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Intervenção psicossocial
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E-book278 páginas2 horas

Intervenção psicossocial

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Sobre este e-book

O objetivo deste livro é introduzir o psicólogo na área de intervenção psicossocial, fornecendo o embasamento teórico e metodológico básico para a atuação nessa área. O livro é composto de duas partes. Na primeira são apresentados os fundamentos teóricos e metodológicos da intervenção psicossocial e, na segunda, são relatadas cinco experiências realizadas em diferentes contextos. O livro foi construído de maneira bastante didática, com uma linguagem simples e accessível.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento27 de nov. de 2023
ISBN9786553740907
Intervenção psicossocial

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    Intervenção psicossocial - Kathia Maria Costa Neiva

    Apresentação

    "Feliz é aquele que transfere o que sabe

    e que aprende o que ensina."

    Cora Coralina

    A ideia deste livro surgiu durante o período em que exerci a função de professora supervisora do estágio Intervenção Psicossocial em uma universidade particular. Para implantar esse estágio pesquisei o que existia sobre o tema na realidade brasileira e deparei-me com uma carência de publicações na área, especificamente de material didático. Isso me impulsionou a desenvolver algumas ideias sobre o tema e, desde então, comecei a vislumbrar a possibilidade de publicar um livro que facilitasse a formação de profissionais nessa área.

    Além disso, o aumento dos problemas sociais na realidade brasileira tem exigido do psicólogo um olhar muito mais atento para as necessidades psicossociais da população e para a construção de práticas que melhorem a qualidade de vida e saúde psíquica dos indivíduos. Sair dos consultórios e aproximar-se das instituições e comunidades tem sido o grande desafio do psicólogo na atualidade. Como intervir, como atuar in loco? Como sair do enquadre tradicional, como propor novos enquadres de trabalho? Como lidar com o novo, com as novas realidades?

    Com o presente livro pretendo introduzir o psicólogo na área de Intervenção Psicossocial, fornecendo o embasamento teórico e metodológico básico e relatando algumas experiên­cias de intervenção psicossocial. O livro foi construído de forma bastante didática, com uma linguagem simples e accessível ao aluno de psicologia e aos profissionais que se iniciam nesta área.

    O livro é composto de duas partes. A primeira parte foi por mim redigida e é composta de quatro capítulos nos quais apresento os fundamentos teóricos e metodológicos da Intervenção Psicossocial. No primeiro capítulo explico o que é Intervenção Psicossocial, apresentando os aspectos históricos e as caracte­rísticas desta área. No segundo capítulo começo a delinear os aspectos metodológicos explicando, especificamente, como realizar uma caracterização institucional e o mapeamento de necessidades psicossociais. No terceiro capítulo ensino como elaborar um projeto de Intervenção Psicossocial passo a passo. No quarto capítulo, discuto questões específicas relacionadas à intervenção propriamente dita, entre eles: o enquadre, o papel do interventor, os aspectos éticos da intervenção.

    A segunda parte é composta por cinco capítulos redigidos com a colaboração de vários colegas psicólogos, professores supervisores na área de Intervenção Psicossocial e ex-alunos-estagiários. Cada um destes capítulos relata uma experiência de intervenção, realizada em uma determinada realidade e com um determinado objetivo. São experiências diferentes que permitirão ao leitor conhecer intervenções bem interessantes, cujos resultados foram significativos para os grupos-alvo. A diversidade dessas experiências mostra a riqueza desta área e a amplitude da atuação em Intervenção Psicossocial.

    Convido a todos os interessados a partilharem minhas ideias e de meus colegas e a refletirem sobre os alcances da Psicologia e sobre a necessidade de, nós psicólogos, estendermos nosso olhar e nossa atuação a outras realidades e necessidades, visando contribuir sempre para o bem-estar psicossocial de indivíduos, grupos, instituições e comunidades.

    Kathia Maria Costa Neiva

    PARTE I – Aspectos teóricos e metodológicos

    da Intervenção Psicossocial

    1. O que é Intervenção Psicossocial?

    Kathia Maria Costa Neiva

    Embora as necessidades psicossociais tenham sempre existido nos indivíduos, grupos e sociedades, é relativamente recente a constituição de uma área específica da psicologia que dê suporte teórico e metodológico para a realização de intervenções psicossociais.

    Isso não significa que a psicologia não tenha se preocupado com tais necessidades, nem buscado formas de solucioná-las. Ao contrário, o bem-estar psicossocial dos indivíduos, grupos e comunidades sempre foi foco de preocupação dos psicólogos e até mesmo de outros profissionais.

    Mas, o que é Intervenção Psicossocial?

    As primeiras referências ao termo trazem as ideias de mudança, transformação, pesquisa e ação. Pagès (1976, p. 432) ao tentar definir a intervenção psicossociológica afirma que tanto é uma metodologia prática de mudança como uma metodologia de pesquisa, considerando assim como caracte­rística principal a possibilidade de unificar a pesquisa à prática psicológica. A atividade de pesquisa confundir-se-á, pois, com o esforço mais energético e mais determinado de transformação do grupo. (PAGÈS, 1976, p. 433).

    A intervenção psicossocial como área de estudo surgiu na segunda metade do século XIX, na interface da Psicologia Clínica com a Psicologia Social. De um lado, o método psicanalítico conseguiu quebrar a compartimentação existente entre a pesquisa fundamental e a pesquisa aplicada e contribuir, assim, para uma pesquisa e prática transformadoras. De outro lado, o conceito de pesquisa ativa, introduzido por Lewin, reforçou a necessidade da complementaridade entre pesquisa e ação e a importância de se pesquisar sobre as situações da vida corrente, saindo dos laboratórios (PAGÈS, 1976). Lewin introduziu ainda o termo dinâmica de grupo, em 1944, e seus experimentos e de seus seguidores que realizaram intervenções em grupos foram fundamentais para o desenvolvimento da psicossociologia. As ideias de Moreno, fundador do psicodrama e da sociometria, foram também de grande contribuição para o desenvolvimento da área. A sociometria, além de permitir o estudo das inter-relações no grupo, é uma técnica que facilita as mudanças sociais, unindo a pesquisa e a intervenção (LAPASSADE, 1977). Além desses, outros autores contribuíram para compreender os processos grupais e propor formas de atuação e desenvolvimento dos grupos, como Bion (1975) e Pichon-Rivière (1988), sendo que a metodologia dos grupos operativos proposta por este último tem sido frequentemente incorporada às intervenções psicossociais.

    É importante também salientar as contribuições de Rogers, que introduziu o conceito de não diretividade, ressaltando a capacidade do indivíduo de perceber seus problemas e de ser parte integrante na busca das soluções (LAPASSADE, 1977).

    Vale ainda mencionar a influência de autores que se dedicaram à psicologia institucional, facilitando a compreensão e análise das instituições e organizações como Lapassade (1977), Bleger (1984) e Baremblitt (2002). Concorda-se, portanto, com Nasciutti (1996, p. 105), ao afirmar que os fundamentos teóricos da psicossociologia são multirreferenciais.

    No Brasil, a área da Psicossociologia sofreu grande influên­cia de autores franceses como M. Pagès, J. Dubost, A. Lèvy, E. Enriquez, G. Lapassade e outros, principalmente em Minas Gerais, São Paulo e no Rio de Janeiro. Uma análise histórica do desenvolvimento desta área no Brasil é minuciosamente apresentada por Machado (2004) e resumida por Barros (1994).

    Atualmente, existem alguns grupos fortes de pesquisa e atua­ção nesta área, concentrados nas Universidades Federais de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Rio Grande do Sul e São João Del Rei, que têm contribuído para a sistematização das ideias teóricas e desenvolvimento de práticas psicossociais.

    Não se pode descartar a influência dos movimentos políticos e sociais ocorridos na realidade brasileira, principalmente a partir da década de 1970, que provocaram o aumento importante de pesquisas e discussões científicas sobre o tema, a criação de ONGs, e a formação de inúmeras associações visando o desenvolvimento comunitário e social (PEREIRA, 2001). Vale mencionar também a contribuição dos trabalhos de conscientização e de pesquisa participante de Paulo Freire e os projetos desenvolvidos pelas Comunidades Eclesiais de Base (BARROS, 1994; MACHADO, 2004).

    Para Machado e Roedel (1994, p. 7) a psicossociologia é uma vertente da Psicologia Social cujo campo é o dos grupos, das organizações e das comunidades, considerados como conjuntos concretos que mediam a vida pessoal dos indivíduos e são por ele criados, geridos e transformados. A intervenção psicossociológica surgiu a partir dos anos 1950, quando os psicossociólogos passaram a priorizar os problemas e se preocupar com as instâncias de mudança, respondendo às demandas e incorporando o papel de pesquisador-interventor. Dubost (1994) expõe em detalhes a origem e evolução da intervenção psicossociológica.

    Machado (2004, p. 15) define:

    A pesquisa-intervenção psicossocial como um trabalho de produção de conhecimentos sobre grupos, organizações, instituições, comunidades e movimentos sociais, fundado nas reflexões teóricas e descobertas da psicologia social e da psicossociologia, e, simultaneamente, um conjunto de práticas clínicas de consulta voltadas ao tratamento desses diferentes conjuntos sociais e meios abertos.

    De acordo com Sarriera e colaboradores (2000, p. 32), o objetivo principal da intervenção psicossocial é possibilitar melhores condições humanas e de qualidade de vida. A intervenção psicossocial visa assim ao processo de interação sujeito-meio social e pode abranger diferentes áreas: saúde mental, política, economia, educação, etc.

    Considera-se, portanto, que a intervenção psicossocial tem um caráter de pesquisa-ação que visa facilitar o bem-estar psicossocial de indivíduos, grupos, instituições, organizações e/ou comunidades.

    A seguir serão discutidas algumas características básicas da intervenção psicossocial:

    1.1. Caráter científico, unindo a pesquisa à ação

    Conforme mencionado anteriormente, a intervenção psicossocial segue os parâmetros do método científico, unindo a pesquisa à ação. A pesquisa permeia todo o processo, desde a análise da demanda e o mapeamento das necessidades psicossociais até a etapa final de avaliação da intervenção. É esse caráter científico que produz reflexão, crítica e reformulação. Como ressalta Lévy (1994a, p. 109): A intervenção junto a um grupo deve ser vista, ao mesmo tempo, como uma ação e como um modo de desenvolvimento de novos conhecimentos. O profissional que atua nessa área assume assim um papel de pesquisador-interventor.

    Reforçando a importância da relação entre pesquisa e ação, Bleger (1984, p. 32) assume que:

    [...] não há possibilidade de nenhuma tarefa profissional correta em psicologia se não é, ao mesmo tempo, uma investigação do que está ocorrendo e do que está se fazendo. A prática não é uma derivação subalterna da ciência, mas sim seu núcleo ou centro vital; e a investigação científica não tem lugar acima ou fora da prática, mas sim dentro do curso da mesma.

    1.2. Preocupação em gerar mudança e desenvolvimento

    Provocar algum tipo de mudança no sentido de desenvolvimento é o objetivo fundamental da intervenção psicossocial. Mas, mudança alguma pode ocorrer sem que a necessidade de mudança seja primeiramente percebida e sentida pelo grupo. Ninguém muda sem ter consciência e desejo de mudar. Além disso, a resistência à mudança é comum no ser humano, e são muitos os fatores que dificultam as mudanças. Carreteiro (1994, p. 100) retomando as ideias de Lévy ressalta que as verdadeiras mudanças ocorrem a partir da elaboração das dificuldades e da criação de novas modalidades de busca da verdade, o que requer um genuíno trabalho psíquico. Maisonneuve (1977) e Lévy (1994b) discutem o problema da mudança e a contribuição da psicossociologia para compreender e lidar com as mudanças grupais.

    Vale ainda pontuar a ressalva feita por Sarriera, Silva, Pizzinato, Zago e Meira (2000) sobre a necessidade de avaliar os valores e a ética adotados ao definir quais mudanças são almejadas para o grupo alvo da intervenção.

    1.3. Foco em grupos, instituições e comunidades

    Apesar de gerar mudanças intrapessoais, a intervenção psicossocial tem como alvo os grupos, instituições, organizações e comunidades. O alcance da intervenção deve ser amplo e visar mudanças que vão, até mesmo, além dos grupos. Os problemas e necessidades dos grupos estão sempre ligados aos problemas e necessidades das instituições das quais eles são parte integrante. Logo, não se pode tratar dos problemas dos grupos, sem tratar ao mesmo tempo dos problemas das organizações e das instituições (LAPASSADE, 1977, p. 62). Além disso, uma comunidade, organização, instituição é formada por um conjunto de grupos, que se inter-relacionam e se interligam. Uma ação em um dos grupos gera efeitos nos demais e, consequentemente, no conjunto como um todo.

    1.4. Ação sobre os problemas atuais da sociedade e necessidades psicossociais de grupos, instituições e/ou comunidades

    Quando se pretende a promoção do bem-estar psicossocial, é necessário pensar em uma estrutura complexa, com múltiplos fatores que podem causar o mal-estar: fatores de ordem econômica, cultural, social e outros. Logo, as necessidades psicossociais podem ser variadas. Podem estar associadas à moradia, alimentação, educação, trabalho etc. O papel do interventor é agir sobre os fatores psicológicos que estejam associados à não satisfação dessas necessidades ou à promoção necessária para atendê-las (BLEGER, 1984).

    Bleger (1984, p.79) aponta diversas situações em que o psicólogo pode contribuir com intervenções visando à psico-higiene na comunidade:

    Em diferentes instituições: família, empresas, fábricas, escolas, clubes, prisões, etc.

    Em distintas etapas do desenvolvimento da personalidade: infância, adolescência, maturidade, velhice.

    Em períodos de mudança no desenvolvimento: nascimento, desmame, puberdade, etc.

    Em situações significativas que requerem mudanças: casamento, gravidez, divórcio, adoção, reforma, luto, escolha profissional, desemprego, aposentadoria, etc.

    Em períodos críticos da vida que exigem o enfrentamento de problemas específicos: imigração, doença, desastres econômicos, acidentes, tragédias, etc.

    Carreteiro (1994) chama a atenção para o fato de que as sociedades vêm sofrendo rupturas e mudanças que geram mal-estar nos indivíduos e ressalta o papel importante dos pesquisadores-interventores na realização de intervenções que facilitem o enfrentamento e superação das dificuldades. Alguns dos problemas observados na atualidade são: o crescimento do individualismo, a busca incessante de sucesso econômico e intolerância às diferenças, que têm acarretado disputas entre nações, etnias, grupos religiosos e outros.

    Na medida em que a intervenção psicossocial tem como objetivo geral melhorar a qualidade de vida e o bem-estar psicossocial dos indivíduos, é necessário, portanto, conhecer os fatores que interferem neste bem-estar. O mapeamento e a análise das necessidades psicossociais do

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