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O Vai e Vem Das Memórias
O Vai e Vem Das Memórias
O Vai e Vem Das Memórias
E-book134 páginas1 hora

O Vai e Vem Das Memórias

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Sobre este e-book

Você já imaginou conhecer alguém com possibilidades ínfimas, alguém que travou uma batalha árdua na vida, enfrentando desafios e percalços para conquistar seu lugar no mundo? Essa pessoa superou obstáculos em cada passo de sua jornada, enfrentou dificuldades acadêmicas, mas finalmente concretizou os sonhos que há tanto tempo acalentava. Sua formatura chegou em uma idade avançada, pois tudo o que alcançou na vida foi conquistado com suor e determinação, fora do ritmo imposto pela sociedade.
Aos trinta e sete anos, por escolha própria, decidiu se tornar mãe solteira, desafiando os padrões da época e quebrando barreiras sociais. Ela criou sua filha sem o apoio do pai, construindo uma família que escolheu para si, composta por sua filha, genro e netas. Hoje, vive uma vida repleta de felicidade e realizações.
Essas histórias são verdadeiras, baseadas em eventos que se desenrolaram ao longo do tempo e que inspiram a todos com sua resiliência e determinação.
IdiomaPortuguês
EditoraViseu
Data de lançamento15 de dez. de 2023
ISBN9786525463896
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    O Vai e Vem Das Memórias - Florenice de Figueiredo Souza

    Recordações embaralhadas

    Em dezesseis de novembro de dois mil e vinte e dois resolvi lembrar de dar início à escrita de uma pequena parte da minha história de vida. Não é uma história fabulosa, mas os fatos narrados são verdadeiros e de alguma forma me emocionam, pois me transportam para regiões e tempos bem distantes.

    Nasci numa pequena fazenda chamada Estreito encrustada na região oeste do estado da Bahia, a minha família era bastante numerosa, composta de umas doze pessoas que moravam na mesma casa. Para amenizar as dificuldades, que no decorrer da vida iam aparecendo, era necessário fazer malabarismos para vencer os obstáculos que relutavam em aparecer. Dentre todos estes empecilhos, ficou gravado na minha mente uma parte que considero muita alta, em minha observação. Como a família era muito grande, tudo que se tinha era muito pouco para saciar as necessidades daquela gente. Lembro-me da minha mãe separando e dividindo a comida de forma que nenhum dos filhos ficasse com a maior ou menor parte. Não se esquecia de separar o prato do marido que era feito antes de todos os outros. Ela fazia de tudo para também incluir a minha avó neste ambiente saudável. A religiosidade estava sempre nesta família. Todos os sábados se rezava o oficio de Nossa Senhora e aos domingos o Terço Mariano, em agradecimento ao que tínhamos conquistado no decorrer da semana. A família vivia em grande harmonia, mesmo com as dificuldades que a região oferecia.

    A mamãe foi uma heroína. Não podia deixar de relatar a força e os objetivos de uma mulher tão forte. Embora tudo se manifestasse ao contrário, ela conseguiu ultrapassar as intempéries daquela condição. Mesmo não tendo estudo suficiente, mamãe resolveu alfabetizar os filhos, alguns parentes e amigos da redondeza. Já que a região não se dispunha de escola, ela não podia deixar que seus nove filhos ficassem sem alfabetização. Ela por si própria passou a ser professora daquela turma desamparada. Deu certo. Lembro-me das dificuldades que tínhamos em adquirir material escolar. Não havia cadernos, nem lápis para se escrever. O que havia eram apenas umas lousas e lápis de pedra, em cujas lousas se escrevia e se apagava, como se fossem um quadro negro. Existia os ABC, cartilhas e um livro didático de 1ª a 4ª série que era chamado de Nosso Brasil, cujo nome do autor não me recordo. Como não havia série determinada, pois a escola não era regulamentada, procedia-se da seguinte forma: começava a leitura do livro relativo à série soletrando, assim que terminasse relia de novo corretamente. Dessa forma determinava-se o ano que você estava cursando.

    A minha mãe era uma pessoa enérgica quando se tratava da educação dos filhos. Com mamãe não tinha conversa mole que justificasse os erros que um ou outro cometia. Havia sempre uma palmatória ao seu dispor para corrigir e castigar algum malfeito que acontecia no grupo, que fosse necessário correção. Nem sempre aparecia um culpado e para que ela não fosse injusta, chamava toda a roda e todos apanhavam, até quem não tinha cometido o delito. Quando ficava sabendo quem era o malfeitor, dava um castigo ainda maior. Sempre que agia assim, justificava que estavam recebendo aquela punição não porque eram culpados, mas para evitar que um não ficasse rindo do outro. Às vezes, se era castigado sem nem saber o porquê.

    Quando se estava aprendendo a tabuada, a minha mãe acordava a todos por volta das cinco horas e começava o vozerio. Uns na conta de somar, outros na conta de diminuir e também tinha a turma da multiplicação. Tudo dependia da série que estava cursando. Imagina todos falando ou cantando ao mesmo tempo de forma não orquestrada? Devia ser um horror!

    Todos os dias ao final das aulas havia uma argumentação, se perguntava aleatoriamente algumas casas da tabuada, e quem errasse a pergunta e o outro respondesse corretamente levava um bolo de palmatória do que havia acertado. Essas atividades ocorriam diariamente.

    Foi com essa dificuldade que aprendemos a tabuada de cabeça. Não havia outra técnica de aprendizagem, tudo era de forma rudimentar. Após a decoreba da tabuada, começava-se a fazer as contas nas lousas de pedra. Começando entre duas e três parcelas e depois se tirava a prova dos nove fora, que era mais ou menos assim:

    Prova dos nove fora

    Passo a passo da prova dos nove

    1ª Parte

    Somam-se os dois primeiros números da primeira parcela, se der acima de nove, retire o nove e continue com o que sobrou com o número subsequente caso haja terceiro, quarto etc. Seguindo as parcelas.

    Exemplo:

    8 + 6 = 14 – 9= 5 + 5 = 10 – 9 = 1

    1 + 4 + 3 + 2 = 10 – 9 = 1

    1 + 7 + 5 = 13 – 9 = 4 + 4 = 8

    2ª Parte

    Resultado.

    Procede-se da mesma maneira. Se o resultado das sobras for igual, indica que o resultado das somas das parcelas está certo.

    Exemplo:

    2 + 0 + 5 + 1 = 8

    Era bem engraçado. Mesmo naquela algazarra para decorar a tabuada, a minha mãe percebia que alguém parava e lá do quarto ela gritava:

    — Fulano, Beltrano?! Parou por quê?

    Assim era a rotina. Era incansável a minha mãe. Queria ver o sucesso de todos e em nenhum momento desistia ou descuidava do seu dever, e no que dependesse dela, tudo estava ao nosso dispor.

    Reconheço que a mamãe deve ter sofrido para educar todos os seus filhos. Imaginem… Um já é difícil, nove então… Cada um com seu temperamento e com a sua personalidade. Tenho certeza de que ela passou por bons e maus momentos. Ainda bem que a minha vó Porcina sempre morou conosco e ajudou bastante tanto na educação dos netos como também em todas as tarefas da casa. Como era uma pessoa muito amável, não havia ninguém que não a cortejasse. Os netos a paparicavam, e ela correspondia aos paparicos, sempre com carinho, atenção e muito amor.

    Todos os dias, quando um dos netos acordava, corria para o lado da cama dela para pedir à bênção. Essa bênção era da seguinte forma: Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo. Bênção, vovó!. Ela respondia: Para sempre seja louvado, Deus te abençoe.

    Assim que éramos abençoados por ela. Seguíamos este mesmo ritmo entre meu pai e minha mãe, de forma que éramos abençoados três vezes todos os dias. Tenho a convicção que o nosso sucesso advém desta nossa ligação com o Nosso Senhor Jesus Cristo desde o nosso nascimento. Foi ELE quem nos deu forças para vencermos as dificuldades que a vida tem nos oferecido. Nenhum de nós teve ou tem uma vida fora do compasso. Foram ou são equilibrados, não se metem nem interferem na vida do outro. Mantém os vínculos que herdaram dos pais, mesmo as gerações que se encontram distantes destes laços, ainda se observa certa ligação com esta origem.

    Após a idade adulta, cada um seguiu a sua vida. A mais velha, que recebeu o nome de Porcina para homenagear a minha vó materna, morou uns dois anos na cidade de Goianésia em Goiás, voltou e foi constituir família com Francisco Rocha Medrado, que é apelidado por Franço; O Waldimiro partiu da fazenda aos dezoito anos de idade. Ficou uns vinte anos sem dar notícias. Ficamos sabendo que ele foi uns dos primeiros candangos de Brasília; Francisca que casou com Adelino Ribeiro Mendes, hoje é viúva e mora em Santa Rita de Cássia atualmente; Deolindo morou muito tempo na fazenda. Depois que o Waldimiro reapareceu, resolveu ir ganhar a vida em Brasília. Ficou por lá por volta de dois anos, mas depois resolveu voltar para a fazenda; Eliecim foi para Belo Horizonte entre treze e quatorze anos de idade. Quando estava para se casar e já era comerciante, convidou o Deolindo para ir trabalhar com ele. Os dois trabalharam juntos por muito tempo. Depois desfizeram a sociedade e ambos foram comercializar por conta própria seguindo o ramo de supermercados. Com o tempo, os seus objetivos foram se modificando. Eliecim passou por várias etapas se fixando, na atualidade, no ramo de móveis e eletrodomésticos. Deolindo passou para o ramo de farmácia. Foi a farmácia quem deu suporte à família dele após a sua morte; A sexta sou eu, mas falarei de mim mais na frente; A sétima é a Terezinha que veio para Belo Horizonte antes de mim. Também trabalhou com o Eliecim, dando a oportunidade de abrir a sua própria loja. Era uma pessoa bastante querida e amada. A família tinha grande apreço por ela. Faleceu em abril de dois mil e vinte; A penúltima é a Maria Nilza, casada com José Gonçalves, com dois filhos vivos e um já falecido. É comerciante, e sua loja está situada no bairro Palmeiras; O caçulinha é o Pedro, foi casado com Iraídes e tem dois filhos do casal e uma outra antes do casamento. Atualmente é desquitado. Por muito tempo se aventurou em armazém e padaria, vendeu e agora vive de pequenos aluguéis e aposentadoria.

    Agora vou falar de mim. Na fazenda onde nasci e me criei, das doze pessoas que viviam naquele lugar, só restavam meu pai, o meu irmão de criação Martins e eu. Muitos dos que falei antes já estavam em Belo Horizonte, inclusive a minha mãe que foi obrigada a sair à procura de tratamento às pressas e por ali ficou por todo o resto de sua vida. Meu pai e eu ficamos. A princípio o meu pai não concordava com a mudança para Belo Horizonte, mas como a maioria dos filhos solteiros estavam lá, ele foi vencido pela constante insistência dos filhos. Em agosto de mil novecentos e setenta, deixamos a fazenda com a casa e tudo que dentro dela havia e entregamos à minha irmã que morava de agregada na fazenda Porteiras. Quando eu saí de lá, possuía entre vinte e dois e vinte e três anos de idade, mas havia em mim um enorme desejo de

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