Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

Nunca Vou Te Abandonar
Nunca Vou Te Abandonar
Nunca Vou Te Abandonar
E-book92 páginas1 hora

Nunca Vou Te Abandonar

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

Um amor docinho como a baunilha, assim é o que Larissa e Márcio sentem um pelo outro. Ela é lésbica, e ele é gay. Será que ficarão juntos? Os dois possuem ligações afetivas com outras pessoas.
Embarque com Márcio e Larissa em uma viagem pelo mundo. Será que Lúcio, marido de Márcio, os deixará em paz?
Além de médico, Márcio é um empresário de sucesso, e Larissa ainda está na faculdade.
Se apaixone por esta estória assim como o casal. Ainda existem sonhos que se realizam? Sim, e também existem os de padaria com baunilha, como o do livro.
Bom apetite, leitor, já diria a Katy Perry.
Delicie-se
IdiomaPortuguês
EditoraViseu
Data de lançamento3 de mai. de 2024
ISBN9786525474922
Nunca Vou Te Abandonar

Relacionado a Nunca Vou Te Abandonar

Ebooks relacionados

Romance para você

Visualizar mais

Artigos relacionados

Categorias relacionadas

Avaliações de Nunca Vou Te Abandonar

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    Nunca Vou Te Abandonar - Juliana Trevisan

    BONEQUINHA DE LUXO?

    Muito tempo depois, quando se perguntasse sobre aquele dia, Larissa lembraria apenas do susto. E não do susto bom – o susto bom, na hora, nem mereceu o nome, porque ela não reparou no que havia acontecido. É uma daquelas coisas que nos ocorrem, mudam nossa vida toda, e para que possam produzir seu efeito não devem ser notadas. Assim, depois que a gente nota que tudo mudou, naturalmente começa a pôr em ação a memória criativa e lembrar de sentimentos que jamais foram daquele modo, em relação àquelas coisas, e com tanta força que transformam o passado. Eles fazem então as coisas se completarem e acontecerem de vez no mundo. Com o amor, quase sempre é assim.

    Larissa ouviu Verônica chamá-la, num tom de autoridade jovial, quase brincalhona - o que não tinha o menor cabimento, dadas as últimas semanas – Bora, menina, vamos dar uma volta na Paulista!. Não eram incomuns esses passeios, mesmo naqueles dias tensos onde eram muitos os motivos de estresse: vestibular, aprovação, começo de curso, novidades absolutas, ou quase, turmas novas, hormônios novos o em outras doses, festas novas, brigas novas, namoros velhos terminados, choros diferentes. Apenas que, naquele sábado, a sugestão pareceu dissonante. Desde o convite, correndo pelo tom de voz e terminando no efeito de perturbação na atmosfera, que segundos antes, átimos talvez, parecera tão consolidada e segura - ao menos ao seu modo.

    Como assim, mãe? – Larissa chamava a avó de mãe, porque a vida foi assim – respondeu Larissa do quarto, tirando uma mecha de cabelo loiro dos lábios rosados, falando toda atrapalhada - ela tinha seu jeito de ser atrapalhada e esse era um deles, e era do tipo dos que a faziam parecer meiga. Eu ia tentar encontrar a Catherine ‘sem querer’, no Bixiga.

    Ninguém encontra ninguém naquele inferno de Achiropita em fim de semana, meu bem, e além do mais a festa começa só de noite; se você quiser fazer seu papelzinho de trouxa vai ter tempo pra isso de noite e sua madrinha quer te fazer uma surpresa. Úrsula. Só faltava essa. Era outro sinal. E o Roberto também vai. Bom, isso sim era estranho, mas se eles queriam brincar de happy family, de fato ela tinha tempo pra isso. Quem sabe não rolava um sundae na faixa? Eu não sei você, mas para muitos - e Larissa é um desses - sundae na faixa é a isca perfeita. Por sundaes, mesmo hipotéticos, ela era capaz de aturar até mesmo as surpresas de Úrsula. E, se tem algo que se possa dizer sobre a madrinha, é que dela pode se esperar tudo – ela é capaz de qualquer coisa e nada que venha dela surpreende. Pensando bem, deve ter sido isso.

    A dissonância foi ignorada porque, uma vez que Úrsula se metia no assunto, a própria estranheza, em primeiro lugar, podia ser abafada pela irritação, especialmente para Larissa. Aparentemente, só o padrasto, Roberto, percebeu desde cedo que a madrinha tinha o dom – talvez desenvolvido por um misto de gosto e hábito – de enervar a afilhada. Depois, que os detalhes fora do tom parecem naturais sob a presença dessa senhora. Fisicamente, inclusive, ela contribui para bagunçar cenários, até por oposição a Larissa – você já deve ter notado que as origens de nossa amiga são mais ou menos – mais para mais do que para menos – obscuras. Ela chama a avó de mãe porque, de fato, ela o foi até aqui; mas, de direito, ela continua sendo avó. O que não é fácil para ninguém. A pessoa chega a uma certa idade esperando um filhinho com açúcar, ou seja, um neto, e a vida (mais precisamente, a filha mais velha) presenteia-a com outra filha, muito mais geniosa e irascível que a original e, vamos falar a verdade, mais diferente ainda, fisicamente, do que ela. Larissa é loira, muito branca – puxou a mãe, que por sua vez puxara o pai, e isso você sabe assim que bate os olhos em Verônica: um tipo muito brasileiro e mestiço e jambo, de traços opostos aos da neta, que levara ao estado de arte o jogo de boneca de porcelana iniciado pela mãe. Essas mãozinhas de boneca, dizia Verônica quando bebia, são assim até você ter que começar a lavar sua louça e sua roupa, mocinha!.

    Úrsula apareceu buzinando; ali, entre a Paulista e a Bela Vista, ninguém nunca encontra vaga para encostar, mesmo numa rua residencial mais notável pelos sobrados do que pelos empreendimentos que devoraram esses bairros. E, mesmo que houvesse vaga, Úrsula apareceria buzinando, porque isso é mais chato do que estacionar, descer, bater à porta e agir como gente antes de sair. Beto, grande conhecedor da peça, já se postara ao portãozinho ladeado por dois modestos, mas honestos jardinzinhos, que conferiam a escada da entrada qualquer coisa de alameda vintage. Ele fazia isso para evitar que a ‘brincadeira’ se prolongasse; uma vez que avistava o carro, largava a indefectível bituca e empurrava o portãozinho, que respondia rangendo um tantinho – Esta merda precisa de WD-40. Reproduza, na sua cabeça, esse pensamento em carioquês, esticando as vogais e os Esses. Duas marcas do pensamento do pai são estas: ele fala como paulistano, mas ouve a própria voz em carioca, e ele pensa em qualquer produto sob a modelagem das marcas de alto renome. Ele faz a barba com Gilette, prefere a ergonomia dos Volks, toma um guaraná mesmo quando pede Coca-Cola e a merda do portão só leva WD-40. Com ele é assim.

    Enquanto Beto põe o mocassim na calçada e esmaga a bituca de Rothmans amaldiçoando o portãozinho, Verônica cruza a porta berrando com Larissa, que ainda não conseguiu atulhar seus bricabraques na charmosa bolsinha salmão que ganhara de Catherine – Deus, como ela gostava daquela bolsinha, gostava até do cheiro. Começara a gritaria despropositada de novo e, de novo, ela começava, muito por isso, a suar frio e tremer um pouco. Será que ia

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1