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Normalidade e controle
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E-book279 páginas6 horas

Normalidade e controle

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Sobre este e-book

A VIDA ESTÁ MEDICALIZADA. Normalidade e controle estão naturalizados em defesa da tecnologia biológica para curar um rol cada vez maior de transtornos mentais catalogados, em detrimento do ser nada mais que humano e todas as idiossincrasias ligadas à existência. Este é o ponto de partida da análise crítica que este livro propõe a partir de discursos da psiquiatria clínica e da psicanálise, publicados em revistas científicas no Brasil em um período de quase 40 anos.
Ana Lima soube mostrar até que ponto o fim das referências ao conceito de neurose, como uma categoria capaz de dar conta de nossos sofrimentos cotidianos, possibilitou que todos os padecimentos e comportamentos pudessem entrar no binômio normal-patológico articulador do saber psiquiátrico, abrindo-se, desse modo, as portas para um processo maciço de medicalização da vida
IdiomaPortuguês
Data de lançamento1 de jan. de 2015
ISBN9788581925400
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    Normalidade e controle - Ana Cristina Costa Lima

    clín.

    CAPÍTULO 1

    NORMAL E PATOLÓGICO: AS POSIÇÕES POLÍTICO-IDEOLÓGICAS

    A ampliação da medicalização dos modos de vida atrelada ao progresso científico, como a indústria de psicotrópicos, o imageamento do corpo vivo e o projeto genoma, são alguns dos componentes de uma dura ciência determinista de controle dos corpos. De acordo com Illich, como cito.

    Nos países desenvolvidos, a obsessão da saúde perfeita tornou-se um fator patogênico predominante. O sistema médico em um mundo impregnado pelo ideal instrumental da ciência, cria sem cessar novas necessidades de cuidados. Quanto maior é a oferta de saúde, mais as pessoas respondem que têm problemas, necessidades, doenças. Cada um exige que o progresso dê fim aos sofrimentos da juventude e prolongue a vida ao infinito. Nem velhice, nem dor, nem morte. Uma tal aversão à arte de sofrer esquece ser esta a própria negociação da condição humana.²⁵

    Francisco Ortega sintetiza a visão sociológica de uma nova moral que estrutura a biopolítica, viver para fazer viver as biotecnologias, em busca de uma saúde perfeita; uma repolitização da saúde com a criação de uma forma de sociabilidade apolítica, chamada de biossociabilidade. As práticas ascéticas implicam em processos de subjetivação e

    [...] na base desse processo está a compreensão do self como um projeto reflexivo. O autogoverno e a formação de bioidentidades se dão através de toda uma série de recursos reflexivos e de práticas de bioascese (manuais de autoajuda, terapias psíquicas e corporais, atividades de fitness e wellness, etc). A reflexividade é o processo de taxação contínua de informação e peritagem sobre nós mesmos. Não só o self, mas principalmente o corpo, aparece marcado pela reflexividade (Giddens, 1992; Nettleton, 1997).²⁶

    Esse contexto de passagem de século, portanto, contrasta com os movimentos chamados por Foucault de insurreição dos saberes sujeitados: uma força essencial dos discursos e dos saberes que foram desqualificados pelo status quo científico ou erudito. Nos anos 1960-1970, o discurso insurreto de médicos psiquiatras, psicanalistas, entre outros no campo psi, expressam uma contracultura, no caso, uma contraciência. Foucault diz no curso Em defesa da sociedade (aula de 7 de janeiro de 1976), que

    [...] nos últimos dez ou quinze anos, a imensa e prolífera criticabilidade das coisas, das instituições, das práticas, dos discursos; uma espécie de friabilidade geral dos solos, mesmo, talvez sobretudo, os mais familiares, os mais sólidos e mais próximos de nós, de nosso corpo, de nossos gestos de todos os dias; é isso que aparece. Mas, ao mesmo tempo que essa friabilidade e essa espantosa eficácia das críticas descontínuas e particulares, locais, descobre-se por isso mesmo, nos fatos, algo que talvez não estivesse previsto no início: seria o que se poderia chamar de efeito inibidor próprio das teorias totalitárias, quero dizer, em todo caso, das teorias envolventes e globais.²⁷

    Essas críticas locais descrevem os movimentos de contestação à ordem estabelecida, uma insurreição dos saberes sujeitados, aqueles que estavam desqualificados pelo poder das ciências. Esse movimento contra o poder-saber estabelecido foi, sobretudo, contra os efeitos centralizadores de poder que são vinculados à instituição e ao funcionamento de um discurso científico organizado no interior de uma sociedade como a nossa.²⁸

    O autor explica a necessidade de provar que é uma ciência como a aspiração de um local de poder para sujeitar outros saberes. Em contraposição, coloca que a genealogia estaria ligada ao dessujeitar os saberes históricos e torná-los livres, isto é, capazes de oposição e de luta contra a coerção de um discurso teórico unitário, formal e científico.²⁹

    No Brasil, as resistências dos saberes sujeitados no campo psi começaram a surgir, por meio das reviravoltas de saber, dos primeiros reichnianos, em São Paulo, com Roberto Freire – que desenvolveu um método de trabalho psicoterápico corporal, externando seus posicionamentos políticos e sociais.

    No início dos anos 1980, os ensinamentos de Reich e as práticas corporais chegavam aos cariocas e lá se desenvolveram, como registrados na Revista Rádice (1978-1981) e no jornal Luta e Prazer (1981-1983), além dos simpósios promovidos por esses mesmos grupos que produziam as publicações, entre eles o Ciclo Reich (duas edições). Em seguida, foi fundado o Centro de Investigação Orgonômica Wilhelm Reich

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