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Correntes Quebradas
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Correntes Quebradas
E-book531 páginas7 horas

Correntes Quebradas

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Sobre este e-book

Escapar é apenas o começo dos seus pesadelos.

A bela Silvana, rejeitada injustamente pela sociedade, deixa o Azerbaijão. Ela migra para o Quênia, onde se apaixona por um homem que ela vê como a resposta para suas orações. Mas o seu novo marido, Mark, não é o homem que ela pensava estar se casando.

Em pouco tempo, ele consome o seu corpo e sua alma, deixando-a machucada e mais sozinha do que nunca. Em seu desespero para fugir, ela começa a acreditar que uma facada profunda pode ser a diferença entre a liberdade e uma vida de mais abusos - ou pior.

Ela precisa tomar uma decisão que mudará sua vida para sempre. Será que ela impedirá as ações de um monstro ou seguirá outro caminho?

"Correntes Quebradas" é finalista do Readers' Favorite e do Prêmio Bookvana Awards de 2017 no gênero "Ficção - Inspiradora". Também é finalista premiado na categoria Ficção:  Inspiradora do Prêmio International Book Awards de 2018.

IdiomaPortuguês
Data de lançamento30 de dez. de 2018
ISBN9781547540204
Correntes Quebradas
Autor

Emiliya Ahmadova

Emiliya Ahmadova was born in the city of Baku, the capital of Azerbaijan. When she was just nine years old, she developed a passion for reading, literature, poetry, and foreign languages. In high school, she participated in and won many poetry competitions. Starting at the age of ten, she began writing poems and short stories in Russian.   Emiliya has diplomas in business management as well as a Bachelor of Arts (B.A.) in human resources management. She also has international diplomas in the advanced study of the theory and practice of management, administration, business management, communication, hotel operations management, office management and administration, and professional English from the Cambridge International College, in addition to a certificate in novel writing. Emiliya speaks four languages (Azeri, Russian, English, and some Turkish), but her native language is Azeri. Because of her love for humanity and children, she has started volunteering in a local school and in 2011 became a Cub Scout leader and won a trophy as the first female parent leader. Emiliya likes being around people, adores travel, enjoys playing soccer, and relishes in helping other people.

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    Correntes Quebradas - Emiliya Ahmadova

    "Correntes Quebradas, de Emiliya Ahmadova, é uma história comovente que atrairá um público amplo por causa das questões sensíveis, não tão frequentemente discutidas, que ele levanta. No coração desta história está a importante questão: o que é preciso para viver com um profundo sentimento de liberdade interior? A autora abre sua narrativa com um encontro inesperado entre os pais da protagonista e avança para mostrar como esse encontro leva a um breve relacionamento que culmina em uma gravidez indesejada.

    Esmira, a mãe da protagonista, cria sua filha sozinha, sob condições difíceis. Agora adulta, Silvana tem que enfrentar os desafios da vida madura e os horrores de relacionamentos abusivos. Como ela lida com seu parceiro abusivo cristão é o que vai impressionar os leitores. Este é um conto de virada de página da luta de uma mulher para evitar o mesmo destino de sua mãe, uma história de sofrimento, desumanidade e redenção.

    Silvana é uma personagem convincente e bem desenvolvida que não apenas interessará aos leitores, mas será um poderoso exemplo de uma guerreira pela liberdade e pelos direitos humanos."

    Avaliado por Divine Zape para o website Readers’ Favorite (5 estrelas)

    "Há alguns meses traduzi Correntes Quebradas para o idioma russo. Devo dizer que Correntes Quebradas é um romance fascinante e os principais méritos e pontos fortes de Correntes Quebradas são sua sinceridade e originalidade. A autora é uma mulher que foi criada em um ambiente de multinacional muçulmano, conhecendo assim os costumes, tradições, peculiaridades da vida em diferentes países e até diferentes continentes. Além disso, ela teve a oportunidade única de se comunicar com um amplo espectro de pessoas de diferentes origens culturais e perspectivas de vida. Tudo isso culminou em sua narrativa fictícia (ao longo de fascinantes páginas), suas experiências de vida multifacetadas e uma riqueza de conhecimentos.

    Em seu romance, o enredo parece tão natural, incluindo o diálogo envolvente. Ahmadova descreve seus personagens de forma tão vívida e clara que os leitores não os verão como uniformes e unipolares. Cada um provoca simpatia ou antipatia de uma maneira natural. Antes de encontrar a protagonista, os leitores conhecerão a história dramática da vida de sua mãe, seguida pela de sua avó. Tal abertura permite aos leitores não apenas traçar as relações entre gerações, mas também avaliar a influência da conduta dos pais na vida dos seus descendentes.

    No entanto, a corrente de danos hereditários é quebrada pela fé e esperança da protagonista em Deus em buscar a salvação. A personagem principal, Silvana, encontra força interior para mudar a trajetória de sua vida. Por sua vez, ela transforma a vida de muitos em torno dela que sofrem e em silêncio, sentindo-se também algemados, acorrentados pelo medo paralisante e pelo desespero sem esperança que envolvem sua condição humana. Desta forma, Silvana se torna um modelo para todos eles, prova viva de que a felicidade humana fundamental está em suas próprias mãos e pode fazer toda a diferença, juntamente com não só trabalho duro e inquestionável fé em Deus, mas também com um desejo insaciável de fazer uma diferença nesta terra."

    Katerina Staub

    "Correntes Quebradas introduz três gerações de mulheres presas em um estilo de vida reacionário abusivo.  A capacidade da autora de alcançar seus leitores através de seu personagem principal, 'Silvana', uma heroína em muitos aspectos, não é apenas intuitiva e empática, mas também muito eficaz.

    Ao ler cada palavra, você será conduzido mais profundamente na vida de Silvana. Você terá uma noção profunda de seus medos e solidão dos muitos relacionamentos geracionais abusivos que ela enfrenta a ponto de se tornarem seus. Você vai sentir a confusão de Silvana enquanto ela luta com suas crenças religiosas, buscando força e orientação que a libertará de uma montanha-russa de relacionamentos abusivos. Seu comportamento inato para proteger os filhos, que lhe proporciona uma força interior para se libertar das correntes de abuso, é louvável e heroico, daí a palavra Heroína, usada anteriormente nesta revisão.

    A história de Silvana é verdadeiramente uma voz de força, promessa e esperança de que uma vítima pode sair e superar uma vida de abuso. Correntes Quebradas é uma história convincente e sincera, escrita não só com o coração e a alma da autora, mas também com a sua necessidade de educar outras pessoas que possam ser vítimas de abuso. Em si, este livro pode ser usado como uma análise muito útil para todas as vítimas de abuso.

    O foco inicial ao longo deste livro trata indiretamente da dinâmica e das cicatrizes do abuso. Esta história envia várias mensagens muito fortes e encorajadoras para as vítimas de abuso e para aqueles que estão no meio de suas lutas.

    1. A culpa NÃO é sua.

    2. Abuso de qualquer forma é inaceitável.

    3. Você tem o direito de ir embora.

    4. Você pode perdoar para seguir em frente.

    Womensselfesteem.com: recomenda altamente Correntes Quebradas para todas as vítimas de abuso. Por mais que seja uma jornada emocional e aterrorizante, ler Correntes Quebradas definitivamente promete mensagens positivas de esperança e libertação do abuso. É uma das histórias mais motivadoras que li até hoje."

    Dorothyl Lafrinere

    Correntes Quebradas é outra história comovente que aborda a violência doméstica. Algumas pessoas podem dizer que estas são apenas histórias comuns. São mesmo? Eu não acho. O fato de muitas mulheres viverem uma vida de opressão, injustiça e abuso, seja verbal ou físico, não significa que essas histórias de vida sejam comuns. Não deve ser considerado normal quando as pessoas, especialmente as mulheres, são tratadas como escravas, lixo e seres humanos de segunda classe".

    Correntes Quebradas é um livro incrível. Eu amei. O enredo é rico, único e realmente emocionante. Eu não consegui colocá-lo de lado até terminar de ler os últimos capítulos às 5 horas da manhã. Emiliya Ahmadova escreve em seu próprio estilo fascinante. Autêntico e honesto. É uma história muito tocante de 5 gerações de mulheres azeris. Mariya, Sadaget, Esmira, Silvana e as filhas de Silvana. Cada uma delas tenta preparar a próxima geração para uma vida melhor. Em vão? Há uma maneira de escapar do destino e das tradições, romper com regras não escritas e mudar o futuro para sempre?

    A autora deu forma a personagens coloridas e muito verdadeiras e agradáveis. Essas mulheres têm muito em comum e são tão diferentes ao mesmo tempo. A história parece muito real. De fato, é porque, infelizmente, sempre hoje, muitas mulheres lidam diariamente com abusos domésticos.

    Nunca há muitas histórias narradas, muitos livros escritos, muitas canções cantadas ou muitas pessoas levantando suas vozes contra o abuso, a violência e a humilhação. Quem quer que argumente que essa é apenas mais uma história comum, nunca vivenciou e deveria segurar a língua. Para o resto de nós, este livro é muito inspirador e cheio de lições e esperança. Torço por uma vida melhor para todos nós. Por um mundo novo, onde a justiça e os direitos humanos reinem em vez de ódio e indignidade.

    Este livro vai encontrar seu caminho para muitos leitores em todo o mundo. É lindamente escrito, agitado e cheio de suspense. A história é cheia de drama, mas também muita esperança para um futuro melhor. Eu realmente quero acreditar nisso. Parabéns a Emiliya Ahmadova, que criou esta história inspiradora com paixão, amor e trabalho duro. Mulheres, não se calem! Cada história é importante e ajuda a aumentar a conscientização e, finalmente, moldar um novo futuro para todas nós."

    Christiane Agricola

    Correntes Quebradas pertence ao gênero de ficção feminina e seus personagens são fictícios. Qualquer semelhança dos personagens com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência. No entanto, os problemas tratados no romance não só atormentam todas as partes do mundo, mas têm sido suportados por homens e mulheres, e não estão isolados a uma única pessoa.

    Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, distribuída ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio, incluindo fotocópia, gravação ou outros métodos eletrônicos ou mecânicos, ou por qualquer sistema de armazenamento e recuperação de informações sem a permissão prévia por escrito do editor, exceto no caso de breves citações incorporadas em revisões críticas e outros usos não-comerciais permitidos pela lei de direitos autorais.

    Escrituras citadas da Bíblia King James. O NKJV foi encomendado em 1975 pela Thomas Nelson Publishers.

    Website: www.emiliyaahmadova.com

    Women’s Voice Publishing House

    Dedicatória

    Meu romance intitulado Correntes Quebradas, é dedicado a cada alma que passou por dificuldades, abuso, medo, manipulação, exploração e dor, e por aqueles que choram em silêncio por resgate, mas ninguém parece ouvir. Hoje eu estou aqui para informá-los que sua voz foi ouvida. É hora de levantar suas vozes contra o abuso e simplesmente dizer: Não! e Pare!. Fechem o antigo capítulo de suas vidas e abram um novo, onde vocês possam curar, descobrir a felicidade e estar em paz cercados pela graça e amor de Deus. Minha mensagem para todas as vítimas de abuso é direta. Dê o fora da fonte do seu abuso e defenda seus direitos! Minha protagonista, Silvana, foi capaz de dar esse passo. Agora é a sua vez, meus leitores. Vocês conseguem!

    Índice

    Capítulo 1: Esmira Conhece Samed

    Capítulo 2: Gravidez Inesperada

    Capítulo 3: A Descoberta Chocante

    Capítulo 4: Silvana Chega Ao Mundo Cruel

    Capítulo 5: Encarcerado

    Capítulo 6: Vida Escolar

    Capítulo 7: Mudança Para Um Novo Apartamento

    Capítulo 8: Existência Conduzida Pelo Medo da Fofoca

    Capítulo 9: Silvana Conhece um Homem Inglês

    Capítulo 10: O Dia do Casamento

    Capítulo 11: Segredos Sujos Revelados

    Capítulo 12: Choro Da Alma

    Capítulo 13: Mudanças Inesperadas

    Capítulo 14: Suportando O Abuso

    Capítulo 15: Correntes Quebradas

    Agradecimentos

    Autobiografia

    Glossário

    [1]Bem-aventurado o homem que sofre a tentação; porque, quando for provado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor tem prometido aos que o amam.

    Capítulo 1

    Esmira Conhece Samed

    Em um dia quente de verão em Baku , Esmira conheceu um jovem rapaz na livraria que gerenciava. Enquanto falava com uma amiga pelo telefone, seus olhos foram atraídos pelo misterioso estranho entrando na loja. Esmira olhou para ele e seu olhar foi capturado por sua aparência marcante: ombros largos, com olhos cor de avelã e uma pele morena. Sveta, vendedora assistente de Esmira, aproximou-se dele com um largo sorriso no rosto.

    — Senhor, como posso ajudá-lo? — Disse abanando um leque de papel em frente ao rosto de boneca.

    Ele compartilhou o sorriso.

    — Guerra e Paz, de Leo Tolstoy, por favor.

    Sveta encontrou a cópia do clássico, e em seguida, ele pagou pelo livro e partiu. Ela o seguiu com os olhos enquanto ele saía da loja. Ela suspirou alto.

    Uma semana se passou, e esse cliente arisco retornou. Quando ele entrou na livraria, Esmira estava de pé ao lado da caixa registradora, fazendo o inventário das vendas em um caderno. Sveta havia abandonado o balcão para tirar um cochilo no almoxarifado nos fundos, deixando Esmira sozinha na frente da loja. Com um sorriso largo, o homem a cumprimentou e pediu um livro escrito por Nasradin Nuris. Esmira subiu no banquinho para pegar o item. Ela começou a procurar entre as estantes de livros. Quando ela encontrou a seção onde os livros de Nasradin estavam localizados, ela notou pelo canto do olho que o homem estava admirando sua figura.

    Um calor perceptível percorreu o corpo do homem. Seu coração batia impacientemente. Enquanto Samed passava a língua pelo lábio inferior, ele apreciava o corpo atraente, pernas bonitas e bumbum firme e redondo da moça.  Uma sensação dolorida tomou conta de suas mãos, que se mexiam inquietas. Por causa de sua propensão a mulheres curvilíneas, ele queria possuí-la ali mesmo, sem se importar com o que ela queria.

    Finalmente, Esmira encontrou o livro e desceu do banquinho. Seus longos cabelos castanhos caíram sobre o rosto redondo. Ele olhou seus olhos castanhos, que eram franjados com longos cílios. Olhando para seus lábios carnudos e rosados, ele imediatamente queria beijá-la.

    — Quanto eu devo a você, linda?

    — Três rublos.

    Khanum, qual é o seu nome?

    O sangue jorrou em seu cérebro como um raio, fazendo-o suar. Ela olhou em seus olhos cor de avelã e sentiu as bochechas corarem. Sorrindo timidamente, ela respondeu:

    — Esmira.

    — O seu nome é tão sedutor quanto você. — Seu admirador sorriu, mostrando os dentes brancos, e desfez o primeiro botão de sua camisa azul.

    Ela ficou vermelha e olhou para baixo, sentindo-se tímida.  Seus cílios batiam como as asas de uma pomba.

    — Obrigada.

    Incapaz de parar de olhar para os lábios rosados da moça, ele continuou:

    — Meu nome é Samed. Eu sou de Zardob.

    Gotas de suor escorriam de sua têmpora. Ele sentiu um choque elétrico passar por seu corpo e um desejo ardente de beijá-la mais do que apenas na bochecha.

    Ela desviou os olhos do olhar dele.

    — O que você está fazendo em Baku?

    — Estou terminando minha graduação na Universidade de Hazer.

    Ele olhou para ela, suspirando com o desejo.

    — Você possui os olhos mais bonitos do mundo.

    Esmira sentiu as bochechas queimarem, aprofundando seu rubor e deixando-a sem palavras. Ele pagou pelo livro e saiu da loja enquanto ela ficou em estado de choque.

    Depois de conhecer Esmira, Samed Abdulaev foi até a loja e comprou livros regularmente, de propósito. Como um predador do sexo oposto, ele seduzia muitas mulheres, usando-as apenas para sexo, e então desaparecia e descartava suas amantes de coração partido, como lixo. No entanto, dessa vez era diferente. Era difícil para ele determinar suas reais intenções em relação a ela.

    Dentro de um mês, eles começaram a namorar. Esmira estava visivelmente feliz com a atenção de um homem tão bonito. Todos os dias, depois do trabalho, eles iam ao cinema ou ao Parque Boulevard.

    Uma noite, enquanto estavam sentados no cinema, Samed segurou a mão de Esmira gentilmente, acariciando-a enquanto ela apoiava a cabeça no ombro dele. No entanto, ela se sentiu desconfortável ao notar sua ereção evidente. Para seu choque, o namorado colocou a mão na perna dela e começou a acariciá-la, puxando os dedos para cima da saia. O corpo de Esmira ficou tenso, e ela intencionalmente deixou cair a bolsa no chão. Ela ficou de pé, fingindo procurar, e depois sentou-se novamente, esperando não ser tocada de forma inapropriada novamente.

    Pouco tempo depois, ela contou à mãe sobre o namoro com Samed. Sadaget olhou pensativamente para Esmira por um momento, e então exclamou:

    — Não acredito que finalmente você arranjou um namorado! Espero que ele não seja um daqueles idiotas que estão só à procura de sexo.

    Os lábios de Esmira se apertaram, virando-se nas extremidades. Sua testa franziu.

    —  Mãe, ele não é um idiota, mas um bom homem. Por que você é sempre tão negativa?

    — Eu estou tentando proteger você.  Você não sabe nada sobre ele. Como você pode afirmar que seu namorado é um bom homem? Primeiro, pergunte-o sobre seus pais, amigos e meios de subsistência. Por favor, não entre em um relacionamento sem verificar o histórico dele.

    O coração de Esmira foi tomado por decepção.

    —  Mãe, por que você está sempre se preocupando desnecessariamente? Quando encontrá-lo, faça quantas perguntas quiser.

    Em um domingo frio e com muito vento, Esmira convidou Samed para conhecer a sua mãe. Ele trouxe um grande buquê de rosas para a loja, e, juntos, eles seguiram para o apartamento que ela dividia com a mãe. Quando eles chegaram ao seu destino, Sadaget abriu a porta.

    — Bom dia, Sadaget Khanum. — Ele sorriu, mostrando os dentes brancos e perfeitos. Sua pálpebra esquerda se contraiu nervosamente.

    — Olá, jovem rapaz. —  Sadaget olhou-o com frieza. Ela encurvou as sobrancelhas desconfiada, mas convidou-o para entrar mesmo assim.

    Na sala de estar, ele observou-a. Calafrios desceram pela sua espinha.

    — Mãe, este é Samed Abdulaev. — Esmira olhou para o namorado gentilmente, dando-lhe um sorriso caloroso.

    Sadaget voltou a observá-lo sem piscar.

    — Prazer em conhecê-lo, meu jovem.

    — Prazer em conhecê-la também.  Estas são as mais belas rosas que pude encontrar, para uma mãe maravilhosa como você. — Ele sorriu e entregou a ela o buquê de rosas.

    Ela pegou o buquê com um sorriso forçado.

    — Muito obrigada pelas flores. Por favor, sente-se e sinta-se em casa.

    Depois de colocar as flores em um vaso de cristal, Sadaget ofereceu-lhe chá com um pedaço de bolo Napoleão. Eles se sentaram com suas xícaras. Enquanto desfrutavam da bebida, ela o fez perguntas, o tempo todo encarando o rosto dele com uma expressão vazia.

    — Jovem, o que você faz da vida? — Sadaget disse enquanto mordia um doce.

    — Eu não estou trabalhando agora. Sou apenas um estudante na Universidade.

    — O que você estuda? — Sadaget continuava a encará-lo, seus olhos castanhos tentando pegar uma mentira.

    — Eu faço Educação Física.

    O olhar fixo de Sadaget deixou-o agitado. Ele começou a se contorcer. Suas palmas começaram a suar. O desejo de fumar tomou conta dele. Ele pôs uma mão no bolso e tocou seu isqueiro.

    Sadaget calmamente tomou um gole de chá.

    — Onde os seus pais vivem?

    — Eles moram em Zardob. — Com dedos trêmulos, ele abotoou o primeiro botão de sua camisa vermelha.

    Sadaget colocou a xícara vazia na mesinha de centro. Então ela olhou nos olhos dele sem piscar.

    — Quais são as suas intenções com a minha filha?

    Ao ouvir essa pergunta inesperada, Samed quase engasgou com o chá, tossindo incontrolavelmente. Ele não sabia o que dizer no começo. Então Samed murmurou:

    — Eu gosto da sua filha e espero que tenhamos um futuro juntos.

    Um sorriso de aprovação cintilou no rosto de Sadaget.

    — Mas ainda é muito cedo para dizer, já que nos conhecemos apenas recentemente. — Ele limpou o rosto com um lenço, sentindo-se como se estivesse sob interrogatório.

    O sorriso no rosto de Sadaget desapareceu. Desapontada pela resposta, ela se endireitou olhando para ele sem piscar.

    Ele olhou para o lado e cruzou as pernas, sentindo uma vontade repentina de roer as unhas. Ele sentia-se perplexo pela insistência dessa mulher em fazer tantas perguntas como disparos rápidos de metralhadoras. Samed respondeu com educação, dando garantias de que ele não só gostava da filha dela, mas também de que suas intenções eram boas.

    Depois de passar uma hora no apartamento de Esmira, ele foi embora aliviado. O namorado de Esmira estava contente por não ter que responder mais nenhuma pergunta da mãe dela, e nem ser mais submetido ao seu olhar penetrante.

    Assim que ele saiu, Sadaget cruzou os braços.

    — Ele é um homem bonito e bem-educado, mas algo sobre ele não está certo. Se eu estivesse no seu lugar, não confiaria nele.

    Ouvindo as palavras de sua mãe, o coração de Esmira se despedaçou. Ela fez uma careta.

    — Mãe, eu não estou surpresa. Você nunca vai aprovar qualquer homem, na minha vida ou de outra forma. Não é de se admirar que você não tem um.

    Sadaget olhou para a filha em silêncio por um segundo.

    — A única razão pela qual eu nunca mais me envolvi com qualquer homem é porque tenho medo de que você seja abusada. Você me entende? — Ela apontou um dedo para Esmira.

    O corpo de Esmira ficou tenso enquanto ela olhava para baixo.

    Sadaget coçou a orelha.

    — Você não reparou na linguagem corporal do seu namorado quando eu o perguntei sobre as intenções dele com relação a você? Com certeza ele estava nervoso, o que me leva a concluir que você não deveria sair com ele.

    Angustiada com a negatividade de sua mãe, Esmira balançou a cabeça lentamente. Suas sobrancelhas se aproximaram.

    — Mãe, eu te entendo. Você não pode julgar alguém sem conhecê-lo melhor.

    — Esi, eu não estou julgando, mas tenho a sensação de que ele pode fazer avanços inapropriados com você. Eu não sei de onde veio essa ideia. Quando o imagino em minha mente, isso me enche de preocupação. Eu sinto um peso e um aperto no peito. Só tenha cuidado.

    — Está bem, mãe. Eu não vou mais vê-lo. — ela mentiu. Conhecendo a sua mãe, ela sabia que seria difícil encontrar alguém que ela aprovasse.

    Um dia, quando o inverno se aproximava, as estradas ficaram cobertas com um tapete branco macio de neve. À tarde, muita neve havia caído, deixando as ruas congeladas. O gelo no chão causou congestionamento, mas não evitou que Samed visse Esmira.

    Com um maço de rosas vermelha e cor-de-rosa debaixo do braço, ele caminhou a passos largos no asfalto congelado.  No entanto, Samed não era imune ao frio. Ao se aproximar da livraria, contemplando os telhados das casas de tijolo de dois andares envoltas em neve, ele sentiu o sangue se tornando gelado, enquanto seus dedos doíam como se alguém os tivesse espetado com agulhas. Seu corpo tremeu ligeiramente. Seus dentes batiam. Samed tentou manter uma das mãos no bolso enquanto carregava as rosas com a outra.

    Um táxi amarelo chegou perto dele.

    — Está frio aí fora. Deixe-me levá-lo ao seu destino. — O motorista esfregou as mãos geladas.

    — Obrigado, mas eu já estou quase lá.

    Assim que o táxi foi embora, Samed sentiu algo bater forte em sua cabeça. Seu chapéu cinza de inverno foi derrubado no chão. Ele se virou e olhou para um pequeno trio de crianças que estava por perto, cada uma segurando uma bola de neve. Um garotinho gordo pegou outra bola de neve e jogou em Samed, acertando-o diretamente no rosto.

    — Ei, você! Eu vou pegar você! — ele disse, gritando raivosamente para o garoto, com a boca cheia de neve. Samed colocou as flores no chão e fez uma bola enorme e dura de neve. Então jogou-a nas crianças, mas sua mira não era boa. A bola de neve caiu inofensiva na neve a alguns metros de distância. Envergonhado, Samed recolheu seu chapéu e as flores. Ele saiu batendo os pés, tentando ignorar as risadas às suas costas.

    Ele entrou na livraria, armado com seu lindo buquê de rosas, e as entregou a Esmira.

    — Quando eu vi estas lindas rosas, elas me lembraram de sua beleza. Eu não pude resistir e comprei-as para você.

    Um sorriso de satisfação iluminou o rosto redondo dela. Ela respirou fundo enquanto cheirava as rosas. Eu poderia cheirá-las o dia todo, pensou consigo mesma.

    — Você é tão gentil comigo. — Ela agradecidamente acariciou a bochecha dele com a mão esquerda.

    Ele pegou a mão dela. Seus olhos encararam os dela, fazendo-a piscar.

    — Eu acordei cedo nesta manhã e fiz um jantar para nós. Por favor, você concorda em jantar comigo no meu apartamento?

    Enquanto esperava por uma resposta, ele olhou para Esmira sem piscar. No começo, ela não sabia o que dizer. Ela sabia que ir ao apartamento do namorado não era uma boa ideia. No entanto, quando ela caiu no feitiço de seus olhos sedutores, ela concordou.

    Ela fechou a livraria. Eles caminharam para a estação de trem, que estava cheia de pessoas tentando escapar do frio. Alguns vestiam casacos longos com lenços sobre a cabeça, enquanto outros usavam casacos curtos. As pessoas estavam empurrando umas às outras na pressa de embarcar no trem.

    Após várias paradas, o jovem casal saiu do trem. Eles caminharam pelo restante do percurso para o apartamento dele em silêncio. Esmira sentiu-se tensa enquanto debatia mentalmente se deveria recusar o convite e bater em retirada. Porém, ela continuou a segui-lo.

    Eles caminharam por entre prédios de cinco andares que estavam em mau estado e precisavam de uma camada nova de tinta. Esmira notou alguns mercadinhos ligados aos edifícios. Carros russos estavam estacionados em frente, cobertos de neve. Algumas crianças jogaram bolas de neve umas nas outras enquanto os pais sentavam-se sozinhos nos bancos próximos. Ela olhou para a rua, percebendo que uma parte dela não era pavimentada e coberta de neve misturada com lama.

    Se alguém me vir entrando neste apartamento, os vizinhos irão espalhar fofoca em todas as direções, ela pensou.

    Enquanto isso, os olhos dele deslizavam pelo corpo dela enquanto ela andava. Ele lambeu os lábios. Seu corpo inteiro estava excitado.

    Eles se aproximaram de um prédio de nove andares. Eles subiram lentamente para o quinto andar, ofegando por causa do esforço. O coração de Esmira batia cada vez mais rápido a cada degrau. Ela colocou as mãos sobre o coração para se acalmar por um segundo.

    Por que meu coração está pronto para explodir?

    Ele abriu a porta e guiou-a até a sala de jantar. Lindamente decorada, as paredes tinham um papel de parede verde-claro maravilhoso. Uma pintura de uma mulher muito bonita estava pendurada em uma das paredes. A sala tinha longas cortinas cor de creme nas janelas, um aparelho de som, uma televisão pequena em um aparador e uma mesa com cadeiras combinando. Ele realmente tinha bom gosto.

    Samed convidou Esmira para sentar-se à mesa. Ela observou ao redor e notou duas taças, uma garrafa de vinho tinto, rosas, velas e pratos brancos. Seus olhos se arregalaram.

    — Uau! Eu estou impressionada com a recepção. Você até colocou velas!

    — Eu sou um homem que sabe como fazer uma mulher feliz. Por favor, sente-se à mesa. Eu já volto.

    Ele saiu da sala e voltou com um carrinho, carregado com o jantar. Ele pegou pratos de dolma, pilov, salada de batata e caviar preto e colocou-os sobre a mesa, e acendeu as velas. Então serviu um pouco de vinho nos cálices e entregou um para ela.

    Esmira nunca havia bebido álcool antes. Ela hesitou no início, simplesmente segurando sua taça de vinho, e observou cada movimento que ele fazia. Ela respirou pesadamente enquanto seus músculos se contraíam em uma cautela desconfortável.

    Ele ergueu a taça de vinho:

    — Vamos brindar ao nosso futuro e novo amor. — Nesse momento, ele tomou metade de sua taça de vinho.

    Seguindo o exemplo, Esmira esvaziou sua taça em um só gole. Eles jantaram, ambos se sentindo tensos. Depois de terminar a refeição, ele retirou todos os pratos da mesa, pôs uma música suave e relaxante, e a convidou para dançar. Ela levantou-se timidamente, olhou para baixo e aproximou-se dele. Samed gentilmente colocou os braços em volta da cintura dela, embalando-a. Ele balançava no ritmo da música, para lá e para cá.

    Sentir o corpo do namorado pressionado contra o dela, fez Esmira se sentir quente e tonta. A jovem não tinha certeza se era por causa do vinho ou porque ela estava tão perto dele. Ele cheirava tão bem. Sua pele era macia. Quando ela descansou a cabeça em seu ombro enquanto dançava, Esmira sentiu o desejo de beijá-lo.

    A música parou. Ela sentou-se na cadeira. Ela olhou em volta nervosamente e girou o cabelo em volta do dedo. O corpo inteiro de Esmira queimava, especialmente as mãos.

    O que está acontecendo com o meu corpo?

    Ele saiu da sala e retornou com uma garrafa de um líquido claro e dois copos pequenos. Ele serviu um pouco de vodca para os dois. Samed passou-lhe um copo.

    — Esi, experimente isso.

    Ela recuou, olhando para a bebida.

    — O que é isso?

    A pálpebra esquerda dele saltou involuntariamente.

    — Vodca com limão.

    Ela colocou o copo na mesa.

    — Mas Samed, eu não bebo álcool.

    Samed olhou para a namorada com os olhos ligeiramente apertados. Seus lábios se contraíram juntos. Ela sentiu as bochechas queimarem e afrouxou a blusa.

    — Nós não estamos matando, ferindo ou roubando ninguém. Só experimente. Se você não gostar, não beba.

    Ela tomou alguns goles.

    — Uau, eu sinto o gosto do limão! — E bebeu toda a vodca de uma vez.

    Depois de beber dois copos, Esmira se sentiu cada vez mais tonta e alegre. Ela estava cheia do desejo de cantar e dançar.

    Eu me sinto tão relaxada.

    Samed serviu outro copo de vodca para ela, que tentou recusar. Ele olhou para ela com um rosto gentil e amável, sorrindo largamente.

    — Vamos brindar ao nosso futuro juntos.

    Esmira mudou de ideia. Só mais um copo não vai fazer mal., pensou ela. Como ela poderia resistir a esse sorriso charmoso e a esses olhos suplicantes cor de avelã?

    Depois de um tempo, ela fazia piadas rindo em voz alta. Esmira tentou se levantar do sofá, mas caiu sentada, tonta. A sala toda girou em torno dela. Ela se deitou e mordeu os lábios enquanto olhava para ele, sentindo um desejo de levantar e beijá-lo na boca.

    Ao ver que Esmira estava bêbada, Samed entrou em ação. Ele sentou ao lado dela e beijou o seu pescoço. Ela tentou afastá-lo, o tempo todo rindo.

    — Pare, por favor! — Ela estava confusa, tentando entender o que estava acontecendo.

    Ele continuou a beijar o seu pescoço.

    — Esmira, você é tão linda e intocada.

    Ela sentiu-se tonta e relaxada, e um fluxo quente de energia passou pelo seu corpo enquanto os lábios quentes dele tocavam o seu pescoço. Mantendo os olhos fechados, Esmira apreciou a sensação de ele beijá-la. Quando ele tentou desabotoar a blusa, ela tentou mais uma vez afastá-lo. Quando ele começou a beijar seus lábios, ela não conseguia mais controlar suas emoções. Na verdade, ela percebeu que queria fazer amor com o homem na frente dela.

    Que vá para o inferno a sociedade., sussurrou para si mesma, quase inaudível.

    Ela agarrou-o com força e apaixonadamente beijou seus lábios.

    Ele pegou as mãos dela e levou-a para o quarto, despiu-a e então tirou as próprias roupas. Ela deitou na cama, olhando o corpo nu e atlético do namorado. Ele era tão perfeito e sexy que ela não podia mais resistir ao seu desejo ardente. Respirando pesadamente e queimando por dentro, todo o seu corpo ansiava por seus beijos. Enquanto ela estava deitada em sua cama, ela permitiu que Samed beijasse seus lábios novamente, e então todo o seu corpo. Isso a deixou ainda mais excitada. Ela gostou da sensação e não queria que ele parasse.

    Depois de desfrutar seu corpo sendo tocado por um certo tempo, eles fizeram sexo. Depois, ambos intoxicados, adormeceram.

    Pela manhã, ela acordou com uma enorme dor de cabeça na cama de Samed. Vendo-se nua e na cama do namorado, ela percebeu que havia feito algo vergonhoso e pecaminoso. Esmira sentou-se devagar, sentindo-se fraca. Ela cobriu o rosto com as mãos.

    Oh, Alá, eu pequei contra o Senhor e trouxe vergonha para mim mesma.

    Horrorizada, Esmira balançou a cabeça em descrença. O que foi que eu fiz?

    Ela entrou no banheiro para tomar um banho. Uma vez vestida, ela voltou para o quarto. Ela se sentou no canto do quarto, com a cabeça contra os joelhos e começou a chorar.

    Ao ouvi-la, Samed levantou-se seminu. Ele olhou para ela preocupado.

    — O que está errado, Esmira? Por que você está chorando? — Ele começou a vestir as roupas.

    Esmira chorou ainda mais alto.

    — Eu cometi um pecado dormindo com você. Eu não deveria ter bebido vodca. Por causa do álcool, eu não estava ciente de minhas ações. Ninguém vai querer se casar comigo porque perdi minha virgindade com você. Minha mãe vai me matar! — ela declarou enquanto sacudia a cabeça em descrença.

    Ele chegou mais perto dela.

    — Pare de chorar lágrimas desnecessárias, e olhe para mim por favor.

    Ela levantou a cabeça e olhou para ele, os olhos cheios de lágrimas.

    — Você sabe que eu te amo. Eu vou me casar com você. — Enquanto ele falava, ela notou que seus olhos se moviam de um lado para o outro. As sobrancelhas dele se ergueram para o meio da testa. Linhas finas e curtas se formaram enquanto ele franzia a testa.

    — É mesmo? — Esmira ingenuamente olhava-o nos olhos, com um sorriso no rosto preocupado.

    Ele forçou um sorriso.

    — Sim, minha querida, eu vou. Mas só depois de me formar.

    Depois de conversar por um tempo, ela saiu do apartamento dele e caminhou para a estação de trem. No caminho, ela encontrou uma cabine telefônica. Ela parou ao lado da cabine pensando no erro enquanto olhava ao redor.

    Se eu tivesse recusado ir ao apartamento dele, nada disso teria acontecido.

    Depois ela pensou no que falaria para sua mãe por não ter passado a noite em casa. Ela decidiu dizer a Sadaget que passara a noite na casa de uma amiga, Sabina.

    Esmira aproximou-se do telefone e discou o número da amiga. Sabina atendeu.

    — Oi, Sabina!

    — Olá! Já faz muito tempo que tive notícias suas. — respondeu Sabina.

    — Olha, eu não posso falar por muito tempo agora. Você pode me fazer um favor? — Esmira rangeu os dentes.

    Sabina fez uma pausa.

    — Que tipo de favor?

    — Se a minha mãe te ligar, apenas diga a ela que eu passei a noite na sua casa.

    — Mas onde você passou a noite? — Sabina era toda ouvidos.

    Esmira espreitou à sua volta e tentou manter a voz baixa.

    — Há pessoas por perto, então não posso falar agora. Eu prometo te ligar mais tarde, mas enquanto isso, faça o que estou te pedindo.

    — Não se preocupe. Vou dizer a ela o que você quiser que eu diga.

    Esmira sentiu como se um grande peso fora tirado de suas costas.

    — Muito obrigada. Falaremos mais tarde. — Tonta e com o coração leve, Esmira desligou o telefone.

    Ela desceu na estação Narimanov e pegou o ônibus número 266, que parou não muito longe de seu apartamento. Ela caminhou em direção a ele com o coração batendo rapidamente, enquanto os flocos de neve caíam na gola de seu casaco branco. Ela subiu para o terceiro andar, a tensão no peito tornando difícil respirar. Ela estava tremendo ligeiramente.

    Minha mãe vai me dar trabalho. Alá, por favor, me ajude.

    E parou na porta por um momento, revirando a bolsa.

    Eu não deveria ter perdido minha chave. Agora tenho que encará-la.

    Ela então bateu na porta, seu coração latejando e batendo com um estrondo trovejante. Sadaget abriu-a sem dizer uma palavra, mas assim que fechou, cruzou os braços e gritou para a filha:

    — Onde você estava, vadia? Eu estava morrendo de preocupação tentando falar com você. Você passou a noite com Samed?

    Esmira olhava para ela com os olhos arregalados. O rosto de Sadaget estava furioso, as sobrancelhas franzidas juntas. Ela tremia enquanto berrava com a filha. Assustada, Esmira não sabia o que dizer no começo. Seus olhos se arregalaram e suas sobrancelhas se inclinaram para cima. Ela respirava com dificuldade, como se não houvesse ar suficiente na sala.

    — Não, eu passei a noite na casa de Sabina, que estava sozinha e me perguntou se eu poderia ficar com ela.

    Esmira sentiu-se desconfortável por mentir. Ela sabia que mentir era, além de errado, um pecado, mas estava com medo de dizer a verdade.

    — Por que você não ligou para mim? Você poderia pelo menos ter me ligado e avisado que ficaria com Sabina. — Sadaget soava como um investigador policial tentando fazer um criminoso contar a verdade.

    Esmira continuou a mentir, evitando os olhos da mãe.

    — Eu não sabia que ficaria na casa dela. Ela me pediu quando eu já estava lá visitando-a. Eu ia ligar para você, mas o telefone da casa dela não estava funcionando.

    Sadaget chegou mais perto de Esmira e apontou um dedo para ela:

    — Escute-me com atenção. Se isso acontecer de novo, eu te expulsarei de casa!

    — Eu não farei de novo, mãe!

    Esmira se afastou lentamente. Um sorriso leve apareceu em seu lábio superior. O resto do dia ela ficou em casa, obrigada a ouvir as queixas de Sadaget.

    Na segunda-feira ela retornou ao trabalho, aliviada por se afastar de sua mãe. Ela afundou na cadeira macia, fechou os olhos, e respirou profundamente, aproveitando a calma ao seu redor. Pelo menos ela não pode me incomodar enquanto eu estiver aqui.

    Porém, todas as noites depois do trabalho durante a semana inteira, Sadaget chateava-a falando sobre aquela noite em que ela não dormiu em casa. Enquanto sentava-se à mesa e silenciosamente se irritava com as queixas da mãe, ela segurava a cabeça e mordia os lábios. Quando será que ela vai para de me importunar sobre a mesma coisa? Eu não aguento mais!

    Sadaget costumava discutir com Esmira por pequenas tolices. Chamava-a de vadia só por ter olhado para alguém ou por retribuir o sorriso de um home na rua. No entanto, na verdade, Sadaget não era uma mulher mesquinha. Um começo difícil na vida deu-lhe arestas. Ela nasceu em 1939 na vila de Guba, filha de mãe russa, Mariya, e pai azeri, Rza. Aos 16 anos, Sadaget conheceu um professor chamado Ali. Ele era quatro anos mais velho do que ela e vinha de família rica. Um certo dia ele levou Sadaget para casa e fez sexo com ela, prometendo se casar. Mas depois de alguns dias ele desistiu de sua promessa e pediu a Sadaget para não contar a ninguém o que havia acontecido entre eles. Mesmo assim, Sadaget contou tudo para a sua mãe. Enfurecida, Mariya forçou Ali a se casar com sua filha e levá-la para casa dele.

    A mãe de Ali era a diretora da escola de Ensino Médio local e estava infeliz que seu filho se casara com uma garota pobre, cuja mãe era uma alcoólatra russa que passara um ano na cadeia. Ela queria que o filho se casasse com uma moça azeri muçulmana que ela mesma escolheria. Por isso, todos os dias ela incomodava Sadaget e lhe perguntava:

    — O que você está fazendo na minha casa? Volte para o seu barraco!

    Ela tentou de tudo para forçá-los a se divorciarem. Ela contava mentiras sobre a nora para o filho, dizendo que Sadaget a tratara mal, logo não demonstrando qualquer respeito. Ali acreditava nas reclamações da mãe e discutia com Sadaget sobre a conduta dela em relação à sua mãe.

    Após um ano de casamento, Sadaget sofreu um aborto em sua primeira gravidez ao carregar um saco pesado de batatas. Mais tarde, ela engravidou novamente, e teve Esmira. Depois de viver por três anos na casa da sogra, Sadaget decidiu deixar o marido. Ela não podia suportar não apenas as mentiras de sua sogra, e também a frigidez e

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