O Grande Universo Das Memórias
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O Grande Universo Das Memórias - Valdira Abreu Magalhães Nina Lee De Sá
O Grande Universo
Das Memórias
Valdira Abreu Magalhães Nina Lee de Sá
1ª. Edição
1
O Grande Universo
Das
Memórias
Temas abordados
O cérebro, as lembranças, As
memórias, Traumas, tipos de
memórias, Exercícios para a
memória. Tristeza, Medo, Solidão,
Síndrome do pânico, Depressão,
Doença de Alzheimer, Parkinson,
Demência de corpos de Lewy,
Demência Frontotemporal e a
Esclerose lateral amiotrófica (ELA)
2
A
prendi que nossa
jornada é enriquecida pela convivência com diversas
pessoas, absorvendo diariamente as lições que cada
indivíduo nos oferece. É profundamente inspirador
quando nos reconhecemos como parte de uma
pluralidade de seres, e compreendemos que nunca
estamos verdadeiramente sozinhos,
independentemente de nossos esforços para isso.
Somente aqueles que amam verdadeiramente
conseguem captar a essência mais profunda das
experiências, como se pudessem ouvir os segredos
do universo. Por meio destas palavras, compartilho o
conhecimento que me foi transmitido e assimilado
em minha jornada pessoal. Peço que não adote
minhas crenças como suas, encorajo que busque o
aprendizado por si mesmo, forme suas próprias
conclusões e siga seu próprio percurso.
"Não desistir sempre foi o lema que guia minha
existência"
3
Notas da autora
E
screvo
com
o
propósito
de
compartilhar conhecimento proveniente de
meus estudos e experiências junto às minhas
leituras, observações de casos clínicos
reflexões pessoais.
e
Não busco gerar discordâncias dentro
dos campos científico ou espiritual. Se apreciar o
livro, sinta-se à vontade para recomendá-lo;
caso contrário, é importante lembrar que
opiniões, estudos e interpretações variam entre
indivíduos, tornando-nos únicos e especiais.
Se a leitura foi proveitosa, fico contente;
se não, é válido descartá-la, pois isso também
contribuirá para nossas lembranças
experiências pessoais.
e
4
Dedicatória
D
edico este livro a todos os indivíduos
que perderam a própria identidade, àqueles que
lidam com a ausência de memórias de quem
amam. Àqueles que expressam 'eu te amo' para
um ser cuja mente está aprisionada, incapaz de
compreender. Dedico aos que contemplam seus
entes queridos indefesos, como se nada mais
existisse dentro deles. A todos os profissionais
de saúde, familiares
e
cuidadores que
perseveram em tratar com compaixão aqueles
que já não podem cuidar de si mesmos. Também
dedico aos que, como eu, buscam aliviar o
sofrimento alheio, mesmo que dentro de si as
dúvidas, tristezas e dores persistam, dilacerando
a alma.
Benedita, Cletina, Francisco, José, Valdir e
Dirce, ontem, hoje e sempre.
Ademir José de Sá, amigo e companheiro
de existência sem o qual eu não teria tantas
conquistas e oportunidades que se vincularam
sempre ao seu apoio incondicional.
5
S
umário
Capítulo 1: Os Fundamentos da
Memória
1.1 Lampejos de Lembranças na Infância
1.2 Gravações Profundas e Significativas
da Vida Adulta
1.3 A Importância e Influência das
Memórias
Capítulo 2: O Funcionamento da
Memória e emoções
2.1 Processo de Formação das
Lembranças
2.2 Armazenamento das Memórias
2.3 Recuperação das Lembrança
Capítulo 3: Fatores que Afetam a
Exatidão
e
Confiabilidade
das
Memórias
6
3.1 Estudos Científicos Recentes sobre a
Memória
3.2 Percepções de Especialistas em
Neurociência e Psicologia Cognitiva
3.3 Os Segredos por Trás do
Funcionamento da Memória
Capítulo 4: O Impacto das Memórias
na Tomada de Decisão
4.1 A Influência das Memórias na
Formação de Preferências
4.2 Como as Memórias Moldam Nossas
Escolhas
4.3 O Papel das Memórias na Antecipação
de Resultados
Capítulo 5:
Lembranças
A
Reconstrução das
5.1 A Seletividade da Memória e a
Reinterpretação do Passado
7
5.2 Os Efeitos da Perspectiva Atual nas
Gravações
5.3 A Revisitação das Experiências
Passadas
como
Forma
de
Autoconhecimento
Capítulo 6: As Memórias Coletivas e a
Construção da Identidade Cultural
6.1 Como as Lembranças Compartilhadas
Criam uma Identidade Coletiva
6.2 O Papel dos Eventos Históricos nas
Memórias Coletivas
Memórias 6.3
A
Transmissão
e
Preservação das Culturais
8
R
egistre suas memórias mais significativas,
suas virtudes e realizações, e relembre-as
ocasionalmente para manter viva a essência do
seu verdadeiro Eu.
Todo
o
resto se vai como as espumas
flutuantes...
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9
Capítulo 1
Os Fundamentos da Memória
A
visão sobre a memória e seu
entendimento sofreram diversas
transformações ao longo da história,
refletindo mudanças nas abordagens
epistemológicas, filosóficas e empíricas.
10
Para abordar essa evolução de uma
maneira organizada, podemos dividir a
exploração em períodos históricos
significativos: antiguidade, idade média,
renascimento e início da modernidade,
século XIX, e século XX até os dias atuais.
Durante a Antiguidade, a memória
era frequentemente vista através de uma
lente mística ou filosófica. Filósofos
gregos como Platão
e
Aristóteles
ofereceram algumas das primeiras
explorações teóricas sobre a memória.
Platão, por exemplo, comparava a
memória à escrita em uma tábua de cera,
um modelo que sugeria a memória como
um espaço físico de impressões.
Aristóteles, por outro lado, propunha a
memória como um processo associativo,
onde as experiências são conectadas
através da semelhança, contraste e
contiguidade.
No período medieval, a memória
era frequentemente vinculada às práticas
11
religiosas e à memorização de textos
sagrados. A técnica de memória da "ars
memoriae ou
arte da memória" foi
desenvolvida e aprimorada, utilizando a
visualização de espaços imaginários
(loci) e imagens vívidas (imagines
agentes) para facilitar a retenção e
recuperação de informações. A memória
era vista tanto como uma habilidade
prática quanto um dom divino.
O Renascimento reviveu o interesse
na antiguidade clássica, incluindo as
teorias de memória de Platão
e
Aristóteles. Humanistas
filósofos
e
começaram a reexaminar e expandir as
técnicas de memória, explorando a
relação entre memória, aprendizado e
cognição. A invenção da imprensa no
século XV provocou uma reavaliação do
papel da memória em uma era em que o
acesso ao conhecimento impresso se
tornava cada vez mais amplo.
12
O século XIX marcou o início da
psicologia como uma disciplina científica,
com pesquisadores começando
investigar memória
através de
experimentos e observação sistemática.
a
a
Hermann Ebbinghaus foi um
pioneiro,
utilizando
para
métodos
quantitativos
memorização
formulando
estudar
a
e
o
esquecimento,
a
famosa Curva do
Esquecimento. Este período também viu
o desenvolvimento de teorias sobre
diferentes tipos de memória, como a
distinção entre memória de curto prazo e
memória de longo prazo.
O século XX testemunhou avanços
significativos no entendimento da
memória, com contribuições de diversas
disciplinas,
psicologia cognitiva
computação.
incluindo
neurociência,
ciência da
e
13
Modelos como o da Memória de
Trabalho de Baddeley e Hitch e o Modelo
de Processamento de Informações de
Atkinson e Shiffrin ajudaram a explicar a
arquitetura e os processos envolvidos na
memória humana. A descoberta da
plasticidade sináptica e dos mecanismos
moleculares subjacentes à consolidação
da memória expandiram dramaticamente
nosso entendimento dos fundamentos
biológicos da memória.
Além disso, a era digital introduziu
questões sobre a externalização da
memória e o papel das tecnologias de
informação
e
comunicação
no
armazenamento
informações.
e
recuperação de
Ao longo dos tempos, a visão da
memória evoluiu de teorizações
filosóficas e práticas mnemônicas para
uma compreensão empírica
e
multidisciplinar. Tal evolução reflete o
crescimento do nosso entendimento
14
sobre
a
cognição humana
e
os
fundamentos biológicos que sustentam
os processos de memória.
A memória é um aspecto central da
experiência humana e essencial para
várias funções cognitivas, incluindo
aprendizado,
pensamento
e
planejamento. Ela
se refere à capacidade
do cérebro de codificar, armazenar e
recuperar informações.
O entendimento da memória tem
evoluído significativamente ao longo dos
anos, e atualmente é entendido como um
processo complexo que envolve múltiplas
regiões cerebrais e diferentes tipos de
memória.
Aqui estão os fundamentos da
memória, divididos em três processos
principais e em diferentes tipos:
Codificação: Este é o primeiro
passo no processo de memória, onde a
informação recebida é transformada em
15
uma forma que
o
cérebro pode
armazenar. A codificação pode ser
influenciada por vários fatores, como
atenção e percepção.
Armazenamento: Depois de ser
codificada, a informação precisa ser
armazenada
no
cérebro.
O
armazenamento pode ser em curto prazo
ou a longo prazo, dependendo de vários
fatores, incluindo o tipo de memória e a
repetição da informação.
Recuperação:
envolve acessar e trazer de volta as
informações armazenadas quando
necessário. A recuperação pode ser
afetada pela organização do
Este
processo
armazenamento, pelas pistas de contexto
e pela sobrecarga de informações, entre
outros fatores.
Memória Sensorial: Esta
é
a
capacidade de reter impressões de
informações sensoriais após o estímulo
16
original ter cessado. Ela é muito breve,
geralmente durando até meio segundo
para visão (memória icônica) e 3 a 4
segundos para audição (memória ecoica).
Memória de Curto Prazo (MCP) ou
Memória de Trabalho:* Armazena
informações
temporariamente,
proporcionando uma plataforma para
manipulação mental por um curto
período de tempo.
A
MCP tem uma capacidade
limitada, tipicamente de cerca de sete
itens por um período de até 20-30
segundos sem prática ou repetição.
Memória de Longo Prazo (MLP): É
a memória armazenada que é mantida
por longos períodos, potencialmente a
vida toda. A MLP é dividida em várias
subcategorias, incluindo:
Memória Explícita (ou Declarativa):
É a memória de fatos e eventos que uma
17
pessoa pode conscientemente recuperar
e verbalizar. Ela se subdivide em:
Memória Episódica: para eventos
específicos de sua vida.
Memória Semântica: para fatos e
informações gerais.
Memória Implícita (ou Não
Declarativa): Refere-se àquelas memórias
que não requerem consciência para
serem recuperadas, como habilidades
motoras (andar de bicicleta)
condicionamentos.
e
As
armazenadas em uma única parte do
cérebro, mas são processadas
memórias
não
estão
e
guardadas em redes neurais distribuídas.
O hipocampo é uma área crucial
para a formação de memória declarativa,
enquanto áreas como o cerebelo e o
neocórtex.
18
O medo é uma emoção fundamental
que desempenha um papel crucial na
sobrevivência. Ao longo da evolução, ele
se estabeleceu como mecanismo de
defesa, permitindo aos organismos
responder rapidamente a ameaças e
perigos.
No entanto, o medo não afeta
apenas nosso comportamento imediato;
ele
significativas na memória
funcionamento do cérebro humano.
também
tem
implicações
e
no
O medo tem a capacidade de
fortalecer memória
de eventos
a
associados a ele. Isso significa que,
muitas vezes, lembranças de eventos
assustadores ou traumáticos são