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Capoeira em perspectivas
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E-book245 páginas3 horas

Capoeira em perspectivas

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Sobre este e-book

Capoeira em Perspectivas é uma coletânea composta de artigos diversificados, que remeterá os leitores a uma viagem reflexiva e imaginária em espaços polissêmicos na arte de capoeirar. Tenho a certeza de que o leitor vai se sentir inserido numa grande roda de Capoeira, gingando livremente, dando a volta ao mundo, na expectativa de aprofundar conhecimento na arte maior a Capoeira.
A obra traz no seu bojo conteúdos pertinentes e atualizados, tais como: a Capoeira como vivência do bem-estar social; crítica bibliográfica sobre trabalhos acadêmicos contemporâneos com o olhar na antropologia social; uma reflexão sobre as políticas de salvaguarda da Capoeira como Patrimônio Imaterial brasileiro; a produção da Capoeira na "roda" científica brasileira; "Iê viva meu mestre" um estudo sobre a legitimidade do mestre de Capoeira; a pedagogia da existência e as possibilidades da capoeirização da escola; Capoeira angola e o jogo dos saberes e, por fim, a análise crítica temporal e espacial sobre a memória do Mestre Bimba e sua influência na nova ordem da capoeiragem baiana, a partir das primeiras décadas do século XX.
Portanto, esse é um livro que recomendo, pois foi idealizado por capoeirista que ama o que faz, e, sobremodo, acredita na inestimável contribuição da pesquisa para uma sólida expansão da Capoeira em todos os sentidos.

Hellio Campos(Mestre Xaréu)
IdiomaPortuguês
Data de lançamento23 de out. de 2020
ISBN9786586268089
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    Capoeira em perspectivas - Tradição Planalto

    Alanson M. T. Gonçalves (Costela)

    ORGANIZADOR

    CAPOEIRA

    EM PERSPECTIVAS

    1ª EDIÇÃO

    BELO HORIZONTE

    2020

    Informação bibliográfica deste livro, conforme a NBR 6023:2002 da

    Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT):

    Bibliotecária responsável: Alessandra Rodrigues da Silva – CRB 2459 – 6ª Região

    Copyright © 2020 by Tradição Planalto Editora

    Todos os direitos reservados. Este livro ou parte dele não pode ser

    reproduzido por qualquer meio sem autorização escrita da Editora

    Editor Executivo

    Ricardo S. Gonçalves

    Editora

    Maria Elisa Rodrigues Moreira

    Revisão

    Juan Fiorini

    Ilustração Capa

    Rodrigo de Freitas

    Produção

    Tradição Planalto Editora

    www.tradicaoplanalto.com.br

    SUMÁRIO

    CAPOEIRA, patrimônio cultural brasileiro

    Corina Maria Rodrigues Moreira

    APRESENTAÇÃO

    Alanson M. T. Gonçalves (Costela)

    ABRE o zóio Siri de Mangue!

    Cesar Barbieri

    A CAPOEIRA na roda científica brasileira (1980 a 2006): Panorama e perspectivas da produção stricto sensu sobre a capoeira no Brasil

    José Luiz Cirqueira Falcão

    MESTRE Bimba nunca foi angoleiro

    Alanson M. T. Gonçalves

    A CAPOEIRA baiana: críticas a uma abordagem da teoria da comunicação e da antropologia social

    Antonio Liberac Cardoso Simões Pires

    A CAPOEIRA como espaço de vivência e bem-estar social

    André Luiz Teixeira Reis

    CAPOEIRA angola: cultura popular e o jogo dos saberes na roda

    Pedro Rodolpho Jungers Abib

    A CAPOEIRA e as políticas de salvaguara do patrimônio imaterial: legitimação e reconhecimento de uma manifestação cultural de origem popular

    Luiz Renato Vieira

    IÊ, VIVA o meu mestre: por uma análise dos mecanismos de legitimidade e afirmação da autoridade do mestre

    Vivian Fonseca

    As opiniões e ideias expressas em textos assinados são de absoluta e exclusiva responsabilidade de seus autores.

    CAPOEIRA, patrimônio cultural brasileiro

    Corina Maria Rodrigues Moreira¹

    Jogo, luta, dança, arte, brincadeira: difícil definir o que seja a Capoeira, forma de expressão que, marcada pela multidimensionalidade, envolve tradição, oralidade, ritualismo, experiência e resistência. Atualmente difundida em todo o Brasil e em mais de 150 países do mundo, suas raízes históricas remontam ao século XVIII, quando se manifestava como prática de resistência à escravidão e à violência por ela imposta na colônia portuguesa na América.

    Suas origens africanas são inquestionáveis, como não há dúvidas quanto ao fato de ter se desenvolvido e consolidado em solo brasileiro, especialmente a partir do segundo quartel do século XIX, nos núcleos urbanos em desenvolvimento – principalmente Rio de Janeiro, Salvador e Recife. Ainda que fortemente marcada pela participação escrava, mesmo nessa época a Capoeira tinha entre seus praticantes homens livres, pobres ou ricos, bem como estrangeiros que visitavam o país e se encantavam com seus movimentos e musicalidade. Além disso, a participação dos capoeiras na Guerra do Paraguai e entre a capangagem política do período imperial é destacada em todos os estudos sobre a Capoeira, o que possibilita entrever a complexidade das relações sociais e políticas que marcam sua história.

    Criminalizada em finais do século XIX, quando foi inserida no Código Penal Brasileiro de 1890, desde esse período até meados dos anos 1920 a Capoeira – e os capoeiristas – foi severamente perseguida, em um contexto de disseminação de teorias raciais que propunham o branqueamento da população e nas quais as manifestações culturais e religiosas de origem africana eram tratadas como caso de polícia.

    A partir dos anos 1930, no entanto, esse cenário começa a sofrer alterações, especialmente no que diz respeito à Capoeira: de manifestação proibida e perseguida pela polícia, passa a adquirir status de luta marcial genuinamente brasileira, especialmente em razão do trabalho desenvolvido pelos mestres Bimba e Pastinha, ambos de Salvador. Considerados os pais da moderna Capoeira em suas duas vertentes mais significativas – a Capoeira Regional e a Capoeira Angola, respectivamente – esses dois mestres contribuíram para levar a Capoeira das ruas para as academias, propiciando sua divulgação pelo país e incorporação por amplos setores sociais e, futuramente, sua expansão pelo mundo.

    Em que pesem as controvérsias que cercam o processo de escolarização e profissionalização da Capoeira a partir de então, não há dúvidas de que esta arte se afirmou como importante símbolo identitário da cultura brasileira especialmente a partir dos anos 1970, o que levou a seu reconhecimento como Patrimônio Cultural Brasileiro em 2008, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).

    O reconhecimento como Patrimônio Cultural Brasileiro abarcou duas significativas dimensões da Capoeira: a Roda de Capoeira, registrada no Livro das Formas de Expressão, e o Ofício de Mestre de Capoeira, registrado no Livro de Registro dos Saberes. O Registro – instrumento legal de reconhecimento do patrimônio imaterial brasileiro – da Roda de Capoeira e do Ofício de Mestre de Capoeira fundamentou-se em pesquisa desenvolvida nos estados do Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco, considerando-se a importância destas regiões na conformação histórica da Capoeira; mas as ações voltadas para sua salvaguarda enquanto patrimônio cultural vêm sendo efetivadas em todo o território nacional, através da mobilização de mestres, professores, alunos e estudiosos desta arte, com vistas à produção de políticas públicas que contribuam, efetivamente, para a superação das dificuldades com as quais ainda se deparam contemporaneamente e para que, assim, a Capoeira possa continuar sendo um importante símbolo identitário da cultura brasileira, reconhecido não só no país, mas pelo mundo afora.

    A publicação de livros como este que ora se apresenta, portanto, constitui-se como importante contribuição para a divulgação dos estudos que vêm sendo realizados sobre a Capoeira, auxiliando a ampliar as reflexões sobre este Patrimônio Cultural Brasileiro.

    Doutora em Ciências Sociais.

    APRESENTAÇÃO

    Alanson M. T. Gonçalves

    (Costela)

    Este livro foi idealizado a partir do levantamento de pesquisas realizadas sobre a temática da Capoeira, em universidades públicas e privadas em todo Brasil, em nível de pós-graduação stricto-sensu, tomando como referencial o banco de dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

    Capoeira em Perspectivas objetiva, dessa maneira, tanto sistematizar e dar visibilidade a estas pesquisas quanto apontar seus desdobramentos. A partir de artigos acadêmicos que dialogam de perto com uma linguagem um pouco mais coloquial, acreditamos que o livro poderá ser apreciado não só pelos jovens pesquisadores, mas também pelos mestres, professores e praticantes de capoeira, assim como por outros interessados no assunto. Com isso, se faz possível democratizar, de forma coerente, os saberes da arte da Capoeira, com seus distintos estilos, e os conhecimentos produzidos a seu respeito por meio da correlação entre a academia e a cultura popular.

    Com esta proposta, Capoeira em Perspectivas abre a roda científica e convida a todos para um jogo reflexivo, repleto de saberes, conhecimentos e mandingas, visando contribuir de forma positiva e significativa para as reflexões sobre o jogo da Capoeira na formação profissional de seus mestres, professores e praticantes.

    ABRE o zóio Siri de Mangue!²

    Cesar Barbieri³

    Abre o zóio siri de mangue!

    Todo tempo não é um,

    Siri tá se vendo doido

    Nas garras do guaiamum

    Presenciam-se, neste início do século XXI, algumas tentativas de mudanças, no mínimo intrigantes, que vêm, com maior ou menor resistência, se consolidando no âmbito de nossa formação social.

    Como exemplo de tais eventos, é possível citar o debate, mesmo que descontínuo, sobre a legalização do aborto e a descriminalização da maconha, especificamente, e de outras drogas consideradas mais fortes ou mais nocivas; a busca pela legalização, de uma vez por todas, da união civil homoafetiva, bem como a permissão para a adoção de crianças por duplas de homossexuais; a implantação das chamadas Ações Afirmativas, como políticas públicas, dentre as quais se ressaltam as polêmicas cotas para negros nas universidades brasileiras e as menos ameaçadoras cotas para os cegos, mudos, paraplégicos e outros que recebem o tratamento, politicamente correto, de portadores de necessidades especiais; a aprovação e implantação do Estatuto do Idoso; e, a que mais interessa como uma das referências deste artigo, o reconhecimento pelo Estado e pelo Poder Público da existência de bens culturais imateriais do povo brasileiro, os quais devem ser resgatados, preservados e fomentados nas suas diversas manifestações.

    Dentre tais bens culturais imateriais, patrimônio dos brasileiros, foi incluída, recentemente, a secular Capoeira. Sim, por incrível que possa parecer, essa prática que foi, no final do século XIX, durante os primeiros passos da tão esperada República (1890), inserida no Código Penal, merecendo, como é de conhecimento de muitos, especial destaque!⁵ Como já assinalei em estudo realizado anteriormente, é notório o fato de que, durante os séculos em que tal fenômeno cultural vem se manifestando, é possível identificar a alternância entre momentos de perseguição cerrada e momentos de consideração e reconhecimento (BARBIERI, 1993, p. 26).

    Desta forma, hoje Zumbi é um herói e o dia de sua morte tomado, oficialmente, como Dia da Consciência Negra; os quilombos são considerados sítios históricos e os quilombolas tidos como importantes antepassados africanos e afro-brasileiros; a Roda de Capoeira foi registrada, em 15 de julho de 2008, no Livro das Formas de Expressão do IPHAN⁶ e, na mesma data, foi registrado o ofício de seus mestres no Livro dos Saberes, do mesmo Instituto, como forma do reconhecimento de sua legitimidade, pelo Estado brasileiro, somando-se a outras 14 manifestações identificadas como Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro.

    No momento, pois, em que de forma crescente vem-se dando maior atenção ao fenômeno Capoeira, bem como às nossas raízes afro-brasileiras, principalmente no que se refere às manifestações culturais de cunho religioso, lúdico e guerreiro, é de fundamental importância que algumas Ações Afirmativas sejam efetivadas, tais como a introdução da História e Cultura Afro-Brasileira como disciplina curricular dos sistemas de ensino, como determina a atual legislação.⁷ Assim, a princípio, nada mais justo que a Roda de Capoeira e o que fazer de seus mestres, além dos citados registros, sejam contemplados com um Plano de Salvaguarda da Capoeira, no qual estão contidas algumas, consideradas importantes, medidas para a sua proteção, preservação e divulgação (BRASIL, 2007).

    A aceitação desse processo, tanto no que se refere às suas estratégias e procedimentos, quanto aos seus objetivos explícitos, tem sido quase unânime. No entanto, apesar do entusiasmo, precipitado, e do otimismo, beirando à ingenuidade, de alguns integrantes do que muitos denominam de universo capoeirístico, é preciso que se faça uma pausa para que sejam ouvidas as advertências de antigos capoeiras, dentre as quais ressalto aqui a contida nos versos em epígrafe, que aponta para a necessidade de se observar, a todo instante, o contexto em que nossas ações se realizam: assim como a maré de março, como se sabe, é propícia ao guaiamum e não ao siri, também é preciso, criticamente, tomar-se pé da situação, como dizia minha avó, ao desenvolvermos nossas ações-reflexões.

    É preciso, como orientam os Velhos Mestres, antes do início do jogo (sempre) e durante a sua realização (vez por outra) ir pro pé do berimbau para que, nessas pausas de especiais compassos, sejam percebidas as reais intenções e as sutis artimanhas que o constituem, bem como as consequências que dele decorrem. Atenção para a estrofe e pro refrão [...] para as janelas no alto [...] é preciso estar atento e forte [...] atenção [...],⁸ já clamavam Caetano Veloso e Gilberto Gil, nos idos de 1968!

    Dentre tantas outras ações e reações que são passíveis de serem identificadas ao abordar-se o estudo do fenômeno Capoeira, destaco, neste momento, o desenvolvimento do processo de sua escolarização, tentativa essa que foi esboçada, oficialmente, pela primeira vez, segundo se sabe, por Coelho Neto, em parceria com Germano Haslocher e Luiz Murat,⁹ em 1910, quando chegou a elaborar um Projeto de Lei no qual se instituía a obrigatoriedade de seu ensino nas escolas oficiais e nos quartéis (COELHO NETTO, 1928, p. 134-135). Neste caso, também, a sua aceitação tem contado com a aprovação de uma parte significativa daqueles que, de forma direta ou indireta, atuam no campo da Capoeira, especificamente, e, em geral, por uma grande maioria dos componentes de nossa formação social que, via de regra, acredita que a Escola é a panacéia para todos os males sociais e uma irrepreensível agência da formação de cidadãos.

    Cada vez mais, no entanto, torna-se claro que o processo de escolarização, tendo em vista a intrínseca relação escola-sociedade, não é tão inconteste como indica o senso comum. Assim sendo, após estarem explícitos os alicerces da interpretação da relação Homem-mundo que dá suporte ao estudo dessa intrincada e capciosa questão, é indispensável considerar-se, no mínimo, três aspectos importantíssimos que, necessariamente, devem constar do estudo do processo de tentativa da chamada escolarização da Capoeira, quais sejam: em primeiro lugar, é necessário dar-se conhecimento de que Escola se fala; em segundo, esclarecer-se qual é a interpretação do processo de escolarização que dá suporte a esse estudo; e, finalmente, explicitar-se qual o sentido do fenômeno Capoeira que está sendo enfocado, tendo em vista a sua, hoje inegável, polissemia.

    Após, portanto, um prolongado e detalhado estudo, realizado sob os pressupostos da fenomenologia existencial-hermenêutica, alicerçado no pensamento de Heidegger, Merleau-Ponty, Paul Ricoeur e Muniz de Rezende, bem como nos principais pensadores do campo da Educação e da Escola, tais como Paulo Freire, Ivan Illich e Gramsci e, fundamentalmente, na experiência vivida durante quase duas décadas em estreito contato com os Velhos Mestres da Capoeira da Bahia e com outros importantes capoeiras da atualidade e, também, com estudiosos do assunto que hoje são referências incontestáveis, é que apresento neste artigo uma rápida síntese de minhas interpretações sobre o desenvolvimento do processo de escolarização desse fenômeno social de muitas perspectivas, que, conforme definiu em certa oportunidade Silvino Santin, confunde-se com a formação histórica brasileira e, ao reproduzi-la, apresenta-se, muitas vezes, como uma réplica do que se poderia denominar de evolução do Brasil.

    I.

    O mundo de Deus é grande,

    Cabe numa mão fechada...¹⁰

    Na chamada sociedade ocidental tem prevalecido, desde a Antiguidade Clássica – aponta-nos a História da Filosofia –, implícita ou explicitamente, a tentativa de esclarecer, definitivamente, os meandros e peculiaridades da relação Homem-mundo e, consequentemente, da relação Homem-fenômeno. Vem de longe, portanto, desde o século VII antes de Jesus de Nazareth (a.J.), essa inquietação que afligia Anaxágoras de Clazômenas (500 ou 497 a.J./428 a.J.) e que o levou a compreender, segundo afirma Simplíco (430/483) em sua Física, que em tudo é incluída parte de tudo (SOUZA, 1973, p. 269); que fez com que Heráclito de Éfeso (504 ou 503 a.J., estima-se) concebesse o mundo como sendo eterno, uno e plural, e exaltasse o devir na afirmação lapidar de que não se pode tomar banho duas vezes no mesmo rio;¹¹ e, fechando o ciclo dos pensadores chamados, por Carneiro Leão, de originários (LEÃO, 1977, p. 79-90), permitiu que Parmênides de Eléia (cerca de 530 a.J.-460 a.J.) afirmasse convictamente que, conforme interpreta Chauí, o ser é imutável, eterno, imperecível e, portanto, idêntico a si mesmo (CHAUÍ, 1995, p. 211).

    Tais discordâncias e, aparentemente, contradições entre as concepções acerca da natureza do mundo, do Homem, e dos fenômenos não se esgotam por aí. No decorrer da formação do pensamento ocidental e ainda nos dias atuais, vez por outra, deparamo-nos com as concepções de Sócrates (470-399 a.J.) e de Platão (428-347 a.J.), filósofos que iniciam um novo período da Filosofia, chamado de Socrático. Para o primeiro, o mundo e os fenômenos são ideias, conceitos encontrados pelo pensamento, levando Platão a declarar, admirado, que o mundo foi criado pelo Bem, existindo, no entanto, o mundo constituído pelas imitações das ideias, que classificou como mundo sensível (das aparências), e o mundo constituído das formas imateriais que são imutáveis, universais, verdadeiras, classificando-o como mundo das ideias (a verdade). Não raras vezes, ainda, percebe-se a influência das premissas de Aristóteles, outro proeminente ator de mais uma etapa do processo de consolidação do pensamento filosófico e que, buscando a síntese do legado de seus antecessores, espantado, afirma que o mundo, criado por Deus, é infinito, pleno, único e, estando em constante movimento, é um conjunto hierarquicamente organizado, indo dos seres mais imperfeitos aos mais perfeitos (BARBIERI, 2001, p. 53-54).

    Não menosprezando, por certo, as premissas e pressupostos de homens que viveram e realizaram suas obras depois de Jesus de Nazareth, tais como Tertuliano (150/155-222), Orígenes (185-253), Ambrósio (340-397), João Crisóstomo (349-403) e Agostinho (354-430), principais baluartes da conhecida Filosofia Patrística e tornados santos pelo Vaticano; bem como não esquecendo a forte influência do

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