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Direitos do coração: como reverdecer o deserto
Direitos do coração: como reverdecer o deserto
Direitos do coração: como reverdecer o deserto
E-book188 páginas2 horas

Direitos do coração: como reverdecer o deserto

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Sobre este e-book

Direitos do coração: como reverdecer o deserto. Trata-se de um intento de resgatar a inteligência cordial que, junto com a inteligência intelectual, orienta nossa vida. A inteligência cordial foi, nos últimos séculos, posta de lado, sob o pretexto de que obscurecia a objetividade da ciência. Hoje, devido à crise ecológica, com as ameaças que pesam sobre a Casa Comum, precisamos incorporar a razão cordial. O coração é a sede dos valores, do amor e do cuidado, sem os quais não nos movemos para salvar a vida e o futuro de nossa civilização. Com ela, podemos ainda reverdecer o deserto.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento15 de set. de 2016
ISBN9788534944304
Direitos do coração: como reverdecer o deserto

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    Direitos do coração - Leonardo Boff

    OS FUNDAMENTOS

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    O resgate necessário da sensibilidade ecológico-social

    Ao referirmos na introdução a importância da razão sensível e cordial, não podemos deixar de valorizar a grande contribuição que o papa Francisco deu a esse tipo de razão em sua encíclica Laudato si’ — Sobre o cuidado da Casa Comum (18 de julho de 2015).

    O papa Francisco analisa com detalhe, com espírito científico e crítico o que está acontecendo com a nossa Casa (n. 17-61). Logo adverte que, numa perspectiva da ecologia global, que é o tema fundamental de seu texto, essas categorias são insuficientes (n. 11). Temos que nos abrir à admiração e ao encanto… e falar a linguagem da fraternidade e da beleza na nossa relação para com o mundo (n. 11). Portanto, não podemos nos restringir à ecologia ambiental, pois ela atende apenas à relação do ser humano com a natureza, sem envolver o ser humano como parte desta, o que constitui o vício do antropocentrismo, criticado claramente pelo papa (n. 115-121). Ocorre que o ser humano possui dimensões sociais, políticas, culturais e espirituais, sobre as quais há parca preocupação e fraca reflexão, o que dificulta encontrar uma solução consistente para a grave crise da Casa Comum.

    Considerando a amplitude dessas dimensões, devemos ir além de uma análise meramente técnico-científica. Devemos, sim, utilizar a pesquisa científica, imprescindível, mas importa deixar-nos tocar por ela em profundidade (n. 15). Mais ainda, devemos transformar em sofrimento pessoal aquilo que acontece ao mundo (n. 19).

    O papa Francisco tem clara consciência de que, por detrás das estatísticas, há um mar de sofrimento humano e muitas feridas no corpo da Mãe Terra. Como somos parte da natureza e tudo está inter-relacionado (tema sempre recorrente na encíclica, n. 70, 91, 117, 120, 138, 139 etc.) e nós nunca estamos fora da trama das relações (n. 240) que a todos envolve, participamos das dores da crise ecológica. Ele adverte: as previsões catastróficas já não se podem olhar com desprezo e ironia… o estilo de vida atual, por ser insustentável, só pode desembocar em catástrofes, como aliás estão acontecendo periodicamente em várias regiões (161).

    Mas o papa não se deixa intimidar por esse cenário. Dá um voto de confiança ao ser humano, em sua criatividade e em sua capacidade de regenerar-se e de regenerar a Terra (n. 205), e muito mais: confia no Deus que, segundo as palavras da tradição judeo-cristã, é o soberano amante da vida (Sb 11,24 e 26, n. 77 e 89). Ele não permitirá que nos afundemos totalmente (n. 163). Ainda faremos uma conversão ecológica (n. 217) e introduziremos a cultura do cuidado que permeará toda a sociedade (n. 231).

    Disso nascerá um novo estilo de vida (alternativa sempre de novo repetida pela encíclica), fundado na cooperação, na solidariedade, na simplicidade voluntária, na sobriedade compartilhada, que implicará um novo modo de produzir e de consumir, e, por fim, nos dará a consciência amorosa de não estarmos separados das outras criaturas, mas que formamos com os outros seres do universo uma estupenda comunhão universal (n. 220).

    Como se depreende, aqui não se fala mais somente de inteligência intelectual, técnico-científica, mas da inteligência emocional a que nos referimos na introdução. O papa, em suas palavras de afeto e carinho para com todos, especialmente para com os pobres e os mais vulneráveis, dá claro exemplo do exercício desse tipo de inteligência tão urgente e necessária para superarmos a profunda crise que recobre todos os âmbitos da vida no planeta.

    Em razão dessa inteligência emocional, ele afirma que devemos ouvir tanto o grito da Terra como o grito dos pobres (49). As agressões sistemáticas, feitas nos últimos dois séculos, provocam os gemidos da irmã Terra, que se unem aos gemidos dos abandonados do mundo (n. 53). Por isso, importa cuidar da criação… e tratar com desvelo os outros seres vivos (n. 211), pois todos possuem um valor intrínseco, independente do uso humano (n. 69), e, a seu modo, louvam o Criador (n. 33). Chega a dizer que devemos alimentar uma paixão pelo cuidado por tudo o que existe e vive.

    Enfatiza o fato de que nós, com todos os seres do universo, estamos unidos por laços invisíveis e formamos uma espécie de família universal, uma comunhão sublime que nos impele a um respeito sagrado, amoroso e humilde (n. 89).

    Somente quem tem desenvolvido em alto grau a inteligência sensível ou cordial poderia escrever: tudo está relacionado, e todos nós, seres humanos, caminhamos juntos como irmãos e irmãs numa peregrinação maravilhosa, entrelaçados pelo amor que Deus tem a cada uma de suas criaturas e que nos une também, com terna afeição, ao irmão Sol, à irmã Lua, ao irmão rio e à Mãe Terra (n. 92).

    Semelhante à Carta da Terra, o papa entende que, pelo fato de que tudo está intimamente relacionado e que os problemas atuais requerem um olhar que leve em conta todos os aspectos da crise mundial (n. 137), impõe-se uma reflexão sobre a ecologia integral, pois só ela dá conta dos problemas inter-retroconectados de ordem econômica, política, cultural e espiritual. Nesse sentido, o tratamento dado pelo papa a esses temas é extremamente inovador e um desafio para todos os que se ocupam e preocupam com as questões ecológicas, vale dizer, com as condições físicas, químicas e biológicas que sustentam a vida e garantem um futuro para a Casa Comum e para a nossa civilização.

    O tempo é urgente e corre contra nós. Por isso, a encíclica é dirigida a toda a humanidade e a cada pessoa, para que cada um, em sua medida própria, ajude a garantir a vitalidade da Terra e os bens e serviços essenciais para nós e para toda a comunidade de vida.

    Para esse desafio, todos os saberes, todos os valores, todas as tradições espirituais e religiosas são convocados a despertar a consciência da humanidade para a sua missão de ser a cuidadora dessa herança sagrada recebida do universo e do Criador que é a Terra viva, a única Casa que temos para morar. Junto à inteligência intelectual deve vir a inteligência sensível e cordial, e acima de tudo a inteligência espiritual, pois é ela quem nos relaciona diretamente com o Criador e com o Cristo ressuscitado, que estão dentro da criação, levando-a junto conosco para a sua plenitude em Deus (n. 100, 243).

    O papa cita o comovente final da Carta da Terra, que resume bem a esperança que deposita em Deus e no empenho dos seres humanos: Que nosso tempo seja lembrado pelo despertar de uma nova reverência perante a vida, pelo compromisso firme de alcançar a sustentabilidade, pela intensificação da luta pela justiça e pela paz e pela alegre celebração da vida (n.

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