Contos De Arrepiar
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Contos De Arrepiar - Batuta Ribeiro
Uma chamada estranha
O telefone tocou na central. O policial atendeu.
— Graças a Deus! O senhor tem que me ajudar – disse a mulher em desespero.
— O que está havendo?
— Tem que me ajudar, policial! Tem que vir aqui! Eu não sei mais o que fazer, ele vai me matar!
— Quem?
— Eu não posso dizer, eu não posso falar seu nome – respondeu a mulher.
Ricardo pensou ser um trote.
— Me passe seu endereço.
— Eu moro na Rua das Oliveiras, número 45. Por favor, venha depressa, antes que ele...
A voz da mulher desapareceu e o policial escutou um baque. Houve um grito.
— Alô! Alô! – chamou Ricardo, sem resposta. Depois de um vago silêncio, o policial ouviu a voz de um homem: — Olá Ricardo.
— Quem é você e como sabe o meu nome?
— Eu sei de muitas coisas, policial.
— É três e quinze da manhã, você está sem sono e resolveu dar um trote na polícia para passar o tempo. Muito bom! – ironizou Ricardo. – Por que você não arranja uma namorada em vez de ficar passando trote?
— Talvez eu procure a Michele, aquela safada da sua esposa – falou o homem.
Ricardo tremeu. Quem poderia estar brincando com ele? Nenhum de seus amigos seria tão idiota para fazer aquele tipo de brincadeira.
Ele ligou o rastreador de chamadas e perguntou:
— Cadê a mulher com quem eu estava falando? – perguntou Ricardo.
— Por que ligou o rastreador de chamadas? – perguntou o homem.
— Afinal, quem é você?
— Eu sou um amigo. Também fui amigo do seu pai. Eu vi quando ele se enforcou, você se lembra, não? Claro, foi você que achou o corpo.
— Vejo que ficou sem palavras – disse o estranho – deve se perguntar como sei tanto sobre você. Eu também sei que você culpou sua mãe por seu pai ter se matado. Mas, na verdade, seu pai não se matou porque pegou sua mãe na cama com outro, ele se matou porque era um fracassado.
O rastreador indicou o mesmo endereço que a mulher tinha falado. Não era um trote. Ricardo desligou o telefone e acionou pelo rádio uma viatura para que fosse averiguar o endereço.
Duas horas se passaram e Ricardo não recebeu nenhum retorno.
— Central chamando carro 05! Central chamando carro 05! Alguém na escuta? – chamava Ricardo, não obtendo resposta.
Pressentindo que alguma coisa estava errada, ele solicitou que outra viatura fosse até o número 45 da Rua das Oliveiras. Minutos depois, foi informado que os dois policiais estavam mortos.
— Como? O que aconteceu? – perguntou Ricardo.
— Não sabemos – respondeu o policial do outro lado da linha – encontramos eles caídos no chão da sala, sem nenhum sinal de machucado ou de tiro.
— E quem estava na casa?
— Apenas uma mulher. Ela está em estado de choque. Não fala e parece não ouvir nada do perguntamos.
— Não havia mais ninguém? Um homem?
— Só a mulher. Revistamos a casa inteira.
Os corpos dos policiais foram para o IML. O legista atestou que a morte dos dois policiais foi provocada pelo destroncamento do pescoço.
A mulher foi presa e depois encaminhada para um hospital psiquiátrico. Não foram encontradas pistas sobre a identidade do homem que falou com Ricardo.
A investigação foi encerrada por falta de provas. A mulher permaneceu internada no hospital devido ao seu estado de letargia.
Ricardo foi visitá-la um dia. Ela estava deitada na cama e seus olhos estavam fixados em um ponto invisível do teto.
O policial sentou-se ao lado da cama. Examinou o rosto sem expressão da mulher. Lembrou-se dela pedindo por ajuda, lembrou-se de seu desespero ao dizer que ele
iria matá-la.
Quem seria ele
?
Ricardo abaixou a cabeça. Sua memória buscou os rostos dos policiais que morreram. Eram seus companheiros, amigos.
Ao levantar a cabeça, Ricardo tomou um susto ao ser confrontado pelo olhar da mulher. Seus olhos estavam vivos, assustados, dilatados. Os olhos dela se desviaram de Ricardo para fixarem em um ponto imediatamente atrás dele.
O policial virou sua cabeça de lado e, pelo canto do olho, divisou alguém, que rapidamente desapareceu. Virou-se novamente para a mulher e viu que ela estava morta.
A morte branca
Na recepção do hospital, alguns pacientes se entretinham vendo televisão enquanto aguardavam o atendimento médico.
Dois enfermeiros conversavam com a recepcionista. Uma faxineira passava com seu carrinho em frente aos pacientes. Um médico entrava na recepção falando ao celular.
A porta do hospital