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Um inferno para todas as estações
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Um inferno para todas as estações
E-book306 páginas4 horas

Um inferno para todas as estações

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Sobre este e-book

Um Inferno Para Todas As Estações apresenta sete curtas histórias de dar calafrios que se passam ao redor do globo, convidando você a participar de uma aventura sobrenatural da qual você não irá esquecer tão cedo. Neste livro, você vai descobrir o que acontece quando alunas desavisadas, médicos puritanos, um caubói valentão, hipócritas egoístas, um bêbado, uma vidente e estudantes universitários comuns se deparam com os seus piores pesadelos.

O que eles fizeram para acender a faísca desses fenômenos sobrenaturais?

Más escolhas, maus momentos e mau carma retornam para assombrá-los de maneiras traumáticas de modo as lhe ensinar importantes lições, recheadas de momentos de terror, horas de caos e anos de arrependimento

IdiomaPortuguês
Data de lançamento30 de dez. de 2018
ISBN9781547541119
Um inferno para todas as estações
Autor

Emiliya Ahmadova

Emiliya Ahmadova was born in the city of Baku, the capital of Azerbaijan. When she was just nine years old, she developed a passion for reading, literature, poetry, and foreign languages. In high school, she participated in and won many poetry competitions. Starting at the age of ten, she began writing poems and short stories in Russian.   Emiliya has diplomas in business management as well as a Bachelor of Arts (B.A.) in human resources management. She also has international diplomas in the advanced study of the theory and practice of management, administration, business management, communication, hotel operations management, office management and administration, and professional English from the Cambridge International College, in addition to a certificate in novel writing. Emiliya speaks four languages (Azeri, Russian, English, and some Turkish), but her native language is Azeri. Because of her love for humanity and children, she has started volunteering in a local school and in 2011 became a Cub Scout leader and won a trophy as the first female parent leader. Emiliya likes being around people, adores travel, enjoys playing soccer, and relishes in helping other people.

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    Um inferno para todas as estações - Emiliya Ahmadova

    Um Inferno Para Todas as Estações é uma coleção de histórias que caem nos gêneros de mistérios, terror e ficção sobrenatural, e os personagens são ficcionais. Qualquer semelhante dos personagens com pessoas, vivas ou mortas, é pura coincidência.

    Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, distribuída ou transmitida de quaisquer formas ou por quaisquer meios, incluindo fotocópia, gravação, ou outros métodos eletrônicos ou mecânicos, ou por nenhum sistema de armazenamento e recuperação sem a permissão por escrito da editora, exceto no caso de citações breves anexadas em avaliações críticas e outros usos não comerciais permitidos pela lei de direitos autorais.

    Revisão e Edição: Marcella Araujo

    Website: www.emiliyaahmadova.com

    Agradecimentos

    Eu gostaria de expressar minha mais sincera gratidão ao meu editor independente, Brian, por não ter apenas editado os meus contos selecionados sobre o sobrenatural, presentes em Um Inferno Para Todas As Estações, mas também por acreditar sinceramente no meu talento e apoiar minha carreira, tanto como uma escritora de ficção e não-ficção, quanto como uma palestrante motivacional e blogueira.

    Minha gratidão também para minha segunda editora e amiga, Kathy Ree, pelo seu suporte e por deixar minhas histórias livres de erros.

    Eu gostaria de estender minha gratidão para o tradutor Matheus Alexandre de Araujo pela tradução de 'Um Inferno Para Todas As Estações' do inglês para o português.

    Eu também gostaria de agradecer Marcella Araujo por revisar e editar este livro em português.

    E, finalmente, obrigada, Senhor, por me guiar, nutrir, e transformar a minha vida!

    Dedicatória

    Um Inferno Para Todas As Estações é dedicado para toda alma sofrida que em algum momento já se encontrou presa em negatividade ou no oculto, ou que já foi afetada por forças malignas e decisões erradas.

    É hora de corrigir seus erros e seguir para um futuro brilhante. Não se envolva com o oculto e não procure respostas nos lugares errados. Isso prejudica a sua alma e a sua vida. Ninguém além de Deus conhece o futuro. Não ponha sua fé em videntes ou desperdice sua vida esperando para que falsas previsões se tornem realidade. Seu futuro depende da vontade de Deus e do esforço que você faz para mudar sua vida.

    Dito isso, não se permita mais ser enganado por essas adivinhações. Ao invés disso, reze e se vire para Deus. Ele é a solução e único caminho para as suas dúvidas e problemas. Ao mesmo tempo, acredite nas suas habilidades, trabalhe sempre por resultados positivos e tome as atitudes necessárias para conseguir a mudança que você deseja em sua vida.

    Prólogo

    Aqueles que levam suas vidas despreocupadamente, sem considerar as consequências de suas atitudes, são imprudentes. Suas escolhas erradas podem mudar drasticamente toda a sua vida de um modo que pode ao mesmo tempo chocá-los e enchê-los de remorso. Ainda que se queira voltar atrás e mudar tudo, às vezes é tarde demais. Existem momentos em que somos enganados por falsas esperanças e expectativas, ou demônios que se escondem atrás de ideias glamorosas ou ousadas e nos tentam ao oferecer alguma coisa que nos parece sedutora ou atrativa.

    Às vezes nós desejamos alguma coisa e, quando conseguimos, imediatamente nos arrependemos. A questão é, você terá a chance de consertar seus erros antes que seja tarde demais? Você terá outra chance para recomeçar?

    Um vislumbre do futuro

    Eu cresci em uma família pobre na ilha caribenha de Trindade. Meu pai era hindu e minha mãe, católica. Ter pais com diferentes visões e tradições religiosas era confuso, mas não era nada surpreendente. Em Trindade, muitas famílias eram uma mistura de muçulmanos, hindus e cristãos. Minha família comemorava o Natal e, ao mesmo tempo, acendia deyas durante o Diwali. Às quintas-feiras, era proibido comer qualquer carne que não fosse peixe. Carne bovina era proibida pelo nosso pai, que tinha a vaca como animal sagrado. Para o Natal, minha mãe cozinhava porco assado e peru, mas no Diwali nós comíamos roti e vegetais ao curry.

    Eu não sabia qual dessas crenças seguir. Eu era obrigado a participar de orações hindus e visitar o templo durante as celebrações, e ir à missa aos domingos. Minha mãe se esforçava para não faltar à missa, mas meu pai se recusava a nos acompanhar.  Ele sempre optava por conduzir suas orações em casa com o guru. Meu pai convidava seus familiares, que preparavam comidas e doces indianos. Em seguida, nós nos posicionávamos ao redor do guru, ouvindo suas orações e oferecendo flores e doces para os deuses hindus. Se dependesse do meu pai, ele converteria todos nós ao hinduísmo e nos faria orar para as mais variadas divindades. Apesar de sua postura rígida com relação a religião da nossa família, a existência de um Poder Maior não preocupava meu pai de fato. Sua vida se resumia em abusar da minha mãe e beber rum em algum bar vagabundo da cidade com seus amigos.

    Eu era um menino sério e trabalhava duro para conseguir boas notas para que eu pudesse me tornar um doutor. Ao invés de brincar na rua com as outras crianças, eu ficava em casa lendo livros de aventura e revisando meus trabalhos escolares. Eu também cuidava de minhas duas irmãzinhas enquanto minha mãe trabalhava. Era minha responsabilidade garantir que minhas irmãs estivessem seguras, e que não saíssem de casa ou deixassem alguém entrar.  Minha mãe me contava muitas histórias sobre como crianças eram molestadas por predadores e nos alertava para não abrir as portas para ninguém, nem mesmo vizinhos.

    Independentemente do quão pobre nós éramos, nossa mãe, Diana, sempre garantiu que eu tivesse roupas e livros para a escola. Ela tinha a esperança de que, com uma boa educação, um dia eu conseguiria tirar nossa família da pobreza. Ela era a única responsável por sustentar nossa família conforme crescíamos.  Suas mãos duras e calejadas mostravam ao mundo que ela trabalhava duro como empregada para prover de tudo aquilo que era necessário à nossa família.

    Em contraste, meu pai era um mulherengo que trabalhava como eletricista, e era muito ruim no que fazia. Assim que conseguia seu pagamento semanal, às sextas, ele convidava todos os seus amigos para ir ao bar da vizinhança para dividir uma garrafa de rum. Enquanto a mamãe passava seu tempo livre conosco, nosso pai geralmente estava se embriagando. Quando ele retornava para casa, já havia gastado quase todo seu dinheiro nos bares da cidade e estava tão bêbado quanto um cachorro. Eu não gostava de vê-lo bêbado, porque ele batia ou xingava a minha mãe, e algumas vezes gritava comigo.

    Ele também era um homem muito ciumento. Se ele a visse falando com algum vizinho do sexo masculino, por exemplo, não hesitaria em chamá-la de puta. A ele incomodava o fato de que minha mãe trabalhava e ele queria que ela permanecesse em casa ao invés de trabalhar. Sempre que ele tocava no assunto, minha mãe o fitava com os olhos arregalados.

    — Homem, você nunca traz dinheiro para casa. Se eu ficar em casa, quem vai sustentar essas pobres crianças?

    — Escute, mulher, não se preocupe com eles. Eles vão sobreviver. — meu pai repreendia.

    E com isso a discussão tinha início. Eu odiava ver meus pais brigando porque, com frequência, minha mãe acabava se machucando. Então ela ficaria com hematomas no corpo que ela teria que esconder dos outros. Em Trindade a fofoca se espalhava rapidamente e as pessoas não costumavam dar apoio às mulheres que sofriam abuso. Se, ao invés de fofocar, a população denunciasse os casos de abuso infantil ou doméstico para a polícia local, pessoas como a minha mãe poderiam finalmente ficar livres de seus abusadores. Assim, minha mãe se manteve quieta sobre o comportamento abusivo do meu pai e, pior ainda, continuou a elogiá-lo, o que me dava nos nervos.

    Eu queria fugir para não ter que os ouvir novamente, mas eu não podia deixar minha mãe com meu pai alcoólatra. Eu fiz uma promessa para mim mesmo de nunca beber álcool quando eu estivesse mais velho. Escutando os choros dela durante a noite, eu me perguntava o porquê da minha mãe não ir embora e nos levar com ela.

    Eu me lembro da última briga que meus pais tiveram. Foi em uma segunda-feira de carnaval, logo antes da morte do meu pai. Eu tinha dez anos e estava dormindo na minha cama, tendo um sonho estranho. No sonho, eu podia me assistir guiando uma bicicleta azul em um campo verdejante, cercado não só por narcisos amarelos e brancos, mas também por margaridas verdes e rosas. Eu balançava os braços como se fossem asas. O vento jogava meu cabelo para trás e eu sentia a brisa bater no meu rosto.

    —  Eu sou uma águia! — gritei, mais feliz do que havia me sentido em muito tempo. Em minha alma eu sentia uma profunda sensação de paz.

    De repente, de longe, eu pude ver formas escuras surgindo. Elas começaram a sair do chão e aumentar de tamanho. Eu tentei diminuir a velocidade da minha bicicleta, mas ela não me obedecia e apenas seguia seu percurso em alta velocidade. Meus olhos estavam grudados nas sombras, e eu as vi crescerem ainda mais à medida que tomavam forma humana.  Esses fantasmas mantiveram-se de pé, eretos, me encarando com seus olhos vermelhos brilhantes. Eles levantaram suas mãos, apontando em minha direção e uivaram:

    — Ramesh, nós estávamos esperando por você. Venha conosco!

    Seus gritos machucaram meus ouvidos e eu caí de costas da minha bicicleta. Tremendo de medo, eu recuperei meu equilíbrio e tornei a me levantar o mais rápido que pude.

    —  Mãe, cadê você? — gritei.

    Eu subi de novo na minha bicicleta e comecei a pedalar o mais rápido que conseguia para longe daquelas criaturas. O campo inteiro estava agora coberto por uma névoa escura e espessa. Soluçando e incapaz de enxergar alguma coisa, continuei pedalando. Não sei como, mas acabei chegando no topo de um penhasco, exatamente em sua borda. Desci da bicicleta e olhei para baixo, observando apenas a mais completa escuridão. Tentei me afastar, mas de repente uma mão negra surgiu do abismo abaixo de meus pés. Antes que eu pudesse gritar, ela se agarrou em minha blusa e me puxou para baixo. Sem equilíbrio, caí de cabeça em meio a escuridão.

    Meu Deus, eu vou morrer!

    Lancei minhas mãos para cima, tentando me agarrar em qualquer coisa que pudesse tocar durante minha queda, mas não eu conseguia alcançar nada além de pura escuridão e vazio. Foi então que escutei uma voz que, ao sussurrar no meu ouvido, fez gelar o meu sangue.

    Estou indo atrás de você, Ramesh.

    Não tenho certeza se foi a voz ou a queda que mais me assustou. Meu coração batia tão desesperadamente que eu era capaz de escutá-lo, tum tum, tum tum. Eu estava tão assustado que fiz a única coisa que estava ao meu alcance para bloquear o som: fechei os olhos e tampei os ouvidos. Em seguida, gritei o mais alto que meus pulmões me permitiram gritar:

    —  Mamãe, por favor me ajude!

    Continuei em queda livre rumo à escuridão. E então, quando jurava que era o meu fim, eu acordei. Ainda que os primeiros sons que ouvi ao acordar tenham sido a voz alta do meu pai e objetos caindo no chão, nunca me senti tão feliz por estar acordado. Meu pijama estava encharcado e os calafrios passando pelo meu corpo fizeram com que eu me arrepiasse. Mesmo assim, eu estava feliz por ter me levantado.

    Eu saí rapidamente do meu quarto para ver o que estava acontecendo, mas logo comecei a caminhar nas pontas dos pés na esperança de não ser notado. Lentamente, eu me aproximei da porta da cozinha e me escondi atrás dela, espiando através do espaço entre a porta e sua moldura.

    Minha pobre mãe estava ajoelhada no chão, coberta de vidro. Havia cacos espalhados ao redor dela. Ela recolhia do chão os pedaços de pratos e jarros quebrados. Eu pude notar sangue gotejando de seus dedos, assim como pude ouvi-la soluçar, provavelmente por ter se cortado enquanto recolhia o vidro. Gotas de sangue caíam no chão, mas, para a minha surpresa, ela não percebeu.

    —  Por favor, pare com isso. Você vai acabar acordando as crianças. — ela disse para o meu pai, em um tom tão baixo que soou quase como um sussurro.

    —  Cale essa boca, mulher! — ele respondeu.

    —  Eu não me importo com o que acontecer comigo, mas seu comportamento está prejudicando as crianças. — minha mãe insistiu.

    Eu olhei para o meu pai com ódio. Ele estava parado perto dos armários da cozinha, usando apenas seu calção caqui. Suas costas nuas estavam cobertas de lama. Até mesmo seu rosto estava coberto de lama. Inicialmente eu estranhei sua aparência, mas então me lembrei que ele deveria estar participando do carnaval.

    Ele continuava procurando por alguma coisa. Eu podia vê-lo movendo potes de um lado para outro no armário. Ele pegou um jarro de vidro e o jogou com força sobre a pia.

    —  Onde está? — ele ordenou, furioso.

    Ela levantou a cabeça e olhou para ele.

    — Eu trabalhei duro para comprar essas coisas, por que você está quebrando tudo?

    Meu pai a ignorou.

    — Vadia, onde você colocou meu dinheiro? Meus amigos estão esperando por mim.

    —  Esqueça seus amigos e vá para a cama. — ela insistiu.

    Ele parou de procurar nos armários e lançou um olhar para a minha mãe:

    —  Cale a boca e me dê o meu dinheiro.

    Ela sacudiu a cabeça.

    — Você não pode beber todo dia. Você não vê que o álcool está te transformando em um monstro? Seus filhos precisam de você, mas você nunca está em casa. Você é o homem dessa casa, então aja como um.

    Lentamente, ele removeu o cinto do calção, se aproximou dela, e agarrou sua blusa com uma das mãos.

    — Você quer ver um homem, sua imbecil?

    Minha mãe tentou se levantar, mas ele a empurrou de volta sobre os joelhos e rasgou sua blusa. Ele levantou a mão e eu pude ver o cinto subir e descer, chicoteando as costas nuas da minha mãe. Meu corpo estremecia com cada golpe que ela recebia.

    —  Esse aqui é o homem da sua casa, idiota! — ele gritou.

    Meu pai a acertou repetidamente. Ela se virou e tentou se proteger colocando seus braços na frente. Cada chibatada que minha mãe recebia me fazia hesitar como se fosse eu a recebê-las. Ah, quisera eu ser forte o suficiente para fazer meu pai parar! Entretanto, me mantive imóvel e impotente atrás da porta, chorando em silêncio e vendo as costas marcadas da minha mãe. Eu sentia-me tão fraco que tudo que eu pude fazer foi ficar onde eu estava. E enquanto assistia à cena diante dos meus olhos, vi um vulto sem forma atrás do meu pai se afastando e atravessando a parede.

    Minha mãe olhou nos olhos dele:

    — Farzani, por favor pare de me machucar!  — ela implorava enquanto finalmente se colocava de pé mais uma vez.

    Ele grunhiu e levantou a mão para acertá-la novamente.

    —  Não! — ela gritou e correu para longe dele.

    Minha mãe não foi longe: ela escorregou na bagunça espalhada pelo chão e caiu de joelhos. Essa foi toda a energia que lhe restara, então ela simplesmente cedeu e se sentou onde havia caído, massageando os joelhos feridos. Ela choramingou e estremeceu como a última folha de uma árvore no inverno. Meu pai foi até ela e a segurou pelos cabelos.

    —  Escute, mulher, me dê o dinheiro.

    Ela agarrou a mão dele.

    —  Não! Você não vai pegar dinheiro nenhum. É para as nossas crianças.  — ela disse, sua voz firme ainda que estivesse chorando. Seu lábio inferior estava machucado e sangrando e havia marcas vermelhas nos seus ombros em consequência das cintadas.

    Meu coração se encheu de raiva enquanto eu mordia meus lábios. Desejei que eu pudesse pegar o mesmo cinto para acertar meu pai repetidamente, mas estava paralisado pelo meu próprio medo.

    Meu pai olhou para trás da minha mãe e notou um cofrinho no topo do armário da cozinha. Ele soltou os cabelos dela e subiu em um banquinho para pegar o cofre. Quando desceu do banco, ele sorriu diabolicamente para minha mãe e esvaziou o conteúdo do cofrinho sobre o balcão da cozinha.

    Minha mãe rapidamente se levantou e correu até ele. Ela agarrou a sua mão e tentou afastá-lo do dinheiro.

    — Farzani, não mexa nesse dinheiro. Eu preciso comprar novos tênis para Ramesh!  — ela disse, desesperadamente.

    Mesmo sentindo dor, minha pobre mãe sempre foi capaz de pensar em nós. O que eu vi era a prova disso. Pude perceber o quanto ela nos amava acima de tudo e que estava até mesmo disposta a morrer por nós. Eu me senti muito mal por ela e desejei ser capaz de fazer algo para ajudá-la. Quase encontrei coragem o suficiente para gritar, mas sabia que eu estaria apenas adiando o abuso, e não acabando com ele, caso eu assim o fizesse.

    Ela o puxou e ele caiu no chão, mas logo se levantou. Com um xingamento, ele deu um tapa no rosto da minha mãe.

    — Escute, mulher idiota, volte para o seu quarto!  — ele gritou.

    Ela levou a mão até o próprio rosto, encolhendo-se de dor, e mancou até o canto da cozinha, sentando-se próxima ao armário. Ela soluçava com amargura e estava tão encurvada sobre o próprio corpo que sua cabeça estava praticamente em seus joelhos.

    Isso foi o suficiente para mim. Todos os meus medos desapareceram enquanto eu corria em direção ao meu pai, cego de raiva, ignorando todos os cacos de vidro no chão. Eu o odiava por ter machucado o ser humano mais precioso na minha vida. Como ele pôde machucar a única pessoa que se importava comigo? Eu chutei suas pernas e acertei sua barriga com minhas pequenas mãos.

    — Deixe a minha mãe em paz, seu bêbado! Está ouvindo?  — gritei.

    Meu pai ficou confuso por um momento e, sem reação, permaneceu imóvel. Eu conseguia sentir o fedor de álcool nele.

    Então ele agarrou minhas mãos.

    — Ramesh, pare agora!  — ele disse, tentando me empurrar para longe.

    Meus olhos se arregalaram e meus lábios se apertaram.

    —  Eu odeio você, pai, e eu espero que você morra.

    Mais uma vez, ele me empurrou para longe, agora com mais força. Caí de costas, batendo com a minha cabeça no chão. Pude sentir uma espécie de choque percorrer minha espinha e a dor foi tanta que eu consegui ver pequenas luzes douradas brilhando na minha frente.

    —  Ramesh! — minha mãe gritou. Ela correu até mim e levantou minha cabeça. Assim que ela se certificou de que eu não havia me cortado ou quebrado nenhum osso, ela me segurou pelos ombros para que pudesse me ajudar a sentar. Em seguida, ela olhou para o meu pai, com os olhos estreitados.

    —  Você não é um homem, você é um monstro! — ela gritou — Abusar de mim não foi o suficiente, então agora você levanta sua mão contra o seu próprio sangue. Você não tem medo da punição de Deus?

    — De que Deus você está falando? — ele riu.

    Ela balançou a cabeça em descrença.

    — Aquele que te criou, homem.

    Meu pai se aproximou de nós dois. O cheiro de álcool quase me sufocou. Eu fechei os olhos, temendo que ele me batesse.

    Ao invés disso, ele cuspiu no rosto da minha mãe.

    — Escute, mulher, não me ameace com seu Deus. Eu não tenho medo do seu Deus.

    Ela olhou diretamente nos olhos dele e limpou o cuspe do seu próprio rosto com a manga da blusa.

    — Eu sei porque você não tem medo de Deus. Seu Deus é o rum. Ele te queima por dentro e corre por suas veias. Ele vai te queimar tanto até que você esteja no Inferno.

    Eu abri meus olhos e olhei para meu pai. Seus olhos estavam vermelhos e fundos, e seus cabelos pretos estavam bagunçados e despenteados. Ele se movia lentamente de um lado para outro, irrequieto, ou pelo menos assim parecia.

    —  Senhor, tenha piedade de nós pecadores. — minha mãe implorou, olhando através da janela em direção aos céus.

    Para o meu alívio, meu pai nos olhou em silêncio, pegou o dinheiro no balcão e saiu.

    —  Ah, minhas costas estão me matando. — eu reclamei. Minha mãe me abraçou e nós dois começamos a chorar amargamente.

    Ela acariciou gentilmente minhas costas e disse:

    — Ramesh, não fique com raiva de seu pai. Ele está bêbado e não sabe o que está fazendo. Ele simplesmente não consegue encontrar seu caminho até Deus.

    Minha mãe beijou minha testa e suspirou profundamente.

    — Eu espero que ele encontre seu caminho antes que seja tarde demais. — ela disse, em um sussurro.

    Meus olhos se arregalaram mais uma vez e eu franzi a testa. Eu não conseguia entender o motivo dela justificar o comportamento de meu pai.

    — Mãe, não tente defendê-lo. É tudo culpa dele. — eu disse, olhando nos olhos dela.

    Em resposta, ela me olhou com um olhar desanimado.

    — Querido, às vezes as pessoas fazem as escolhas erradas e então elas enfrentam as consequências dessas escolhas. Nós somos afetados por essas escolhas, também.

    —  Mãe, não quero que o pai te machuque novamente. Por favor, vamos deixá-lo e ir embora. Para algum lugar bem longe! — pedi.

    —  Ramesh, é fácil falar, mas as coisas não são tão simples. Para onde iríamos, querido? — ela perguntou.

    Eu podia ver o sangue gotejando de seus lábios, então eu me soltei de seu abraço, me levantei e peguei um guardanapo no balcão. Lentamente, para não piorar a dor nas minhas costas, eu me ajoelhei próximo a ela e limpei o sangue que cobria seus lábios machucados. Por fim, tentei enrolar o guardanapo ao redor de seu dedo cortado. Ela me lançou um sorriso delicado e pegou o guardanapo de mim, colocou as mãos dos dois lados da minha face e ergueu meu rosto. Ela olhou diretamente nos meus olhos com um olhar preocupado.

    — Filho, por favor me prometa três coisas. — ela pediu — Um, você nunca vai beber. Dois, você nunca vai levantar sua mão contra uma mulher. Três, e mais importante, me prometa que você vai seguir o bom caminho e a vontade de Deus.

    Olhei na direção dela, me sentindo mal com a possibilidade de ela sequer imaginar que eu seguiria o exemplo de meu pai.

    — Mãe,

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