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A Revolução do Órfão
A Revolução do Órfão
A Revolução do Órfão
E-book507 páginas6 horas

A Revolução do Órfão

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Sobre este e-book

Nesse final explosivo da trilogia O Órfão, a história dramática do nono órfão nascido retorna cinco anos depois do final do livro, O Nono Órfão. 

Tendo fugido de seus antigos mestres da Agência Omega e escapado de sua vida passada como agente, Nove se casou com sua alma gêmea, Isabelle. Eles criaram uma nova vida, fora da rede, nas remotas ilhas da Polinésia Francesa. 

O casal feliz tem um filho de cinco anos, Francis, que é a cópia do pai e herdou um DNA único. Francis em breve terá uma irmã já que Isabelle está prestes a dar à luz uma menina. 

Seu estilo de vida idílico é destruído quando Francis é sequestrado por agentes da Agência Omega, a organização sombria que trouxe Nove ao mundo e controlou todos os aspectos de sua vida. O menino aterrorizado é despachado para um dos laboratórios médicos subterrâneos da Omega para testes e experiências científicas. 

Nove está desesperado para encontrar Francis antes que a Omega possa prejudicá-lo. Ele logo descobre que lutará contra seus companheiros órfãos – todos agentes de elite como ele foi um dia – que estão sob ordens para matá-lo à primeira vista. Para superá-los, ele deve usar todo o seu treinamento e suas habilidades. Sua busca o leva ao redor do mundo – do Taiti para a América, Alemanha, Groenlândia e para o Congo. 

Para aumentar as preocupações de Nove, ele tem uma condição cardíaca séria que requer cirurgia imediata. O relógio está avançando e ele sabe que seu tempo é curto. É uma corrida contra o tempo para encontrar seu filho antes que a Omega possa machucar o menino – e antes que seu coração falhe.

IdiomaPortuguês
Data de lançamento19 de jan. de 2018
ISBN9781547514915
A Revolução do Órfão

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    A Revolução do Órfão - James Morcan

    Prólogo

    As ruas do centro de Chicago estavam bloqueadas e a hora do rush das sextas ainda mais caótica que o normal, por causa de três eventos que estavam ocorrendo simultaneamente no movimentado distrito do Loop: o banco na rua State estava sendo assaltado após o horário de encerramento, um cano tinha estourado na avenida Wabash e tinham dado um alerta de incêndio em um hotel na Madison Street.

    O assalto tinha terminado antes mesmo de começar quando o aspirante a ladrão atirou acidentalmente na própria coxa e teve que ser levado às pressas ao hospital para uma cirurgia de emergência. O cano foi concertado em poucos minutos. E o fogo acabou sendo alarme falso. No entanto, o momento infeliz desses acontecimentos garantiu que os habitantes de Chicago esperassem por um longo tempo antes das ruas serem liberadas para que pudessem chegar em casa, ou onde quer que fosse que estivessem indo. E para aumentar a miséria, a Cidade do Vento estava fazendo valer o seu nome: estava um vendaval.

    Na avenida Michigan ali perto, passageiros e pedestres estavam preocupados demais com seus próprios problemas para notar uma mulher solitária de cabelos loiros que se balançava sentada em um dos bancos da calçada, como se estivesse em transe. Parecia estar inconsciente do vento frio que rasgava suas roupas. Se alguém a observasse, pensaria que era uma pessoa drogada, um sem-teto ou ambos.

    A mulher, de trinta e um anos, era Jennifer Hannar, mas poucas pessoas do seu passado a conheciam por esse nome. Seu nome de nascimento era Número Dezessete – apropriado, considerando que ela era o décimo sétimo produto nascido de uma experimento genético secreto chamado Projeto Pedemont.

    Havia outros vinte e dois como ela e, assim como ela, eram todos agentes de inteligência de elite – beneficiários de genes cuidadosamente selecionados que garantiam que eram superiores em praticamente todos os sentidos, física e mentalmente, comparados ao ser humano médio. Os Órfãos de Pedemont, como eram conhecidos, nasceram em um período de dois anos. Cada um carregava os genes de alguns dos homens mais inteligentes do mundo, cujas doações de esperma haviam sido roubadas de outro experimento médico chamado Banco de Esperma de Gênios. Seu objetivo era promover a criação de pessoas superinteligentes.

    Enquanto cada órfão tinha uma mãe, todos tinham inúmeros pais. Seu empregador era a Agência Omega, uma agência secreta cujo principal objetivo era estabelecer uma Nova Ordem Mundial. E estava a caminho de alcançar exatamente isso.

    Dezessete não recordava nada disso. Ela pairava precariamente entre a sanidade e a insanidade – resultado de um acontecimento traumático que lhe acontecera e que escapava da sua frágil memória. A ex-agente órfã não conseguia nem se lembrar de como tinha ido parar sentada naquele banco ou há quanto tempo estava lá.

    Flashes de memória passavam por seu cérebro como o relâmpago que tinha iluminado o céu escuro. Ela tinha uma curta lembrança de ser demitida da Agência Omega. Alguma coisa a ver com outra missão descuidada, eles disseram. Lembranças fugazes de uma viagem induzida por drogas para um hospital, ou era um laboratório? Pontadas dolorosas de agulhas. Outra viagem, de trem desta vez, ou talvez por via aérea. Não tinha certeza.

    Não importava o quanto tentasse, Dezessete não conseguia se concentrar o suficiente para que suas curtas lembranças fizessem sentido. Temia que estivesse ficando louca.

    No entanto, sem nenhuma razão aparente, ela lembrava claramente de apenas uma coisa: uma rua no extremo sul de Chicago. Não fazia ideia de qual era o significado daquilo, mas algo lhe dizia que tinha que descobrir. Era como se a sua vida dependesse disso.

    O trânsito estava se movendo de novo e Dezessete fez sinal para um táxi que passava. Ele parou e ela sentou no banco de trás.

    Pra onde? perguntou o taxista afro-americano de meia-idade.

    A mente de Dezessete ficou em branco. Os faróis dos veículos que iam se aproximando a cegaram momentaneamente, causando mais confusão. E então ela lembrou. Rua South em Riverdale, disse hesitante.

    Tem um número?

    Vou saber quando ver.

    A verdade era que Dezessete não tinha ideia do que a atraía para a Rua South. Ela não conseguia lembrar que era a localização do antigo orfanato de Pedemont, a única casa que ela e os vinte e dois órfãos tinham conhecido até o final da adolescência. O orfanato já havia sido demolido há muito tempo. Além dos breves flashes de memória ocasionais, Dezessete não se lembrava de sua infância. Por enquanto, ela só conseguia pensar em uma coisa: chegar a Rua South em Riverdale.

    O tráfego pesado garantiu que a viagem ao sul fosse lenta. Quando o táxi chegou a Riverdale, Dezessete tirou um pequeno espelho da bolsa e estudou seu reflexo. Ela mal se reconhecia. Os olhos azuis, normalmente gelados, estavam avermelhados, o cabelo cheio e o rosto parecia ter sido comprimido e esticado. Ela ia trabalhar com batom e blush para ficar apresentável – para quem exatamente, ou o que, ainda era um enigma para ela.

    Estamos aqui, o taxista anunciou quando o táxi virou em uma rua suburbana monótona.

    Dezessete olhou para uma placa na rua. Dizia: Rua South.

    Me avise quando souber, ordenou o taxista. Ele dirigiu lentamente para dar tempo à passageira para olhar as casas em ambos os lados da rua mal iluminada.

    Dezessete buscou em sua memória para tentar lembrar o que a atraía para esta rua em particular, em um dos bairros mais pobres de Chicago. Nada vinha a ela, então ela viu: um terreno grande e vazio. Pare aqui.

    O táxi parou em frente ao terreno. Aninhado entre duas casas antigas, a propriedade recuava para um bloco de apartamentos que, como as casas circundantes, tinha visto dias melhores.

    Espere aqui, Dezessete disse enquanto saía do táxi. Ela atravessou a rua e ficou parada na frente do que antes tinha sido o gramado dianteiro do Orfanato Pedemont. Puxando o casaco ao seu redor para afastar a chuva que começara a cair, estudou o terreno e as casas ao redor. Por que estou aqui? Nenhuma resposta veio a ela.

    Um grande sicômoro na parte traseira do terreno chamou sua atenção. Os restos de uma antiga casa da árvore podiam ser vistos nos galhos inferiores.

    Dezessete, de repente, conseguia visualizar em sua memória um menino sentado na casa da árvore com um cachorro branco. Fragmentos de memórias vinham a ela. Lembrava do mesmo menino, com binóculos na mão e escalando a árvore.

    Sentimentos de arrependimento a inundaram. Por que, ela não podia imaginar. Outra lembrança veio até ela. Com o olho da mente, ela podia ver um velho sentado no degrau da escada da frente de um bangalô elegante. Mas não era ali. Era em uma parte luxuosa da cidade.

    Dezessete virou e marchou de volta para o táxi. Próxima parada, os subúrbios a oeste, disse ao taxista enquanto entrava no banco de trás.

    Tem um endereço desta vez?

    Ela não hesitou. Avenida College 123 em Glen Ellyn. Como antes, não tinha ideia do que significava o endereço ou de quem morava lá.

    Quarenta e cinco minutos depois, o táxi parava em frente a um bangalô elegante em Glen Ellyn.

    O taxista olhou para o taxímetro e estudou astutamente sua passageira pelo espelho retrovisor. Setenta e cinco dólares, disse.

    Somente naquele momento, Dezessete se deu conta da questão do pagamento. Em seu estado mental desorganizado, tinha ignorado o fato de que não tinha dinheiro ou cartão de crédito com ela. Só se lembrou disso quando olhou para a bolsa vazia. Desculpe, parece que eu não tenho dinheiro algum, ela murmurou.

    Maldita seja, senhora! O taxista se esticou e tomou a bolsa dela. Ele rapidamente viu que ela estava dizendo a verdade.

    Antes que o taxista irado pudesse reclamar ainda mais com ela, Dezessete deslizou o anel de rubi do dedo e entregou-o ao taxista. Você aceita isso como pagamento?

    Ainda fumegando, o taxista estudou o anel. Ele rapidamente se acalmou quando percebeu que poderia ser bastante valioso. Ok, mas é melhor você sair antes que eu mude de ideia.

    Dezessete agradeceu ao taxista, saiu e ficou parada na calçada olhando enquanto o táxi acelerava. E então, caminhou lentamente pelo caminho de concreto que levava à porta da frente do bangalô. O lugar estava imerso na escuridão, seus ocupantes estariam adormecidos ou ausentes. Ela esperava que estivessem adormecidos. Quando chegou à porta, estava chorando. O motivo, não sabia.

    Sentia que era uma nova experiência para ela. Dezessete não se lembrava de ter chorado alguma vez antes, nem conseguia dar um sentido às lágrimas que agora escorriam como uma cascata pelo seu rosto.

    Alcançando a porta, tocou a campainha. Nenhuma resposta. Tocou novamente e nada. Ainda chorando, começou a bater na porta com o punho.

    Finalmente, uma luz surgiu no interior. O barulho de algo se arrastando veio do interior da casa, seguido do som de alguém virando a chave da porta. A porta se abriu para revelar um homem idoso. Ele segurava uma bengala, e parecia pronto para usa-la.

    Quem diabos é você? perguntou o velho.

    Eu sou Jennifer Hannar. Dezessete soluçou. Você é Sebastian Hannar?

    1

    Um homem e um menino estavam ajoelhados na frente de uma grande estátua dourada de Buda em um templo enquanto recitavam juntos como se fossem uma só voz.

    Eu sou um homem livre e um polímato.

    Tudo o que eu quiser fazer, sempre consigo.

    As limitações que se aplicam ao resto da humanidade,

    Não se aplicam a mim.

    As chamas tremulantes de cem velas acrescentavam à tranquilidade do cenário. Elas tinham sido cuidadosamente preparadas por um monge budista idoso, que estava sentado de pernas cruzadas dentro do templo próximo à porta enquanto esperava que seus dois visitantes terminassem suas devoções.

    O som distante de crianças brincando do lado de fora foi levado até eles por uma suave brisa tropical. Infelizmente, a brisa fez pouco para aliviar a umidade, que já era opressiva mesmo com o sol estar há algum tempo sem esquentar. Os ocupantes do templo estavam encharcados de suor, mas já estavam acostumados: o calor e a umidade faziam parte da vida cotidiana nas ilhas do Pacífico.

    Finalmente, os visitantes levantaram e caminharam de mãos dadas em direção à saída. O homem era Sebastian Hannar, ou Número Nove, como tinha sido marcado sem cerimônia pela Agência Omega quando foi trazido ao mundo há trinta e seis anos em um dia cheio de acontecimentos. O menino era seu filho de cinco anos, Francis. Eles apreciavam a atmosfera pacífica e a união que experimentavam nos limites do templo, e assim suas visitas se tornaram recentemente uma ocorrência regular.

    A afirmação que eles tinham recitado era semelhante a que Nove tinha sido obrigado a recitar todos os dias da sua vida ao lado dos outros vinte e dois órfãos criados no Orfanato Pedemont da Omega em Riverdale, Chicago. Desde que tinha se libertado da agência cinco anos antes, Nove mudou a linha de abertura da afirmação de Eu sou um omeganiano e um polímato para Eu sou um homem livre e um polímato.

    Embora a afirmação o lembrasse de um passado que preferia esquecer, também servia para lembrá-lo de que nem tudo o que tinha experimentado no orfanato tinha sido ruim, e que muitas das lições aprendidas podiam ser aplicadas na vida cotidiana.

    À medida que pai e filho se aproximavam, o monge idoso e calvo ficou de pé para recebê-los. Luang Alongkot Panchan, nativo da Tailândia, não podia deixar de pensar o quanto Nove e Francis eram parecidos. A vida nos trópicos bronzeara suas peles de modo que era difícil distingui-los dos moradores das Ilhas Marquesas, que constituíam a maior parte da população naquele canto remoto da Polinésia Francesa.

    Quando o par alcançou Luang, curvaram-se em um cumprimento. Ele e Nove trocaram gracejos. O nono órfão nascido tratava o gentil monge com um respeito que beirava a reverência. Nove via Luang como seu mestre espiritual adotivo.

    Os surpreendentes olhos verdes de Nove se encontraram com os olhos cheios de sabedoria de Luang. Havia muita coisa não dita entre eles. Ao longo dos anos, eles passaram a se conhecer tão bem que poderiam se comunicar sem sequer falar. Nove sentia que era como se o seu amigo pudesse olhar para o seu ser mais íntimo e conhecê-lo melhor do que Nove conhecia a si mesmo.

    Luang podia ver que Francis estava se remexendo para sair e brincar, então ele se afastou e sorriu para Nove. Permaneça na luz, meu amigo, disse Luang, curvando-se profundamente com as mãos pressionadas juntas em oração.

    E você também, meu amigo, Nove respondeu em retribuição.

    O ex-agente órfão permitiu que Francis o puxasse pela mão para fora. Embora ainda fosse de manhã cedo, os raios do sol os atingiram como um forno, servindo como um lembrete violento do quão quente o sol podia ficar nas ilhas.

    Um grupo de árvores jasmim-manga ou frangipani, a cerca de quarenta e cinco metros de distância, acenou convidativa para eles, e o par correu para as árvores e para a mulher, em um estado avançado de gravidez, que os aguardava à sombra. Nascida na França, ela era a esposa mestiça de Nove, Isabelle, e a mãe de Francis.

    Aposto uma corrida! Francis desafiou o pai.

    Apostado! disse Nove. No três. Um, dois –

    O garoto conhecia bem este jogo e partiu antes que Nove terminasse de contar.

    Três, vai! disse Nove, Ei! Ele partiu atrás do filho cujas pequenas pernas atléticas eram lançadas para a frente como pistões. Nove rapidamente recuperou o terreno perdido, mas desacelerou para aproveitar a corrida.

    A essa altura, Francis estava gargalhando alto, alertando sua mãe para a chegada iminente dos dois homens favoritos da sua vida.

    Mais rápido, Francis! Isabelle gritou em francês.

    Antes que o menino pudesse alcançar a mãe, Nove o pegou com um braço e desabou, ofegante, ao lado de Isabelle. Todos estavam rindo agora.

    Assim que recuperou a respiração, Nove beijou a esposa com ternura. Sentiu minha falta? perguntou em inglês. Como faziam desde a primeira vez que se conheceram, trocavam sem esforço entre o inglês e o francês sempre que conversavam um com o outro.

    Sim, e nossa filha também, Isabelle riu, esfregando sua barriga. Desta vez, ela também falou em inglês, mas sem esconder a forte inflexão do francês.

    Nove encostou a palma na barriga e sentiu imediatamente o chute do bebê. Ao mesmo tempo, observava sua esposa amorosamente. Que deusa. Ele nunca se cansava de sua beleza. A herança franco-africana de Isabelle, com trinta e três anos, combinada com o forte sotaque lhe dava um exotismo que o excitava mesmo em seu estado atual. Nove estava convencido de que ela estava mais radiante do que nunca. Era óbvio que a maternidade e os anos vivendo na ilha combinavam com ela.

    Estou com sede, anunciou Francis, quebrando o clima.

    Isabelle riu e imediatamente fez surgir um copo de suco de abacaxi fresco de um cooler, que o menino engoliu sedento.

    Gritos de prazer chegaram até eles vindo de um bosque de coqueiros ali perto. As crianças nativas da ilha estavam jogando pique-pega enquanto suas mães estavam de olho. As crianças não pareciam notar o calor. Mais adiante, os pescadores podiam ser vistos lançando suas redes nas águas turquesas da baía. Era uma cena idílica, típica daquela parte do mundo.

    Francis reconheceu algumas crianças. Posso brincar, mama?

    Claro que pode, mas não fique mais tempo do que o necessário! Isabelle disse rindo em francês.

    Francis correu para brincar. Seus pais devotados observaram enquanto ele se apresentava sem timidez às crianças e se juntava à brincadeira.

    Ele faz amigos tão facilmente, disse Isabelle.

    Sim, faz, concordou Nove. Ele puxou isso de você.

    E de você, Isabelle respondeu.

    Nove sacudiu a cabeça. Não, ele fez mais amigos no último ano do que eu fiz nos primeiros trinta anos da minha vida.

    Bem, há uma boa razão para isso, meu amor. Isabelle beijou-o com ternura.

    Acho que sim. Nove sorriu. Seus olhos foram atraídos para o rubi que pendia do colar de prata que Isabelle usava. Ele tinha-o herdado da mãe que nunca conheceu e deu a Isabelle como uma declaração do seu amor por ela.

    Isabelle notou o objeto da sua atenção e tocou o rubi em um reflexo. Por algum motivo, seu toque trazia conforto a ela, assim como trazia-o a Nove, quando este tinha usado o colar.

    Bem, eu devo te amar e te deixar, anunciou Nove.

    Isabelle observou enquanto o marido vestia um par de tênis de corrida em preparação para sua corrida de treinamento diária. Não exagere neste calor, advertiu ela.

    Não, mãe.

    Falo sério, Sebastian!

    Não se preocupe. Sorrindo maliciosamente, Nove partiu com um ritmo suave. E como sempre, acelerou o ritmo assim que ficou fora de vista da esposa.

    A preocupação de Isabelle não era sem motivo. Nove desenvolvera uma doença cardíaca, que seu cardiologista diagnosticou como uma enfermidade relativamente comum chamada estenose – um estreitamento de uma das válvulas do coração.

    O ex-agente se deu conta de que nem tudo estava bem assim que ele e Isabelle haviam chegado aos trópicos da França. Dores no peito o levaram a procurar aconselhamento profissional. O cardiologista prescreveu atividade física e uma dieta inteligente para o coração, mas avisou que seria necessária uma operação se a condição de Nove se deteriorasse. Isso tinha ocorrido há quatro anos e meio, e até agora estava tudo bem. Com uma alimentação e exercícios específicos não teve recorrência das dores no peito. Mesmo assim, Isabelle tinha insistido que Nove mantivesse as visitas trimestrais ao cardiologista como tinha sido recomendado. Uma enorme inconveniência considerando que o cardiologista estava localizado no Taiti, a mais de mil quilômetros de distância.

    Preocupada, Isabelle viu Nove se afastar correndo. Ela observou, possivelmente pela centésima vez, o quanto ele estava diferente do homem que a tinha sequestrado enquanto fugia em Paris. Além de alguns cabelos grisalhos nas têmporas, pensou que ele parecia tão jovem e vibrante como sempre. Havia uma certa calma ao seu redor – prova da paz que ele tinha encontrado. Prova também de que ele finalmente destruíra os demônios internos que o haviam atormentado desde a sua educação incomum, e alguns diriam até abusiva, no Orfanato Pedemont.

    Uma vez fora da vista de Isabelle, Nove acelerou. Embora não no mesmo ritmo de quando era um agente de elite na Agência Omega. Ainda era um ótimo espécime fisicamente – uma sombra com mais de 1,80 m e tonificado como um atleta. Ele também se movia como um atleta. Logo estava respirando forte e suando profusamente.

    Enquanto corria, Nove refletia sobre o quanto estava satisfeito com sua vida. Depois de muitos anos vivendo como um prisioneiro virtual da Agência Omega, constantemente viajando pelo mundo e matando ao capricho de seus mestres omeganianos, finalmente tinha a vida que sempre quis - uma família e uma existência normal. Estava, lembrou-se, muito longe dos dias sombrios em que trabalhava como agente. Estava mais para assassino. Ele costumava ter pesadelos sobre aqueles dias, mas não mais.

    Depois que tinha rompido com a Omega, ele e Isabelle haviam fugido da França e se estabelecido em uma ilha isolada e desocupada que herdara nas Ilhas Marquesas, saindo efetivamente da rede. Sua estadia lá foi de curta duração. O surgimento da doença cardíaca de Nove e outras circunstâncias conspiraram para sua rápida mudança para a principal colônia de Taiohae, na ilha de Nuku Hiva, outra ilha do arquipélago das Marquesas.

    A gravidez complicada de Francis significava que Isabelle precisava de acesso imediato à assistência médica, que não estava disponível no antigo paraíso da ilha. E eles também queriam que Francis e qualquer um de seus futuros descendentes recebessem uma educação adequada.

    Por isso, a mudança para Taiohae foi praticamente inevitável. Foi para o melhor. O casal, que se casou logo após se mudarem, foi prontamente aceito pelos habitantes locais e fizeram muitos bons amigos. Francis também se adaptou bem à vida na escola. O menino falava bem tanto o francês quanto o inglês, e podia até mesmo se comunicar com os ilhéus em sua língua materna.

    Em termos materiais, a vida também deixara a família muito bem. Alguns investimentos perspicazes no exterior tinham feito Nove aumentar várias vezes a sua considerável fortuna, de modo que dinheiro não era um problema.

    Nove estava seguindo por um caminho bastante usado que o levou ao alto das colinas íngremes com vista para a baía de Taiohae. Ele conseguia distinguir sua esposa e o filho perto da beira-mar. Francis tinha improvisado um jogo de futebol com seus novos amigos, enquanto Isabelle e as outras mães estavam sentadas à sombra, olhando.

    O suor escorria por seu corpo enquanto subia numa inclinação íngreme. Uma falta de ar repentina levou-o a diminuir o ritmo da caminhada. Ele não pensou que fosse um aviso e culpou o calor. Você está ficando velho, Sebastian.

    Ainda olhando para a baía de Taiohae, percebeu um barco inflável que se aproximava da orla distante a toda velocidade. Estava ocupado por dois homens e parecia ter vindo de um hidroavião que Nove tinha visto pousar na água um pouco antes na baía. Observou o inflável aportar na praia e os dois homens saltarem. Eles começaram a caminhar propositalmente para onde Francis e as outras crianças jogavam.

    Alguma coisa no par incomodou Nove. Ele não podia especificar o que, mas alguma coisa não encaixava direito. Mesmo daquela distância, podia ver que os dois não eram turistas comuns. Além dos óculos de sol escuros que usavam, não havia uma câmera, chapéu para proteger do sol ou toalha de praia à vista. Eles pareciam mais com executivos, com suas camisas brancas e calças longas e escuras. Um deles até usava gravata.

    Nove descobriu-se cada vez mais apreensivo enquanto continuava a observar o par de perto.

    2

    O ex-agente não sabia disso, mas ele não era o único a observar os dois homens. Seu mestre espiritual, Luang, os havia notado ao mesmo tempo que Nove. O monge idoso estava observando-os da entrada do templo que Nove e Francis visitaram pouco tempo antes. Como Nove, pensou que os dois estranhos pareciam fora de lugar.

    As suspeitas de Luang cresceram quando os homens marcharam com propósito até um dos meninos. Ele reconheceu o menino como o filho de Nove. Francis! ele gritou.

    O menino, que agora estava brincando muito perto do templo, olhou para o monge e inocentemente acenou.

    Luang fez um gesto para ele com a mão. Francis, venha! E gesticulou para ele novamente.

    Francis notou de repente os dois estranhos se aproximando. Estavam apenas a poucos metros de distância. Percebendo que eles significavam perigo, correu para o monge gentil e para o santuário do templo. Os homens começaram a correr atrás dele.

    De onde estavam, a uma certa distância, só agora Isabelle e as outras mães tinham percebido a situação ofensiva. Imediatamente preocupadas, se apressaram para investigar. As mulheres da ilha começaram a gritar com os estranhos. Isabelle gritou quando percebeu que era Francis que os homens estavam perseguindo.

    O medo guiava as pernas de Francis. O menino aterrorizado corria como se sua vida dependesse disso. Alcançou Luang um pouco antes que os estranhos conseguissem pegá-lo. O monge pegou Francis em seus braços fortes e rijos e empurrou-o para dentro do templo. Se esconda! ordenou.

    Francis correu para a parte de trás do templo e se escondeu atrás da estátua de Buda, enquanto Luang tirava uma longa espada cerimonial da bainha que pendia de dentro da entrada do templo. Um notável lutador da arte marcial Muay Thai, Luang também não deixava nada a desejar com uma espada - como os dois estranhos estavam prestes a descobrir.

    O primeiro homem a entrar no templo era o mais jovem dos dois. Confiante que o monge não ofereceria resistência, não se incomodou em sacar a arma que carregava quando entrou. Ele nem mesmo viu a lâmina de aço que abriu seu braço até o osso. Gritando de dor, o ferido se jogou para um lado, a tempo de evitar um segundo ataque que cortaria sua cabeça.

    Luang se virou para enfrentar o segundo homem tarde demais para evitar o tiro que acabou com sua vida. O monge estava morto antes de atingir o chão de concreto do templo.

    O som do tiro incitou Isabelle e as outras mulheres a entrar ação. Gritando para atrair a atenção dos homens nas proximidades, elas começaram a correr em direção ao templo. Por causa da sua gravidez, Isabelle ficou bem atrás.

    As mulheres ainda estavam longe do templo quando o mais velho dos dois homens emergiu carregando Francis, que lutava debaixo do braço. Ele foi seguido pelo homem mais novo, cujo braço ferido pendia ao seu lado. Sua camisa, uma vez branca, estava ensopada de sangue. O homem mais velho apontou a arma para as mulheres que avançavam, que agora já estavam gritando obscenidades para o par. A visão da arma não surtiu efeito nas mulheres, então ele disparou um tiro de advertência acima de suas cabeças, impedindo-as de continuar em seu rastro.

    Apenas Isabelle não se deteve. Francis! gritou enquanto corria em direção aos homens que agora tinha certeza que estavam tentando sequestrar seu filho.

    Com Francis se contorcendo ainda sob seu braço, o homem mais velho correu para o barco inflável, seguido de perto pelo parceiro ferido.

    Mama! gritou Francis.

    Isabelle tropeçou e caiu pesadamente. Quando conseguiu se levantar, os homens já estavam empurrando o inflável para dentro da água. Ela não teve forças para resistir quando ligaram o motor e aceleraram em direção ao hidroavião que aguardava.

    Mama! Francis gritou choroso por sua mãe, que não podia fazer nada para ajudar.

    No alto das colinas acima da baía, Nove começou a correr assim que os homens começaram a perseguir Francis. Quando eles empurraram o menino e o inflável ​​para o hidroavião, Nove já tinha descido e seguia correndo para a beira do mar. Seus pulmões queimavam e suas pernas pareciam de chumbo, mas ele os ignorou. Tudo em que podia pensar era Francis.

    Os minutos anteriores pareciam como um pesadelo para Nove. Não havia explicação óbvia para o que tinha testemunhado. Recorrendo ao seu treinamento, sua mente trabalhava a mil por segundo enquanto tentava descobrir o que estava acontecendo e quem estava por trás disso. Só pode ser a Omega! Ele imaginou que a Agência Omega deveria ter descoberto seu paradeiro. Mas como? E por que Francis? Porque não eu? Tinha muitas perguntas e nenhuma resposta.

    Nove se forçou a correr mais rápido.

    Enquanto se aproximava da beira do mar, sentiu uma dor abrasadora no peito. Nove soube imediatamente o que estava acontecendo. Ele estava tendo o ataque cardíaco que o cardiologista disse que teria se forçasse o seu limite.

    Apesar da sua condição, teve a presença de espírito de registrar o tipo do avião que estava taxiando no mar, se preparando para decolar. Era um hidroavião Havilland Canada DHC-3 Otter do tipo utilizado pela força aérea canadense devido a sua excelente capacidade de busca e resgate.

    O hidroavião foi a última coisa que Nove viu antes de tudo se apagar.

    3

    As horas seguintes passaram como um borrão para Nove. Com Isabelle perturbada ao seu lado, foi levado às pressas para o centro médico de Taiohae, onde o médico de plantão o recebeu. Depois de uma bateria de testes, que incluía um eletrocardiograma, o médico confirmou que o paciente realmente sofrera um ataque cardíaco, embora leve. Foi recomendado a Nove repouso absoluto até que o médico o considerasse bem o suficiente para voar para Papeete para consultar seu cardiologista.

    Drogado até os ossos com a medicação que o médico havia prescrito, Nove não estava em condições de argumentar. Estava grogue e não conseguia se concentrar em nada por muito tempo. Toda vez que seus pensamentos se voltavam para Francis, outros pensamentos e lembranças empurravam o sequestro de seu filho para o fundo de sua mente.

    Isabelle assumiu o comando. A francesa sabia, por enquanto, que ela tinha que ser a mais forte. Durante muito tempo confiara em Sebastian para tomar as decisões difíceis. Agora era a sua vez.

    Primeiro, ela teve que dar uma declaração a um dos gendarmes, policial armado da França e de outros países que falavam francês, responsável pela investigação do sequestro de Francis e do assassinato de Luang. O policial parecia tão atordoado com tudo aquilo quanto Isabelle, o que não inspirou sua confiança. Em seguida, ela deu uma entrevista a um repórter insistente do jornal local na esperança de que a publicidade resultante pudesse levar a alguma pista do filho desaparecido.

    Finalmente, com uma pequena cartela de remédios para o paciente, Isabelle levou Nove para a casa deles nos arredores do assentamento. Lá, ela colocou-o na cama. Ele dormiu assim que sua cabeça tocou o travesseiro.

    Então ela correu para fora e entrou em um palmeiral próximo. Perto de ter um colapso, ergueu a cabeça para o céu e gritou. Foi um grito longo e sincero que veio de sua alma – um grito de raiva, frustração e medo. Medo de que nunca mais visse seu filho.

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    Isabelle passou as próximas horas recebendo amigos e pessoas preocupadas que lamentaram com ela e ofereceram amor e apoio. Essas pessoas eram, em sua maioria, mães como ela, que compartilhavam da perda de uma criança. Elas continuaram indo e vindo até bem depois do anoitecer.

    Finalmente, por volta de meia-noite, Isabelle foi exausta para a cama. Ela teve um sono agitado, acordando para verificar Nove de vez em quando e se preocupando com Francis.

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    Nove acordou e encontrou Isabelle adormecida em uma cadeira próxima à cabeceira. Ele só podia imaginar há quanto tempo ela estava ali. Seu rosto manchado de lágrimas lhe disse que tinha chorado durante o sono. Os primeiros raios de sol da manhã atravessavam uma fresta nas cortinas, lançando um brilho dourado sobre a cama. Tudo parecia pacífico.

    Por um momento, ainda grogue, Nove não lembrou de nenhum dos terríveis acontecimentos do dia anterior. Então tudo veio à tona: o sequestro, o assassinato, o ataque cardíaco. Sentou-se em um pulo. Francis!

    Isabelle acordou, assustada. O que foi?

    Desculpe, não queria te acordar. Nove já estava se vestindo.

    Isabelle tentou forçá-lo de volta à cama. O médico disse –

    Esqueça o que o médico disse, disse Nove. Tenho que encontrar nosso filho.

    Isabelle ficou momentaneamente surpresa com a atitude fria de Nove. Não via esse lado dele desde que tinha sequestrado ela em Paris enquanto fugia da Omega há cinco anos.

    Agora totalmente vestido, Nove sentou sua esposa suave mas com firmeza na beira da cama e depois sentou-se ao lado dela. Eu preciso que você me ouça com muita atenção, Isabelle. Ele olhou nos olhos dela.

    Por um segundo, Isabelle quase não reconheceu Nove. Ele já estava com sua máscara. O marido e pai amoroso substituído pelo agente implacável e frio que ela tinha conhecido.

    Nove continuou, Eu só posso imaginar quem levou Francis, e o porquê. Tenho alguma ideia, mas nada concreto. Ele falava com uma voz quase monótona, como se estivesse lendo um script. De certa forma, ele estava. Nove estava recorrendo aos anos de treinamento da Agência Omega para se tornar um agente de elite. Em sua mente, ele podia ver seu antigo mentor, o agente especial Tommy Kentbridge, fazendo um discurso para ele e os outros agentes órfãos sobre o que fazer em tal situação. Quase podia ouvi-lo falar. Para cada problema, há uma solução. Nove apenas esperava que isso fosse verdade.

    Isabelle ia interrompe-lo, mas pensou melhor.

    Tenho que agir agora. Quanto mais esperarmos menos chance tenho de encontrá-lo.

    Oh, Sebastian, o que vamos fazer? Isabelle caiu soluçando em seus braços.

    Nove a acariciou, mas sua mente permanecia afastada e focada no problema em questão. Estava começando a formar um plano. Ele segurou Isabelle à distância de um braço. Quem quer que tenha sido que levou Francis, o levou para longe das ilhas.

    Isabelle ficou mortificada. Ela não tinha considerado que seu filho amado poderia ter sido levado para longe das Ilhas Marquesas.

    Nove continuou, Suspeito que o tenham levado para os Estados Unidos.

    América? Mas por que? E quem são eles? Ela hesitou por um momento. É a Omega, não é?

    Nove suspirou. Ela chegou à mesma conclusão que eu. Ele se levantou. Eu não tenho nenhuma prova, mas sim, só poderia ser a Omega.

    Isabelle ficou histérica. Ela testemunhara em primeira mão a crueldade da agência. O pensamento de que Francis poderia estar nas mãos da Omega a aterrorizava. Nove tentou acalmá-la, mas ela gritava acima da voz dele. Temos que contar às autoridades que é a Omega!

    Não! Nove podia sentir sua paciência se esgotando. A última coisa que precisava agora era de uma esposa histérica tentando resolver as coisas. Ele sabia que o trabalho que tinha pela frente já seria muito difícil sem a interferência dela. A Omega não existe oficialmente, Isabelle.

    Mas certamente alguém pode fazer alguma pesquisa e –

    Cortando-a, disse, Lembre-se, a Omega está acima da polícia, do FBI, da CIA, até do presidente. E tem olhos e ouvidos em todos os lugares. Se eu apresentasse uma reclamação oficial com qualquer das autoridades responsáveis ​​pela aplicação da lei, eu seria preso e entregue à agência antes que eu pudesse piscar.

    Mas eles vão matar Francis!

    Não, eles não vão! Nove teve que gritar para se fazer ouvir. Não

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