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Os defensores de Deneb e a espada na pedra
Os defensores de Deneb e a espada na pedra
Os defensores de Deneb e a espada na pedra
E-book453 páginas6 horas

Os defensores de Deneb e a espada na pedra

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Sobre este e-book

A longa jornada dos nossos heróis está só começando! Com a descoberta do feiticeiro Baltasar e de uma maneira de libertá-lo, os jovens defensores de Deneb partem para sua primeira aventura longe de casa. Para isso, contarão com a ajuda do exilado guardião dos portais, que os levará para uma ilha há muito tempo esquecida.Esses fatos, somados à aproximação da Lua de Sangue, darão continuidade à Grande Guerra. É chegada a hora de o grande e misterioso Magnodum revelar sua verdadeira história. Ele é o único que tem a resposta que poderá livrar a todos do problema que resultou na libertação do terceiro e último feiticeiro.Junte-se aos jovens defensores de Deneb neste segundo livro da saga. Muitas aventuras estão à sua espera!
IdiomaPortuguês
Data de lançamento21 de ago. de 2018
ISBN9788542813982
Os defensores de Deneb e a espada na pedra

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    Os defensores de Deneb e a espada na pedra - Manuella S. B. Queiroga

    solitários."

    1

    O despertar

    Faltava menos de um dia para o inverno rigoroso, enfim, acabar e para o Baile de Primavera começar.

    A atmosfera no palácio estava agitada, a correria com os preparativos se juntava à ansiedade, mas ninguém estava mais ansioso do que Fernando, que ficou a maior parte do inverno ao lado da adormecida Sofia, pois queria ser o primeiro a dar as boas­-vindas à amiga. Enquanto ele passava o dia na enfermaria, os seus amigos ajudavam na preparação da festa.

    – Francesco! – gritou Demétrio. – Não é para comer, e sim para ajudar na distribuição dos enfeites. E Hortênsia, pare de dar os doces a ele e volte já para a cozinha.

    – Desculpe, senhor – disse o casal ainda rindo e se afastando cada um para um lado.

    – Nem acredito que só se passaram três meses – refletiu Neride. – Aconteceu tanta coisa em tão pouco tempo…

    – O mais engraçado é que eu nem senti o fuso horário – comentou Pietro.

    – Agora nós dois temos um lar fixo! – exclamou Leila. – Foi muita bondade de Serafina e Demétrio dar um quarto para cada um aqui no palácio. Você não acha, Pietro?

    Muita bondade… – repetiu Pietro enojado. – E o ano de vocês é esquisito – retrucou para Neride. – Bem esquisito! Primeiro ano na escola e já houve um ataque alcyoniano, e participamos de uma batalha sangrenta. Fala sério, tem lugar mais legal?! – completou animado.

    – Não esquece que houve uma explosão – lembrou Leila com sarcasmo.

    – Isso não tem graça, Leila – repreendeu Kael.

    – Pietro, sobe aqui na escada para ajudar a Rita com os enfeites lá em cima – pediu Griffin. – Eu estou ocupado e você parece não estar ajudando em nada.

    – Sem problemas – respondeu Pietro, já pondo o pé no primeiro degrau. – Só preciso que alguém segure para mim, para poder me dar apoio.

    – Deixa que eu seguro – ofereceu­-se Serena.

    – Se afasta, garota! – gritou ele.

    – Não confia em mim, amor? – indagou ela com um falso tom de meiguice.

    – Não!

    Não?! – indignou­-se ela, lançando um olhar malicioso para o namorado e balançando com força a escada de madeira que segurava.

    – Aaahh! Para de balançar! Como você é idiota.

    – Me chama de idiota de novo e balanço tão forte que você vai ser arremessado daí de cima.

    – Só fala – desafiou Pietro.

    Com o comentário ousado, Serena não resistiu e fez menção de voltar a sacudir a escada.

    – Aaaahhh! Parei! Parei! – Pietro apressou­-se a avisá­-la.

    – É bom mesmo – disse Serena em tom firme.

    Pirracenta – resmungou ele.

    O que foi que você disse? – indagou Serena em tom perigoso e apurando ao máximo os ouvidos.

    Pietro se limitou a resmungar mais alguma coisa parecida com Nada, não é nada, mas isso foi só para se livrar de outra discussão com a namorada.

    – Bom… – começou Kael a fim de acabar com a situação constrangedora que o casal provocara. – Estou ansioso para voltar ao colégio.

    – Sério?! Não tinha nada melhor pra comentar não? – retrucou Serena sem ânimo.

    – Serena! – chamou­-a Leila em tom de advertência.

    Kael encolheu os ombros em sinal de vergonha antes de começar a se explicar:

    – Ah, sei lá! Coisas novas, matérias novas, gente nova…

    – Tá! – exclamou Serena. – Me convenceu. Já eu não estou nem um pouco com a metade da sua ansiedade.

    – Vocês podem dar aulas experimentais para o primeiro ano, não é mesmo? – perguntou Leila parecendo interessada no assunto.

    – Sim. Os professores escolhem os melhores da turma, aí depende de os alunos quererem ou não. Eu sou uma que não vai querer nem se me implorarem – afirmou Serena passando longe da modéstia.

    – Você nem vai ser chamada – intrometeu­-se Pietro lá de cima. – Sei nem por que está se achando tanto.

    Serena fechou a cara, fez um movimento brusco com os braços que ainda seguravam a escada e, no instante seguinte, Pietro havia se soltado e despencado lá do alto. Pólux estava chegando para se juntar ao grupo e quando abriu a boca para falar Pietro aterrissou em seus braços, os quais, graças ao reflexo rápido do elfo, o apanharam na hora exata.

    – Mas o que é isso?! – perguntou Pólux atordoado.

    – Por que não voou, Merlin? – caçoou Serena às gargalhadas, dobrando­-se de tanto rir. – Ai, minha barriga!

    – Você vai ver! – explodiu Pietro pulando para o chão.

    Serena correu para além dos corredores a fim de fugir de um Pietro vermelho de raiva que vinha no seu encalço.

    – Nem parecem namorados – comentou Neride acompanhando o casal até sumir de seu campo de visão.

    – Chega de papo – disse Serafina, vindo ao encontro dos garotos. – Temos muito trabalho a fazer e quase nada de tempo – alertou­-os. – Tudo ficou para a última hora – lamentou­-se mais para si mesma do que para os demais, que tinham agora as atenções direcionadas a ela.

    – Nem almoçamos – queixou­-se Griffin.

    – Tem lanches na cozinha, mas não podem parar o trabalho, hein? – avisou a rainha e depois se afastou apressada, de vez em quando gritando advertências a alguns criados em seu caminho.

    O grupo entrou na cozinha e logo se deparou com o caos. O cômodo estava agitado e bagunçado, onde muitos cozinheiros e ajudantes andavam por todos os cantos e direções carregando extensas bandejas, enormes panelas e diversos ingredientes em excesso de quantidade.

    – Aqui! – chamou­-os Hortênsia.

    – Trabalhando muito? – Kael riu.

    – Eu gosto de cozinhar – respondeu enquanto dava um sanduíche na boca de Francesco.

    – Vocês estão muito melosos ultimamente – disse Pietro com uma careta.

    – Nem bem chegou e já vem fazendo comentários de tal tipo – desaprovou Neride acompanhando o casal recém­-chegado à cozinha.

    – Falando nisso, a Vega anda muito quieta neste inverno – observou Leila. – Ela nem ficou conosco essa manhã. Na verdade, sequer apareceu hoje.

    – Deve ser por causa do Lucas. Olha como está o Fernando por causa da Sofia – respondeu Griffin com ar de quem sabe das coisas.

    – Não é por isso não – disse Pólux. – É que meu pai teve uma conversa com ela sobre o namoro dela com o Lucas. De alguma maneira, ele acabou descobrindo tudo.

    – E qual é o problema? – retrucou Leila. – É por ela ser muito nova?

    Leila não estava muito segura de si quando deu a sugestão, pois já se passara tempo suficiente para ela conhecer bem o seu rei, porém a garota ainda tinha esperanças de Demétrio deixar sua ignorância de lado.

    – Meu pai é um pouco conservador – começou Pólux com ar cansado. – Ele ainda vive na regra do passado em que a raça élfica não se misturava com nenhuma outra; por esse motivo, mostrou­-se tão contra o casamento de Loriel com Astridy.

    – A Vega não o enfrentou? – indagou Leila com expressão incrédula.

    – Ele é nosso pai, como vamos enfrentá­-lo? Se ele não aceita esse tipo de relacionamento, o que podemos fazer? – respondeu Pólux mostrando a Leila que todos os caminhos não tinham saída, porém não percebia o erro que acabara de cometer, mas não demorou muito a ficar sem saber.

    – Você tem toda a razão, ou melhor, ele que tem – disse Leila friamente com os olhos cheios de lágrimas. – Vocês não podem sujar seu sangue com qualquer um. – Após isso, virou­-se e saiu da cozinha.

    – Hã?! – exclamou Pólux. – O que aconteceu?!

    – Já que o Lucas não está, eu faço a vez dele – falou Francesco. – Perdeu a garota outra vez – concluiu com uma mão no ombro do amigo.

    – Mas… Eu não entendi.

    – Pólux! – gritou Neride inconformada. – Você não percebe o que acabou de fazer? Você acabou de dar um fora nela! Acabou de dizer que nunca vai poder ficar com ela e o motivo disso: seu pai não a achar boa o suficiente para você. Fala sério! – Ao terminar de gritar, ainda ficou parada na frente de Pólux de braços abertos esperando o amigo falar alguma coisa.

    Pólux, porém, continuou calado e com a mesma expressão desentendida de antes, então Neride resolveu sair da cozinha também, indo atrás de Leila.

    – Fala sério, hein, Pólux?! – disse Rita de braços cruzados e boca franzida, e, assim como Neride, saiu da cozinha.

    – Vou tentar conversar com a Leila – avisou Hortênsia indo embora e sendo seguida por Serena.

    – Basta uma ficar irritadinha pra todas ficarem também – reclamou Pietro. – Eu, hein!

    Fernando apoiou o rosto nas mãos. As pálpebras pesavam e pouco a pouco foram se fechando, mas algo lhe chamou a atenção fazendo o sono ir embora. A mão pálida de Sofia, a mesma do ferimento, mexeu­-se como se tivesse tomado um repentino choque. Fernando ergueu a cabeça e olhou atentamente para o rosto quase sem cor da garota. Ela abriu os olhos, piscou algumas vezes para se acostumar à claridade há muito tempo não vista. Os seus olhares se encontraram e Sofia se abriu em um largo sorriso ao ver o rosto amigo.

    – Você está bem? – indagou Fernando preocupado e aliviado ao mesmo tempo.

    – Estou – respondeu ela passando a mão direita sobre o ferimento cicatrizado do antebraço esquerdo. – Ficaram três cicatrizes enormes e feias.

    – Você lembra?

    – Me lembro de escorregar para dentro de uma toca; no instante seguinte, o meu braço queimou de dor, aí vieram a escuridão e um silêncio eterno.

    – O importante é que você está bem. Seu estado era grave, mas você é mais forte do que pensei.

    – Te venço em qualquer luta – disse Sofia com um sorriso fraco. – O que aconteceu enquanto estive adormecida? – Tornou a ficar séria.

    – Ah! Aconteceu tanta coisa. Nem sei por onde começar – falou ele mexendo nos cabelos.

    A noite havia chegado e o inverno dera lugar à primavera.

    A brisa já soprava mais quente, as flores começaram a desabrochar repentinamente, a neve foi derretendo e a grama verde aparecendo. Os vaga­-lumes foram surgindo no ar e as fadinhas millits saíram de seus esconderijos para acompanhá­-los nessa noite maravilhosa.

    Os jardins do palácio tinham lanternas com vaga­-lumes que pendiam sob os galhos das árvores; foram postas uma mesa enorme com o banquete delicioso e muitas outras pequenas para os convidados se acomodarem; contrataram uma orquestra que se achava no canto oposto tocando melodias agradáveis para passar o tempo, pois logo mais se apresentariam no grande Baile de Primavera.

    – Vega, o que houve? – perguntou Leila preocupada quando enfim encontrou a amiga. – Parece tensa.

    – Não é nada – respondeu a elfa secamente tentando se desvencilhar dela e retomar seu caminho.

    – Parece nervosa – comentou Neride olhando para a elfa, que não parava de torcer as mãos. – E está mais pálida do que normalmente é – finalizou um tanto intrigada.

    – Já disse que não é nada – Vega reafirmou e em seguida se afastou para perto do banquete.

    Leila e Neride trocaram olhares desconfiados.

    – Ela deve estar preocupada com o Lucas – concluiu Neride sem muita certeza, porém queria poder se conformar com algo.

    – Ela não precisa descontar na gente – retrucou Leila irritada.

    – Olha lá! – exclamou Hortênsia em alto e bom som.

    Todos acompanharam a direção para onde o braço de Hortênsia apontava e avistaram, na entrada do palácio, duas silhuetas conhecidas.

    – Sofia! – gritou Nora contente, correndo ao encontro da irmã.

    Sofia e Fernando passaram pelo arco florido na entrada do jardim e Sofia foi recebida aos abraços e beijos de seus familiares, amigos e colegas.

    – Que saudade! – disse Neride abraçando a amiga com força.

    – Também estou. Nê, você está apertando demais!

    – Não tiveram tempo de se arrumar, estou vendo! – Neride riu ao ver que Sofia ainda trajava a mesma roupa que lhe haviam posto enquanto estava adormecida, e Fernando ainda estava com a roupa simples de manhã.

    – Depois eu é que tenho comentários desagradáveis em determinadas horas – disse Pietro.

    Neride lançou ao amigo um olhar irritado e preferiu não falar nada, afinal ele estava certo.

    – Você está muito pálida! – Nora, com as mãos no rosto da irmã, demonstrou uma preocupação exagerada. – Não está em condições de ficar aqui. Deve descansar.

    – Não vejo a luz do sol há uns três meses. – Sofia riu. – Eu praticamente hibernei. Mas estou bem, obrigada por se importar.

    Ao longe do jardim, as árvores eram tão grossas e juntas que chegavam a formar um bosque, e de lá apareceram muitas pessoas caminhando juntas: eram os lobisomens. Lucas vinha abraçado com seu pai, os dois cansados, esgotados, com olheiras e arranhões em excesso.

    – Thiago! Lucas! – gritou uma mulher bonita perto do arco de saída dos jardins, depois correu ao encontro do filho e do marido.

    – Margot! – Suspirou o homem, acolhendo a esposa nos seus braços.

    – Que saudade! – disse a mulher enchendo os dois de beijos.

    – Eu também estava, mãe – comentou Lucas, tentando se desvencilhar dos apertos dela.

    Lucas deixou seus pais conversando e foi para perto dos amigos.

    – Que falta que você faz, hein?! – Griffin o abraçou.

    – É horrível – queixou­-se, sendo a primeira coisa a falar quando voltou à companhia dos amigos. – Coitada da minha mãe. Não sei como ela aguenta isso.

    – O que é ela? – perguntou Leila.

    – Uma sereia.

    – O Lucas é metade sereia. – Pietro riu, acompanhado por Fernando.

    – Calem a boca! – Lucas riu também. – Eu não herdei as características e habilidades dela, não!

    – Nossa! Pietro, você é muito infantil! – Serena manteve um tom de superioridade na voz.

    – Quais são as novidades? – perguntou Lucas sorrindo, mas a felicidade foi embora ao ver as cicatrizes no braço de Sofia. – Fui eu quem fez isso, não?

    – Foi. Mas já está tudo bem – disse Sofia com sinceridade.

    – Não, não está. Estou me sentindo péssimo, olha só o que eu fiz! Eu te ataquei. Nunca havia atacado ninguém, e quando essa infelicidade acontece é justo com a minha melhor amiga. Me desculpa.

    – Eu sei que não era você – Sofia falou calmamente. – É claro que está desculpado.

    – Por minha culpa você vai sofrer a vida inteira como eu – continuou Lucas sem dar atenção ao que Sofia lhe dissera. – Eu te transformei em um lobisomem.

    2

    A marionete do rei

    Lucas se afastou dos amigos e caminhou sem rumo até ver Vega a um canto com seus pais e a corte élfica.

    – Oi – cumprimentou tocando no cotovelo da namorada.

    Vega se assustou, deu um pulinho e se virou de olhos arregalados.

    – Lucas! – sussurrou ela surpresa, depois olhou de relance para o pai e seguiu o namorado para perto da orquestra.

    – Você está bem? – perguntou ele.

    – Estou. E você?

    – Melhor agora. Vamos para outro lugar, aqui eu não estou conseguindo nem ouvir minha própria voz.

    Os dois caminharam para um lado mais tranquilo da festa e ficaram um de frente para o outro. Lucas se aproximou mais, segurou na cintura dela e fechou os olhos, mas Vega se desvencilhou.

    – O que houve? – perguntou Lucas confuso. – É a minha aparência? Meu cheiro…? – Inspirou e expirou algumas vezes antes de chegar a uma conclusão. – Não está ruim! – disse meio ofendido.

    – Não é nada disso – afirmou Vega sem ânimo.

    – Então o que é? Por favor, me fala.

    Vega hesitou com o olhar distante, observando alguém atrás de Lucas, que percebeu e se virou. O garoto, então, teve sua resposta ao ver, a uma pequena distância, Demétrio ainda conversando, mas o rei havia mudado de posição de modo a conseguir olhar para o casal. Lucas deixou a irritação tomar conta dele, balançando a cabeça e mordendo o lábio, sem conseguir olhar para a namorada. Ele estava inconformado com a situação em que acabou indo parar.

    – Lucas… – tentou argumentar Vega, mas não conseguiu prosseguir.

    Lucas fechou os olhos com a finalidade de se acalmar e continuou balançando a cabeça.

    – Eu não consigo acreditar – disse ele por fim, com as mãos na cabeça.

    – Eu posso explicar…

    – Não! – explodiu ele, fazendo Vega recuar um passo com os olhos arregalados de espanto. – Eu pensei que você tinha mudado seu modo de pensar, ou melhor, parado de ser a marionete de seu pai.

    – Eu não sou marionete – afirmou Vega em tom ofendido.

    – É, sim! Você me iludiu – ele desdenhou. – Ou eu é que sou muito idiota.

    – Mas você tem que entender o meu lado também.

    – Entender que não sou bom o bastante para você, de sanguezinho puro? Ou pelo menos é o que seu pai acha, né?

    – Não. Lucas…

    – Eu errei ao pensar que você ouviria mais o seu coração… Como pude ser tão tolo?

    Vega não respondeu, apenas olhou para os olhos de Lucas e baixou a cabeça com um grande suspiro. A garota abriu a boca para argumentar, mas ele a interrompeu:

    – Como pude amar alguém que não tem coração? E ainda achar que mesmo assim retribuiria o que eu sentia.

    As ásperas palavras de Lucas pesaram no peito de Vega.

    – Eu não quero isso… – disse ela com lágrimas escorrendo pelo rosto. – Eu quero ficar junto de você, mas é impossível.

    Impossível? Só se tornou impossível a partir do momento em que deixou seu pai falar por você.

    – Só se for um relacionamento escondido dele – continuou Vega como se Lucas nada tivesse acabado de falar. – Enquanto ele não estiver aqui no palácio ou quando estivermos na escola…

    – Me recuso a ficar com alguém que sente vergonha de mim.

    – Vergonha? Eu não tenho vergonha de você. Eu gosto muito de você, Lucas, daquele outro jeito – declarou­-se ela com um sorriso sem graça e pegando na mão dele. – Nós dois sentimos algo especial um pelo outro…

    Lucas se desvencilhou.

    – Achei que eu sentia – disse ele secamente antes de ir embora sem olhar para Vega.

    Lucas andava a passos decididos, bufando de raiva, e encarou Demétrio ao passar por ele. Nunca sentira tanto ódio por alguém como naquele momento. O homem arruinara seu relacionamento. O rei o encarava também, mas se resumiu a apenas lhe lançar um olhar de superioridade e triunfo.

    Vega continuava imóvel, sem reação, o olhar vidrado no lugar em que antes estivera Lucas, só se mexendo quando sentiu uma mão tocar seu ombro.

    – Lucas! – exclamou a garota em tom baixo e esperançoso. O seu coração acelerou e ela sentiu um frio perpassar a boca do estômago, porém, quando se virou, viu apenas o seu pai postado ao seu lado.

    – Muito bem. Fico feliz que tenha aceitado o meu conselho – disse ele calmamente. – Só que isso fica apenas entre nós. Se sua mãe perguntar o porquê do rompimento do namoro, invente qualquer mentira.

    – Pai – chamou ela, ainda com o olhar vago.

    – Sim?

    Isso não era o que eu queria.

    – Mas foi preciso. Nós, elfos, temos que nos preservar.

    – Mas eu não acho que foi o certo a se fazer.

    – Na vida, temos que fazer escolhas difíceis para o nosso bem maior – recomendou Demétrio pomposo. – Preciso ir, minha filha, ainda hoje terei uma conversa com o rei élfico da luz, assuntos importantes a tratar. A propósito, estou orgulhoso de você – disse por fim antes de partir.

    – Que assuntos? – perguntou intrigada, saindo do transe.

    – Seu irmão anda impossível, mas vou trazê­-lo à realidade assim como trouxe você.

    – Fala sério! – resmungava Leila. – Eu não acredito que o Pólux falou aquilo para mim. E ainda tem a cara de pau de me chamar para dançar – reclamou de braços cruzados.

    – Esquece isso – disse Neride. – O Baile de Primavera do palácio junta todo mundo do reino de Deneb.

    – E?

    – Que está cheio de meninos lindos por aí.

    – E o Neithan está de olho em você – comentou Hortênsia com uma piscadela.

    – E ele está vindo pra cá! – explodiu Neride mexendo as mãos freneticamente. – Leila, ele está a finzasso de você!

    – Oi – cumprimentou­-as o colega.

    – Oi! – As garotas estavam eufóricas.

    – Leila, eu vim até aqui porque…

    – Porque… – incentivou­-o Neride a continuar, fazendo gestos com as mãos para que ele prosseguisse.

    – Eu vim até aqui porque gostaria de saber se… se…

    – Ah, fala logo! – Neride não se aguentou.

    – Se você ficasse quieta, ele até continuaria tranquilamente! – Hortênsia se irritou com Neride. – Vem, Nê. Vamos deixar o garoto a sós com a Leila.

    As duas se levantaram de seus lugares e afastaram­-se, com Neride os espiando a cada passo que dava. Por fim, elas se postaram a um canto não muito perto, mas também não muito longe da mesa em que estavam.

    Neithan hesitou por um momento antes de prosseguir.

    Leila lhe deu um sorriso encorajador.

    – Não liga… – tentou amenizar a situação, envergonhada. – Ela é assim mesmo.

    – Você acha que eu não sei?! – devolveu Neithan com um sorriso divertido. – Ano passado ela passava a maior parte comigo e com o pessoal por conta do namoro com o Arthur, e pode ter certeza de que ela não mudou o seu jeito.

    Leila sorriu, por mais que não tivesse achado muita graça no comentário do colega, mas não queria parecer antipática, ainda mais porque ele estava prestes a lhe fazer um convite.

    – Mas eu não vim aqui para falar da Neride – começou Neithan com seriedade. – Leila, o que você me diria se eu te chamasse para dançar comigo outra vez? – A ênfase nas últimas palavras dizia respeito à festa de boas­-vindas do ano passado do Colégio, a primeira e única vez que ele havia lhe feito o mesmo pedido, sendo bem­-sucedido.

    – Eu diria que danço – respondeu Leila corando ligeiramente e não conseguindo conter o sorriso que crescia em seus lábios.

    Já o sorriso de Neithan foi de orelha a orelha. Seu peito estufou tanto que dava a impressão de que explodiria de alegria dali a poucos segundos, porém ele se limitou a estender seu braço para Leila, a fim de que esta pudesse enganchar o seu no dele e, assim, irem à pista de dança. E foi o que fizeram.

    No caminho, Leila lançou um olhar significativo para Neride, que foi mais de agradecimento pelo que acabava de lhe acontecer. Em resposta, a amiga tinha um enorme sorriso no rosto e fazia sinal positivo com os polegares. E foi rumo à pista de dança que o casal, sem nada notar, acabara de passar à frente de um grupo de meninos em que se achava o príncipe Pólux enciumado com a cena.

    – O que é isso, Pólux? – estranhou Lucas vendo o amigo ficar nas pontas dos pés, espichar­-se ao máximo e ainda esticar o pescoço até não poder mais.

    – O que você estava vendo? – perguntou Griffin curioso, virando a cabeça para todos os lados possíveis na esperança de encontrar o que chamara tanto a atenção de seu amigo. – Ai! Me deu torcicolo agora! – queixou­-se massageando a região do pescoço afetada.

    A risada debochada de Lucas seguiu a reclamação de dor de Griffin.

    – Só ri porque não foi com você! – ralhou Griffin irritado, virando­-se bruscamente na direção de Lucas. – Ai! Eu não devia ter me virado tão rápido. – A lamentação foi motivo para mais risadas de Lucas. – Ah, pode se acabar de rir aí. Eu já nem ligo mais… – contou tristonho.

    – E então, Pólux! O que nos manda?! – Lucas ainda não havia desistido de saber o que deixara Pólux bolado.

    – Vocês não viram?! – exclamou o príncipe indignado. – Neithan acabou de passar com a Leila, e eles estavam de braços enganchados! Foram para a pista de dança!

    – Se acalme – disse Kael. – Eles só vão dançar. Nada de mais nisso.

    – Só vão dançar… – repetiu Pólux, ironizando o tom calmo com que falara Kael.

    Na verdade, Pólux ainda continuava com ar de quem levara um soco na cara, e mais enciumado do que nunca.

    – Bom… Eu adoraria ficar aqui na companhia de vocês, mas já vou indo, pessoal – avisou Pietro, olhando nervoso para o lado e saindo o mais depressa que pôde.

    – O que foi essa agora? – perguntou Griffin confuso e sem ânimo.

    – Pode ser porque a Vicência estava logo ali – concluiu Lucas, apontando com o polegar e abafando a risada. – Falando nisso… O Fê se deu bem, hein?!

    – Que bom – concordou Kael com sinceridade, olhando de longe o amigo dançando, rindo e brincando com Sofia.

    – Pelo menos ele – disse Lucas com ar sonhador ao observar de longe o contente casal. – Mas e você e a Neride, Kael?

    – Ah! A impressão que eu tenho é de que sem o Arthur sobrou eu.

    – Claro que não! Não diga uma coisa dessas! Ela gosta de você, sim – afirmou Lucas firmemente, como se tivesse sido ofendido. – Se quiser eu ajudo, sou um bom cupido – completou levantando as sobrancelhas umas três vezes seguidas.

    – Muito obrigado – agradeceu Kael achando graça do último comentário do amigo. – E você já falou com a Vega? Ou ainda não a achou?

    – Isso não rola mais – revelou Lucas sem emoção.

    – Como assim?

    – Ela me deu um fora! – explodiu ele com um longo suspiro.

    – Como assim?! – repetiu Kael.

    Lucas contou toda a conversa com a princesa, controlando ao máximo a raiva que ainda sentia. Kael o ouviu e permaneceu em silêncio.

    – Enfim… – disse Lucas para quebrar o gelo. – Ei, Griffin, você conhece aquela garota ali? – perguntou se virando e apontando para uma fada morena de cabelos compridos, cacheados e castanhos, assim como seus olhos, e de asas azuis.

    – Quem? Aquela ali? Não – respondeu Griffin indiferente. – Por quê? – indagou desconfiado.

    – Ela não para de olhar para cá, em especial para você. Achei esquisito e quis saber. Você me conhece e sabe como eu sou curioso.

    – Nunca a vi na vida até o momento – disse Griffin mal­-humorado. – Como eu já estava com a ideia de ir dançar com a Rita… vou chamá­-la agorinha mesmo. Quem sabe assim essa garota para de olhar.

    À medida que o tempo passava, a noite ia ficando mais gostosa e a pista de dança enchia, talvez pelo medo que algumas pessoas tinham de não conseguirem aproveitar o começo de um novo ano.

    Pietro e Serena estavam junto da multidão, e Vicência não perdia a oportunidade de esbarrar no ex.

    – Eu juro! Se ela fizer isso de novo, eu viro um soco na cara dela – rugiu Serena.

    – Relaxa! Deixa ela pra lá – aconselhou Pietro. – Não comece o ano arrumando uma briga.

    – Tudo irá depender dela – rumorejou Serena ao lançar um olhar perigoso para Vicência.

    E quanto a Lucas, Pólux e Kael, estes estavam sentados numa mesa afastada da zombaria do baile. Os três não conversavam, tinham os olhares vagos e os pensamentos perdidos. Kael suspirou, quebrando o silêncio que caiu sobre o trio. Pólux, que roía as unhas nervosamente e tinha os olhos vidrados na multidão, olhou para Kael. Lucas limpava os óculos na blusa e os colocou para também olhar para o amigo.

    – Vamos mesmo ficar aqui sem fazer nada? – perguntou Kael. – Estamos parecendo os excluídos. – Ele riu.

    Pólux e Lucas riram também.

    – Vamos deixar as meninas fazerem isso com a gente? – quis saber Kael com um sorriso provocador.

    – Para você é fácil falar – retrucou Pólux. – A Neride te ama e está aí para você, só não sei por que ainda não fez nada…

    – Não foi você quem levou um belo de um fora. – Lucas juntou­-se a Pólux.

    – Minha irmã terminou com você? – espantou­-se Pólux.

    – Sim! – Lucas bufou. – Por culpa do seu pai, que fica fazendo a cabeça dela. – Ele controlou­-se muito para não correr o risco de xingar Demétrio na frente de Pólux.

    – Ele não faz – afirmou Pólux, empertigando­-se na cadeira.

    – A quem quer enganar? – perguntou Kael. – Olha o que você falou para a Leila mais cedo.

    Pólux encolheu os ombros e baixou os olhos.

    – Eu não soube disso – contou Lucas curioso. – Quero ficar sabendo do que aconteceu mais cedo.

    – O bonitão aqui falou que o pai não aceita relacionamentos entre raças diferentes e praticamente acabou falando para a Leila que nunca vai poder fazer nada para mudar isso, ou seja, jamais poderão ter algo a mais do que uma amizade.

    – Nossa! – exclamou Lucas arregalando os olhos.

    – Na hora nem pensei. E agora eu a perdi para o Neithan – amargurou­-se Pólux. – Ele está de olho nela desde o ano passado.

    – E você não fez nada para mudar isso – disse Lucas com sinceridade.

    – Eu sou um idiota – afirmou Pólux não esperando contradições vindas de seus amigos.

    Antes que Kael e Lucas dissessem mais alguma coisa para tentarem mudar o ânimo de Pólux, já que se sentiam mal com a autodescrição do amigo, uma coisa diferente acabou acontecendo com eles, ou melhor, alguém novo com informações novas veio falar com eles:

    – Hola! – cumprimentou­-os animado um garoto magricela, pálido, de cabelos castanhos cacheados que lhe caíam até os ombros, de olhos castanho­-esverdeados, barba no queixo e chapéu preto na cabeça com uma pena grande presa nele. O rapaz tinha diversas tatuagens que diziam muito sobre ele: uma bússola dentro do antebraço esquerdo, uma âncora no braço direito perto do ombro, um terço na mão direita, uma âncora e uma cruz nos dedos. – Me puedo sentar?

    – Claro! Fique à vontade – apressou­-se Pólux a responder.

    – Soy Miguel Ponce de León.

    À menção do nome do recém­-chegado, os três garotos trocaram olhares significativos e mexeram os lábios na formação de palavras com a intenção de não emitirem som para que apenas eles mesmos se entendessem.

    – Sou Pólux Sadriph.

    – Kael Zórin.

    – Eu sou Lucas Albert. Tatuagens legais.

    – Tengo más algumas – disse Miguel.

    – Caramba! – admirou­-se Lucas. – Mostra aí.

    Miguel se levantou, subiu a blusa e virou de costas, mostrando o local onde havia um navio. Depois, virou de lado e em sua cintura havia um mapa da região do Triângulo das Bermudas.

    – Você é descendente de Ponce de León? – perguntou Kael, mesmo já sabendo da resposta, a julgar pelo sobrenome do menino, e olhando atentamente para o mapa desconhecido que retratava outro mundo.

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