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Abra A Boca E Feche Os Olhos
Abra A Boca E Feche Os Olhos
Abra A Boca E Feche Os Olhos
E-book699 páginas8 horas

Abra A Boca E Feche Os Olhos

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Sobre este e-book

Essa é uma história de amor e aventura que, garanto, valerá a pena ler. Sabe aquela situação em que você se interessou por um filme apenas por causa do cartaz, porque não foi muito divulgado, mas que, ao terminar, você sai feliz, transbordando de satisfação e entusiasmo para recomendar aos amigos? Este romance fará você sentir-se assim. É uma história em que você não vai sossegar enquanto não chegar ao final. Atenciosamente, John (autor independente) Obs.: Este é um romance para adultos. (contém cenas picantes) SINOPSE Em 2025, Juliana Blum, 17, estudante do último ano letivo na OHS - Oklahoma High School (uma escola americana instalada no Rio de Janeiro), apaixona-se por Paulo Lawrence, 44, seu professor, após ele se divorciar. Admitindo que está apaixonada depois de um ardente sonho erótico, Julie decide que quer namorá-lo a qualquer custo, e demanda ajuda de suas melhores amigas. Porém, o pai dela é o melhor amigo de Paulo. As rigorosas normas da escola também proíbem o namoro, o que o levaria à demissão por justa causa. Além disso, ele é um íntegro seguidor das normas e princípios éticos. Mesmo assim, a jovem e linda Julie, por quem ele tem profunda admiração, respeito e amizade, está determinada a conquistá-lo e planeja seduzi-lo, até que Paulo se apaixone incondicionalmente e a ideia de namorar escondido se torne desejável, até que esteja disposto a jogar tudo para o alto em nome do amor por ela. Há um fenômeno misterioso entre eles, que interfere no desenrolar de tudo.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento1 de ago. de 2022
Abra A Boca E Feche Os Olhos

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    Abra A Boca E Feche Os Olhos - Sean O'reilly

    Abra a Boca

    e

    Feche os Olhos

    Sean O'Reilly

    2016

    © 2016 – Sean O'Reilly

    Direitos reservados a Sean O'Reilly. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou usada de qualquer forma ou por qualquer meio, eletrônico, audível ou mecânico, sem a devida permissão do autor.

    Fundação BIBLIOTECA NACIONAL – Escritório de Direitos Autorais

    Registro nº: 832.288 - Livro: 1.619 - Folha: 385

    Protocolo do Requerimento: 2020RJ_1351

    Tipo: Romance

    Título: Abra a Boca e Feche os Olhos

    Autor: Sean O'Reilly

    Capa: Sean O'Reilly

    Diagramação: Sean O'Reilly

    Revisão: Danilo Carvalho

    Crítica: Luciana Rodrigues

    Dados internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)

    O66a O'REILLY, Sean

    Abra a Boca e Feche os Olhos / Sean O'Reilly – 1ª edição – Publicado em 21 de Dezembro de 2015

    464 páginas.

    Título Original: Abra a Boca e Feche os Olhos

    ISBN: 978-85-917181-5-3

    1ª edição - 2015

    1. Romance 2. Ficção nacional 3. Literatura brasileira 4. Histórias eróticas 5. Realismo fantástico I. Título.

    CDD: 869.3

    AGRADECIMENTOS

    Ao mundo que, mesmo aos trancos e barrancos, me trouxe até aqui.

    A Luci Rodrigues, por fazer críticas vorazes contribuindo para o aperfeiçoamento do texto com uma prestatividade que nunca esperei.

    A Danilo Carvalho, por sua excelente tarefa de revisão.

    Outras obras

    Deus, O Programador Desconhecido

    Categoria: Filosofia Programacionista (Livro proibido)

    Obs: Este livro está em produção. Informações sobre seu lançamento estarão no site do autor: www.learnthefunway.com

    Serviços Prestados por Sean O'Reilly

    Ghostwriting

    Escrevo seu livro para você. Sigilo absoluto. Garantia de estilo envolvente, alta qualidade na escrita, finalização, e design. O alto estilo de minha escrita pode ser visto em meus próprios livros. O serviço de Ghost Writer já inclui todos os outros, exceto a tradução.

    Serviços para a publicação de seu livro:

    Diagramação, Capa, Design, Revisão, Conversão para ePub e outros formatos eletrônicos, Ficha catalográfica, orientação e acompanhamento para obtenção de ISBN e registro de direitos autorais, tradução.

    APRESENTAÇÃO

    Esta história é contada em terceira pessoa por um narrador onisciente, o qual usa linguagem formal, mas os personagens usam a linguagem do dia a dia, o que, às vezes, inclui palavrões e linguagem vulgar.

    Muitos detalhes sobre os personagens vão sendo revelados ao longo da trama, mas nem tudo é mostrado ou explicado explicitamente: algumas coisas têm apenas dicas sutis, como por exemplo, o fato de Juliana e Paulo não serem humanos geneticamente normais. Além disso, este é um romance no reino do realismo fantástico. E quem sabe ironicamente, posturas masculinas da vida real, assim como alguns segredos dos homens, que não existem no fantasioso mundo politicamente correto, estão bem presentes nesta história.

    Há algumas ideias sobre tecnologia futurista, afinal de contas, a história acontece em 2025. Ao longo da trama, marcas fictícias, assim como empresas, serviços e produtos fictícios, vão sendo mencionados com propósitos não revelados explicitamente, como é o caso da camisinha adesiva para uso em hidromassagem, com a intenção de corroborar questões sobre prevenção a DST. Infelizmente, muita gente acha que a camisinha corta o erotismo, e aqui faço uma tentativa de mudar essa percepção.

    Este romance não tem a pretensão de ser categoricamente erótico, mas isso certamente é parte de seu conteúdo, pois se trata de uma garota que procura seduzir seu professor, contendo portanto cenas picantes bem explícitas, e penso ser importante salientar que o erotismo, aqui, tem um ponto de vista bem masculino.

    Boa leitura.

    Sean O'Reilly

    Obs.: Na versão em inglês, tudo ‘entre aspas simples e itálico’ é algo que alguém está pensando, entre aspas e texto normal é algo que alguém está falando ou uma referência a isso, ou algo que está escrito. Para quem quer aprender a língua inglesa se divertindo, leia as dicas a seguir. (diálogos, em português, usa-se travessão)

    SINOPSE

    Em 2025, Juliana Blum, 17, estudante do último ano letivo na OHS - Oklahoma High School (uma escola americana instalada no Rio de Janeiro), apaixona-se por Paulo Lawrence, 44, seu professor, após ele se divorciar. Admitindo que está apaixonada depois de um ardente sonho erótico, Julie decide que quer namorá-lo a qualquer custo, e demanda ajuda de suas melhores amigas. Porém, o pai dela é o melhor amigo de Paulo. As rigorosas normas da escola também proíbem o namoro, o que o levaria à demissão por justa causa. Além disso, ele é um íntegro seguidor das normas e princípios éticos. Mesmo assim, a jovem e linda Julie, por quem ele tem profunda admiração, respeito e amizade, está determinada a conquistá-lo e planeja seduzi-lo, até que Paulo se apaixone incondicionalmente e a ideia de namorar escondido se torne desejável, até que esteja disposto a jogar tudo para o alto em nome do amor por ela. Há um fenômeno misterioso entre eles, que interfere no desenrolar de tudo.

    Projeto Livro Descentralizado

    Descubra um Novo Mundo Literário: Compartilhe e Apoie a Descentralização!

    Caro leitor,

    É com entusiasmo que compartilho com você o meu projeto inovador de distribuição descentralizada de meus livros. Como autor independente, minha paixão é criar histórias que cativem e inspirem. Agora, estou elevando essa experiência a um novo patamar, e você é peça fundamental nesse processo.

    Imagine a emoção de não apenas desfrutar de uma leitura envolvente, mas também de poder compartilhá-la diretamente com amigos sedentos por boas histórias. É exatamente isso que meu projeto oferece. Após mergulhar em uma de minhas obras e sentir o fascínio da trama, você tem a oportunidade de espalhar essa alegria literária para aqueles que são igualmente ávidos por novas aventuras.

    Entretanto, a continuidade desse projeto inovador depende de sua ajuda. Se você valoriza a liberdade criativa e acredita no poder das palavras, convido-o a contribuir para a minha missão. Sua generosidade possibilitará a produção contínua de novas obras emocionantes, mantendo viva a chama da distribuição descentralizada. Juntos, podemos construindo uma força literária contra qualquer forma de censura.

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    Com gratidão,

    Sean O'Reilly

    Obs.: Isto NÃO é um PLR! Não é permitido alterações em qualquer parte deste livro.

    www.learnthefunway.com

    Conselhos para Quem quer Aprender Inglês Se Divertindo

    a) Todos os métodos e dicas que o autor sugere para se aprender inglês são baseados na The Fun Theory (teoria da diversão, uma iniciativa da Volkswagen), o que significa: Com diversão, você sempre sente-se mais disposto e entusiasmado para fazer algo que é considerado difícil. Tudo o que se faz para aprender qualquer idioma, você deve fazer se divertindo, para aprender muito mais rápido do que com qualquer outro método.

    b) Nas notas de rodapé, na maioria delas, haverá referências para produtos fictícios, que serão usados para se referir a produtos reais de patrocinadores em um Jogo Online de Enigmas, onde tudo começará neste livro. Na versão em inglês, também existem, em algumas notas, informações e dicas destinadas a estrangeiros interessados em aprender português com a leitura deste livro, que, num uso inverso, algumas dicas podem ser usadas por nativos do português que querem aprender inglês. Apenas a versão bilíngue conterá todas as notas de rodapé das versões em português e inglês.

    c) Partes sublinhadas do texto, referem-se às partes da versão em inglês em que o texto foi mudado porque não faria sentido, como algumas piadas por exemplo, deixando a leitura confortável para nativos do inglês, e vice-versa. Também estão sublinhadas as partes em que há expressões idiomáticas e falsos cognatos, para ambas as línguas.

    d) Se quiser dicas e conselhos de como aprender inglês rapidamente enquanto se diverte, entre em contato com o autor em www.learnthefunway.com

    e) Na versão em inglês, algumas expressões brasileiras serão mantidas na forma como são faladas, e, se for necessário explicar, uma nota de rodapé será adicionada.

    f) Tanto para quem quer aprender português, quanto para os que querem aprender inglês, a versão bilíngue deste romance será a recomendada.

    Nota: Estas instruções na versão em inglês são ligeiramente diferentes, pois se dirigem ao público nativo da língua inglesa. A ideia inicial era um livro bilíngue para ajudar brasileiros a aprender inglês, mas como o interesse pela língua portuguesa tem tido um certo crescimento, resolvi adaptar o livro para ambas possibilidades.

    ÍNDICE

    CAPÍTULO UM: Estilo Pop Star

    CAPÍTULO DOIS: Amor subconsciente

    CAPÍTULO TRÊS: Flagra

    CAPÍTULO QUATRO: Pergunta inesperada

    CAPÍTULO CINCO: Botando lenha na fogueira

    CAPÍTULO SEIS: Chamada não atendida e um papo machista

    CAPÍTULO SETE: O cheiro do perfume

    CAPÍTULO OITO: Confissões

    CAPÍTULO NOVE: Uma pergunta que mexe com Paulo

    CAPÍTULO DEZ: Menina estudiosa merece ajuda

    CAPÍTULO ONZE: Sentimentos inesperados

    CAPÍTULO DOZE: A essa hora

    CAPÍTULO TREZE: Na Girl VIP's

    CAPÍTULO QUATORZE: A essa hora, na mesma hora

    CAPÍTULO QUINZE: O plano para a praia

    CAPÍTULO DEZESSEIS: Como treinar uma virgem

    CAPÍTULO DEZESSETE: Hacker e Linux

    CAPÍTULO DEZOITO: Caindo a ficha

    CAPÍTULO DEZENOVE: Preocupações e incertezas

    CAPÍTULO VINTE: Conversa sobre sonhos

    CAPÍTULO VINTE E UM: O Theatro, a declaração e o diário

    CAPÍTULO VINTE E DOIS: Entrevista na TV e um convite de Juliana

    CAPÍTULO VINTE E TRÊS: Desconfiança sobre a outra

    CAPÍTULO VINTE E QUATRO: Amassos e sonhos

    CAPÍTULO VINTE E CINCO: Descoberta

    CAPÍTULO VINTE E SEIS: Aos trancos e barrancos

    CAPÍTULO VINTE E SETE: Dona Matilda

    CAPÍTULO VINTE E OITO: Determinada

    CAPÍTULO VINTE E NOVE: All's fair in love and war

    CAPÍTULO TRINTA: Perigo nas sombras e o VIP's Luna

    CAPÍTULO TRINTA E UM: Todo cuidado é pouco

    CAPÍTULO TRINTA E DOIS: E agora?

    CAPÍTULO TRINTA E TRÊS: A reação de Roberto

    CAPÍTULO TRINTA E QUATRO: Fúria

    CAPÍTULO TRINTA E CINCO: O que falar a Roberto

    CAPÍTULO TRINTA E SEIS: Despedida triste e visitas inesperadas

    CAPÍTULO TRINTA E SETE: Descoberta de um tesouro

    CAPÍTULO TRINTA E OITO: Surpresa em Cambridge

    CAPÍTULO UM: Estilo Pop Star

    Este está sendo um ano bem quente no Rio de Janeiro, ainda primavera, mas o calor já dá para fritar ovos no asfalto. Essa é mesmo uma cidade muito bonita, com fascinantes pontos turísticos e noites bem badaladas. As praias estão lotadas em quase todos os dias da semana, floreadas com belas mulheres em seus biquínis decotados. Apesar de chamuscada pela violência, ainda se pode chamar o Rio de Janeiro de Cidade Maravilhosa.

    Muita coisa mudou nos últimos anos por aqui: na política, na infraestrutura e até na educação. Estamos em 2025, e aqui no Brasil o Rio de Janeiro é cidade pioneira em importar escolas que, apesar de se ajustarem a uma estrutura nacional, mantêm as normas dos países de origem, assim como a ética rigorosa, muito diferente, até mesmo, das escolas particulares brasileiras. Uma dessas escolas é a OHS, Oklahoma High School. Nela trabalha Paulo Lawrence, um professor de inglês dedicado e apaixonado pelo que faz. Ele sempre foi cheio de projetos sobre seu trabalho, mas sua vida de casado nunca lhe deu chances de tentar qualquer das ideias que sonhava, sempre lhe extraindo tempo e paz de espírito. Agora, uma semana após seu divórcio, tudo mudou, até mesmo voltou a frequentar praias e a tocar violão nas horas vagas. Aos 44 anos, sente-se como um garoto cheio de planos para o futuro.

    Nessa mesma escola há uma garota muito especial, bem jovem, mas não tão cheia de planos para o futuro que leva a vida ainda sem saber direito o que quer. São 17 anos de pura incerteza, exceto pela certeza de que quer ser feliz. Essa garota é Juliana Blum¹ , filha de Roberto, o melhor amigo de Paulo. Ela tem um namorado, do qual anda bastante fatigada, por ele ser tão inseguro, imaturo e agir quase sempre como se não tivesse um cérebro.

    Existe uma teoria sobre o caos que, segundo esta, quando você muda significativamente o status quo de qualquer coisa, o futuro se torna absolutamente imprevisível, por mais que seus propósitos estejam muito bem planejados, pois isso muda a maneira como o universo interage com você. Paulo sempre planejou muito bem tudo o que deseja para seu futuro, mas desta vez ele não imagina que uma pequena borboleta está para cruzar seu caminho, o que tornará tudo em uma grande bagunça. Sabe-se lá qual será o resultado.

    Hoje é uma segunda-feira, Paulo entra na sala carregando um violão, e todos ficam curiosos para saber o que ele vai fazer com aquilo na aula de Inglês. Os poucos alunos acostumados a ficar do lado de fora da sala, até o professor começar a aula, entram imediatamente com a mesma curiosidade. Juliana sempre gostou do jeito amigável e descontraído de Paulo dar aulas, pois a faz prestar atenção em uma matéria que nunca foi sua favorita. Ela sempre foi movida por entusiasmo, gosta de motivação, algo que a deixe elétrica. Nesta tarde, o que o professor está para fazer, despertará nela algo bem além do que apenas entusiasmo para estudar inglês.

    – Bota revi metu aí professor! – Como não poderia fazer diferente, Jackson, o piadista da turma, grita do fundo da sala, fazendo todos rirem.

    – Heavy metal, você quer dizer, certo, Jackson? – Diz Paulo ao corrigi-lo. Enquanto ele prepara o sistema de áudio da sala, ouve-se um zumzumzum de vozes, falando e perguntando ao mesmo tempo.

    – Heavy metal, professor? / – Você vai tocar? / – O que é isso? / – Fala aí professor. / – Yeaaaah teacheeer, party!...

    Juliana não diz coisa alguma, mas tem uma expressão facial que a revela surpresa, curiosa e interessada. Ela não deixa de notar o novo visual de Paulo, a barba bem feita expondo a cova no queixo, cabelo estilo despenteado pelo vento, quase sem rugas no rosto. Sua roupa não mais parece a de um homem casado. Usa calça Jeans preta desbotada, não muito justa, mas que desenha suas pernas e os glúteos rechonchudos. Também destaca um volume peculiar na frente, no qual Juliana nunca havia prestado atenção. Usa uma camiseta botão New Captain cinza, justa o suficiente para se ver um belo desenho no tórax e abdome. Seus ombros largos também se sobressaem. Não é nenhuma montanha de músculos, mas há um bom volume no peitoral e sem gorduras. Juliana está se perguntando como um homem de 44 anos, que acabara de sair de um casamento de dez, ainda não tem barriga, e a compara com a barriga de cerveja de seu pai, que é um ano mais jovem que o professor. Ela sabe que Paulo não bebe muito, e lembra de um episódio quando ele serviu de motorista para os pais dela, que estavam caindo de bêbados. Aquela noite, ela estava no banco da frente, ao lado dele, com vergonha do comportamento de seus pais no banco de trás, pensando que um dia gostaria de ter um marido como ele, que a fizesse sentir-se segura, diferente do pai dela que havia insistido em dirigir naquele estado. Julie estava mesmo feliz por Paulo estar presente aquela noite. Aquele sentimento parece reviver e misturar-se a novos aflorando-se dentro dela, enquanto o observa. Ele parece bem mais jovem, e ela nunca olhara para Paulo daquela maneira. Julie nota que os olhos pretos e as sobrancelhas retas, levemente curvadas na ponta, o nariz não muito arrebitado e a boca levemente carnuda, formam um belo conjunto, e sente que aquele misto de grave e suave da voz lhe agrada, mesmo ainda não dando atenção a isso. Embora curiosa com o que ele está para fazer, Julie não se manifesta e contempla aquela figura renovada, se perguntando porque nunca havia prestado atenção naqueles detalhes.

    Percebendo que algo diferente está para acontecer, Geisa pega seu novíssimo Galactus 2025² e filma.

    – Parece que vou ter algo interessante para postar no Freedomtube³ . – Comenta com Karol, que também está filmando com seu celular.

    Paulo, sem dizer nada, simplesmente toca alternando entre Mi e La, em sétima, com batida inconfundível. Os alunos, embora não saibam cantar corretamente, imediatamente identificam a canção de Elvis Presley. Envolvida pela batida do violão, Juliana, levantando os braços, dá um "uhuuuuuu de empolgação, e entra no ritmo batendo palmas. Alguns batucam no ritmo, a maioria das meninas batem palmas, outros gritam hu hu hu" ritmado e, num momento mágico, um misto de entusiasmo e euforia toma conta da classe, quando o professor canta:

    A little less conversation, a little more action, please

    All this aggravation ain't satisfactioning me

    A little more bite and a little less bark

    A little less fight and a little more spark

    Alunos de outras turmas, que estavam em grupos de exercícios outdoor⁵ , se perguntam de onde vem aquela canção. Um dos alunos, vindo do toilete, para na porta da sala 32 e observa uma verdadeira festa lá dentro. Ele corre para os colegas em outdoor.

    – Ei galera, na sala 32. – E corre de volta para porta da sala, seguido pelos colegas e os professores que os monitoram.

    Os alunos vão se acumulando na porta e entrando no ritmo, batendo palmas e dando urros de entusiasmo. Paulo sempre foi um colega muito querido e popular, tanto entre alunos quanto entre os professores. Talvez, por isso, os monitores que coordenam os alunos, mesmo sem saber o que está acontecendo, também batem palmas.

    Por todo o segundo piso, professores ficam à porta de suas salas, voltados para a sala 32, acompanhados de alguns de seus alunos com pescoços esticados para fora da sala, perguntando o que está acontecendo ao ouvir a canção que prossegue.

    Come on baby I'm tired of talking

    Grab your coat and let's start walking ...

    Come on, come on

    Os alunos respondem "Come on, come on", em coro.

    A essa altura dos acontecimentos, Juliana, com seu espírito livre e alegre, está ao lado do professor, dançando ao estilo dos anos 70. Como se fossem uma dupla de pop stars, dançando e batendo palmas, Juliana olha para Paulo, enquanto ele prossegue como se cantasse para ela.

    Close your mouth and open up your heart and, baby, satisfy me

    Satisfy me, baby

    Satisfy meeeeee

    Juliana canta o grito em voz fina e compartilha o microfone com Paulo, em diversos momentos.

    Ao término da canção, todos aplaudem com entusiasmo, tanto do lado de fora quanto dentro da sala, embora, com exceção do professor, ninguém sabia sobre o que era aquilo tudo. Juliana olha para o sorriso de Paulo enquanto ele recebe os aplausos, e nota que sua dentição bem feita lhe dá um belo sorriso. Ainda entusiasmada e sorrindo, aproxima-se e pega no braço dele com as duas mãos, apreciando-o com os olhos, com uma sutil demonstração de quem pensa este é meu.

    – Professor, nunca te vi assim! Você tá diferente, parece outra pessoa. E eu não sabia que tocava violão.

    Paulo, com semblante alegre pelo momento feliz, responde.

    – Eu mesmo quase esqueci que tocava violão. – Ele não sabe exatamente o porquê, mas se sente muito bem com o olhar interessado de Julie e seus elogios. – E aí, gostou da música?

    Pela primeira vez, Juliana presta atenção no timbre de voz. Nunca notara que lhe agradava. Espontânea e autêntica como sempre, responde com os olhos brilhando.

    – Gostei de tudo! Nunca achei que tinha uma voz tão... boa... para cantar. Adorei! – E faz um típico gesto à espera de um abraço.

    Em gesto automático, ele a abraça paternalmente. Ela o aperta forte, apreciando o cheiro suave de seu perfume Ar da Montanha, La Fougère⁶ . Paulo retribui o aperto com a mesma força. De brincadeira, ela dá um tapa nos glúteos dele, que responde com um beijo no pescoço e rápidos apertos repetidos, no lado direito da cintura de Julie, como quem tenta fazer cócegas.

    – Mas o que é tudo isso? – Ela pergunta ao terminar o abraço.

    – Vou contar. – Paulo responde sorrindo com certo mistério.

    Até este momento, não há qualquer maldade ou malícia nos pensamentos de Paulo, nem sentimentos carnais para com Juliana. Também não há malícia ou pensamentos carnais, de Julie para com o professor e amigo, mas ela está experimentando sentimentos novos e excitantes, que não sabe exatamente o que são, mas que a remexem por dentro, e fazem-na prestar atenção em detalhes que nunca havia notado.

    Julie senta-se, abrindo espaço a outros que vêm cumprimentá-lo.

    Paulo nota, com surpresa, o zum-zum-zum do lado de fora, ao ver algumas cabeças esticadas para dentro da sala. Ele vai até a porta e todos o elogiam, perguntando o que está acontecendo.

    – Este é meu novo método de aula. E aí, gostaram?

    Os outros professores, com diferentes gestos de surpresa, se pronunciam.

    – Nossa! Isso é que é inovação, hein!

    – Uau! Demais!

    – Queria inventar algo assim para as aulas de matemática. – Diz o professor Dálton.

    – E eu, de química. Huuuur! Popstar! – Diz Carlos.

    – Ei, professor, você também vai tocar nas nossas aulas? – Um dos alunos pergunta, entusiasmado.

    Antes de ele responder, Victor, o vice diretor, tendo um semblante sério para aquele alvoroço, interfere.

    – Não antes de haver uma reunião de professores. – Ele ficara aborrecido porque estava do lado de fora fazendo perguntas, tentando saber o que estava acontecendo e ninguém tinha uma resposta. Com seu usual humor seco, continua. – Professor, eu estava aqui tentando saber o que está acontecendo. Acredito que o senhor tem uma resposta.

    Neste ínterim, dentro da sala, Jéferson, namorado de Juliana, a aborda, insatisfeito e enciumado.

    – Julie, eu não gostei nem um pouco do que você fez!

    – E o que foi que eu fiz, garoto? – Pergunta calmamente, mas com um olhar intrigado.

    Com seu imaturo ciúme, descreve a situação que, para ele, foi absurda.

    – Primeiro, dançando para o professor. Depois, abraça ele daquele jeito.

    – De que jeito, Jéferson? – Julie está séria.

    – Ah, daquele... – Comprime os lábios sem conseguir descrever.

    Julie fala enfaticamente, antes que ele consiga continuar.

    – Jéferson, não havia nenhum jeito no meu abraço! E eu estava dançando com o professor, não para ele. Estava apenas curtindo a música, sem qualquer maldade, até porque o Paulo é amigo do meu pai. – Juliana já estava desconfiada do namorado, tinha razões para tal, então prossegue em sua crescente fúria. – Escuta aqui, Jéferson, sabe por que sou uma garota em quem pode confiar?

    Calado pela determinação imperativa de Juliana, ele apenas escuta enquanto ela continua falando com voz alta e enfática.

    – Porque eu não sou como você! – Respira fundo e termina falando de maneira calma, mas firme. – Agora, senta de volta no teu lugar, e pensa um pouco no que você está fazendo da tua vida! – Ao que Jéferson reage com um semblante de garoto assustado, como quem tem culpa no cartório, como quem se pergunta se ela está sabendo de algo, quando ouve uma última ordem de Julie. – Vai!

    E ele obedece.

    CAPÍTULO DOIS: Amor subconsciente

    A reunião de professores está no fim. O diretor Orlando tenta persuadir o vice, Victor, de que o ato de Paulo foi uma boa ideia, e apresenta uma lista de razões para apoiá-lo.

    – Victor, esta escola sempre buscou inovações que façam os alunos terem entusiasmo pelo estudo. Os outros professores gostaram da ideia. Os alunos estão entusiasmados, e ele acabou de apresentar seu novo plano de aula com o novo método, explicando suas razões de modo bem convincente. O que parecia um ato improvisado, na realidade, é uma ideia muito bem planejada. São professores assim que nossa escola procura manter. Eu acho que isso tem certo crédito. Concorda?

    Victor reflete por um segundo. Procurando sempre ser formal e direto, ele pergunta a Paulo.

    – Professor, por que pôs em prática seu novo método sem antes apresentar o novo plano de aula? – Ele tem um semblante sutilmente sério, mas predominantemente impassível, aguardando uma resposta.

    Um tanto desajeitado por aquela situação, e sentindo-se um pouco intimidado, responde pausadamente.

    – Bom, eu queria... testar o método... antes de apresentar o novo plano de aula. Não tinha certeza se isso iria despertar o interesse dos alunos, e nunca esperava por todo aquele alvoroço. Peço desculpas pelo transtorno.

    Com ar preocupado, Victor conclui, com breve discurso.

    – Organização é uma coisa importante para esta escola. É por isso que tenho um emprego aqui. No dia em que organização deixar de ser algo importante para esta instituição, provavelmente vou perder meu emprego. Por isso devo continuar mostrando que todas as coisas podem e devem ser feitas com um nível saudável de organização. – Para e pensa um pouco. – Seu novo método é interessante e admito que é importante, claro, despertar o interesse do aluno, é parte essencial de todo método moderno de ensino. Porém, acredito que todos aqui concordem que o método de um professor não deve criar distúrbios para as aulas dos outros. – Neste ponto de seu discurso, o diretor e todos os outros, incluindo Paulo, assentem com a cabeça. Ele continua. – Então, da próxima vez, tente fazê-lo sem usar o sistema de áudio. Acredito que o violão e a voz humana têm volume suficiente para o tamanho de nossas salas. Concorda?

    Paulo dá um suave sorriso, revelando seu contentamento.

    – Claro, Victor. Tenho certeza de que vai funcionar. – E, em gesto que é retribuído, estende a mão para cumprimentá-lo.

    O diretor Orlando finaliza o assunto e todos fazem questão de cumprimentar Paulo, antes de saírem.

    Do lado de fora, Paulo avista Juliana acenando à distância. Ao invés de responder com outro aceno, vai até ela para conversar. Faltam ainda quinze minutos para terminar o recreio. Ao notar que ele está vindo, Juliana, sem se dar conta, ajeita o cabelo atrás da orelha e confere seu visual com uma rápida olhada em suas roupas.

    – E aí, Paulo, sobreviveu à mordida do tubarão? – Pergunta sorridente. Juliana sempre se sentiu à vontade para chamar o professor pelo nome, sem formalidades. Afinal de contas ele é amigo dela e de seus pais.

    Paulo tenta conter a gargalhada.

    – É, sobrevivi. – Dá uma piscadinha antes de continuar. – Na verdade, não foi nada tão sério. Ele apenas pediu que cantasse sem usar o sistema de áudio, para não perturbar as aulas dos outros professores.

    Juliana tem um semblante intrigado.

    – Ainda acho incrível como eu nunca soube que você tocava violão. Há quanto tempo é amigo de meus pais? Desde antes de eu nascer, não é?

    – É verdade. Antes de seus pais se casarem, há mais de 20 anos. Eu te peguei no colo, sabia?

    – É, me lembro de algumas fotos minhas contigo de quando eu era bebê.

    – Você não sabia que eu tocava violão. E eu não sabia que você tinha uma voz tão afinada. Estamos quites.

    – Eu? Afinada?

    – Julie, não seja tão modesta, você mandou muito bem! Parecia uma cantora de verdade. Pergunte a seus colegas. – Paulo elogia com sinceridade.

    Juliana fica derretidamente sorridente, segurando as mãos pelas pontas dos dedos. Novamente tem aquele sentimento estranho, feliz com a presença dele, deixando transparecer aquele olhar vivo e interessado. Sem que ela se dê conta, ajeita novamente o cabelo atrás da orelha, e confere o visual.

    – Sabe sua música favorita, lembra quando você cantou uma vez num karaokê? Love is Love? Mandou muito bem! Lembra dos aplausos? Queria te ver cantar aquela música na minha aula. O que acha?

    – Ai, Paulo, eu fico nervosa só de pensar que vou cantar. – Ela diz, anormalmente tímida.

    – Ué, mas cantou comigo hoje bem espontânea e parecia bem desinibida. – Tenta encorajá-la.

    – Paulo, isso já é exagero. Eu não cantei, só fiz umas vozezinhas do coro e umas pequenas partes que eu sabia. E minha falta de timidez foi apenas porque me peguei envolvida pela festa. – Argumenta, mas tendo no fundo uma vaga vontade de fazê-lo.

    – Não pode negar que sabe cantar Love is Love. E você o fez na frente de um monte de gente. Não parecia tão tímida ou nervosa. Concorda? – Paulo levanta as sobrancelhas para ela, como alguém convencido de que acabara de usar um poderoso argumento. Mas Juliana sempre sabe como contra-argumentar.

    – Eu tava nervosa sim, mas sei como disfarçar. Você deve também se lembrar que naquele dia eu não estava tão afinada, e só cantei porque era um karaokê onde a gente vê a letra da música, onde mostra o momento em que devemos cantar, e... aquelas pessoas não eram meus colegas de classe que tenho que encarar cinco dias por semana. – Ela devolve as mesmas sobrancelhas levantadas, fitando-o e balançando rápido a cabeça para cima e para baixo, como quem pensa Eu sei tudo.

    Paulo suspira, com ar derrotado.

    – É, moça, você tem argumentos. Mas eu insisto. Seu pai me convidou para o churrasco no domingo. Posso levar o violão e nós podemos ensaiar. Se não se sentir segura, nós podemos colocar a letra da música no pedestal. Te garanto que você vai dar um show. E agora? – Encarando-a, ele espera por uma resposta positiva.

    Juliana não sabe por que adorou a ideia de ter o professor o dia todo em sua casa. Ele já foi muitas vezes lá, mas, desta vez, a ideia de recebê-lo para fazer algo especialmente com ela é uma coisa que desperta seu interesse de imediato. Não entende o porquê, mas está adorando aquilo. Tem até uma certa ansiedade.

    – Caraca! Você tá quase me convencendo. – Olha para o peitoral dele e logo em seguida para seus olhos. – Vamos fazer o seguinte: Nós passamos o domingo ensaiando, mas sem minha obrigação de cantar na sala. Assim eu não fico ansiosa. Pode ser?

    Paulo sempre admirou a sagacidade de Julie e reflete. Não se comprometer a cantar para não ficar ansiosa. Boa tática psicológica. Ele tem o mesmo semblante escrutinador, como em todas as vezes que a vê demonstrar seu raro dom de sabedoria. Novamente reflete. Vou encontrar um jeito de fazê-la cantar. Como sabia que não conseguiria muito mais do que aquilo, responde sem demora.

    – Pra mim, está perfeito!

    Nesse momento, Jéferson aparece e pega na mão de Juliana. Calado e transparecendo seu ciúme, com sua típica imaturidade, ele tenta levá-la para longe de Paulo, desconsiderando o fato de eles estarem conversando. Juliana fica sem graça por causa de Jéferson, mas não arreda o pé do lugar, enquanto ele se move segurando a mão dela. Quando o braço fica esticado quase horizontalmente, ela o puxa de volta, reclamando indignada.

    – Jéferson! O que você tá fazendo?

    Ele responde com a típica infantilidade, assumindo uma postura de quem tem direitos sobre a garota.

    – Eu só quero falar com minha namorada.

    – O que quer falar é alguma coisa importante? E o que aconteceu? Esqueceu sua educação em casa? Custa dizer boa tarde e pedir licença? – Julie repreende, com tom severo.

    Paulo, não querendo ser pivô de uma briga de namorados, interrompe.

    – Não tem problema Juliana, acho que vocês devem conversar. Só faltam cinco minutos para terminar o recreio e eu preciso comer alguma coisa.

    Antes que Paulo vá embora, Julie fala com tom autoritário.

    – Professor, nós não temos nada para conversar. – Sacudindo o braço com um puxão para baixo, solta a mão de Jéferson. – Essa criança só tá com ciúme!

    Dentro da escola, Julie sempre chama Paulo de professor ou professor Paulo, quando na presença de outras pessoas. É uma antiga recomendação do vice diretor, para evitar a sensação de favoritismo entre os outros alunos, pelo fato de ele ser amigo da família. Paulo, surpreso por um segundo, arregala os olhos e levanta as sobrancelhas.

    – Ei, Jéferson, eu vi essa menina nascer e a carreguei no colo. Não se preocupe, não vou tomar seu lugar. – E ri ao imaginar a situação.

    Juliana põe a mão na boca para conter um súbito riso, mas em seguida mata o riso com um olhar sério para o namorado.

    – Tá vendo só, Jéferson? A vergonha que me faz passar?

    – Julie, vocês têm que conversar. E eu preciso comer. – Diz Paulo, em seu esforço para sair daquela situação.

    – Ai, professor, desculpa. – Diz com leve culpa. Ela se volta para Jéferson com tom severo. – E é verdade, Jéferson, nós temos algo importante para conversar. – Com a atitude de uma policial, pega-o pelo braço e o leva para dentro da sala.

    – Nós temos algo sério para conversar? – Jéferson pergunta com ar curioso.

    Julie, sem muitos rodeios e olhando nos olhos dele, vai direto ao ponto.

    – Quero saber o que você tem com a Jénifer. Vocês andam conversando muito a sós. O que está acontecendo? – Com as mãos na cintura esperando por uma resposta, mantém os olhos fixos em Jéferson, como quem está prestes a disparar um raio laser.

    Desconcertado com a autoridade de Julie, ele olha para os lados e, sem saber o que dizer, argumenta.

    – Qual é o problema? Você também estava conversando com o professor Paulo a sós.

    Juliana bufa de raiva.

    – Jéferson, eu estava conversando a sós com o professor em público, numa área aberta aos olhos de todos, não naquele cantinho isolado atrás do casebre da manutenção. Já vi você com ela lá duas vezes! O que estavam fazendo lá? Eu quero saber!

    Em um de seus raros momentos de raciocínio, Jéferson responde rápido.

    – A gente tava só conversando! Tá bom?

    – Conversando? O que estavam conversando num local escondido como aquele? – Juliana questiona, fitando-o nos olhos.

    Jéferson, novamente, usa o professor como escapatória da inquisição.

    – E o que você estava conversando com o professor?

    Agora o semblante dela parece realmente endemoniado, está visivelmente furiosa. Julie baixa o tom da voz para não criar escândalo, mas fala sério, em um tom severo que Jéferson jamais a ouviu usar antes.

    – Jéferson, o professor só estava tentando me convencer a cantar na sala, nada mais. Não use o professor para mudar de assunto, não mude de assunto de modo algum! Pelo amor de Deus, parece que estou falando com uma criança! Eu quero saber o que estava falando com a Jénifer naquele local isolado! – Pausa por um segundo e grita com impaciente tom de autoridade. – Agora!

    Jéferson tem um surto de criatividade.

    – Era um assunto particular dela, um problema com o irmão. Eu não posso dizer o que é.

    Com semblante e tom irônicos, Julie se pronuncia.

    – Ah, agora você e a Jénifer têm assuntos particulares pra conversar. Confidências. Mas que ato generoso o seu... ceder o ombro para uma amiga do colégio com problemas na família. Não conhecia esse seu lado.

    Nesse momento, a sirene do colégio toca, alguns alunos começam a entrar na sala e Jéferson dá um suspiro de alívio. Mas Juliana ainda completa.

    – Não pense que essa conversa terminou aqui. – E vai para sua carteira.

    CAPÍTULO TRÊS: Flagra

    Julie é uma moça que gosta de leitura, apaixonada por livros. Aos 17 anos, já leu mais de dois mil livros, hábito que aumentou bastante seu conhecimento sobre o ser humano, e mesmo sendo bem jovem, consegue entender as pessoas e os processos de interação entre elas. Não é à toa que tem postura muito madura para sua idade.

    Este é um dia feliz para Juliana.

    Durante o recreio, ela está sentada na beira do pátio, encostada em uma coluna, rememorando a maneira como o professor a fez cantar na frente dos colegas de classe. Pergunta-se como ele a persuadiu, tentando entender o que aconteceu. Lembra-se dos doces olhos pretos de Paulo a observando.

    Em seus pensamentos, Julie faz uma análise do que houve. Como conseguiu me fazer cantar? Ele vem com o violão e coloca a letra da música sobre o pedestal. Olhando para mim, balança a cabeça enquanto toca... E eu canto junto ainda sentada, do mesmo jeito que fizemos em casa, quando ensaiávamos, balançando a cabeça olhando para mim. Isso! Mas que danado! Usou de psicologia comigo. Nem me lembro quando levantei e comecei a cantar diante da classe... Mas eu gostei, foi muito legal. Não me pediu, nem tentou me persuadir, eu que tive vontade de fazê-lo. Ou foi ele quem me fez ter vontade? Como o Paulo faz isso? Ele mexe comigo... Uhum... E tenho me sentido estranha ultimamente, especialmente na presença dele. Nunca experimentei isso antes. Por que me sinto tão feliz quando ele está perto? Será que eu...-

    Nesse exato momento Karol aparece e, arrebatando Julie de seus pensamentos, cochicha rapidamente.

    – Julie, é melhor dar uma olhadinha atrás do casebre. – E sai discretamente para longe, como quem tenta disfarçar que acabara de dedurar o namorado dela.

    Abruptamente despertada de sua doce reflexão, Julie simplesmente murmura um para Karol ao vê-la ir embora, e cai na real. "Jéferson... e Jénifer!!" Logo levanta-se e parte com disposição em direção ao casebre, determinada a quebrar tudo. Com expressão enfezada, andando rápido como uma locomotiva, nem percebe os colegas de classe cumprimentá-la por sua performance na sala. Com as mãos fechadas, tudo o que ela quer é socar os dois. Em sua caminhada, não consegue enxergar qualquer um a sua frente, a única imagem que visualiza é a cena dela segurando os dois pelos cabelos, e colidindo suas faces contra a parede. Ao se aproximar do casebre, de modo prudente como gosta de agir, observa por detrás da moita do Jardim Redondo, para verificar exatamente o que eles estão fazendo.

    Ela avista os dois se beijando na boca, Jéferson com uma das mãos nos glúteos de Jénifer e a outra no cabelo. Jénifer mexe com as duas mãos no cabelo dele. Julie sente-se enojada. Ai, que nojo! Como ele pode mexer daquele jeito naquele cabelo seboso, nojento, cheio de caspas?! Tomada pela repugnância, desiste imediatamente de seu plano, ao pensar que iria tocar naquele cabelo para dar uma surra em Jénifer, ou mesmo tocar no cabelo de Jéferson, sujo com as mãos dela, e tem uma leve ânsia de vômito. Ela sabe que Jénifer não tem o hábito de lavar as mãos quando vai ao banheiro. Parando por um instante, percebe que não tem qualquer ciúme de Jéferson, e como uma peça de quebra-cabeça que se encaixa, nota que seus sentimentos não são mais os mesmos, dando-se conta de que não gosta mais dele. Lembra-se que há um bom tempo não o chamava mais por Jefinho. Ela tem, na verdade, uma sensação de alívio e liberdade, encarando aquilo como o motivo perfeito para dispensá-lo. Julie fica feliz em concluir que ele jamais irá tocá-la, e tem um calafrio de repugnância ao imaginá-lo fazendo isso. Não aguentando mais ver aquela cena, simplesmente vai embora sem fazer coisa alguma, perguntando-se qual seria o melhor momento para chutá-lo. O mais breve possível!

    Menos de vinte minutos depois, Jéferson aparece e discute com Julie, dizendo não gostar de vê-la cantar Love is Love com o professor, sugerindo que ela está muito insinuante para Paulo, e inicia mais uma série de infantis argumentos.

    – Não estou gostando da maneira como tá olhando para o professor. Você está querendo me trair? Eu não quero ser um corno!

    Julie fita Jéferson por um segundo, perguntando-se: Aff! Como consegui namorar este idiota? E quando Jéferson tenta pegá-la pelo braço, ela bate na mão dele com força e fala com uma expressão facial que mistura raiva e nojo.

    – Você não toca em mim! Nunca mais vai tocar em mim! – Ao ver Jéferson com aquela face de retardado, como alguém incapaz de entender o que está acontecendo, ela tenta ser mais clara. – Por que não fica de uma vez com a barriguda da Jénifer? Me esquece!

    Jénifer aparece e entra na discussão.

    – Quem é a barriguda, querida? – E vira de lado, mostrando a barriga reta.

    – Ah, eu havia me esquecido, são apenas gordurinhas localizadas. – Julie ironiza gesticulando aspas. – Pode ficar com o Jéferson pra você, sua peituda. Quem gosta de moleque é babá, vai dar de mamar pra ele, vai!

    – Sou melhor do que você que não tem peitos! – Fala segurando os melões.

    – Eu tenho peitos sim, querida, só não são gigantes como os seus, a rainha da espanhola! – Julie responde de modo calmo mas enfático.

    Jénifer fala desaforadamente e puxa Jéferson pela mão.

    – Rainha da Espanhola com certeza, querida! Isso é algo que você nunca vai poder fazer!

    – Eca! Que nojo! – Julie diz com uma face enojada. – Sabe de uma coisa? Vocês se merecem! – E vai de saída.

    – Julie, eu queria... – Jéferson é interrompido ao tentar abordá-la.

    – Queria, meu filho! Queria! A partir de agora você não pode querer mais nada comigo. – Pausadamente, termina falando com ênfase e desdém. – Fica aí... com a Jénifer... a rainha... da espanhola. – E sai andando rápido.

    Juliana é uma garota que dificilmente tem esse tipo de discussão infantil, comum entre adolescentes. Com autoestima bem acima da média, dificilmente sente-se atingida por qualificações negativas sobre sua aparência. Porém, desta vez, uma razão extra fará com que seus pensamentos sejam afetados.

    CAPÍTULO QUATRO: Pergunta inesperada

    Depois do recreio, na segunda aula de inglês, Paulo fala sobre licenças poéticas nas músicas. Juliana está sentada, olhando para o professor, não entendendo porque sente-se insegura sobre si mesma. Também não entende por que tem um sentimento de perda para com Paulo, ela não tem coisa alguma com ele, mas algo a perturba demais por dentro, e não consegue prestar atenção na aula, o que nunca aconteceu. Em sua cabeça, a pergunta que não a deixa em paz é: Será que o professor acha meus seios pequenos? Não consegue pensar em outra coisa. Ela desvia o olhar do professor para os próprios seios, checa-os e volta a fitá-lo com um semblante triste.

    Paulo nota o olhar deprimido dela e pergunta-se o que teria acontecido,

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