Zé Ramalho, A peleja do diabo com o dono do céu: Som do VInil, Entrevistas a Charles Gavin
De Zé Ramalho e Charles Gavin
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Sobre este e-book
Charles Gavin
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Pré-visualização do livro
Zé Ramalho, A peleja do diabo com o dono do céu - Zé Ramalho
Mendonça
Ficha técnica
a peleja do diabo com o dono do céu
RCA Victor, 1976
Arranjos Zé Ramalho e Paulo Machado (cordas e sopros)
Produção Carlos Alberto Sion
Assistência de produção Lígia Itiberê e Marcelo Falcão
Engenheiros de gravação Eugênio de Carvalho e Manoel Magalhães
Capa Oscar Ramos e Luciano Figueiredo, Ivan Cardoso (foto)
Músicos
Chacal, Zé Gomes, Borel, Zé Leal, Cátia de França, Jorge Batista, Risadinha, Carlos Sampaio, Gilson, Jorge Gomes Percussão | Elber Bedaque e Plínio Bateria | Chico Julien e Novelli Baixo | Pepeu Gomes Guitarra | Zé Ramalho Violão, violão de 7 cordas e violão de 12 cordas | Geraldo Azevedo Violão de 12 cordas | Dino Violão de 7 cordas | Chico Julien, Cátia de França, Huguinho, Mônica Schmidt, Waldemar Falcão Vocais | Jorge Mautner, Alfredo Vidal, Alvaro Vetero, Guetta, Arthur Dove, Carlos Hack, Lana, Marcello Pompeu, Pissarenko, Virgílio Arraes Filho, Pareschi e Walter Hack Violinos | Alceu De Almeida Reis, Iberê Gomes Grosso, Márcio Eymard e Zamith Violoncelo | Arlindo Penteado, Frederick Stephany, Nathercia e Macedo Viola | Waldir Silva Cavaquinho | Severo Sanfona | Nivaldo Ornellas, Jorginho, Zé Bodega, Alberto, Aurino Ferreira e Hélio Marinho Saxofone | Edmundo Maciel, Manoel Araújo, Jessé e Sylvio Barbosa Trombone | Evaldo, Márcio Montarroyos, Formiga, Hamilton Trompete | Zdenek Svab Trompa | Abel Ferreira Clarineta | Osvaldo Garcia, Ricardo Mattos, Waldemar Falcão Flauta | Zênio Tuba | Huguinho Órgão
zé ramalho
Como era a vida em Brejo da Cruz?
Brejo da Cruz, quando eu nasci em 1949, era uma cidade de dez mil habitantes, sem luz elétrica. Nasci em quarto com candeeiro, em um quarto escuro, sem qualquer tipo de lazer ou conforto. Quando houve o falecimento do meu pai, eu não tinha nem dois anos de idade. Meu pai morreu afogado num daqueles açudes do sertão. Deu uma câimbra nele, em um açude onde ele nadava, e ele não conseguiu retornar. Então eu fiquei sem pai muito cedo, muito jovem, muito garoto.
Quantos anos você tinha?
Não tinha nem dois anos. Assim, a lembrança da figura paterna é uma coisa que não fixou imagem na minha cabeça. E aconteceu uma espécie de divisão da família. Eu tinha uma irmã que tinha acabado de nascer, e minha mãe, naquele desespero, naquela tragédia, foi morar no Recife. Levou minha irmã, e eu iria junto com ela, mas houve a interposição do meu avô, o pai do meu pai. Ele deu um jeito de pedir a minha mãe que ficasse comigo para me criar, talvez tentando me colocar como a imagem do filho que ele tinha acabado de perder. E foi o que aconteceu. Fomos para Campina Grande, uma cidade muito próspera, mais ou menos aos cinco aos anos de idade, quando eu me defronto com o rádio pela primeira vez. Em Campina Grande, lá pelos anos 1950, 52, 53. Foi a primeira vez que eu ouvi um programa de rádio. Meu tio me levou, ele trabalhava na Rádio Borborema de Campina Grande, que existe até hoje. E foi lá que eu vi artistas como Marinês e Sua Gente, artistas que eu conheci, como Trio Nordestino, a primeira formação. Ficava impressionado. O que tocava na rádio naquela época, rádio AM, obviamente, eram muitos boleros, música nordestina, forrós, Jackson do Pandeiro, muito, Luiz Gonzaga, eram os reis da programação.
Que energia emanava dos alto-falantes, quando você ouvia Marinês, Jackson do Pandeiro, principalmente Jackson, o senso de divisão rítmica, na forma como o Jackson cantava. Cantava fora da métrica, aquela coisa quatro por quatro, ele saía disso e brincava, pegando o compasso mais à frente… Tem umas gravações de Jackson de Sebastiana
, que você tenta reproduzir e não consegue, tamanha é a malícia com que ele jogava com ritmo, diante das pausas e dos compassos. Isso me chamava muito a atenção, e também a rapidez com que ele pronunciava as palavras. A forma de Marinês era a mesma forma de Jackson, só que numa voz feminina. Como ela tinha uma voz firme! Os discos de Marinês na época da Odeon, então no início da carreira dela, eram executados maciçamente. Marinês e Sua Gente, era uma coisa, os shows que eu via de Marinês… Ela tocava triângulo, e às vezes tirava som pelo assoalho do palco de madeira. Fazia percussão no chão com o Triângulo e a gente ficava impressionado, era muita energia. E assim, as batidas dos zabumba, do jeito que eles faziam, valem até hoje para fazer várias formas de música, calcadas no ritmo nordestino. São artistas que ficaram para sempre com a arte que faziam. Apesar de eles aparecerem mais no Nordeste, pela mídia que havia no Brasil, foram de grande valor, não só para mim, mas para todos os artistas que estavam na minha geração, absorvendo e vivendo essa divisão de gêneros. Jovem Guarda, música nordestina, boleros... A Bossa Nova quase não chegava aqui pelo Nordeste. Aqui, acolá, tinha alguma pessoa mais intelectualizada que dizia: