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Enxame de Sombra
Enxame de Sombra
Enxame de Sombra
E-book522 páginas13 horas

Enxame de Sombra

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Sobre este e-book

Nascido para governar. Viveu para curar. Morreu para salvar. Renascido.

VENCEDOR dos Prêmios: Mom’s Choice Awards, Gold Medal - Fantasy & Science Fiction

Aberthol Nauile não se lembra de ter testemunhado a criação do mundo, que foi devastado por uma guerra dos deuses e, por fim, renasceu. Ou mesmo de ter liderado legiões em uma guerra que já dura desde o início dos tempos; sequer se recorda que uma vez cavalgara nas costas de um dragão com seu pai. Tudo o que ele sabe é que acordou em um caixão dentro de um mausoléu, ouvindo vozes em sua cabeça. Agora, o mundo inteiro acredita que ele é a esperança, o salvador.

EVOLVED PUBLISHING APRESENTA uma épica aventura fantástica que se estende por milênios, ambientada em um mundo cheio de forças mágicas e obscuras, onde criaturas e lendas ganham vida. (Ótimo para os leitores de 15 e acima).

Elogios ao Enxame de Sombra:
"Enxame de Sombra me absorveu…” ~ Michelle Isenhoff

"Ótima aventura e ação!" ~ AllisonBurres

"É extremamente poético, algo que não vi em nenhum outro livro que li" ~ Tara Lee

"D. tem um jeito de contar uma história envolvente desde o momento em que você começa a ler." ~ LizzieBeth

"Enxame de Sombra é um romance que vai além de tocar a superfície da fantasia, levando o leitor a um novo nível de ficção.” ~ Lois Ann

Entrevista com o autor:
E: O que fez você querer escrever romances de fantasia épicos?

A: Eu cresci com essas histórias: J.R.R. Tolkien, Stephen R. Donaldson, Roger Zelazny ... Poderia continuar e continuar, mas foi esse tipo de fantasia épica com dragões e mundos fantásticos que encheram minha imaginação quando criança. Então a questão é mais como eu não poderia escrever uma fantasia épica?

E: Você considera o Enxame de Sombra um épico do tipo Sword & Sorcery?

A: Certamente há elementos de espada e feitiçaria no romance. Com grandes batalhas e magia, eu coloquei tudo o que eu amo nessa história. Eu também trabalhei para criar um mundo com uma história rica, maquinações políticas e criaturas fantásticas de todo tipo. Mais uma vez, isso é o que eu amo. O Enxame de Sombra também é limpo, sem a linguagem imprópria e o sexo encontrados em muitos livros hoje em dia, por isso pode ser um ótimo livro épico de fantasia para os adolescentes lerem também.

Livros por D. Robert Pease:

  • Enslaved (Exodus Chronicles – Book 1)
  • Red Sea (Exodus Chronicles – Book 2) – Coming 2020
  • Promised Land (Exodus Chronicles – Book 3) – Coming 2021
  • Noah Zarc: Mammoth Trouble (Book 1)
  • Noah Zarc: Cataclysm (Book 2)
  • Noah Zarc: Declaration (Book 3)
  • Noah Zarc: Omnibus (Special Edition)
  • Enxame de Sombra/Shadow Swarm
  • Dream Warriors (Joey Cola – Book 1)
  • Cleopatra Rising (Joey Cola – Book 2) – Coming 2020
IdiomaPortuguês
Data de lançamento16 de mai. de 2019
ISBN9781393794875
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    Enxame de Sombra - D. Robert Pease

    Direitos Autorais

    www.EvolvedPub.com

    ~~~

    ENXAME DE SOMBRA

    Direitos Autorais © 2014 D. Robert Pease

    Design da capa por D. Robert Pease D. Robert Pease

    Mapas interiores e ilustrações de D. Robert Pease

    ~~~

    Editora: Marissa van Uden

    Editor Sênior: Lane Diamond

    Designer de Interiores: Lane Diamond

    Tradutora: Daniela Toledo

    ~~~

    Notas de Licença de eBook:

    Você não pode usar, reproduzir ou transmitir de qualquer maneira qualquer parte deste livro sem permissão expressa por escrito, exceto em casos de breves citações usadas em críticas e resenhas, ou de acordo com as leis de Uso Justo dos EUA. Todos os direitos reservados.

    Este eBook é licenciado somente para uso pessoal; ele não pode ser revendido nem dado a outras pessoas. Caso queira compartilhar este livro com alguém, adquira uma cópia adicional para cada pessoa. Se tiver este livro sem tê-lo comprado, ou se ele não foi adquirido apenas para seu uso, devolva ao vendedor do eBook e adquira sua própria cópia. Obrigada por respeitar o árduo trabalho deste autor.

    ~~~

    Declaração:

    Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, locais e incidentes são frutos da imaginação do autor ou o autor os utilizou de forma fictícia.

    Livros por D. Robert Pease em Inglês

    YOUNG ADULT SCIENCE FICTION (Suitable for Readers Aged 11+)

    Noah Zarc Trilogy

    Book 1: Noah Zarc: Mammoth Trouble

    Book 2: Noah Zarc: Cataclysm

    Book 3: Noah Zarc: Declaration

    Special Edition: Noah Zarc: Omnibus/Boxed Set

    Prequel Short Story: Noah Zarc: Roswell Incident

    ~~~

    SCIENCE FICTION (Suitable for Readers Aged 13+)

    Exodus Chronicles

    Book 1: Enslaved

    Book 2: Red Sea (Coming Soon)

    Book 3: Promised Land (Coming Soon)

    ~~~

    YOUNG ADULT URBAN FANTASY (Suitable for Readers Aged 13+)

    Joey Cola Series

    Book 1: Dream Warriors

    Book 2: Cleopatra Rising (Coming Soon)

    ~~~

    EPIC FANTASY

    Shadow Swarm

    ~~~

    www.DRobertPease.com

    Índice

    Direitos Autorais

    Livros por D. Robert Pease

    Índice

    Dedicatória

    Uma Nota do Autor

    ENXAME DE SOMBRA

    Mapa 1

    Capítulo 1 – Nascimento

    Mapa 2

    Capítulo 2 – Apresentação

    Capítulo 3 – Fuga

    Capítulo 4 – Murais e Memórias

    Capítulo 5 – Waljan Jyn

    Capítulo 6 – Montanhas das Sombras

    Capítulo 7 – Os Sa’Lavian

    Capítulo 8 – Casamento

    Capítulo 9 – Pedras da Visão

    Capítulo 10 – Conselho de Guerra

    Capítulo 11 – Caminhos Separados

    Capítulo 12 – Refúgio

    Capítulo 13 – Anwalrah Dominah

    Capítulo 14 – A Filha de um Rei

    Capítulo 15 – Bruinthore

    Capítulo 16 – Cavaleiros Proibidos

    Capítulo 17 – Salões de Âmbar

    Capítulo 18 – A Voz de Threim-Zhure

    Capítulo 19 – BaramZhore

    Capítulo 20 – Casa da Lua Silenciosa

    Capítulo 21 – A Queda do Rei

    Capítulo 22 – Oeste

    Capítulo 23 – Presas de Necros

    Capítulo 24 – Malevonar

    Capítulo 25 – O Poder de Aerodore

    Capítulo 26 – Sobre o Trono

    Capítulo 27 – Conflito Final

    Capítulo 28 – Despedida

    Nomes e Termos

    Agradecimentos

    Sobre o Autor

    Mais da Evolved Publishing

    Dedicatória

    Para Dave, que sussurra para minha alma aos domingos da grande história épica.

    Uma Nota do Autor

    Querido leitor,

    você encontrará, logo ao final da história, uma seção chamada Nomes e Termos. Dada à vasta gama de personagens (e a difícil pronúncia de alguns nomes) e todo o novo mundo que você está prestes a desbravar, acredito que a seção possa ser um recurso útil.

    Além disso, incluímos um link para a seção Nomes e Termos no final de cada capítulo, para que não seja necessário procurá-lo, caso precise.

    Divirta-se,

    D. Robert Pease.

    Capítulo 1 – Nascimento

    Óleo ardente e carnes cozidas mal conseguiam mascarar o cheiro acre da morte. Sua língua inchada provou a poeira espessa nos lábios rachados. A pedra áspera cavou em suas costas quando ele abriu os olhos e jogou as mãos para protegê-los. Poeira ondulava em torno de seus dedos quase esqueléticos, que brilhavam em vermelho contra a luz abrasadora.

    O fedor da morte ficou mais forte. Ele lutou para se mexer, mas suas pernas estavam rígidas, os ombros emperrados na pedra. O suor escorria da testa naquele espaço estreito, enquanto ele chutava as pernas e se agarrava em direção à luz.

    Esforçou-se contra as bordas da caixa e se levantou em direção ao brilho avermelhado. Pontos cinzentos dançaram em sua visão, sua cabeça girou e quase o fez desmaiar. Por fim, a sala se firmou.

    Sentou-se sobre a caixa de granito em uma plataforma elevada ao final de uma longa e estreita câmara. Sarcófagos de pedra revestiam ambos os lados daquele salão. Um calafrio percorreu sua pele.

    Despertei em um túmulo.

    Sua mente acelerou quando o suor fresco rolou pela testa encardida até alcançar os olhos. Visões tenebrosas de rostos encheram sua mente — faces o rodeavam — grandes olhos pálidos observando, sempre observando. A necessidade de sair do caixão o dominou.

    Reunindo forças, ele levantou a perna para o lado e pisou no chão. Um lençol de linho empoeirado caiu de seu corpo, e o ar frio fez cócegas na carne nua. Sentiu um toque em seu peito. Um amuleto delicado pendia de um fino fio de ouro — um dragão e um leão presos em um combate mortal. Entre as feras repousava um límpido e intacto diamante.

    Lâmpadas em suportes dourados tingiam a câmara com uma luz morna, fileiras de colunas sustentavam o teto perdido na escuridão acima.

    A dor aguda torceu seu estômago vazio. Quanto tempo se passou desde que comi?

    O aroma de comida ali perto o atraiu até uma alcova luminosa a poucos metros do lugar em que se encontrava. Suas pernas se dobraram quando ele cambaleou em direção a um caixão em frente ao dele. Seu toque foi saudado pela pedra, intrinsicamente esculpida na forma de túnicas e pés calçados com botas. O tampo do sarcófago tinha a aparência de um guerreiro, com uma espada cruzada sobre o peito. Um nome lhe veio: Vuzhex Mqueg. Esforçou-se para lembrar.

    Um rico mural cobria a parede acima, no qual Vuzhex Mqueg era retratado com uma espada reluzente erguida em direção a um céu coberto pelo fogo rubro e uma fumaça negra.

    Eu a nomeio Loequazh Thabo, Perdição da Morte. Memórias corroídas na borda de sua mente.

    Colunas de cada lado do mural, esculpidas à semelhança de majestosos carvalhos, elevavam-se em direção ao teto e se entrelaçavam aos ramos dos pilares da parede oposta. Ele reparou que não havia afrescos sobre seu próprio caixão.

    Como cheguei a ser sepultado com pessoas como essas? Observou a riqueza para além de sua monótona caixa de pedra. Era evidente que ele não pertencia àquele lugar.

    Cambaleou em direção à luz bruxuleante da alcova.

    O fogo ardia em uma lareira na extremidade de uma pequena câmara à parte da principal. No centro, quase preenchendo completamente o salão, havia uma mesa de cerejeira polida e cercada por dez cadeiras, com as costas entalhadas na forma de asas de dragões. Pratos e taças incrustados de joias estavam prontos para convidados invisíveis, junto com grandes travessas e tigelas de sopas, carnes, queijos, legumes e pães duros.

    Sua mente se encheu de surpresa pela refeição sumptuosa, mas seu estômago clamou por uma ação. Andou até a cadeira mais próxima e sentou-se. Utensílios finos jaziam de cada lado dos pratos, no entanto ele dilacerou a comida sem considerar as boas maneiras, esperando que quem preparara o banquete não se importaria com o sacrilégio. Devorou grandes pedaços de carne e pão, seguido por goles frenéticos de uma bebida quente e doce, encontrada em uma jarra prateada elegantemente gravada. Quando não conseguiu mais comer, recostou-se na cadeira. Seu corpo tremeu quando ele olhou ao redor. Estava em uma tumba, sem ideia de como havia chegado ali, ou mesmo de como sair.

    Onde estou? Estou morto? Fui condenado a passar toda a eternidade vagando neste mausoléu, sendo alimentado por seres invisíveis? 

    Não havia portas nas paredes apaineladas. Ele se levantou e descobriu uma força a mais, o suficiente para andar com mais confiança. Pensar que seu corpo havia se tornado tão fraco...

    Houve um tempo em que liderei legiões em batalhas. Este pensamento o deteve, fazendo-o apoiar o peso em uma cadeira. Ele também era um guerreiro? Esforçou-se para lembrar, mas uma névoa envolvia sua mente.

    Deixou a alcova e passou por uma bacia de pedra com água fria. Após lavar o rosto, olhou para o sarcófago à frente. Novamente, um soldado real estava deitado em repouso, com a mesma espada, Loequazh Thabo, cruzada em seu peito. No entanto, nenhum nome para aquele guerreiro lhe veio à mente.

    Seu olhar se lançou sobre o afresco atrás.

    Tons púrpuras e rubros definiam uma cena pintada a partir dos momentos finais de uma terrível batalha. Um vasto exército de armaduras vermelhas polidas cercava uma colina entrincheirada. Homens caídos e mutilados jaziam em pilhas por todo lado, enquanto o exército vil insultava sua presa. O fogo preencheu o céu e, no cume, uma mão de pedra arcaica ergueu o corpo despedaçado de uma mulher em uma túnica branca esfarrapada. Na frente da mulher, a sombra de um homem segurava uma espada ensanguentada; a esperança havia se desvanecido. No entanto, a figura permaneceu de pé, firme, com a lâmina erguida.

    Ele escutou uma voz que parecia ter sido trazida por um forte vento. Desespero não combina com você. Entregue-se agora e reze por clemência.

    Cambaleou para trás, afastando-se do afresco.

    Eu não vou permitir que você a tenha. Seus olhos saltaram para a figura da mulher, despedaçada e ensanguentada, que jazia na mão de pedra. Lágrimas borraram sua visão. Por que ela me afeta tanto assim?

    Cravou as unhas na própria cabeça, tentando se lembrar, mas a névoa ainda pairava em sua mente. Caiu no chão e embalou o rosto nas mãos, e a voz em seus pensamentos se desvaneceu. 

    Naquele momento, seu estômago começou a murmurar, ele não deveria ter comido tão rápido. Em instantes, suas entranhas se contorceram de dor. Levantou-se e cambaleou até a bacia de pedra. Mergulhar o rosto naquela água gelada não foi o suficiente para limpar o suor que lhe escorria pela testa, enquanto seu corpo tremia pela friagem daquele salão. A bile subiu na garganta e ele vomitou na tigela. A sala se turvou ao redor dele, enquanto seus membros formigavam e ficavam pesados. 

    Ele desabou no chão, sentindo a pedra fria antes de tudo ficar escuro.

    ***

    Quando acordou, visões e vozes dançaram em seus pensamentos. Percebeu então que não mais tremia.

    Um travesseiro macio sustentava sua cabeça e um cobertor perfumado o cobria. Roupas ricas em roxo e de um verde em tons florestais estavam ordenadamente dobradas e perto da bacia de pedra, junto com um par de sapatos de couro macio e finamente trabalhado. Ele se sentou, pegou os trajes e, mais uma vez, sentiu o aroma celestial.

    Outra refeição? Quem está cuidando de mim?

    Vestiu-se, percebendo que tudo, incluindo os sapatos, encaixava-se perfeitamente em seu corpo magro, e observou a mesa. No lugar de louças sujas, havia pratos e tigelas limpas. Uma refeição fumegante o atraiu para o salão mais uma vez. Desta vez, a comida consistia em frutas, ovos e carnes, bem como pães torrados e sucos. Foi até a mesa e, sendo mais cauteloso, comeu principalmente as frutas.

    Depois de saciar-se, ele se lavou na bacia, agora cheia de água limpa. Novamente, explorou o salão e não encontrou portas, nenhuma entrada ou saída do mausoléu. Supondo que deveria haver uma entrada escondida, ele correu as mãos pela parede, procurando rachaduras ou linhas que indicassem uma abertura. Não encontrou nada.

    Um estrado elevado, encimado por um trono esculpido no mesmo granito dos sarcófagos, preenchia a extremidade do mausoléu. Estéril e abandonado, como se esperasse pelo retorno de seu dono para um repouso.

    Próximo ao trono estava um altar de pedra que continha uma espada cintilante de filigrana, Loequazh Thabo — a própria espada representada em várias pinturas e entalhada no peito de muitos dos habitantes da tumba. Com cuidado, ele acariciou a lâmina de aço e o pomo primorosamente trabalhado.

    Vim para ver sua obra.

    Ecos de uma voz antiga reverberaram em seu crânio. Ele se virou e olhou a parede atrás do trono.

    Um afresco de beleza surpreendente pairava a dez metros no ar. Representava uma figura fundamental, muitas vezes maior que a própria vida, contra um céu repleto de estrelas, omitindo uma rica e verde paisagem pastoral. Os animais salteavam em devaneio, enquanto as plantas e as árvores, cheias de frutas, tornavam o mundo abundante e vivo. Homens e mulheres de várias raças se uniam em debates e tudo parecia estar em paz.

    A imagem de uma mulher, que encarava um ponto distante, chamou sua atenção. O medo cobriu seu rosto. Ele seguiu a linha do olhar dela até um menino, de três ou quatro anos, que estava agachado no canto inferior esquerdo, com a mão esticada na direção de uma escuridão esfumaçada. A princípio, parecia que a pintura havia sido danificada, mas, em uma inspeção mais aprofundada, ficou evidente que aquilo fazia parte do trabalho. Uma fumaça vermelha e escura fervia no canto, com tentáculos que se estendiam para puxar a mão da criança. Criaturas com expressões repletas de ódio perscrutavam da escuridão.

    Em sua mente, ele gritou para a criança: "Fuja! Por que a mãe não faz nada?". Ergueu os olhos para a figura nas estrelas, cujo olhar percorria toda a criação até o menino. Uma única lágrima corria pelo rosto daquela grandiosa presença.

    Nenhuma voz saudou seus pensamentos enquanto ele estudava a pintura, então ele se virou para considerar as fileiras de sarcófagos — nove no total, incluindo o seu próprio. Deixou o tablado e se moveu entre os caixões de pedra. Todos portavam homens, com a exceção de um que retratava uma figura régia, esculpida e delineada por um longo vestido esvoaçante. Todos os túmulos estavam diante de um mural pintado na parede atrás. Após um tempo, uma história começou a emergir — uma guerra que atravessou gerações. Mais de uma vez, ele se viu levado às lágrimas pelos atos heroicos ali retratados e retribuídos apenas com sangue e morte.

    Quem foram essas pessoas? Quais eram seus nomes? Este pensamento o fez parar. Qual é o meu nome?

    Parou, sentou-se no chão com as costas contra uma árvore de pedra e fechou os olhos enquanto tentava se lembrar em vão. Quem sou eu? Qual é o meu nome?

    Nenhuma voz veio a ele.

    Procurou pela sala, desesperado por pistas de sua identidade. Escrituras em vários idiomas adornavam tudo: os lados dos sarcófagos, as paredes e até o chão. Para sua surpresa, ele era capaz de lê-las.

    Olhou ao redor do mausoléu, inquietando-se por uma resposta para os enigmas sussurrados em sua mente. Entalhada na base de um sarcófago à sua frente, uma inscrição:

    ~~~

    Jafnethox defog adthaom mesgabasaeth thupo~ hegu-quosquauf~ eneafmiquo lomquegisquauf efle goviagol zhufuigo.

    O idioma era Alto Aerodore e traduzia-se na língua comum:

    Ser rei não significa dominação e submissão forçadas, mas ternura, compaixão e dever de proteger a todos, até mesmo a mais humilde das pessoas.

    ~~~

    Parecia que aquelas pessoas conservadas ali em tamanha magnificência eram de sangue real, mas, certamente, ele próprio não fazia parte da realeza. O fato de seu caixão ser simples lhe comprovou aquele fato.

    Então por que estou aqui? Quem sou eu?

    Levantou-se e perscrutou os arredores, certo de que deveria haver uma resposta. Por fim, percebeu um nome entalhado em pequenas runas bem acima da cabeça do guerreiro mais próximo dele — Zhuquaif Mqueg. Virou-se e notou outro nome no caixão que continha a mulher — Ellabeth Nauile. Caminhou até o próprio caixão, passando por outro sarcófago — Aerazhire Nauile. Começou a correr. Heulfryne Nauile. Alcançou seu singelo caixão de pedra e procurou freneticamente pelo granito, passando os dedos pela superfície.

    Estava sem marca.

    Desabou no chão, a cabeça entre as mãos. Quem sou eu? Implorou para as vozes em sua mente: Digam-me algo útil! O eco de suas palavras desvaneceu-se em silêncio.

    Depois de um tempo, os efeitos de seu esforço começaram a cobrar seu preço. Pegou os cobertores e travesseiro e deitou-se ao lado de seu caixão. Nomes dançaram em sua mente. Ellabeth Nauile, Aerazhire Nauile, Heulfryne Nauile. O último fez sua memória remexer, mas quanto mais ele combatia a sensação, percebia que o nome não lhe acrescentava nenhum significado a mais naquele momento.

    Por fim, adormeceu, vozes atraindo-o para sanidade.

    ***

    Um som suave o fez despertar. Abriu os olhos, em uma mera fenda, para tentar vislumbrar a pessoa que cuidava dele.

    O salão havia ficado escuro, um vulto aproximou-se e organizou uma muda de roupas limpas no chão. O abundante cheiro de comida lhe dizia que uma nova refeição já havia sido colocada à mesa.

    Por sobre a fileira de caixões, ele vislumbrou a luz vinda de uma porta aberta, anteriormente escondida, perto do trono. Um forte desejo o convidava a escapar daquele lugar. Não era o medo do vulto, mas um anseio desesperado de descobrir o que havia além das paredes do mausoléu.

    Seria impedido se tentasse escapar?

    A figura voltou-se novamente para a luz.

    Em poucos instantes, o salão se iluminou quando as lamparinas foram acesas. A pessoa que o fizera parecia pequena, apenas dois terços do tamanho dele, e trajava uma túnica grossa com um capuz preto. Estava com as costas voltadas para ele; era hora de agir. 

    Ele ficou de pé e correu em direção à porta aberta. Quase alcançou a saída quando ouviu um sobressalto atrás de si. Não parou e apressou-se pela porta, entrando em um corredor empoeirado.

    Um apelo estridente soou no mausoléu:

    —  Espere! Você não está pronto!

    No entanto, ele não parou.

    Ao final de um breve corredor, uma escada ascendia em espiral. Tochas crepitantes revestiam a parede a cada dez passos.

    — Você não entende. Estou aqui para ajudar. — Novamente, a voz gritou, insistente, mas não havia nela sinais de ameaça.

    Apressou-se pela escada, saltando dois degraus ao subir, e o som frenético de sandálias batendo contra as pedras veio logo atrás. Após centenas de passos, ele alcançou uma porta fechada. Ele mal diminuiu a velocidade ao investir-se contra a madeira revestida de ferro rígido. A porta se abriu e ele cambaleou para dentro de um salão cheio de pessoas que trajavam túnicas pretas.

    Cada homem, mulher e criança no salão voltou sua atenção para ele, e o que havia sido uma discussão acalorada, um segundo antes, transformou-se em silêncio. Ele congelou por um momento, sentindo os ouvidos reverberarem. Era evidente que ali acontecia uma celebração, indicada pelas mesas, abarrotadas de comida, que se alinhavam próximas às paredes.

    Lançou seu olhar ao redor e andou até o centro da sala, onde um animal era assado em um espeto. Por cima do ombro, ele teve um vislumbre de seu perseguidor, que havia entrado no salão atrás dele. Tratava-se de uma menina, com o rosto corado pela corrida. Enquanto ele caminhava, a multidão se separou, baixando os olhos para o chão. 

    Ele se aproximou do fogo e virou para examiner o salão.

    A multidão ficou surpresa com a aproximação. Os muitos rostos irradiavam admiração. Apenas o som da pesada respiração dele preenchia o salão.

    Finalmente, quando ele teve fôlego para falar, fez a pergunta que o assombrara:

    —  Qual é o meu nome?

    Todos na sala se viraram para um lado e pousaram o olhar em uma figura encurvada a alguns passos à esquerda dele. Os mais próximos a ele se afastaram e abriram caminho quando um velho se adiantou, mancando. Surpresa atravessou os olhos do ancião.

    —Você não sabe? — O idoso respirou fundo ao ganhar compostura. — Seu nome lhe foi dado por seu pai, nos degraus do lado de fora destes mesmos salões, no Ano do Reconhecimento de 3640. Ser reconhecido por seu nome é a maior honra entre todos os homens. Em seu nome, as nações se ascedem em seu auxílio e os inimigos se estremecem.

    O velho virou-se para a multidão expectante e sorriu.

    — Alegrem-se, pois ele veio a nós. Alegrem-se e jurem lealdade ao rei: Aberthol Nauile, filho de Heulfryne Nauile, portador do poder de Aerodore, herdeiro legítimo do trono e senhor de toda Nuadaim. 

    As figuras de manto preto caíram em reverência no chão.

    ~~~

    Link para a seção de Nomes e Termos

    Capítulo 2 – Apresentação

    Ao ouvir seu nome, um grande peso deixou seu peito. Sim, Aberthol Nauile parece o nome correto, mas... Ele levantou as mãos em protesto.

    — Eu não sou rei.

    Os adoradores, assustados, olhavam para ele em confusão.

    — Os reis são... — Ele lutou para encontrar as palavras certas. — Os reis são mais nobres, mais fortes do que eu jamais poderia ser. Deve haver algum engano. — Aberthol procurou alguém para concordar, mas ninguém se mexeu. — Eu vi reis poderosos estampados nos murais do mausoléu... — Começou a se mover em direção à porta que levava à sua cripta, enquanto murmurava para si mesmo: Nunca poderia me igualar aos homem que vi lá.

    O velho a seu lado estendeu a mão rugosa e tocou a borda de sua túnica.

    — Por favor, sua confusão me intriga, mas eu lhe asseguro, o senhor é realmente rei. —O ancião ficou de pé e acenou para todos os outros fazerem o mesmo. — Meu nome é Illiam, líder dos neglafem, guardiões do herdeiro. Talvez devêssemos nos sentar. Vou contar ao senhor qualquer coisa que queira saber. Está com fome? — Moveu-se em direção a uma mesa, sem esperar pela resposta de Aberthol.

    Aberthol o seguiu, enquanto todos no salão observavam cada movimento seu.

    Como se lembrasse de algum dever, Illiam se virou e gritou para os presentes:

    —Alegrem-se, este é um dia de celebração, esperado por gerações!

    O salão explodiu em gritos quando todos falaram ao mesmo tempo.

    O velho pediu a Aberthol que se sentasse em uma grande cadeira acolchoada, que não parecia combinar com a mesa grosseira de madeira. Illiam sentou-se à frente dele.

    Uma jovem o seguiu e permaneceu por perto — sua perseguidora, sua zeladora. Ela lhe destinou um sorriso rápido.

    Illiam percorreu a mesa com o olhar, as pupilas negras como carvão sob as espessas sobrancelhas grisalhas.

    — Estávamos no meio de uma celebração que marca seu nascimento. — Por um longo momento, o velho observou Aberthol e então percebeu a presença da menina. — Peço desculpas pela falta de compostura. Esta é a minha neta, Elise. — Virou-se para ela e disse: — Por favor, traga-nos comida e bebida. Tenho certeza de que o rei tem muitas perguntas.

    Após uma rápida reverência, ela desapareceu apressadamente.

    Illiam não tirou os olhos de Aberthol, que começou a ficar desconfortável sob aquele olhar. Por fim, o velho disse:

    — Devo confessar que o senhor me surpreende. Esperei a vida inteira pelo seu nascimento, e aqui está o senhor, mas não como eu esperava.

    Aberthol lutou para organizar as palavras nos pensamentos que giravam em sua cabeça.

    — Mais uma vez devo me desculpar — disse Illiam. — O senhor nos pegou de surpresa, invadindo o salão daquele jeito. Estava me preparando para ir até o senhor neste dia, ajudá-lo a entender melhor o seu lugar nas histórias de Nuadaim.

    Ele sorriu e Aberthol sentiu o calor daquele olhar. Este é um homem em quem posso confiar.

    — Se o senhor tiver alguma pergunta imediata, por favor, diga — pediu Illiam. —Farei o melhor que puder para responder. No entanto, por causa da sua partida antecipada do Santuário, não poderemos conversar por muito tempo. Após a Apresentação, teremos muito tempo.

    Aberthol refletiu por um momento, depois se inclinou para frente e falou em um sussurro, sem saber se estava preparado para a resposta.

    — Você disse que esperou pelo meu nascimento. Quantos anos eu tenho?

    O rosto de Illiam se ampliou em um sorriso caloroso.

    — Uma simples e excelente pergunta, mas que não se traduz em uma resposta tão simples. — Inclinou-se para frente, espelhando a postura expectante de Aberthol. — O senhor é, ao mesmo tempo, recém-nascido e um homem maduro. Pode-se dizer que quando o senhor acordou em seu túmulo, o senhor renasceu. Portanto, é um bebê. No entanto, o nascimento desde o ventre de sua mãe ocorreu há trezentos e vinte e sete anos, considerando como nós, a raça humana, marcamos o tempo.

    Aberthol se assustou e observou o idoso.

    — Mas como? Não entendo. Como posso ser tão jovem e extremamente velho? Eu não me sinto como nenhum dos dois.

    Illiam sorriu e levantou a mão. 

    — Certamente, isso não é estranho para o senhor, seu conhecimento está além da minha compreensão. Estou aqui apenas para ajudá-lo e orientá-lo no presente.

    Aberthol o fitou, perplexo. Meu conhecimento? Não me lembro de nada.

    Neste instante, a moça, Elise, voltou com uma bandeja de comida e duas canecas grandes de cerveja escura. Dois jovens neglafem a seguiram e ficaram em pé atrás de Illiam. Elise depositou a refeição, primeiro diante de Aberthol, depois de Illiam. Em seguida, arrumou a mesa e sentou-se aos pés do avô.

    Aberthol sorriu para ela, e o aroma do pão quente e legumes cozidos no vapor fazia seu estômago rocar. Ele comeu enquanto lutava com as palavras de Illiam. No entanto, por mais que tentasse, não conseguia compreender o conceito de ter séculos de idade e, ainda sim, ser um recém-nascido.

    Ele fixou seu olhar em Elise. Embora pequena, ela não era uma criança como ele inicialmente pensara. Ela parecia estar em seus vinte e poucos anos, ou um pouco mais nova. Com certeza, tenho mais ou menos a idade dela.

    Elise sorriu quando percebeu que ele a observava e rapidamente desviou o olhar, suas bochechas ruborizadas.

    Aberthol se virou para Illiam. Ao me comparar com aquele idoso, sinto-me mais como um bebê do que um homem maduro.

    O líder, concentrado em sua comida ou, mais precisamente, em sua bebida, não percebeu quando Aberthol estudou a sala. Todos falavam em conjunto, cobrindo o salão com barulho. Havia homens e mulheres de várias idades, até algumas crianças, mas novamente Aberthol se sentia mais jovem que a maioria ali presente.

    Como eu poderia ter séculos de idade e, ao mesmo tempo, ser um recém-nascido?

    Illiam pousou a caneca e juntou as mãos à frente, os cotovelos apoiados na mesa.

    — Na quietude do meu quarto à noite, supliquei a Aquele Que É que me permitisse ver o senhor antes de eu morrer, e aqui o está o senhor. — Ele sorriu. — Eu nunca perdi a esperança, é claro, mas como o senhor pode ver, não me restam muitos anos. — O velho passou o olhar pela sala barulhenta. — Por favor, perdoe nosso entusiasmo. Nosso povo esperou muito tempo por este dia.

    — Você diz que eu sou um rei? Você diz que eu tenho mais de três séculos de vida? —Aberthol sacudiu a cabeça. — Eu não entendo. Deve haver algum tipo de engano.

    Illiam olhou para ele, seu sorriso se transformou em perplexidade.

    — Mas certamente o senhor entende o significado de tudo isso, pois assim está escrito: O rei dará respostas aos maiores mistérios da vida. Sua mente deve estar inundada com a história. O senhor presenciou a história. O senhor criou um legado.

    — Eu não... não fiz nada disso! —disparou Aberthol.

    Por um longo momento, Illiam olhou para ele.

    — Deve haver algum tipo de desorientação, algo que não está escrito nos pergaminhos. — O velho sorriu mais uma vez. — Não tema. Nós nos preparamos por séculos, e vamos ajudá-lo a lembrar. Esta noite, eu o levarei de volta ao mausoléu do seu nascimento. Lá o saber de Nuadaim é retratado nas pinturas.

    Ele se levantou e olhou Aberthol diretamente nos olhos.

    — Um novo legado começará. As súplicas de Nuadaim finalmente foram atendidas. —Illiam apontou para os dois homens atrás dele. — Por enquanto, lorde Aberthol, se me permitir, o senhor deve se preparar para a Apresentação. Está escrito: O rei deverá ser apresentado ao seu povo, ao meio-dia, logo após sua vinda. Ele se virou e falou com o jovem neglafem. — Por favor, ajude o rei a se preparar.

    Aberthol, desorientado e inseguro, permitiu que o neglafem o escoltasse para for a do salão.

    Elise se aproximou e caminhou ao lado dele.

    — Não tenha medo, Sua Majestade, meu povo tem se preparado para a sua vinda desde antes do nascimento do avô do meu bisavô. —Ela sorriu novamente, tranquilizando-o um pouco.

    Enquanto caminhavam, Elise falou animadamente sobre o significado do dia.

    Aberthol a estudou. Houve momentos em que ela parecia se esquecer de que estava na presença de um rei, agindo de forma bastante afável e relaxada. Aberthol achou aquilo cativante. Ele já se cansara do modo como os demais o tratavam, olhando-o com uma mistura de reverência e temor. Um respingo de sardas delineava a ponte do nariz dela, o que a fazia parecer mais jovem do que realmente era. Seus olhos, um verde deslumbrante com um lampejo de malícia, olhavam para ele através da capa protetora de seus longos cílios.

    — Estou falando muito, Sua Majestade. Peço desculpas. Este é um dia muito esperado para o nosso povo.

    — Por favor, não precisa se desculpar. — Aberthol sentiu uma pontada de culpa ao perceber que não ouvira nada das últimas palavras dela. — Estou gostando da sua companhia.

    A ponte do nariz dela franziu quando sorriu, e ela continuou:

    — Nós já estamos quase no salão onde o senhor será preparado. Então a Apresentação do nosso novo rei vai acontecer. Eu mesma desejei a minha vida inteira por este dia. Finalmente vou contemplar as maravilhas do mundo lá fora.

    Aberthol, cativado pelos gestos dela, de repente registrou o que ela dissera.

    — Você nunca se aventurou fora daqui?

    Há tanta beleza nas terras exteriores.

    — Oh não. — Elise ficou séria. — Os neglafem estão proibidos de deixar as Câmaras de Espera. Nossa completa devoção é necessária. Dedicamo-nos ao cuidado e proteção do rei, até que o tempo de acolhê-lo chegue ao fim. Ninguém no salão que acabamos de deixar, nem qualquer outro neglafem, nesses três séculos, teve contato com o mundo fora destes corredores.

    Aberthol ficou assombrado novamente.

    — Na verdade — continuou Elise —, está escrito que rei será o primeiro a entrar nas terras exteriores do nosso povo. Sinais foram dados, assim os que estão do lado de fora, que também ficaram sabendo que o senhor estava chegando, vão saber que o senhor despertou. Mas estamos proibidos de falar desses assuntos até que sua Apresentação seja concluída.

    Os dois jovens pararam quando alcançaram um par de portas reluzentes e entalhadas em ouro.

    — Aqui eu me despeço até a Apresentação. — Elise se voltou para Aberthol. — Fui honrada pelo líder com uma pequena parte da cerimônia. — Ela fez uma reverência e caminhou de volta pelo corredor de onde tinham vindo.

    Aberthol seguiu sua forma delicada com os olhos.

    Os dois neglafem abriram as portas e cada qual ficou de um dos lados enquanto acenavam para Aberthol entrar.

    Ele entrou em um espaço luxuoso. Ricos tecidos púrpuras cobriam as paredes e o chão reluzia em mármore branco polido.

    Os jovens fecharam as portas e um deles mostrou a Aberthol a passagem para fora do quarto principal. Vapor se expandia no ar.

    — Por favor, Sua Majestade, um banho foi preparado para o senhor. Entre e descanse.

    — Somos escudeiros do rei — pronunciou o outro. — Meu nome é Erbin e este é Celdar. Se o senhor precisar de alguma coisa, não hesite em pedir.

    Aberthol agradeceu e entrou no quarto de banho. Aliviou-se em uma privada e então se acomodou na piscina fumegante. A água quente fez muito para desatar a ansiedade de seus músculos. Os eventos das últimas horas se repetiram em sua mente. Ele obviamente não era o que Illiam esperava. De alguma forma, o velho pensou que Aberthol deveria saber quem era e conhecer as histórias de Nuadaim. Illiam falou como se...

    Como se eu fosse mais grandioso que um homem, algo mais grandioso até mesmo que um rei. Ele refletiu por um momento. Sim, ele e eu temos muito que conversar.

    Quando Aberthol terminou, os escudeiros ajudaram a aparar a barba e a dar aos cabelos emaranhados um acabamento muito necessário.

    A sala principal continha um grande espelho de corpo inteiro e, ao lado, havia um manequim adornado com uma cota de malha e ricas vestes. Erbin orientou Aberthol a ficar de frente para o espelho e, peça por peça, os escudeiros colocaram sobre ele o conjunto real. Eles o cobriram com uma corrente de ouro sobre os ombros. A cota de malha era muito mais leve do que aparentava. Em torno da cintura, Erbin afivelou um cinto com uma longa bainha incrustada de joias.

    Com isso, Celdar levantou uma urna dourada, com cerca de dois comprimentos do braço de um homem adulto, de uma mesa ao lado deles e, cuidadosamente, depositou-a aos pés de Aberthol. Erbin se ajoelhou com ele e cada um soltou um fecho em uníssono que abriu a caixa. O par alcançou o interior e ergueu uma espada cintilante — a própria lâmina do mausoléu.

    Aberthol ficou maravilhado com sua beleza e mais uma vez desejou tocá-la. Loequazh Thabo.

    Os escudeiros continuaram ajoelhados e seguraram o cabo da lâmina diante de Aberthol.

    Ele pegou a espada e segurou o pomo. Enxofre assaltou seus sentidos e sua visão ficou turva. Aberthol ouviu uma voz distante. Ele sabe que você está aqui.

    ***

    Diante dele, um homem subiu a encosta de uma montanha rochosa. Fumaça espesa saía de uma fenda ardente abaixo. Para além do brilho avermelhado, ondas batiam nas areias negras de uma praia.

    — Quem sabe que estou aqui? — perguntou Aberthol.

    — O Mestre das Trevas. Eu testemunhei sua aproximação.

    Aberthol reconheceu-o, Vuzhex Mqueg.

    — Eu... quem é você? —falou Vuzhex.

    — Se não sabe, quem sou eu para dizer?

    — Mas como você...?

    — Não há tempo para perguntas — disse Aberthol. — O inimigo se aproxima.

    Vuzhex olhou para além de Aberthol e seu rosto se cobriu de medo.

    A fumaça vermelha irritava os olhos de Aberthol enquanto rodopiava e se aderia na forma de um homem. Um fraco brilho branco delineou o vulto que os observava.

    Aberthol voltou-se para Vuzhex.

    — Você pode me conceder uma arma para nos defender?

    — Eu não tenho nada além da espada ao meu lado. — Vuzhex segurou uma espada recém-forjada diante dele. Não tinha empunhadura, a lâmina ainda não havia sido afiada.

    — Será o suficiente. —Aberthol pegou o metal quente das mãos dele.

    — Mas você não tem o direito — gritou Vuzhex.

    —Não há tempo. Observe. — Aberthol olhou para a figura acima.

    Diante deles estava um ser que Aberthol conhecia de alguma forma.

    — Vim para contemplar sua obra. — A ressonância profunda das palavras do vulto ecoou nos ouvidos de Aberthol. De uma só vez, ele reconheceu ali a voz de seu inimigo, Threim-Zhure.

    — Sou um admirador de obras primorosas da criação — A figura de branco falou com Vuzhex. — Por isso, quando tomei conhecimento de seus esforços, soube que deveria vir testemunhar. — Então ele se virou para Aberthol e estendeu a mão. — Posso?

    Por um momento, Aberthol foi compelido a atender ao pedido do inimigo. Ele percebeu que, dentro dos olhos de Vuzhex, havia o repentino desejo de ver Threim-Zhure com a lâmina em mãos.

    Então Aberthol se lembrou: não estou aqui. Ele riu.

    — Sua voz não tem poder sobre mim. — Vuzhex

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