nos fatores. Um grupo de variáveis forma um circumplexo somente se essa soma é aproximadamente igual para todos os ângulos. A equação para TR é:

    O Teste de Minkowski (TM) é outro critério desenvolvido para avaliar se uma matriz fatorial não tem uma rotação preferida. Esse teste é assim chamado porque ele usa um Espaço de Minkowski, que é uma generalização do espaço euclidiano. A ideia do MT é determinar se a rotação de um fator tem qualquer efeito sobre a qualidade de ajuste; para tanto, determina quanto de distorção das cargas fatoriais ocorre quando os fatores são rotacionados. A rotação terá um efeito importante quando se tratar de uma estrutura simples, mas não terá nenhum efeito para uma estrutura circumplexa. Isso ocorre porque quando o R de Minkowski é grande (por exemplo, R = 100), a grandeza das cargas fatoriais não vai mudar visivelmente com a rotação, TM requer o cálculo de um comprimento de Minkowski. Considerando comprimento no Espaço Euclidiano igual à raiz quadrada da soma dos quadrados, ou seja, igual à raiz da soma das potências. Se R = 2, deriva-se que TM é simplesmente a comunalidade, que é o quadrado do comprimento do vetor; se R>2, deriva-se que TM é uma generalização da comunalidade. A equação para TM é

    O próximo teste de ajuste circumplexo aborda a intersticialidade, que é o grau com que as variáveis se distribuem entre qualquer par de eixos ortogonais. Preconiza-se que em uma estrutura circumplexa existem muitas variáveis no espaço intersticial. Assim, em condições ideais, as variáveis devem estar distribuídas uniformemente em torno da circunferência de um círculo. Isso implica que as variáveis devem ter um espaçamento igual entre uma e outra. A igualdade de espaçamento pode ser avaliada de duas maneiras. Primeiro, calculando a diferença angular da posição das variáveis observadas; segundo, calculando a diferença angular da posição das variáveis observadas da localização onde, se igualmente espaçadas, essas variáveis deveriam estar. Um índice usado para avaliar a igualdade de espaçamento entre variáveis é obtido quando o cálculo da distância entre variáveis adjacentes, ou gap, mostra variância mínima. Um gap é a distância de uma variável até a próxima variável adjacente. A distância entre um par deve ser consistente entre todos os pares possíveis, não importando se a distância entre a próxima variável será considerada no sentido horário ou anti-horário. A equação para o Teste de Gap é:

    Outra característica de um círculo é o fato de que a distância de seu centro a qualquer ponto marcado em sua circunferência é sempre a mesma. Dessa forma, a demonstração de que uma estrutura circumplexa emerge dos dados depende da comprovação de que o conjunto de variáveis se distribui de forma equidistante do centro do círculo formado por elas. O teste de sensibilidade para constância do raio é chamado de Teste de Fisher (FISHER, 1997). Usando as cargas fatoriais das variáveis distribuídas em um espaço bidimensional, é possível calcular o comprimento vetorial para cada variável. O comprimento vetorial de uma variável em um circumplexo é igual à raiz quadrada de sua comunalidade sobre as duas dimensões do circumplexo. A média do comprimento vetorial providencia uma estimativa do raio do círculo e o desvio-padrão fornece uma estimativa da dispersão ou desvio em torno da circunferência. Quanto maior o desvio relativo a um raio, mais pobre será o circumplexo formado pelo dado grupo de variáveis. A equação para o Teste de Fisher é:

    Embora em um circumplexo ideal se deva encontrar um raio constante, esta não é uma condição suficiente para se demonstrar a estrutura circumplexa, porque uma estrutura simples também pode mostrar essa propriedade. O sumário estatístico usado para descrever este critério circumplexo é o mesmo usado nos testes para avaliar a sensibilidade da rotação, ou seja, o coeficiente de variação.

    Seguindo a mesma tendência de usar os parâmetros do círculo como referência para avaliar a presença de uma estrutura circular nos dados empíricos, Browne (1992) propôs uma abordagem baseada na modelagem da estrutura de covariância para testar a estrutura circumplexa. O Circular Stochastic Process Model with a Fourier Series Correlation Function (CSPMF) é um modelo confirmatório que envolve a busca por uma estrutura de covariância, subjacente em uma matriz de correlações entre variáveis, que pode ser representada pelo ordenamento dessas variáveis ao longo da circunferência de um círculo. A identificação de um modelo circumplexo em estruturas de covariância depende da avaliação da qualidade de ajustamento presente em uma amostra de matrizes de correlação. O CSPMF também permite a construção de um gráfico para representar as estimativas dos parâmetros de localização das variáveis sobre a circunferência de um círculo e, por meio dele, avaliar a extensão com que esta estrutura subjacente à respectiva matriz de correlações é circumplexa.

    A abordagem de Browne (1992) é baseada em algumas suposições centrais. Primeiro, é assumido que a variância nas pontuações dos sujeitos em cada variável medida pode ser dividida em duas partes: um escore comum de variância que se refere a uma porção de variância compartilhada por duas ou mais variáveis e um escore único de variância que se refere à porção própria de cada variável. Segundo, em uma estrutura circumplexa, as correlações são devidas à parte referente aos escores comuns mais do que ao escore total observado. Isso porque os escores observados contêm tanto a variância comum quanto a variância única, e, nesse caso, a variância única é atribuída ao erro e provavelmente distorce a real estrutura entre as variáveis. Assim, mesmo nos casos em que as correlações entre os escores comuns apresentem uma estrutura circumplexa, as correlações entre os escores totais observados podem não se ajustar a esses critérios. Mais frequentemente, tais correlações tendem a apresentar uma aproximação ao modelo circumplexo, ou seja, um modelo quasi-circumplexo. Dessa forma, é recomendada a extração da porção de variância própria de cada variável da matriz. Terceiro, as variáveis podem ser representadas por pontos sobre a circunferência de um círculo. Uma variável é escolhida como referência e a localização das outras variáveis são especificadas por ângulos polares em relação a esta variável de referência. Os ângulos formados pelos vetores da posição da variável de referência com o centro do círculo e conjuntamente com a posição das demais variáveis indicam a posição ocupada por cada uma delas na circunferência do círculo. Quarto, o coeficiente de correlação entre as variáveis deve ser uma função do ângulo entre essas variáveis localizadas sobre o perímetro do círculo. Ou seja, a correlação entre as variáveis deve ser uma função da distância entre as variáveis sobre a circunferência do círculo. Para realizar essa operação, foi designada uma equação que faz uso de uma série de Fourier e que define precisamente a relação matemática dos ângulos entre as variáveis no círculo com o coeficiente de correlação entre estas mesmas variáveis. Essa relação entre ângulos e coeficientes de correlação foi designada por Browne (1992) como função de correlação.

    No caso de uma representação ideal, na qual todas as variáveis de posicionam perfeitamente na circunferência de um círculo, os resultados da aplicação da função de correlação apontam que quando o ângulo entre duas variáveis é 0º, a correlação entre elas é perfeita e positiva 1,00. À medida que o ângulo aumenta, a correlação entre as variáveis diminui até r = 0,00, quando o ângulo for 90º. Além de 90º, à medida que o valor do ângulo aumenta, as correlações tornam-se negativas e mais fortes até a correlação negativa perfeita de r = -1,00, quando o ângulo for 180º. Depois de 180º, as correlações ainda negativas começam a diminuir conforme o ângulo aumenta até a ausência de correlação (r = 0,00), quando o ângulo for 270º. A partir de 270º, as correlações voltam a ser positivas e aumentar conforme o valor do ângulo aumenta até 360º. Baseado nessa premissa, o valor das correlações entre variáveis adjacentes em um círculo ideal podem ser derivadas a partir da estimativa do valor do cosseno do ângulo de separação formado entre elas. Nesse caso, em um circumplexo interpessoal perfeito contendo 16 variáveis distribuídas ao longo da circunferência, o valor do ângulo de separação formado entre cada uma das 16 variáveis é de 22,5º. E, em consequência, o valor das correlações entre as variáveis adjacentes de cada lado é de r = 0,924, que corresponde ao valor do cosseno deste ângulo. Quando são consideradas apenas oito variáveis, como é o caso da maioria dos círculos interpessoais, o valor do ângulo entre as variáveis adjacentes é de 45º, portanto a correlação entre elas é de r = 0,707.

    Em outras palavras, o valor da correlação entre duas variáveis apresenta uma relação direta com o ângulo de separação entre estas variáveis. Dessa forma, o valor da correlação indica a distância entre cada variável na circunferência do círculo. Assim, correlações positivas indicam aproximação entre as variáveis, ao passo que correlações negativas indicam afastamento. Da mesma forma, ângulos agudos indicam correlação positiva, ângulos retos ausência de correlação, ângulos obtusos correlação negativa. Quando duas variáveis se localizarem no mesmo ponto da circunferência, o valor do ângulo entre elas é de 0º e a correlação será de r = 1,00; quando duas variáveis apresentarem o maior afastamento possível, o ângulo entre elas será raso (180º) e a correlação, de r = -1,00. Isso implica que, dada a posição entre quaisquer duas variáveis na circunferência do círculo, tanto o arco menor como o arco maior entre elas são produzidos pelo mesmo coeficiente de correlação.

    Uma vez transcorrido todo o processo de demonstração de que uma estrutura circular está presente em uma matriz de dados, pode-se considerar que o instrumento de medida responsável pela coleta desses dados atende aos requisitos do modelo circumplexo. Quando o instrumento de medida em questão se tratar de um teste psicológico, as informações obtidas por ele podem ser representadas em um círculo e as propriedades matemáticas do círculo são igualmente aplicáveis às características psicológicas avaliadas pelo teste. Embora a estrutura matemática do modelo tenha sido inicialmente descrita por Guttman (1954), ele foi frequentemente considerado como uma possibilidade de síntese para os postulados teóricos e uma representação gráfica simplificada de características psicológicas, por exemplo, o domínio interpessoal.

    Entretanto, o modelo circumplexo permite que características do espaço interpessoal sejam representadas como uma matriz de variáveis organizadas de forma circular em torno dos eixos principais que, por exemplo, no Círculo Interpessoal de Kiesler (1983), são Dominância e Afiliação. Atualmente ele é considerado como um bem estabelecido sistema nomológico, que pode ser usado para compreensão de tendências, motivos, necessidades, orientações e problemas interpessoais, além de traços de personalidade (GURTMAN, 1992). Essa propriedade do modelo (e talvez sua aplicação mais profícua) permite um link direto com a lógica de validação do construto proposta por Cronbach e Meehl (1955). Essa lógica é fundamentada na ideia de que para entender o significado de um construto é preciso defini-lo dentro da rede nomológica formada pelas suas relações legítimas, teóricas e empíricas com outros construtos.

    Dessa maneira, a essência da validação de construto envolve a incorporação do construto e suas medidas dentro de um quadro formado pela teoria do sistema nomológico que lhe dá sentido. Assim, segundo os autores, os construtos somente são conhecidos através da lente de uma teoria sobre eles, e o processo de validação é inseparável do desenvolvimento e testagem da teoria geral. A validade se dirige a afirmação de que um teste mede uma determinada característica e depende da existência de uma rede nomológica em torno do construto que define essa característica, bem como de sua demonstração empírica. Sobretudo, a adesão estrutural ao modelo monológico determinado, não apenas as propriedades convergentes ou discriminantes do teste sobre o modelo (CRONBACH; MEEHL 1955).

    Portanto, a rede nomológica providenciada pelo modelo circumplexo se constitui como uma estrutura convincente que pode ser usada para a descrição e comparação de grupos de interesse em várias características psicológicas, especialmente as interações interpessoais. Por exemplo, comparar perfis interpessoais, usando o método do sumário estrutural, em grupos de pacientes com mesmo diagnóstico nosológico ou transtornos de personalidade, problemas interpessoais, além de indivíduos com características comuns como ocupação, minorias, dependência administrativa, etc. ou mesmo entre grupos distintos, como é feito muito frequentemente em diversas pesquisas envolvendo características psicológicas (GURTMAN; BALAKRISHNAN, 1998; WRIGHT et al., 2009).

    Segundo esses autores, na rede nomológica providenciada pelo circumplexo interpessoal, o padrão de correlações entre as variáveis (por exemplo, os 16 setores de Kiesler) que descrevem qualquer característica interpessoal apresentam uma forma sinusoidal. Em decorrência disso, cada resposta individual a uma medida circumplexa pode ser reduzida à sua projeção angular; então estatísticas como a média, variância e intervalo de confiança podem ser calculadas para um conjunto dessas projeções. Nesse caso, as estatísticas são conceitualmente similares aos seus correspondentes lineares, porém são circulares porque representam um ordenamento sem começo ou fim e são usadas para descrever uma posição individual dentro da circunferência de um círculo. Além das estatísticas circulares, os perfis interpessoais de grupos podem ser apresentados em um sumário estrutural a partir do cálculo de um conjunto de parâmetros. São eles, a Elevação (e) que representa a distância entre o eixo de x ao ponto médio da curva, isto é, o nível médio de um perfil que pode ser interpretado como o estilo de respostas. A Amplitude (a) é a diferença entre a média e o pico da curva, pode ser interpretada como o grau de diferenciação de um perfil e representa o grau com que um indivíduo ou grupo discrimina entre aspectos do funcionamento interpessoal que lhes são próprios daqueles que não são. O Deslocamento () é a posição angular, considerando o intervalo de 0º à 360º, em que se localiza o pico da curva. Pode ser interpretado como a tipologia interpessoal do grupo, ou a posição interpessoal pela qual o grupo pode ser descrito. Ademais, é calculada uma medida de ajustamento, representada pelo que tem sido interpretada como uma expressão da complexidade do perfil (GURTMAN; BALAKRISHNAN, 1998) ou de homogeneidade do grupo (SLANEY et al., 2006)

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