Em 2000, quando estava a concretizar a minha formação profissional pela Associazione Italiana Sommeliers, na Toscânia, entre os incríveis professores que lecionaram sobre o universo complexo da “técnica da harmonização vinho-alimento”, calhou à minha turma o extraordinário chefe Fulvio Pierangelini para destrinçar o tema “i cereali”, incluindo aí as farinhas, pães, arroz e, consequentemente, o risotto, a massa e a pizza. Para contextualizar, Fulvio era na altura o “melhor chefe de Itália” segundo o prestigiado Gambero Rosso e ostentava 2 estrelas Michelin no seu restaurante em San Vincenzo, também chamado, mas sem nenhuma conexão com o referido guia, de Gambero Rosso. Servia a elite dos gastrónomos italianos e mundiais, que peregrinavam até o sul da costa toscana para se deleitarem com os pratos únicos, criativos, mas de uma simplicidade desconcertante, baseados sempre na transparência aos sabores primários dos melhores ingredientes do mar e do território.
No fim da sua participação na formação, o “maestro” foi submetido a uma série de perguntas dos meus colegas aspirantes a sommelier. Uma delas chamou-me a atenção pelo que imaginava e pela resposta de Fulvio. A questão foi deflagrada por uma jovem com um tom provocativo: “Fulvio, qual é a comida que mais gosta?” Pela minha cabeça desfilaram, enquanto Fulvio processava a resposta com um olhar reflexivo direcionado para o tecto, inúmeros pitéus e ingredientes raros e sofisticadíssimos. “Una bella pizza”, disparou um dos maiores cozinheiros da história, para surpresa e deleite de todos. Tal como a cozinha estrelada do Gambero Rosso, “una bella pizza” revela com desconcertante transparência a