Normalidade e controle
()
Sobre este e-book
Ana Lima soube mostrar até que ponto o fim das referências ao conceito de neurose, como uma categoria capaz de dar conta de nossos sofrimentos cotidianos, possibilitou que todos os padecimentos e comportamentos pudessem entrar no binômio normal-patológico articulador do saber psiquiátrico, abrindo-se, desse modo, as portas para um processo maciço de medicalização da vida
Relacionado a Normalidade e controle
Ebooks relacionados
Psicanálise, Drogadição e Atenção Psicossocial Nota: 0 de 5 estrelas0 notasVozes da psicanálise, vol. 3: Clínica, teoria e pluralismo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasLimites e Perspectivas: Reflexões sobre o Manejo Clínico dos Estados Limites Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPráticas psicanalíticas na comunidade: Relatos em dois atos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasClínica do Acompanhamento Terapêutico e Psicanálise Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Formação Acadêmica do Psicólogo Atravessada pelos Temas:: Religiosidade, Espiritualidade e Psicoterapia Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMuito além da formação: Diálogos sobre a transmissão e a democratização da psicanálise Nota: 0 de 5 estrelas0 notasExcesso e trauma em freud: algumas figuras Nota: 5 de 5 estrelas5/5Cortes na Pele: analisando a autolesão à luz dos índices de diagnóstico clínico da neurose de angústia Nota: 0 de 5 estrelas0 notasNovos Andarilhos do Bem - Caminhos do Acompanhamento Terapêutico Nota: 0 de 5 estrelas0 notasProdução de Subjetividade e Institucionalismo: Experimentações Políticas e Estéticas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPluridimensionalidade em Psicologia Fenomenológica:: O Contexto Amazônico em Pesquisa e Clínica Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Identificação nos Estados-Limites: Um Estudo Psicanalítico Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Problemática da Clivagem: Aspectos Teóricos e Clínicos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPânico, Sintoma Psíquico e Doença Psicossomática Nota: 5 de 5 estrelas5/5Fenômenos psicossomáticos: o manejo da transferência Nota: 5 de 5 estrelas5/5Vozes da psicanálise, vol. 4: Clínica, teoria e pluralismo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEscritos Psicanalíticos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasLimites de Eros Nota: 0 de 5 estrelas0 notasViolentamente pacíficos: Descontruindo a associação juventude e violência Nota: 5 de 5 estrelas5/5Fragmentos clínicos de psicanálise Nota: 5 de 5 estrelas5/5A posteriori, um percurso Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA psiquiatria no divã: Entre as ciências da vida e a medicalização da sociedade Nota: 5 de 5 estrelas5/5Psicologia da Saúde e Clínica: Conexões Necessárias Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Ideal: Um estudo psicanalítico Nota: 0 de 5 estrelas0 notasUrgência e sujeito numa unidade hospitalar: ensaios sobre a práxis da psicanálise na instituição de saúde Nota: 0 de 5 estrelas0 notasUma Visão das Práticas Psicológicas no Sistema Único de Assistência Social (SUAS) Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSaúde Mental e Práticas de Resistência: Vivendo Encruzilhadas em Bonneuil Nota: 0 de 5 estrelas0 notasClínica da excitação: Psicossomática e traumatismo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Que é Comprimido Hoje?: A Psicanálise em Crise Nota: 5 de 5 estrelas5/5
Psicologia para você
Autoestima como hábito Nota: 5 de 5 estrelas5/5O mal-estar na cultura Nota: 4 de 5 estrelas4/510 Maneiras de ser bom em conversar Nota: 5 de 5 estrelas5/515 Incríveis Truques Mentais: Facilite sua vida mudando sua mente Nota: 5 de 5 estrelas5/5Minuto da gratidão: O desafio dos 90 dias que mudará a sua vida Nota: 5 de 5 estrelas5/5Eu controlo como me sinto: Como a neurociência pode ajudar você a construir uma vida mais feliz Nota: 5 de 5 estrelas5/5S.O.S. Autismo: Guia completo para entender o transtorno do espectro autista Nota: 5 de 5 estrelas5/5Análise do Comportamento Aplicada ao Transtorno do Espectro Autista Nota: 4 de 5 estrelas4/5O funcionamento da mente: Uma jornada para o mais incrível dos universos Nota: 4 de 5 estrelas4/5Cuide-se: Aprenda a se ajudar em primeiro lugar Nota: 5 de 5 estrelas5/5Contos que curam: Oficinas de educação emocional por meio de contos Nota: 5 de 5 estrelas5/5A gente mira no amor e acerta na solidão Nota: 5 de 5 estrelas5/5Vencendo a Procrastinação: Aprendendo a fazer do dia de hoje o mais importante da sua vida Nota: 5 de 5 estrelas5/5O poder da mente: A chave para o desenvolvimento das potencialidades do ser humano Nota: 4 de 5 estrelas4/535 Técnicas e Curiosidades Mentais: Porque a mente também deve evoluir Nota: 5 de 5 estrelas5/5Terapia Cognitiva Comportamental Nota: 5 de 5 estrelas5/5A interpretação dos sonhos Nota: 4 de 5 estrelas4/5Cartas de um terapeuta para seus momentos de crise Nota: 4 de 5 estrelas4/5A Arte de Saber Se Relacionar: Aprenda a se relacionar de modo saudável Nota: 4 de 5 estrelas4/5Em Busca Da Tranquilidade Interior Nota: 5 de 5 estrelas5/5O amor não dói: Não podemos nos acostumar com nada que machuca Nota: 4 de 5 estrelas4/5Avaliação psicológica e desenvolvimento humano: Casos clínicos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAcelerados: Verdades e mitos sobre o TDAH - Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade Nota: 4 de 5 estrelas4/5A Interpretação dos Sonhos - Volume I Nota: 3 de 5 estrelas3/5Tipos de personalidade: O modelo tipológico de Carl G. Jung Nota: 4 de 5 estrelas4/5Temperamentos Nota: 5 de 5 estrelas5/5O poder da mente Nota: 5 de 5 estrelas5/5
Categorias relacionadas
Avaliações de Normalidade e controle
0 avaliação0 avaliação
Pré-visualização do livro
Normalidade e controle - Ana Cristina Costa Lima
clín.
CAPÍTULO 1
NORMAL E PATOLÓGICO: AS POSIÇÕES POLÍTICO-IDEOLÓGICAS
A ampliação da medicalização dos modos de vida atrelada ao progresso científico, como a indústria de psicotrópicos, o imageamento do corpo vivo e o projeto genoma, são alguns dos componentes de uma dura ciência determinista de controle dos corpos. De acordo com Illich, como cito.
Nos países desenvolvidos, a obsessão da saúde perfeita tornou-se um fator patogênico predominante. O sistema médico em um mundo impregnado pelo ideal instrumental da ciência, cria sem cessar novas necessidades de cuidados. Quanto maior é a oferta de saúde, mais as pessoas respondem que têm problemas, necessidades, doenças. Cada um exige que o progresso dê fim aos sofrimentos da juventude e prolongue a vida ao infinito. Nem velhice, nem dor, nem morte. Uma tal aversão à arte de sofrer esquece ser esta a própria negociação da condição humana.²⁵
Francisco Ortega sintetiza a visão sociológica de uma nova moral que estrutura a biopolítica, viver para fazer viver as biotecnologias
, em busca de uma saúde perfeita; uma repolitização da saúde com a criação de uma forma de sociabilidade apolítica
, chamada de biossociabilidade. As práticas ascéticas implicam em processos de subjetivação
e
[...] na base desse processo está a compreensão do self como um projeto reflexivo. O autogoverno e a formação de bioidentidades se dão através de toda uma série de recursos reflexivos e de práticas de bioascese (manuais de autoajuda, terapias psíquicas e corporais, atividades de fitness e wellness, etc). A reflexividade é o processo de taxação contínua de informação e peritagem sobre nós mesmos. Não só o self, mas principalmente o corpo, aparece marcado pela reflexividade (Giddens, 1992; Nettleton, 1997).²⁶
Esse contexto de passagem de século, portanto, contrasta com os movimentos chamados por Foucault de insurreição dos saberes sujeitados: uma força essencial dos discursos e dos saberes que foram desqualificados pelo status quo científico ou erudito. Nos anos 1960-1970, o discurso insurreto de médicos psiquiatras, psicanalistas, entre outros no campo psi, expressam uma contracultura, no caso, uma contraciência. Foucault diz no curso Em defesa da sociedade (aula de 7 de janeiro de 1976), que
[...] nos últimos dez ou quinze anos, a imensa e prolífera criticabilidade das coisas, das instituições, das práticas, dos discursos; uma espécie de friabilidade geral dos solos, mesmo, talvez sobretudo, os mais familiares, os mais sólidos e mais próximos de nós, de nosso corpo, de nossos gestos de todos os dias; é isso que aparece. Mas, ao mesmo tempo que essa friabilidade e essa espantosa eficácia das críticas descontínuas e particulares, locais, descobre-se por isso mesmo, nos fatos, algo que talvez não estivesse previsto no início: seria o que se poderia chamar de efeito inibidor próprio das teorias totalitárias, quero dizer, em todo caso, das teorias envolventes e globais.²⁷
Essas críticas locais descrevem os movimentos de contestação à ordem estabelecida, uma insurreição dos saberes sujeitados, aqueles que estavam desqualificados pelo poder das ciências. Esse movimento contra o poder-saber estabelecido foi, sobretudo, contra os efeitos centralizadores de poder que são vinculados à instituição e ao funcionamento de um discurso científico organizado no interior de uma sociedade como a nossa
.²⁸
O autor explica a necessidade de provar que é uma ciência como a aspiração de um local de poder para sujeitar outros saberes. Em contraposição, coloca que a genealogia estaria ligada ao dessujeitar os saberes históricos e torná-los livres, isto é, capazes de oposição e de luta contra a coerção de um discurso teórico unitário, formal e científico
.²⁹
No Brasil, as resistências dos saberes sujeitados no campo psi começaram a surgir, por meio das reviravoltas de saber, dos primeiros reichnianos, em São Paulo, com Roberto Freire – que desenvolveu um método de trabalho psicoterápico corporal, externando seus posicionamentos políticos e sociais.
No início dos anos 1980, os ensinamentos de Reich e as práticas corporais chegavam aos cariocas e lá se desenvolveram, como registrados na Revista Rádice (1978-1981) e no jornal Luta e Prazer (1981-1983), além dos simpósios promovidos por esses mesmos grupos que produziam as publicações, entre eles o Ciclo Reich (duas edições). Em seguida, foi fundado o Centro de Investigação Orgonômica Wilhelm Reich