O coração estendido pela cidade
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O coração estendido pela cidade - Fernando Machado Silva
conclusiva
mapa
de um
coração
solitário:
lisboa
praça olegário mariano
as mãos tacteiam a geometria
da solidão as linhas da madeira
ainda nenhuma aranha te atou
em seus dois fios sinónimos
cobre-se de pó estrelas mortas
esta via de olhos percorrida
tão pouca casa e nela um dédalo
depões o rosto pela máscara
ariana cede-me o teu fio iça-me
à cesta do navio de espelhos
ou desce-me um pouco mais
até ser do teu horizonte o horizonte
rua heróis de quionga
conheço a língua dos algerozes
o seu murmurejar nos musgos
rumam de boca a boca um nome
pelas negras artérias reticulares
lança um barco de papel
recolhe o afogado
não olhes o azul do seu corpo repara
encontras-te onde a morte te esquece
jardim constantino
desterrados de língua e sexo
estes homens estas mulheres
fazem morada no jardim
que és suyo y de los niños
o tempo suspendido em bancos
de cartas batidas e futuro tinto
a estátua pensante vela-os
como o anjo da memória morta
a limitar uma imensa árvore
de raízes à flor da terra onde à vez
os corpos vertem os seus excessos
como se um segredo os sufocasse
tudo isto te aceita estranho
a ti e à tua sombra canina
porém para entrares
tens de perder a fala
graça
do monte agudo ao da graça
espera-te uma lisboa emudecida
das asas guardas o desejo
és um anjo caído demasiadas vezes
sentas-te no banco onde já tantos
souberam nada aguardar da vida
quando cá chegares do telhado
desta bebedeira ofereço-te o funâmbulo
gato passeando-se ao de lá da vista
um outro cais e a onda nele aportando
o coração a ser partido quando o amor
parte do coração a quem se ofertou
não leves o tempo até