Imagens e ações:: Representações e práticas médicas na luta contra a tuberculose: (São Paulo, 1899-1930)
()
Sobre este e-book
Leia mais títulos de Mirtes De Moraes
Maternidade: Uma Análise Sociocultural Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTerritório de incertezas e esperanças Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Relacionado a Imagens e ações:
Ebooks relacionados
Um termômetro vivo da civilização: higiene pública e cólera-morbo na Gazeta Medica da Bahia (1866-1870) Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCorpos Homossexuais e Experiências Normatizadoras Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDias Mefistofélicos: a gripe espanhola em Manaus através dos jornais de 1918 – 1919 Nota: 0 de 5 estrelas0 notasHistória Das Pandemias Nota: 0 de 5 estrelas0 notasHISTÓRIA DAS PANDEMIAS: SAÚDE PÚBLICA Nota: 0 de 5 estrelas0 notasHumanização da Medicina e seus Mitos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCorpos e emoções: história, gênero e sensibilidades Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSaber popular e saber médico: um estudo das parteiras (Século XIX) Nota: 0 de 5 estrelas0 notasHumanização e humanidades em medicina: A formação médica na cultura contemporânea Nota: 0 de 5 estrelas0 notasUma Fábrica de Loucos: Psiquiatria X Espiritismo no Brasil (1900- 1950) Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSaúde pública e pobreza em São Luís na Primeira República (1889/1920) Nota: 0 de 5 estrelas0 notasManipulações Midiáticas em Perspectiva Histórica: Historiografia da Mídia Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTeresa De Lisieux: Os Sanatórios E A Espiritualidade Na Luta Contra A Tuberculose. Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMedicina, judaísmo e humanismo Nota: 4 de 5 estrelas4/5O ensaio Nota: 0 de 5 estrelas0 notasLeito 7: A Medicina Sem Pressa (Slow Medicine) Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEugenia Brasilis: Delírios e Equívocos na Terra do Borogodó Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMídias e História: Metodologias & Relatos de pesquisa Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPensar o (Im)pensável: ensaios sobre a pandemia Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDebates sobre Educação, Ciência e Museus Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCancro - Doença da civilização? (Traduzido): Um Estudo Antropológico e Histórico Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCiência e religião: Fundamentos para o diálogo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEstudos da ocupação: Desafios e possibilidades Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTempos Sombrios: reflexões sobre a pandemia Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOs Bem-Nascidos: Racismo, Eugenia e Educação no Brasil Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEntre Contos e Contrapontos Medicina Narrativa na Formação Médica Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO tempo sem tempo - 53 crônicas sobre a pandemia Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
História Social para você
Uma história da psicanálise popular Nota: 0 de 5 estrelas0 notasGuerra Fria História e Historiografia Nota: 0 de 5 estrelas0 notasUmbandas: Uma história do Brasil Nota: 5 de 5 estrelas5/5Racionais Entre o Gatilho e a Tempestade Nota: 0 de 5 estrelas0 notas1822: Dimensões Nota: 0 de 5 estrelas0 notasRastros de resistência: Histórias de luta e liberdade do povo negro Nota: 5 de 5 estrelas5/5Se o grão de arroz não morre: Colônias de imigrantes japoneses: desvendando onde e como tudo começou Nota: 0 de 5 estrelas0 notasVargas e a crise dos anos 50 Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA missão na literatura: A redução jesuítica em A fonte de O tempo e o vento Nota: 5 de 5 estrelas5/5História social do LSD no Brasil: Os primeiros usos medicinais e o começo da repressão Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO presidente, o papa e a primeira-ministra: a parceria que venceu a guerra fria Nota: 0 de 5 estrelas0 notasRevoluções industriais: O nascimento do mundo moderno Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPernambucânia: O que há nos nomes das nossas cidades Nota: 0 de 5 estrelas0 notasGeografia e cultura: olhares, diálogos, resistências e contradições Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAnos 40: Quando o mundo, enfim, descobriu o Brasil Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMemórias da escravidão em mundos ibero-americanos: (Séculos XVI-XXI) Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMetodologia da escrita: Entre arquivos, sentimentos e palavras Nota: 0 de 5 estrelas0 notasFeminista, eu?: Literatura, Cinema Novo, MPB Nota: 0 de 5 estrelas0 notasIntrodução à Mitologia Nota: 5 de 5 estrelas5/5Transfeminismo Nota: 5 de 5 estrelas5/5A culpa é do jeitinho brasileiro Nota: 0 de 5 estrelas0 notasRaça - trajetórias de um conceito: Histórias do discurso racial na América Latina Nota: 5 de 5 estrelas5/5Baixo Sul da Bahia Território, Educação e Identidades Nota: 0 de 5 estrelas0 notasIndependência do Brasil: As mulheres que estavam lá Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMulheres em movimento movimento de mulheres: a participação feminina na luta pela moradia na cidade de São Paulo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasHistória social da beleza negra Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEntre o passado e o futuro Nota: 4 de 5 estrelas4/5Sociologia do Açúcar Nota: 0 de 5 estrelas0 notasBezerra da Silva: Música, malandragem e resistência nos morros e subúrbios cariocas Nota: 4 de 5 estrelas4/5
Categorias relacionadas
Avaliações de Imagens e ações:
0 avaliação0 avaliação
Pré-visualização do livro
Imagens e ações: - Mirtes de Moraes
Mirtes de Moraes
IMAGENS E AÇÕES:
Representações e práticas médicas na luta contra a tuberculose
(São Paulo, 1899-1930)
São Paulo
e-Manuscrito
2018
PREFÁCIO
Invocando o passado:
discutindo representações e ações na luta contra a tuberculose
Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico:
- Diga trinta e três.
- Trinta e três... trinta e três... trinta e três...
- Respire.
- O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
- Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
- Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
(Pneumotórax, Manuel Bandeira)
A poética de Manuel Bandeira sintetiza as emoções, sentimentos, aflições e experiências dos doentes atingidos pela tuberculose – faz parte da obra Libertinagem, publicada em 1930. A princípio, pode parecer um relato poético com referências a um passado longínquo; sem deixar de sê-lo, os versos avivam uma preocupação com a expansão da doença na contemporaneidade. Essa preocupação também desperta inquietações, levantando possibilidades de reflexão sob a perspectiva histórica, observando permanências e mudanças na compreensão e luta contra a tísica.
Nesse sentido, Mirtes de Moraes compôs seu livro "Imagens e Ações: representações e práticas médicas na luta contra a tuberculose (São Paulo, 1899-1930)", no qual contempla o desafio de uma ampla investigação sobre as representações acerca da tuberculose e ações de combate à doença. A autora analisa de forma criteriosa os discursos e debates médicos, com suas descobertas, métodos de controle e de combate à tísica.
Fundamentada na pesquisa de pós-graduação em história empreendida na PUC/SP, a obra traz imensas contribuições ao recobrar questões, questionar interpretações, desvelar silêncios e ocultamentos, conseguindo preencher lacunas e abrir novas perspectivas, através de uma apurada análise histórica das representações, práticas de controle e tratamento da tuberculose.
"Imagens e Ações: representações e práticas médicas na luta contra a tuberculose (São Paulo, 1899-1930)" revela uma investigadora incansável, que superou bravamente obstáculos na busca de indícios e sinais, elucidando representações, práticas médicas e políticas públicas. Utilizando-se da documentação médica, em particular revistas de diferentes abordagens (eugenistas, higienistas e sanitaristas), a autora rastreou vestígios do passado, estabelecendo um diálogo analítico com evidências, gerando uma interpretação plena de significado.
O livro analisa o complexo processo de construção das representações da tuberculose, tanto pela medicina como também por meio da literatura, poética e de imagens. Reconstitui a territorialização da tísica na cidade de São Paulo, buscando perceber os contrastes entre a urbe representada pelo progresso e modernidade e suas mazelas urbanas, sobretudo nos bairros populares onde eram detectadas manifestações crescentes da doença e que foram fruto das ações de ordenamento dos discursos médico-sanitaristas.
No desafio da investigação, a autora recobra a vida cotidiana e as normas higiênicas ditadas pelos médicos visando o ordenamento dos corpos, o controle e o combate da tuberculose nos lares e nas famílias. Nesses sentidos, promulgava-se a adesão das mulheres/mães/donas de casa como agentes na construção da dita família moderna e higienizada
, guiada pelas normas médicas.
Nesta obra desponta uma exímia conhecedora do ofício de historiadora, que observou criticamente as questões dos corpos, das doenças (em particular da tuberculose), ações de controle e cura, possibilitando novos subsídios para outras interpretações. Em convergência com tendências recentes, Mirtes denunciou ocultamentos, deu vozes e visibilidade aos discursos e debates, práticas e resistências, desvelando segredos, remontando territórios, contribuindo para recuperar experiências históricas.
Entre outras virtudes apontadas, o texto proporciona uma leitura envolvente, fundamentada numa extensa pesquisa e na erudição da autora, acrescida da sensibilidade da pesquisadora e narradora. Recomendaria ao leitor deixar-se levar nesta viagem, tendo Mirtes como uma guia no descortinar dos segredos do passado.
Boa leitura!
Maria Izilda S. Matos
SP, 02/04/2018
Para Laura, para Lucas.
AGRADECIMENTOS
À Professora Maria Izilda Santos de Matos, que com sua dedicação contagiante foi responsável pelo constante aprimoramento desta pesquisa, desenvolvida durante o Mestrado em História na PUC-SP.
Aos vários professores da academia que me atualizaram, ajudando a construir temáticas para o desenvolvimento do trabalho, entre eles a Profª Denize Bernuzzi de Sant’Anna e Profª Yvone Dias Avelino destacam-se pelas sugestões e contribuições recebidas.
Aos funcionários e responsáveis pelos acervos onde estive realizando a pesquisa e coletando material. Entre eles: acervo da Faculdade de Medicina de São Paulo, biblioteca da Faculdade de Saúde Pública - SP, Museu da Saúde Pública - Emílio Ribas e as bibliotecas Mário de Andrade, Presidente Kennedy e da PUC-SP.
À CAPES, pela bolsa concedida para o desenvolvimento da pesquisa.
A alguns amigos que leram atenciosamente apontando críticas, elogios e sugestões, entre eles devo destacar Eduardo Bonzatto e Luís Eduardo Nogueira.
E, finalmente, à minha família, que sempre me apoiou, destaco em especial a parceria do meu companheiro Aluisio, sempre companheiro e paciente nessa trajetória.
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
CAPÍTULO 1 - TUBERCULOSE: HISTÓRIA, IMAGENS E REPRESENTAÇÕES
1.1 Através do tempo
1.2 Representações da tísica
1.3 Imagens e movimento
CAPÍTULO 2 - CIDADE: DOENÇA, MORTE E CURA
2.1 Doença e morte: dados e contexto
2.2 Itinerários da tuberculose
2.3 Doença e cura
CAPÍTULO 3 - ESPAÇOS PRIVADOS: PRÁTICAS E CONTROLE
3.1 Ação higiênica: educação e saúde
3.2 Dentro e fora do lar: funções e responsabilidades
3.3 Educação Física: corpos em movimento
CONSIDERAÇÕES FINAIS
FONTES E BIBLIOGRAFIA
NOTAS
LISTA DE FIGURAS E TABELAS
Figura 1 - Cartaz da Inspectoria de Profilaxia da Tuberculose – Luctemos contra a tuberculose
Figura 2 - Cartaz da Inspectoria de Profilaxia da Tuberculose – cruz do selo antituberculose
Figura 3 - Cartaz da Inspectoria de Profilaxia da Tuberculose – Mortalidade da tuberculose
Figura 4 - Cartaz da Inspectoria de Profilaxia da Tuberculose – Apaguemos do Brasil essa mancha de morte
Figura 5 - Cartaz da Inspectoria de Profilaxia da Tuberculose – Como a tuberculose se propaga
Tabela 1 - População do município de São Paulo
Tabela 2 - Coeficientes anuais de mortalidade por tuberculose
Tabela 3 - Óbitos decorrentes da tuberculose na cidade de São Paulo por faixa etária
Oh héticas maravilhosas
Dos tempos quentes do Romantismo
Maçãs coradas, olhos de abismo
Donas perversas e perigosas
Oh héticas maravilhosas
Não vos compreendo, sou de outras eras
Fazei depressa o pneumotórax
Mulheres de Anto e de Dumas Filho
E então seremos bem mais felizes
Eu sem receio de vosso brilho
Vós sem bacilos e hemoptises
Oh héticas maravilhosas
Mário de Andrade
APRESENTAÇÃO
Recentemente volta à cena a tuberculose. Considerada personagem principal das várias mortes ocorridas entre o final do século XIX e o começo do seguinte, é ainda um grave problema na saúde pública. Números assustadores apontados pela Organização Mundial da Saúde mostram que 1/3 da população mundial está infectada pelo bacilo, sendo que aproximadamente 9 milhões adoecem por ano e cerca de 3 milhões de pessoas morrem com a doença.
As causas para essa permanência são as mais diversas: má qualidade de vida da população, sistema ineficaz de controle na saúde pública, abandono do tratamento, proporcionando resistência do bacilo aos medicamentos quimioterápicos. Além desses fatores, o surgimento de doenças como AIDS possibilita um enfraquecimento no organismo humano, baixando a imunidade das pessoas e facilitando a entrada da doença.
A atual preocupação sobre a doença nos faz repensar sua trajetória e sua história, suas representações e as práticas de controle da enfermidade, destacando nesse processo algumas permanências e mudanças no entendimento e na luta contra a tísica. O interesse em estudar o assunto surgiu a partir do desenvolvimento de um trabalho de Iniciação Científica (CNPQ-PIBIC)¹ em que, paralelamente às fontes médicas então examinadas, o tema da tuberculose aparecia de forma constante na documentação pesquisada. Diante do vasto material encontrado sobre a tuberculose, foi possível ao mesmo tempo perceber que havia uma grande preocupação dos médicos com a doença e com o alto número de morte que ela causava.
Porém, confrontando as fontes médicas com a produção bibliográfica, parece que nesta última o problema não ganhou a devida dimensão. A doença aparece muitas vezes como um capítulo de um livro ou então em citações breves sobre a peste branca
. Esse contraste entre a grande quantidade de fontes médicas e a baixa produção acadêmica revelou-se um campo de trabalho promissor para a realização de uma pesquisa sobre suas representações.
A tese de doutorado de Claudio Bertolli Filho² é um dos poucos trabalhos que desenvolvem um estudo profundo sobre o tema, tendo como indagação: como resolver o dilema sanitário em um país que se proclama internacionalmente como moderno? Para execução de sua pesquisa, Bertolli resgata os comportamentos individuais dos tísicos e como eles agem e reagem ante as transformações sociais e econômicas. A análise detalhada do autor sobre a história da tuberculose e do tuberculoso abre brechas para outras investigações sobre a produção do discurso médico, ressaltando seus anseios, desejos e expectativas e também contradições sobre um mal que avassalava corpos.
Analisar o discurso médico é um dos objetivos deste estudo. Para isso, as revistas médicas são a principal fonte de interlocução, escritas por médicos que debatiam e publicavam suas experiências, descobertas, incertezas e contradições dos métodos de controle e combate à doença.
Dentro de um amplo material coletado³, é possível