Sedução ousada
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Sobre este e-book
A única coisa em que Richard Dovale e Challis Fox conseguiam estar de acordo era em que havia demasiadas diferenças entre eles para serem compatíveis. Richard, um rico proprietário de uma mina de diamantes, considerava-se o pólo oposto da jovem e aloucada locutora de rádio. Então, porque se sentia atraído por ela? Decidido a não sucumbir aos prazeres da carne, Richard tentou afastar-se de Challis, mas a tentação não demorou a vencê-lo e conduziu-o a uma sedução temerária que podia mudar a sua vida irremediavelmente...
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Sedução ousada - Jayne Bauling
1
Challis Fox estava sentada num café com um cotovelo apoiado na mesa e o queixo na mão. Olhava com expressão ausente para as suas botas pretas... Miles estava atrasado. Prometera-lhe chegar dez minutos antes da hora a que esperavam Kel Sheridan.
De repente, notou a presença de alguém junto a si. Como usava fato, não podia ser Miles nem o empregado do café. Nem Sheridan. Levantou bastante a cabeça, pois o homem que se encontrava à sua frente era muito alto, e descobriu que estava a observá-la. O que não era de admirar, tendo em conta o seu vestuário: um vestido transparente e um ca-saco de veludo preto, a combinar com o colar que herdara da bisavó. Não era o tipo de roupa que costumava usar àquela hora da manhã, quando, regra geral, ainda estava na cama, e não reflectia o seu gosto a nenhuma outra hora do dia. Contudo, era apresentadora de um programa na emissora de rádio Sounds FM e, depois do encontro com Sheridan, tinha de ir almoçar com os representantes de uma companhia discográfica americana. Além disso, a moda daquele mês ou, pelo menos, daquela semana, exigia que se vestisse assim.
Quando o homem a olhou nos olhos, Challis esboçou um sorriso luminoso, disposta a mostrar-se simpática. Tendia a confiar nos outros, embora a fama lhe tivesse ensinado a ter um certo cuidado. De qualquer modo, não devia correr perigo algum num lugar público, onde todos os empregados a conheciam, à semelhança do que acontecia na maioria dos restaurantes e bares de Rosebank, Joanesburgo.
No entanto, não se sentia segura. De que cor eram os olhos daquele homem? Cor de âmbar, talvez? Não fazia diferença. Eram uns olhos luxuriantes, exactamente como a sua boca. Challis sentiu uma excitação inesperada e pensou que estava a perder o juízo. Aquele homem de fato, camisa e gravata impecáveis não podia constituir nenhum perigo para a sua integridade.
– Lamento, acordei muito cedo esta manhã – desculpou-se, ao notar que continuava a olhá-la, julgando que se tratava de um admirador à caça de um autógrafo.
– Então, é por isso, não é? Ainda não tinhas os olhos bem abertos quando abriste o roupeiro... Posso? – perguntou o desconhecido.
Sentou-se então à frente de Challis, que estava espantadíssima. Um homem tão atraente como aquele não podia reparar nela; um homem que vestia um fato assim e usava um relógio como o que ele tinha no pulso, não devia a andar a pedir autógrafos a locutoras de rádio.
– Lamento, estou à espera de uma pessoa – murmurou com suavidade.
– Referes-te a Kel Sheridan? Ele não virá – informou, com voz grave e sugestiva.
– Compreendo – Challis esboçou outro sorriso, não tão espontâneo como o anterior. – És o pai dele e não lhe deste o teu consentimento.
– Quantos anos achas que tenho? – indagou ele, com um brilho provocante nos olhos.
– Eu... Não queria ofender-te – assegurou Chal-lis. – Parece que o meu cérebro não funciona muito bem a esta hora da manhã... Não faço ideia de quantos anos tens, embora seja evidente que és muito novo para seres pai dele. Está bem, deixa-me tentar outra vez. És o irmão mais velho de Kel?
– Sou o tio – esclareceu, após um breve momento. – Richard Dovale – acrescentou, ao reparar no seu olhar de curiosidade.
– O dos diamantes! – exclamou Challis quando, por fim, o identificou. Os seus olhos azuis brilharam como as jóias daquele homem, que era o presidente e director executivo da Diamantes Dovale. Vira uma pequena fotografia dele, a preto e branco, numa revista feminina que o nomeara como sendo um dos solteiros mais cobiçados da África do Sul. E vira-o em mais alguns sítios, provavelmente, na secção de economia de um jornal ou num programa televisivo.
Richard estava a sorrir, mas fazia-o com cinismo.
– Não és nada subtil – observou. – A maioria das mulheres finge que não sabe nada a meu respeito, como se os diamantes fossem as últimas coisas em que pensariam e não lhe interessassem para nada.
Estava a olhá-la com malícia, deslizando o olhar pela sua pele delicada e pela sua boca, assim como pelo cabelo preto, com uma madeixa azul, que lhe roçava a cara, sobretudo, porque mal se dera ao trabalho de se pentear depois do duche.
– Porque é que havia de ser subtil? – replicou Challis. – Isto é... Diamantes! Adoro diamantes! Tenho um pequeno num fio... Bom, com certeza, tu poderias dá-lo à primeira pessoa que te aparecesse à frente. É muito simples e não deve ter nenhum valor para ti.
– Tenho uma empresa mineira e não uma joalharia – retorquiu Richard, reparando no brinco de prata que adornava a orelha esquerda de Challis e no de ouro que pendia da direita. – Parece que gostas de conversar, mas eu adiei uma reunião para poder vir aqui. Não posso perder tempo – acrescentou, num tom hostil, ao qual a sua receptora não estava habituada.
– Bom, o que é que vieste fazer? – inquiriu, com insolência, mostrando-se mais rude do que era habitual. – Como é que sabias que eu ia encontrar-me com Kel?
– Ouvi as mensagens gravadas no atendedor automático dele, antes de sair de casa, esta manhã.
– Ele vive contigo? Por acaso, é o teu parente pobre ou algo do género? – perguntou Challis, antes de franzir o sobrolho. – Ele tem o seu próprio número de telefone!
– A nossa relação familiar não te diz respeito, mas devo informar-te que o mandei passar alguns dias na Ilha Maurícia com a mãe.
Challis sentiu-se tentada a responder no mesmo tom insolente que ele usara, mas o seu empregado de mesa preferido apareceu e... Só faltava Miles, embora não precisasse dele. Podia desenvencilhar-se perfeitamente sozinha. Como serviam o pequeno-almoço até ao meio-dia e eram apenas dez horas, pediu uma chávena de café e uma torrada com doce. Dom Diamantes Dovale também pediu café, por puro formalismo, segundo Challis, que o considerava demasiado convencional para estar sentado num café e não tomar nada.
Aproveitou a oportunidade para o examinar enquanto se dirigia ao empregado e estranhou constatar que o fato não diminuía em nada o ar sedutor daquele homem. Por isso, estava dependente dele e sentia fluir nas suas veias uma excitação que a impelia a namoriscar, a desafiá-lo, nem que fosse apenas para ver como reagia. De repente, lembrou-se de ter lido em algum sítio que ele tinha trinta e três anos, o que explicava por que razão ficara aborrecido quando ela insinuara que era o pai de Kel. De qualquer modo, era dez anos mais velho do que ela... Então, porque é que dava tanta importância ao facto de ele ser alto e forte? E também gostava do seu nariz, das maçãs do rosto, do queixo, da cor quente dos seus olhos, do bronzeado da sua pele, do espesso cabelo preto e, sobretudo, da sensualidade da sua boca... Obrigou-se a não olhar para as mãos, pois eram muito importantes para ela e, se fossem tão perfeitas como o resto...
Ele apanhou-a em flagrante, a observá-lo quando o empregado se afastou e arqueou as sobrancelhas interrogativamente. Challis riu-se com naturalidade.
– Não é nada. Só estranhei uma coisa.
– Pois eu estranhei a tua mensagem para Kel – pelos vistos, Richard não estava interessado no que intrigara Challis. – Se se conhecem ao ponto de já saberes o quanto ele é bom, não me parece lógico que tenhas deixado o teu sobrenome para te identificares.
Challis olhou-o, surpreendida e perplexa pelo que Richard dera a entender. Que mensagem deixara no atendedor de chamadas?
«Kel? Sou Challis Fox. Tu és bom, muito bom mesmo. Estou impressionada, rendo-me. Encontramo-nos amanhã, terça-feira, às dez horas, no Amakofikofi...»
Dissera qualquer coisa do género. Tinha a certeza de que dissera «estou», em vez de «estamos», embora Miles Logan também tivesse ficado impressionado com a gravação que o jovem enviara para a emissora. Afinal, ela fora a primeira a ouvir a cassete, dado que o envelope fora enviado em seu nome...
Richard Dovale contemplava-a com intensidade. Os seus olhos brilhavam e, sem dúvida, pensava que ela seduzira o sobrinho.
– Não imagino quantos zeros um homem como tu pode escrever num cheque – ironizou. – Como é que te chamam? Magnata? Porque é que não mandaste outra pessoa, em vez de vires manchar as tuas próprias mãos falando com uma simples locutora de rádio? Presumo que não quisesses que este escândalo familiar se tornasse do conhecimento público, não é? Quanto dinheiro estás disposto a oferecer-me?
– Quanto é que queres? – inquiriu, com rudeza, sem se aperceber de que Challis estava a provocá-lo deliberadamente.
– Não poderias comprar-me, nem com um saco dos teus melhores diamantes – declarou, aborrecida por ele a confundir com uma chantagista.
– Achas que podes conseguir mais a longo prazo, se continuares a ser uma ameaça para Kel? – indagou Richard, com mais desprezo do que alguma vez alguém se dirigira a ela.
– Não, porque não constituo nenhuma ameaça para o teu sobrinho – respondeu, decidida a dizer-lhe que não falara a sério em relação ao número de zeros do cheque.
– Tem apenas dezoito anos – comentou Richard.
– Era exactamente isso que eu ia dizer – replicou, com rispidez.
– Então, quantos anos tens?
– Vinte e três.
– A última mulher com quem ele se envolveu tinha vinte e seis.
– A tola foi ela.
– Não, tolo foi Kel, pois esteve a ponto de cair na armadilha – Richard fez uma pausa. – Não que seja um rapaz ingénuo, mas abandona-se ao prazer e a sua juventude não lhe permite pensar.
– E que mais? – perguntou Challis, fingindo inocência. – Não acredito que estejas a advertir-me dos seus defeitos para me proteger.
Fez-se silêncio enquanto Richard a observava e, mais uma vez, Challis sentiu um calor interior provocado pela energia que irradiava daquele homem.
– Não acredito que precises de ser protegida – retorquiu, finalmente, sorridente. – Embora seja difícil que as pessoas não reparem