Rio de Janeiro, reflexo e imagem: Uma leitura comparativa de A alma encantadora das ruas de João do Rio e Aguafuertes cariocas de Roberto Arlt
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Rio de Janeiro, reflexo e imagem - Gustavo Costa
final
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO
A literatura suscita a cidade urbanística, a cidade do cotidiano e das relações humanas, revela a forma do real transfigurada no objeto literário. Assim, o espaço de cidades como Paris, Rio de Janeiro, Lisboa e outras tomam outra dimensão quando vistas a partir da obra literária. A cidade não é a cidade real, mas a cidade vista pelo literato, é uma cidade que contém uma intenção de
verdade e um registro. Embora sejam cidades imaginadas, as cidades da literatura se parecem com as cidades reais. A literatura torna sensível não só a aparência, mas dá sentido à cidade arquitetônica.
(Eloisa Pereira Barroso, A cidade do Rio de Janeiro na obra literária, 2013, p. 48)
Através do duplo conceito ‘reflexo e imagem’ ou ‘reflexo-imagem’, esta dissertação tem como objetivo analisar comparativamente as representações da cidade do Rio de Janeiro tal como foram feitas por João do Rio em A alma encantadora das ruas e por Roberto Arlt em Aguafuertes cariocas. Segundo a noção ‘reflexo e imagem’, a imagem da cidade que cada autor propõe é também, de forma importante, um reflexo desse mesmo autor no que respeita aos seus interesses, à sua cultura, educação, época, nacionalidade etc. Com este trabalho, procuro corrigir e complementar a crítica que, de uma forma geral, atribui a estas obras uma fidelidade à realidade do que seria a cidade do Rio de Janeiro. Assim, neste trabalho argumento que a ênfase que João do Rio coloca no exotismo, marginalidade e hibridez da vida da cidade do Rio de Janeiro reflete os seus interesses precisamente pelo exotismo, pela marginalidade e pela hibridez. Por outro lado, a ênfase de Roberto Arlt no que parece ser a inocência, a cordialidade, a docilidade, a alienação social, e o défice de consciência política dos trabalhadores da cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, reflete os interesses do próprio Arlt, por exemplo, em apresentar Buenos Aires (o contraponto invisível de Aguafuertes cariocas) como uma cidade moderna, politizada, europeizada, interessada em cultura, como o oposto, portanto, do Rio de Janeiro. Talvez até que Arlt esteja mais interessado em apresentar a imagem de Buenos Aires do que a do Rio - apesar de não ser isso o que o título Aguafuertes cariocas
anuncia - mas isso não signifique que se possa dizer do Rio de Arlt que seja falso ou não tenha a sua própria verdade. A história da tensão e rivalidade Brasil-Argentina é evocada nesta tese porque nos ajuda a perceber o modo como uma imagem pode esconder um reflexo, o que se nota de modo espectacular no caso da obra de Arlt. Para poder mostrar isto que acabei de dizer, enfatizo em cada autor o flaneur latino-americano, ou híbrido, uma vez que eles adaptaram à realidade da época e à circunstância latino-americana o conceito europeu de flaneur que, neste caso, é um flaneur de uma época posterior ao flaneur clássico e é um flaneur que participa do capitalismo que denuncia (sendo ambos os cronistas profissionais). Ao mesmo tempo, o Rio que ambos apresentam, pela sua diversidade étnica e de influências culturais e geográficas, apresenta-se como um espaço urbano híbrido
. Com este fim de realçar a relatividade e circularidade (o fato de serem reflexo) das representações (imagens) utilizarei os conceitos - hoje vistos não como verdades mas como mitos - do malandro
, da democracia racial
(Ver Freyre, Casa Grande e Sanzala) e do homem cordial
; conceitos que nos ajudam a entender, justamente, aquilo que nas representações destes autores é mais uma projeção de uma intenção política do propriamente a exatidão da correspondência entre representação e realidade representada, do que propriamente a verdade, a representação, como procuro demonstrar, é tanto reflexo como é imagem. Ao mesmo tempo, a hibridez da própria crónica (Ver Sloan), sendo o género que ambos aplicavam e único à tradição latino-americana, também ajuda a confirmar a provisoriedade, relatividade e fluidez da realidade representada, neste caso, o Rio de Janeiro. Simultaneamente, a ironia e sarcasmo própria do gênero crónica e, em particular, do estilo de cada um dos autores (embora assumindo formas diferentes) ajuda a confirmar a imagem reflexiva, distorcida e dinâmica da capital do Rio que está sendo produzida.
Para alcançar o objetivo de apresentar estas imagens do Rio como relativizadas (se se quiser) que acabei de mencionar, procuro analisar comparativamente os tipos sociais - num sentido costumbrista- da cidade Rio de Janeiro tal como apresentados na obra A Alma Encantadora das Ruas, do escritor brasileiro João do Rio, e Aguafuertes Cariocas, do escritor argentino Roberto Arlt. Em ambas as obras, os autores nos mostram pessoas de diversas classes sociais, com diferentes tipos de comportamentos, caráter, origem e traços identitários na capital brasileira das primeiras décadas do século XX. Este estudo, como já afirmei, se enfocará na visão flâneur dos autores mencionados relativamente aos habitantes (locais e estrangeiros) que residem na cidade do Rio de Janeiro, à luz da imagem recíproca Brasil-Argentina, sempre que apropriado. Devemos ter em conta que estamos perante a visão de João do Rio (um local) e a perspectiva de Roberto Arlt (um estrangeiro, especificamente um argentino). O espaço da rua é essencial neste trabalho, visto que os autores que estudaremos, por meio de seus relatos autobiográficos e literários, são os que identificam, com profundidade, os acontecimentos e os detalhes do quadro de costumes dos tipos que podem ser encontrados nessas mesmas ruas.
Em A Alma Encantadora das Ruas e Aguafuertes Cariocas, as obras centrais nesta pesquisa, encontram-se marcas de ironia e sarcasmo por parte dos autores nas descrições dos habitantes da capital brasileira através de comparações com outros grupos étnicos. As crônicas lançadas nos jornais da época e, posteriormente, publicadas na obra de João do Rio, referem-se principalmente à primeira década do século XX, já as crônicas de Arlt no Rio de Janeiro são publicadas na década de 30 do mesmo século. No entanto, ainda que haja este espaço de tempo entre a publicação das crônicas dos dois autores, elas expõem aspectos comparáveis, ora referentes à modernização do Rio de Janeiro ora à pobreza que parecia se disseminar pelos morros da capital. Arlt e João do Rio eram jornalistas renomados em seus respectivos países, faziam uso das crônicas nos jornais em que trabalhavam para descrever a cidade e seus residentes: Arlt, a sua Buenos Aires, Paulo Barreto (cujo pseudónimo é João do Rio), o seu Rio de Janeiro.
Neste trabalho, primeiramente, apresentaremos a bio-bibliografia dos autores e uma contextualização de sua vida e obra. No seguinte capítulo, analisaremos a recepção crítica da obra de João do Rio e Roberto Arlt. Em seguida, alguns conceitos teóricos com os quais trabalharemos. Depois, as obras principais que compõem este trabalho - A Alma Encantadora das Ruas e Aguafuertes Cariocas - serão analisadas no que diz respeito à representação de diversos tipos sociais excluídos da capital carioca, como os negros, a mulher e os estrangeiros, sendo esta exclusão caracterizada nas obras através da pobreza extrema dos personagens em algumas regiões da cidade. Na seguinte seção, outro tópico a ser estudado relaciona-se com a representação dos negros
, sendo perceptível a representação do preconceito que, principalmente, os ex-escravos enfrentavam no Brasil-república. Aqui também se fará referência à abolição da escravatura no Brasil - a qual aconteceu em 1888 - bem como suas ramificações no novo século, perceptíveis na discriminação contra os negros por meio do uso de termos pejorativos, identificados na linguagem literária de nossos autores. A seguinte seção é sobre a representação da mulher. João do Rio retrata a mulher
carioca em seus textos através de tópicos como a prostituição, a mendicidade, as mulheres tatuadas, as meninas exploradas, as mulheres prisioneiras. Arlt, entretanto, encontra beleza na mulher carioca e, segundo ele, na maneira como o idioma português é falado pela mulher. Assim, será discutido e analisado o contraste na perspectiva oferecida pelos autores sobre a figura feminina do Rio de Janeiro da época. Seguidamente, estudaremos a presença dos estrangeiros nas obras, ou seja, a relação que ambos os autores apresentam com os diferentes habitantes ou visitantes estrangeiros mencionados nas crônicas. Por exemplo, alusões ao próprio argentino - a nacionalidade de Arlt; ao português, referido por João do Rio e por Arlt, além de referências aos chineses e turcos. Finalmente, a arquitetura e a visualidade do Rio de Janeiro serão analisadas no que se refere à sua modernização, tendo como base, neste capítulo, o conceito de flâneur de Baudelaire e Walter Benjamin. O foco do último capítulo será a análise do contexto histórico, através de um breve resumo da história da imagem recíproca do Brasil-Argentina nas obras de Arlt e João do Rio. A relação entre os dois países será estudada com o objetivo de se entender qual e como era essa ligação entre os dois países no que concerne aos relatos das crônicas jornalísticas do autor argentino e brasileiro; assim se entenderá melhor de que maneira as representações ou imagens apresentadas refletem a nacionalidade de cada autor, ou refletem (sendo distorcidas, por isso) uma rivalidade entre os dois países, ou refletem ainda uma certa tensão sul-americana, ou, por outro lado, a necessidade de mostrar ao leitor que tal rivalidade não existe (como parece por vezes ser o caso tanto de Arlt quanto de João do Rio). Este desejo de negar a rivalidade parece, por vezes, condicionar e moldar a própria representação. Nesta seção procura-se também apresentar um resumo da literatura histórica em geral para que possamos conhecer e entender mais a fundo, em modo comparativo (tanto quanto possível) os temas culturais, literários, sociais e políticos na época em que os dois autores publicaram suas crônicas literárias. Procura conseguir-se, portanto, um esboço da imagem recíproca entre os dois países sul-americanos. Isto para que – como disse no início - melhor se possa apresentar a dinâmica imagem enquanto reflexo que cada um deles procurou apresentar.
CAPÍTULO 2
APRESENTAÇÃO BIO-BIBLIOGRAFICA
2.1 João do Rio
João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto, mais conhecido pelo pseudônimo João do Rio, nasceu no dia 5 de agosto de 1881, no Rio de Janeiro. Filho de Alfredo Coelho Barreto e de Florência Cristovão dos Santos Barreto, foi um jornalista e cronista carioca. É originário de uma família pobre, começando a trabalhar desde uma idade ainda precoce para se sustentar. Em 1902 tentou ingressar no Itamarati, porém, foi-lhe negado o acesso pelo Barão do Rio Branco devido ao fato de Paulo Barreto (João do Rio) ser gordo, amulatado e homossexual
(Gomes, 1996, p. 114). Em 1921 faleceu decorrente de um ataque cardíaco fulminante. É fundamental citar a presença de 100 mil pessoas no funeral do autor, sendo que a cidade possuia na época uma população de 400 mil habitantes. Logo, percebe-se a importância e o reconhecimento que teve o autor em sua época.
Paulo Barreto (João do Rio) se tornou conhecido através de vários de seus pseudônimos. De acordo com o crítico Renato Cordeiro Gomes O pseudônimo é a máscara para atrair compradores, como a fachada moderna das avenidas para atrair o capital estrangeiro
(1996, p. 42). Portanto, João do Rio, ou José Antonio José, ou Joe, fazia uso dessa máscara para adquirir novos leitores e abranger sua escrita entre as diferentes classes sociais, ora como flâneur ora como dândi. João do Rio narra a história da cidade onde vive, trabalha, observando as pessoas e suas ações.
O cronista carioca deu início a seu trabalho como crítico na peça de Ibsen Casa de Boneca
no jornal A Tribuna
. Em 1898 trabalhou no jornal Cidade do Rio
. Durante cinco anos, com o pseudônimo Claude, atuou como crítico de arte, escrevendo críticas ao Salão de Belas Artes. Entre os anos de 1904-1907, Paulo Barreto publicou suas crônicas e reportagens urbanas nos jornais A Gazeta de Notícias
, onde surgiu seu pseudônimo João do Rio e também na revista Kosmos
, no Rio de Janeiro. Durante estes anos, divulgou centenas de crônicas sobre sua cidade natal nos jornais acima mencionados, reunindo e publicando, em 1904, diversas delas em uma obra intitulada As Religiões no Rio. Nesta obra o autor fala sobre as religiões africanas presentes na capital brasileira, como exemplo ele dá ênfase ao candomblé, disseminado pelos escravos que o praticavam nos subúrbios da capital. Em 1908 compilou algumas outras de suas crônicas do jornal Gazeta de Notícias, publicando-as em formato de livro, sendo a obra denominada A Alma Encantadora das Ruas. Com as novas crônicas de sua autoria presentes no jornal A Gazeta de Noticias entre 1907 e 1908, surgiu, um ano depois, a obra Cinematógrafo. Usando o pseudônimo Joe, o cronista escreveu sobre o progresso da cidade capital e a ausência de originalidade e do inusitado que a cidade apresentava previamente. Uma antologia de contos é publicada pelo autor em 1910, intitulada Dentro da Noite. João do Rio apresentou, também, algumas conferências como O Figurino
em 1909 e Psychologia Urbana
em 1911. Nesse mesmo ano, publica a obra Vida Vertiginosa e, um ano mais tarde, lança a novela A Profissão de Jacques Pedreira. João do Rio não somente escreveu crônicas jornalísticas, mas também teve êxito com a escrita de uma peça de teatro chamada A Bela Madame Vargas
que foi apresentada no Teatro Municipal do Rio de Janeiro no ano de 1912. Em 1918 lança um romance intitulado A Correspondência de uma Estação de Cura.
O cronista fundou alguns jornais, como o Rio Jornal
, a revista Atlântida
em 1915, junto ao autor português João de Barros, colaborando, igualmente, em alguns jornais de Portugal. No ano de 1917 surge a seção Pall-Mall Rio
no jornal O Paiz
onde Paulo Barreto aparece com um novo pseudônimo: José Antônio José, considerado o cronista mundano. Em 1920 estabeleceu o jornal A Pátria
que defendia os interesses da colônia portuguesa, fato que fez com que fosse vítima de violência física e moral. Neste mesmo ano viajou à Argentina e ficou encantado com o país vizinho. Afirmou que Buenos Aires é a Londres gaúcha
(Gomes 120).
Conhecido em toda a capital, tanto entre a burguesia quanto entre o proletariado, João do Rio escutava e reproduzia a linguagem das ruas em suas crônicas in loco da realidade e da miséria da cidade capital. Em 1910 conferiram-lhe, depois de duas tentativas mal-sucedidas, um lugar de membro na Academia Brasileira de Letras. Alguns autores pertencentes à Academia não aceitavam este reconhecimento ao autor carioca devido, principalmente, ao fato de João do Rio ser homossexual (Engel 177). O cronista percorria as ruas com o objetivo de observar o comportamento e o estilo de vida dos habitantes da cidade. Isto ocorreu em um momento de mudanças no espaço urbano do Rio de Janeiro, na primeira década do século XX. Encontram-se na obra de João do