Relações raciais
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Sobre este e-book
Integrando a coleção Dois pontos, Relações raciais conta com artigos dos pesquisadores Guilherme Marcondes e Luiz Augusto Campos, em que discutem a temática a partir de duas obras: Marcondes parte das obras da artista capixaba Kika Carvalho (Emi fé è) e analisa a "afroespeculação" pela qual artistas e intelectuais negras e negros imaginam outras possibilidades de vida para seus corpos. Já Campos discute a condições de pardo no romance Marrom e amarelo, de Paulo Scott, explorando os paralelos entre a sociologia da raça e a literatura, trabalhando com as noções de ambiguidade do pardo que marca a história e a cultura brasileiras.
A coleção Dois pontos é coordenada pelos pesquisadores Alexandre Werneck e Eugênia Motta e reúne comentários de pesquisadores sobre obras de ficção que nos encantam e, ao mesmo tempo, nos ajudam a olhar para o mundo, a analisar e compreender as coisas humanas.
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Relações raciais - Guilherme Marcondes
[ CAPA ]
[ FOLHA DE ROSTO ]
AFROESPECULAÇÕES
CONSTRUINDO OUTRAS NARRATIVAS
ENTRE ARTE E VIDA
GUILHERME MARCONDES
UM NÃO LUGAR DE FALA
A CONDIÇÃO DO PARDO EM MARROM
E AMARELO, DE PAULO SCOTT
LUIZ AUGUSTO CAMPOS
[ SOBRE OS AUTORES ]
[ CRÉDITOS ]
Emi fé è
#1 e #2 são duas pinturas da artista Kika Carvalho que, juntas, formam um díptico. A expressão em iorubá "emi fé è em português significa
eu te amo, título apropriado ao trabalho de Carvalho, visto que suas telas, realizadas em diálogo com o livro
Um defeito de cor, de Ana Maria Gonçalves, buscam evidenciar outras possibilidades de vida para pessoas negras, especialmente mulheres negras na sociedade brasileira. No Brasil do século XXI, a ficção racial iniciada com a colonização do país ainda tem como efeitos o desempoderamento e a depauperação de pessoas negras. Portanto, ao encontrar o díptico de Carvalho na exposição
Um defeito de cor", que esteve em cartaz no Museu de Arte do Rio (MAR), vemos a afroespeculação como forma de recontar a história nacional e projetar outros futuros para pessoas negras sendo colocada em ação.
Kika Carvalho, nascida no Espírito Santo, faz parte de uma geração de artistas que são pessoas racializadas (como negras, pardas e indígenas) e têm contribuído para o desmantelamento da lógica colonial ainda presente nos processos envolvendo a legitimação de artistas e trabalhos de arte. O díptico produzido por Carvalho, intitulado Emi fé è
#1 e #2, esteve presente na exposição Um defeito de cor
, apresentada no Museu de Arte do Rio (MAR) entre setembro de 2022 e agosto de 2023. A mostra propiciou uma revisão historiográfica da escravidão, abordando lutas, contextos sociais e culturais do século XIX, sendo uma interpretação do livro de mesmo nome da escritora Ana Maria Gonçalves, que conta a história da personagem Kehinde, que, no Brasil, precisa lutar por sua liberdade e reconstruir sua vida. A exposição contou com a curadoria de Amanda Bonan, Marcelo Campos e a própria Ana Maria Gonçalves, exibindo ao público do museu cerca de 400 obras de arte, em seus múltiplos meios, divididas em 10 núcleos que buscavam espelhar os 10 capítulos do livro de Gonçalves [1].
Meu contato com esse trabalho de Kika Carvalho, no entanto, precede minha visita à exposição no MAR. Deu-se de fato quando a artista em uma rede social postou[2] as telas juntamente com um texto em que tratava do convite para fazer parte dos(as/es) cerca de 100 artistas convidados(as/es) para a mostra. Na postagem em questão, ela revela seu encontro com a literatura de Ana Maria Gonçalves e de sua inspiração para o díptico em questão, encontrada em duas personagens do livro, as gêmeas Kehinde e Taiwo. Aqui, todavia, não será abordada a exposição nem o livro de Gonçalves, lançado em 2006 e vencedor do prêmio literário Casa de las Américas em 2007. As duas telas de Kika Carvalho é que serão foco da análise que se segue. O objetivo é, mesmo levando em consideração o contexto de produção e de exibição das telas, concentrar-me nas duas imagens em busca de uma contextualização étnico-racial a partir do campo da arte brasileira por meio de um exercício de afroespeculação
, termo guarda-chuva aqui utilizado para abarcar perspectivas como o afrofuturismo
e a afrofabulação
.
Tendo trabalhado como arte educador por alguns anos, perdi as contas de quantas vezes mediando exposições para diferentes grupos me vi sendo questionado sobre as intenções de algum(a/e) artista. No caso de Carvalho, basta irmos à sua postagem sobre as telas em questão e ali descobriremos suas inspirações para as duas telas acima. Entretanto, aqui, não adentrarei, como dito, no livro de Gonçalves. Quero, a partir das telas de Carvalho, propor um outro percurso. Aquele bem comum quando vamos a exposições de arte e não sabemos, especialmente quando o assunto é a arte contemporânea, o que encontraremos. Visto que com o advento da arte contemporânea nos anos de 1960 temos uma expansão das possibilidades do que pode ser entendido como arte e não apenas objetos, comumente pinturas e esculturas, mas também ações, performances, instalações e toda sorte de meios possíveis à imaginação de artistas.
Nesse sentido, sigamos aqui com foco nas duas imagens, que podem ser duas crianças, duas adolescentes ou, ainda, duas mulheres adultas. Sua racialidade sabemos: são negras. O azul de Carvalho, em suas diferentes tonalidades, traz o aspecto da negridade
[3] da tez às telas. Ambas têm seus cabelos trançados e o que diferencia seus penteados é a coloração das conchas em seus cabelos, uma em tom de amarelo e outra em marrom. Poderiam ser irmãs, primas, mãe e filha, ou apenas amigas. Deixaremos esse espaço em aberto. Afinal, embora os discursos sobre os trabalhos de arte sejam uma parte importante da legitimação artística (Heinich, 2014; Marcondes, 2021), proponho que vejamos as telas de Kika Carvalho especulando outros discursos. E o propósito disso é debatermos a ideia de afroespeculação
, mais bem explicitada no item dois do texto, mas que, brevemente, diz respeito ao ato especulativo e ficcional por meio do qual artistas e intelectuais