“INICIALMENTE, MEU PAI, COMO rebelde que era, foge da tradição. Meu avô queria que ele ficasse na agronomia, mas ele foi para Coimbra, cidade boêmia, de estudantes e tudo mais… Mas, mais tarde, acabou por se apaixonar pela terra. Por um lado, sentiu necessidade de ajudar a família e, com isso, reencontrou-se, e fez, digamos, quase que as pazes com esse dilema inicial. E assim perdemos um engenheiro civil, porém ganhamos um grande senhor do vinho. Então, tenho esse grande orgulho, mas também essa grande responsabilidade”, conta Tiago Alves de Sousa, ao resumir a trajetória do pai, Domingos Alves de Sousa. O ano de 1987 foi quando Domingos decidiu deixar de lado a engenharia e “levar a família toda para o Douro”. “A partir daí fiz alguns cursos de formação profissional. Fiz um pequeno curso de viticultura e enologia na Universidade de Vila Real, onde mais tarde o Tiago se formou e se doutorou”, diz o pai, um dos pioneiros dos vinhos DOC Douro, ou seja, os tintos e brancos tranquilos, não fortificados como clássicos os Vinhos do Porto. Quando ele chegou às terras que herdou de seus ancestrais, contudo, a família era apenas fornecedora para empresas como Ferreirinha e Sociedade dos Vinhos Borges.
Mas, a partir de 1992, isso mudou drasticamente quando fez seus primeiros vinhos da Quinta da Gaivosa e Quinta do Vale da Raposa (este curiosamente, um branco tranquilo). “O português normalmente tem uma maneira de ser que acha que sabe fazer tudo. Não precisa de ninguém. Mas eu não era assim. Queria criar um projeto de qualidade e, para isso, precisava de profissionais competentes. Selecionei, por exemplo, um enólogo que na época ainda não era conhecido, o Anselmo Mendes. Tentamos ‘por a fasquia alta’ (expressão portuguesa para indicar alto padrão). Não queríamos fazer uma coisa ‘assim assim’. E os resultados começaram a aparecer logo”, comenta Domingos, cuja empresa hoje gere seis quintas diferentes, a maioria no Baixo Corgo.
Há 20 anos, quem se tornou responsável pela enologia foi seu filho, Tiago, que se orgulha de ter passado uma temporada na Itália ao lado de Mario Fregoni, “um dos grandes mestres da
