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Nós dois contra o fim do mundo, de Nina Higgins
Nós dois contra o fim do mundo, de Nina Higgins
Nós dois contra o fim do mundo, de Nina Higgins
E-book436 páginas9 horas

Nós dois contra o fim do mundo, de Nina Higgins

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Sobre este e-book

Um livro brasileiro para quem gosta de boa literatura de língua portuguesa. Nós dois contra o fim do mundo, de Nina Higgins é um livro inédito, um romance em meio ao apocalipse, como pano de fundo, uma ficção científica alienígena. É uma aventura em distopia, um romance nada convencional entre um casal nada comum e em comum somente a vontade de viver.
Quando meteoros caíram na Terra e dizimaram grande parte da população, ninguém imaginava que a humanidade sobreviveria à outra queda, anos depois. Porém, nesse mundo já sofrido pelas modificações drásticas do clima dos meteoros, a última coisa que se esperava era que o planeta seria perfeito para a sobrevivência de alienígenas e que algumas pessoas seriam sublimadas por eles, vivendo escondidos entre nós. Anos se passaram até Nicole, uma mulher arisca e durona, sair do orfanato onde viveu sua infância e adolescência, dirigindo pelas áridas estradas entre as cidades que escolheu na sorte de seus dados, pronta para enfrentar sua rotina solitária em tempos sombrios. No entanto, após uma parada à procura de emprego, encontra um amigo da época de adolescência, a única pessoa que a fez se sentir única, especial e... e seu destino muda radicalmente! Ethan é um rapaz bonito, despreocupado e aventureiro, que dificilmente respeita as autoridades, mesmo que seja para seu próprio bem e, em meio ao reencontro, os dois são surpreendidos com o primeiro ataque alienígena, enquanto deflagravam fantasmas do passado. Agora, Nick e Ethan devem se unir para escapar dos aliens usando apenas os poucos recursos que dispõem para resistir. Dois corações tão singularmente opostos e repletos de fortes memórias poderiam lutar juntos contra o iminente fim do mundo? Sobreviver a um ataque alienígena é o objetivo. Sobreviver a eles mesmos é a questão.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento2 de jun. de 2021
ISBN9786588240007
Nós dois contra o fim do mundo, de Nina Higgins

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    Nós dois contra o fim do mundo, de Nina Higgins - Nina Higgins

    ©2020 by Editora Fross.

    Edited and published by Editora Fross.

    Razão Social: Antonio Carlos Frossard ME

    CNPJ: 32406462/0001-08

    www.edfross.com

    Brasil, 2020.

    Todos os direitos reservados à Editora Fross.

    Proibido a reprodução, distribuição, cópia, reedição e revenda sem consenso da Editora Fross

    Revisão: Luana Mercúrio

    Coordenação Editorial: Vitória Admore

    Capa e design: Mirella Santana (modelos de Neostock.com e de Depositphotos.com

    Leitoras beta: Maylah Menezes, Raissa Dias, Luana Mercúrio e Thais Falcão.

    R484

    HIGGINS,Nina.Nós dois contra o fim do mundo. Nova Friburgo – RJ, Brasil, Editora Fross, 2020. 1ª edição, 352 pags.

    ISBN: 9786588240007

    1. Literatura brasileira, 2 Distopia, 3.Fim do mundo, 4. Esferas, 5. Romance, 6. Alienígenas

    SUMÁRIO

    CAPÍTULO 01

    CAPÍTULO 02

    CAPÍTULO 03

    CAPÍTULO 04

    CAPÍTULO 05

    CAPÍTULO 06

    CAPÍTULO 07

    CAPÍTULO 08

    CAPÍTULO 09

    CAPÍTULO 10

    CAPÍTULO 11

    CAPÍTULO 12

    CAPÍTULO 13

    CAPÍTULO 14

    CAPÍTULO 15

    CAPÍTULO 16

    CAPÍTULO 17

    CAPÍTULO 18

    CAPÍTULO 19

    CAPÍTULO 20

    CAPÍTULO 21

    CAPÍTULO 22

    CAPÍTULO 23

    CAPÍTULO 24

    CAPÍTULO 25

    CAPÍTULO 26

    CAPÍTULO 27

    CAPÍTULO 28

    CAPÍTULO 29

    CAPÍTULO 30

    CAPÍTULO 31

    CAPÍTULO 32

    CAPÍTULO 33

    CAPÍTULO 34

    CAPÍTULO 35

    CAPÍTULO 36

    CAPÍTULO 37

    CAPÍTULO 38

    CAPÍTULO 39

    CAPÍTULO 40

    CAPÍTULO 41

    CAPÍTULO 42

    CAPÍTULO 43

    CAPÍTULO 44

    CAPÍTULO 45

    CAPÍTULO 46

    CAPÍTULO 47

    CAPÍTULO 48

    CAPÍTULO 49

    CAPÍTULO 50

    CAPÍTULO 51

    CAPÍTULO 52

    EPÍLOGO

    Dedicatória:

    Dedico esse livro às amizades da época da escola. Por causa delas, aprendi a inventar histórias. Por causa delas, faço muito mais do que guardá-las na memória...

    Agradecimento:

    Este livro foi a realização de um sonho que, desde pequena, permeia minha imaginação. Histórias de amor sempre tiveram grande foco neste meu carinho imensurável pelos livros e, por isso mesmo, me senti repleta de inspirações e imaginações ao longo de sua escrita, principalmente quando uni ao meu fascínio pelas ficções científicas. E, nada disso seria possível sem as pessoas reais ao meu lado.... A vocês, meus amigos e familiares, meu agradecimento por toda jornada até aqui, à minha mãe, minha eterna companheira que me apoiou maravilhosamente neste projeto, como sempre... meu marido que sempre ri de minha fértil imaginação e alavanca mais ainda minha criatividade e meu pai que, lá das estrelas, continua a me mostrar o quanto esse universo é pequeno, quando os sonhos são grandes dentro de nós. E a você, leitor, obrigada pelo carinho dispensado nas horas em que se permitiu entrar no mundo de Nick e Ethan. Se eles existem, é porque alguém os lê.

    Prólogo

    Passei a marcha para quinta e acelerei mais ainda. A estrada à minha frente era uma reta sem fim e desgastante e eu já quase não sabia mais diferenciar poeira do asfalto de ar puro. O sol a pino esquentava o volante a ponto de minha garrafinha d’água já não ser mais o suficiente para refrescar minhas mãos e meu colo. Um urubu voava tão perto que interpretei aquilo como um presságio. Mau presságio, definitivamente. E eu não era de superstições.

    Eu já dirigia há dias e meu corpo parecia ter saído de uma máquina de moer carnes, não aguentava mais dormir dentro de minha caminhonete, as pernas flexionadas e o torso desconfortável. Precisava urgentemente de um banho e de uma cama. Não necessariamente nessa ordem.

    Liguei o rádio no volume mais alto que meus tímpanos poderiam suportar e tentei me tele transportar para a canção. Um trem-bala passou pelo meu campo de visão e virei apenas o canto do olho, acompanhando-o por segundos até aquela minhoca de metal gigante sumir no horizonte à minha frente. Rápido como apareceu, desapareceu.

    Aquilo era ridículo.

    Como as pessoas poderiam não apreciar mais uma boa e velha direção? Ter a sensação da velocidade sob seus pés e o poder de decidi-la a bel prazer? Cada vez mais, carros como os meus sumiam. Tudo era elétrico. Não era por menos que há dias eu não via um posto de gasolina. Praticamente obsoletos.

    Como eu.

    CAPÍTULO 01

    É cansativo olhar para os lados e a paisagem não mudar, não importa quantos quilômetros você avance pela estrada, tudo que meus olhos alcançam se resume a um horizonte árido e sem vida, mata baixa, capim seco, escombros e o azul infinito e inclemente do céu margeando essa visão.

    Quase não sinto mais meu pé no acelerador, quando, como um oásis em um maldito deserto, vislumbro um posto de gasolina alguns metros à minha frente. Ou, pelo menos, me parece um. Cruzo os dedos para que não esteja abandonado, dada a quantidade de entulhos à sua volta. Não que eu precisasse abastecer, tinha litros e mais litros de gasolina garantidos em minha carroceria, eu precisava era esticar as pernas e descansar um pouco em uma sombra qualquer. Talvez um refrigerante bem gelado, uma água no rosto e uns minutos para decidir se pego a estadual ou a federal.

    Ou se vou na sorte, como venho fazendo nos últimos meses.

    Sem destino, sem planos, apenas o enigmático rolar de meus dados. Números pares sempre definiam a direita, enquanto os ímpares indicavam seu oposto.

    Logo que paro o carro e sigo para a lojinha, dois caras sentados em umas latas grandes e velhas me encaram. Eles, com certeza, parecem mais sujos que eu. Estreito meus olhos de volta e firmo o rosto, mostrando que não estou para gracinhas de pseudomachões. Parece um pouco presunçoso de minha parte, mas só eu sei o quanto tive que lidar com brincadeirinhas de homens porcos nessa estrada, não podem ver uma mulher sozinha no volante que seus olhos, e outras coisas mais, crescem vertiginosamente para meu lado. Continuo meus passos firmes até alcançar a porta e meu semblante, encarando os dois de volta, mostra nitidamente que não devem se atrever comigo, eles que caçassem outra distração.

    Fecho a porta atrás de mim e um sininho ressoa naquele ambiente. Um homem, por detrás de um balcão, tira os olhos de sua televisão por segundos e me olha, voltando instantaneamente para o que estava fazendo, como se não houvesse uma cliente ali.

    — Banheiro — eu digo enquanto prendo meus cabelos a espera de sua resposta, que nada mais é que um movimento rápido e quase imperceptível para uma porta mais à minha esquerda. Não agradeço, certa que ele não merece muita educação, dada a hospitalidade que encontro ali.

    O banheiro mal parece ter sobrevivido a uma guerra química e meus olhos ardem no momento em que fecho a porta, mas há um espelho quebrado e uma pia que um dia deveria ter sido branca.

    Enfim, quem sou eu para desejar um pouco de higiene?

    Abro a torneira e, depois dela fazer um barulho oco e soltar uns jatos amarelados como urina, um filete de água desce preguiçosamente. Tenho que ficar com as mãos em concha por alguns segundos até juntar água suficiente para jogar em meu rosto e minha impaciência cresce de maneira desagradável dentro de mim.

    Preciso de um banho, céus, como eu preciso!

    Jogo a água novamente em meu rosto e repito o movimento em meu colo, braços e nuca, algumas vezes seguidas. A camiseta que uso, que era branca quando a vesti anteontem, estava creme e eu me amaldiçoei por ter falado mal da pia. Eu era como a pia, no momento: encardida por fora, água suja no lugar de sangue.

    Tiro da minha mochila uma outra camiseta e a troco. Eu me sinto a Lara Croft com a combinação de roupas que visto. Mas a comparação para por aí. Meu mundo era muito real e nada tinha a ver com um jogo de realidade ampliada. Nada.

    Volto para a loja e olho à minha volta, tentando ser paciente. O cara continua num transe com sua TV e ignora a minha presença, ando pelos três corredores da lojinha nojenta, pensando em comprar apenas produtos bem fechados, completamente vedados, hermeticamente seguros em suas embalagens. Não que eu fosse fresca, longe disso, aprendi, ao longo dos anos, a me virar da maneira que podia e muitas vezes, incontáveis, comi o que consegui sem nem verificar a procedência ou, muito menos, a validade.

    Mas algo ali naquele lugar me impelia a ter certo cuidado. E eu gostava de confiar no meu sexto sentido.

    A televisão ressoa alto em meus ouvidos e eu ouço que hoje é aniversário da queda dos meteoros. Da primeira leva deles, na verdade. Vinte e um anos, dizia a repórter. Reviro meus olhos, alheia àquela informação, e pego uma soda, a mais gelada que encontro, e umas besteiras para ir comendo pelo caminho. Compro mais umas garrafas de água, com medo de não chegar a qualquer tipo de civilização antes que possa morrer de sede nessa estrada sem fim.

    — Quanto tempo até a próxima cidade? — pergunto e o cara me olha espantado. O fato de eu dizer próxima cidade deve tê-lo feito pensar que eu não fazia a mínima ideia de onde estava. E ele estava certo. A escolha das estradas dos últimos dias tinha sido na sorte e eu gostava que fosse assim.

    Ele apoiou sua mão em cima de uma placa de Vende-se e me fitou por mais uns segundos descaradamente. Eu entendi o motivo dele ter que vender aquela joça e nada tinha a ver com a localização ou a falta de procura por sua mercadoria. O homem era mal-encarado até os ossos. Sua freguesia deveria se limitar àqueles abutres na entrada.

    — Umas três horas mais. Não tem erro, a estrada só tem um destino. Até uma garota dirigindo acerta — seu tom engraçadinho faz meus pelos do braço eriçarem, não de medo, de repulsa. — Talvez só não seja seguro dirigir por aqui a esta hora. Tenho uma cama lá atrás — seu sorriso é escatológico e não esconde suas intenções. Engulo o asco que sinto. — Podemos negociar um preço satisfatório pelo uso dela. Bem satisfatório. Para ambos.

    Pego uns chicletes no balcão e jogo à sua frente, adicionando um pouco de menta e tutti-frutti em minha viagem solitária.

    — Nem que você fosse o último homem da Terra — eu digo e ignoro sua reação insultada. — E olha que por aqui parece que é o caso — estico minha mão para sua calculadora. — Anda, quanto deu tudo?

    Quando saio de lá, carregando minhas compras, ainda consigo ouvir umas gracinhas nojentas dos caras sentados no ferro-velho sobre meu corpo e o que poderiam fazer com ele. Compreendo que minha encarada furiosa não tinha sido suficiente. Porcos, penso, andando em direção à minha porta da caminhonete e entro bufando, mas não sem antes mostrar aos dois o meu dedo do meio.

    Outro trem passa por mim, enquanto sigo em silêncio pela estrada.

    Com clareza, concluo que a cidade não deveria estar longe, já que os trens aparecem em maior número. Acelero muito mais que deveria e sigo em frente, resignada com meu destino. Ou a falta dele. Bebo um gole de água e vejo o horizonte começar a escurecer, o crepúsculo anuncia sua sombra impiedosa. Prefiro assim. Menos calor.

    Mas não só isso.

    No escuro vejo menos, me veem menos. Sorrio um sorriso cansado e solitário, muito longe da alegria. Bem longe. Suspiro num longo e audível movimento de meus lábios e me concentro na estrada, procurando simplesmente não pensar, apenas seguindo em frente.

    Em poucas horas, avisto no horizonte a iluminação característica de um grande centro, prendendo minha atenção, como uma mariposa a uma lâmpada. Paro no estacionamento de um local que me parece uma pensão, a primeira que avisto. Pelo menos a placa caída, e cravejada de buracos de bala, me parece vagamente formar a palavra pousada. Não é um cinco estrelas, porém, mesmo que fosse cinco buracos negros, mas houvesse uma cama e água, não importando se fria ou quente, para me banhar, eu aceitaria. Era o que meu dinheiro poderia pagar, se eu ainda quisesse comer pelos próximos dias, antes de conseguir novamente qualquer trabalho.

    Logo depois que pareço uma mulher novamente, sem aquela poeira nojenta toda sobre mim, fecho a porta de meu pequeno aposento e desço as escadas à procura da senhora da recepção. O local é tão horrível por dentro como é por fora, mas não me surpreendo, nada ali não parecia ser o que não era. Sem surpresas.

    — Boa noite — digo e ela estica seus olhos para mim, desviando o livro de seu rosto. — A senhora saberia de algum lugar que precise de alguém para trabalho? Preciso de um emprego. Qualquer coisa — friso. Ela me fita sob olhos embaçados, opacos e tristes, e eu me pergunto se aquela cidade poderia me oferecer algo de bom, as últimas horas até ali não me pareceram, de fato, otimistas.

    — Tem um bar a dois quarteirões daqui. Fica na esquina. Outro dia tinha uma placa dizendo que precisavam de garçons. Quem sabe? — sua fala até tem um tom de esperança, mas seu olhar sobre mim se mostra duvidoso. Tudo bem, eu também me olharia assim, caso não me conhecesse.

    — Vocês servem jantar? — pergunto, ansiosa por um prato de arroz, feijão e, se não fosse pedir demais, um bife suculento.

    — Não, mas você poderia tentar o bar que lhe falei. Mataria dois coelhos com uma cajadada só — ela diz e eu a olho, menos arisca. Pois é, quem sabe, penso e saio rumo ao bar, esquecendo-me de agradecê-la, o local havia me contagiado. Ou era apenas reflexo de quem eu realmente era.

    &

    Nem preciso procurar muito pelo bar; risadas, barulhos de copos e uma música abafada por vozes me guiam ao local. Escuto meus passos ressoarem pelo estacionamento de cimento ao lado da entrada, mas logo são abafados pelo som do bar. Estranho tanto barulho, logo que entro pela porta, em um local minúsculo. Vou até o balcão e meus olhos vagueiam pelo local. É um bar sem graça e sem vida, não fosse pela meia dúzia de gatos pingados sentados aleatoriamente.

    Peço uma cerveja, enquanto espero minha janta, e me sento a uma mesa um pouco engordurada, mas não o bastante que me faça mudar de lugar, bebo um gole e olho para o cara que canta no pequeno palco no lado extremo do bar. Sinto pena dele. Tem uma boa voz, mas ninguém aprecia sua música.

    Um casal ao meu lado se beija parecendo estar em um motel à vista de todos. Estão tão perto de mim que posso ver que ele usa aliança, mas ela não. Ou ela havia perdido a sua, ou ali tinha mais histórias do que eu gostaria realmente de saber. Do meu outro lado, um homem cantarola uma música que nada tem a ver com a que o cantor entoa no palco. Obviamente, ele está absurdamente bêbado, pois seus olhos estão fixos em lugar algum. Dois caras conversam e riem muito alto, completamente alheios de que alguém tenta fazer um show ali. E uma mulher joga sinuca com outro homem em outro canto, absortos em um mundo só deles. E é isso. O bar se limita a esses tristes e melancólicos metros quadrados.

    E eu nada tenho a ver com isso.

    Minha janta finalmente chega e eu me impressiono com o sabor que preenche minha boca, a comida é absurdamente deliciosa, um contraste grotesco com tudo que meus olhos alcançaram até então. Quando estou finalizando o prato, vejo que o cantor parou sua música no meio. No meio do refrão.

    Simplesmente no meio do refrão.

    Ele para e fica olhando o seu público, que nem ao menos pareceu perceber a mudança abrupta no som do local. Coloco meu garfo no prato e estreito meus olhos, tentando enxergá-lo, de fato. Ele bufa e o som ecoa audível pelo microfone até chegar nas caixas de som e mesmo assim, todos continuavam indiferentes. Então, ele desce do palco, com passos firmes e nervosos e pega um violão na mesa em sua frente.

    Num pulo ágil, volta para o palco, carregando um banquinho a tiracolo. Engulo mais uma garfada e fico olhando, atenta, ao que fazia, a única ali, pelo jeito.

    Ele se ajeita, posiciona seu violão do melhor modo que pode e mira o bar, parecendo perplexo pela falta de educação de todos ali. Quando seus olhos se encontram comigo, ele me analisa como se tivesse havido um leve reconhecimento. Então, assim como me olha, volta a sua atenção para seu microfone. Completamente fugaz.

    — Que bom que tenho um público tão fiel — ele fala escancarando um sorriso. Talvez não tenha sido um reconhecimento o que percebi, concluo, apenas uma constatação de que, pelo menos, alguém prestava atenção ao que fazia, ao seu ganha-pão. — Olha meu casal preferido das sextas à noite, aí de novo! — seu rosto se volta para o casal se lambendo ao meu lado e, mesmo sendo mencionados através de uma caixa de som, eles não se desgrudam. — Espero ser o padrinho desse filho que eles tanto ensaiam aí, nessa mesa. Só eu sei como fui um fiel expectador de todo esse sexo explícito — ele ri, e eu rio baixo, junto. Então, ele aponta para o lado extremo do bar. — E vocês aí na sinuca, sério mesmo, por quanto tempo mais vão continuar nisso? Desistam, caras! Vocês são péssimos! — ele levanta sua blusa e mostra um pedaço da costela. — Olha o roxo que me deixaram na semana passada, quando levei uma bolada de vocês. Bola de sinuca, cara, isso dói para cacete! E estou a metros de distância! — o tal homem da sinuca ouve o que ele fala, pois mostra o dedo do meio, mas não se digna a dirigir seu olhar, continua focado no que faz com sua parceira. Rio por dentro. Gente estúpida. — E por último, mas não menos importante, o meu fiel escudeiro, o bêbado. O cara que me acompanha sempre nas músicas, mesmo que ele não tenha ideia do que canto. Pelo menos você tenta. E eu te agradeço por isso! — ele sorri mais ainda e o bêbado levanta a cerveja para ele, em forma de agradecimento. — Desculpa se eu não sei seu nome, mas eu sinceramente não me importo, foi mal. — eu o encaro, pasma. Ou ele estava puto da vida e tinha jogado tudo para o ar, ou já estava acostumado a tudo isso. — E finalmente, agradeço a vocês três — ele aponta, então, para os dois homens que conversam e gargalham de costas para ele, para, depois, apontar para mim. — Vocês são novos aqui e eu, infelizmente, só posso lamentar por essa noite que estão, obviamente, tendo. Azar o de vocês — seu sorriso é debochado e ele faz um sinal de legal para a gente.

    Bebo mais um gole da cerveja e penso que essa cidade só poderia ser a sala de espera do inferno.

    Então, ele olha para seu violão, faz um movimento de negação com a cabeça, senta no banquinho e encara apenas a nós três, com a boca a centímetros do microfone. Escuto um barulho estranho e percebo que é ele limpando a garganta, o som ampliado dez vezes pelas caixas de som. Bebo o último gole da minha cerveja, pronta para me levantar quando, finalmente, ele dedilha um pouco seu violão e começa a cantar.

    Eu paro meu movimento pela metade e o encaro, surpresa.

    O que ele faz com o instrumento é uma loucura.

    O cara simplesmente domina aquelas cordas como eu nunca havia escutado em toda a minha vida e sua voz ganha uma potência poderosa em conjunto com o violão. Eu realmente me surpreendo com o que ele revela.

    Não só eu.

    Finalmente, os homens encostados ao balcão se viram e o olham, completamente pasmos e absortos em sua música. O restante de seu público cativo e fiel, aquele do qual ele zombou, já parecia acostumado e pouco se importa com a força de sua voz e de seus dedos naquele instrumento. No entanto, eu e os dois homens simplesmente não conseguimos tirar os olhos dele.

    Em alguns segundos, ele alcança o refrão dessa música e eu congelo.

    Eu conheço aquilo. Eu conheço aquela canção.

    Mas, mais do que isso.

    Eu conheço aquela voz. Aquele violão.

    Aquele cantor.

    E, com um assombro, minha mente me guia para mais de dez anos atrás.

    CAPÍTULO 02

    Eu estava deitada na cama e já deveria estar nessa posição há horas, fitando o teto. Eu sabia de cor as rachaduras da pintura e o deslizar mordaz da aranha em suas caçadas desleais na enorme teia que alcançava o lustre.

    Levantei-me descontente e olhei para fora, algumas crianças brincavam no pátio sob minha janela e pareciam realmente felizes. De verdade.

    Como podiam?

    Suspirei, um tanto de saco cheio de minha rotina e me obriguei a sair de meu quarto. Outras meninas dormiam ainda ou, como eu, fingiam dormir, simplesmente para não ter que conversar com mais ninguém. Eu não me importava, desde que ficassem quietas ali, tanto fazia o motivo.

    Era sábado e os sábados normalmente eram uma droga. Pelo menos na escola, eu poderia fingir não existir, e eu fazia isso muito bem, no meio daquele mar de alunos, apenas mais uma. Mas não ali, ali eu era vista, ali me perguntavam como eu estava, ali eu tinha que ajudar em alguma coisa, sorrir, conversar, ser sociável.

    E eram dois dias em que eu não era eu.

    Sentei-me no banco de cimento à sombra e reclamei para mim mesma o quanto já poderia estar quente àquela hora da manhã, era sempre calor e calor e eu não aguentava mais isso. Ansiava como ninguém pelo inverno, no entanto, desde a segunda leva dos meteoros, ele praticamente não vinha como antes.

    Cruzei minhas pernas sobre o banco e apoiei meu rosto em minhas mãos, me obrigando a assistir àquela bagunça que os pequenos faziam, enquanto as senhoras os olhavam, sorrindo. James pulou ao meu lado e eu quase caí no chão com seu impacto, mas antes mesmo que eu me movesse, ele já me segurava e sentava-se bem próximo a mim. Virei para ele, revirando meus olhos, enquanto ele pegava seu violão e colocava em seu colo.

    Há praticamente seis meses ele tentava me fazer ser mais simpática.

    E não conseguia.

    — Daqui a um mês é meu aniversário — ele disse, e sorriu para mim. — Isso quer dizer que estarei livre de você, Nicole.

    Não consegui segurar meu riso. Era discreto, mas foi perceptível.

    — Ah, então quer dizer que você sorri para isso? — ele me fitou, um sorriso brincando em seus lábios. — Está doida para me ver pelas costas, não é mesmo?

    — Bom, pelo menos não vou ser obrigada a aguentar te ver tentando cantar com isso aí — eu aponto para seu violão e ele desfaz na hora seu sorriso. James fica em silêncio por um tempo, e se ele pensa que me sinto culpada, está redondamente enganado.

    — Tudo bem, mas você há de convir, tocar eu sei. Isso você não pode desdenhar com sua inabalável simpatia — ele sorri, debochado, e seu irmão Jason chega ao seu lado, chorando por alguma coisa.

    Os dois são absurdamente parecidos e eu acho ridícula aquela combinação de nomes para os dois. Qual mãe em sã consciência faria isso? James e Jason?

    James dispensa toda a sua atenção para seu irmãozinho e eu volto a analisar o pátio enquanto ouço algo sobre um colega lhe roubar a bola. Enfim, problemas tolos de criança. Os dois se levantam e eu volto meu olhar para suas costas, seguindo-os até praticamente sumirem na porta do casarão.

    James faria dezoito anos daqui a um mês e até agora não havia sido adotado. Penso que, na verdade, seria um recorde caso fosse, já que estava aqui há pouco mais de um ano. Eu estava aqui há quase sete anos e poderia contar nos dedos quantas crianças foram adotadas nesse tempo. Bem, de qualquer maneira, estaria livre para seguir seus passos. E eu contava os minutos para que esse dia chegasse para mim.

    Apenas cinco anos.

    E isso poderia ser mais do que eu conseguiria aguentar.

    — O Jason se machucou? — olhei para o lado, desviando meus pensamentos por um segundo para o garoto que me amolava. Era Ethan, o irmão do meio daquele trio. — Nicole, você me ouviu? — ele inquire, mas eu continuo quieta, observando seu rosto contra o sol da manhã. Ele parecia não pertencer àquela família. Completamente diferente, talvez apenas essa alegria sem sentido que o fazia lembrar um pouco de James e o lance de ficar cantarolando pelos corredores. Seu rosto preocupado se transforma em uma careta e ele bufa, parecendo indignado. — Deixa para lá, garota! Eu me viro.

    E, antes que eu pudesse responder, foi correndo até a porta que há pouco seus irmãos haviam adentrado.

    E esse foi o máximo de interação social que tive naquele fim de semana.

    &

    Nem quinze dias depois, o orfanato entrou em desespero.

    James havia fugido. Na verdade, o trio tentara fugir, mas apenas James, o irmão mais velho, havia escapado das mãos de nossos algozes.

    Eu não dormi na noite em que ele havia fugido, não porque me importasse ou algo assim, mas porque me imaginei fazendo a mesma coisa e a sensação libertadora não saía de meu estômago.

    Eu havia visto os três subindo pelo telhado e descendo em silêncio toda a extensão do casarão. Quase gritei para que me esperassem, mas assim que me precipitei pela janela, vi as luzes do pátio se acendendo. Ethan estava esticado, entre um telhado e outro, segurando firme seu irmãozinho e eu vi nitidamente o rosto aterrorizado que fez ao ouvir os adultos berrando e correndo ao seu encalço. James pulou para o outro telhado como um gato escaldado e, num minuto, sumiu na escuridão da noite. Ethan, impossibilitado de correr com Jason, apenas se sentou na beirada e esperou que o guarda o alcançasse.

    Naquela noite, ainda consegui ouvir James chamando Ethan. Sua voz era de desespero e, apesar de estar escondido em algum lugar fora de nossos portões, eu conseguia imaginar o que estava sentindo. Se voltasse, seria castigado. E muito. Se seguisse em frente, seria sozinho.

    E seus irmãos trancados no abismo nunca puderam saber dessa dualidade que presenciei.

    &

    Mais de um ano se passara desde então e eu não havia fugido. Apesar da vontade, preferiria esperar meus dezoito anos. Ali eu tinha comida e teto.

    Neste tempo, eu pude ver como Ethan e Jason tinham mudado. Ethan parecia ter adquirido alguns anos a mais em seus ombros e Jason vivia grudado em suas pernas. Eu não via mais os dois sorrirem como antes, e, novamente, eu não tinha nada com isso. Nós não éramos amigos, não éramos nada além de órfãos esquecidos pelo mundo ali naquele casarão velho com aquelas senhoras encardidas que pouco podiam nos oferecer.

    Um dia, quando voltei da escola, um som desafinado chegou aos meus ouvidos, e antes mesmo que eu me encaminhasse para meu quarto, fui andando pé-ante-pé até o refeitório e lá encontrei Ethan dedilhando incrivelmente mal o instrumento de seu irmão.

    Eles não eram realmente nada parecidos.

    No entanto, ele começou a cantar. E, em menos de dois minutos, algumas crianças apareceram e se sentaram à sua volta. Sua voz era realmente boa e aquilo era um contraste ridículo com o violão. Ethan sorriu para elas enquanto cantava e foi a primeira vez que o vi sorrir depois que seu irmão havia fugido. E aquilo foi o começo de algo.

    Algo absurdamente chato.

    Eu não sei bem se era uma terapia patética que ele fazia, mas simplesmente todo santo dia depois que voltava da escola, Ethan ia até o refeitório tocar o violão e cantar. As crianças em seu encalço, e até os meninos de sua idade, iam participar daquele momento. Eu olhava para as senhoras que tomavam conta de nós e elas suspiravam, praticamente aliviadas por sua alma ter resistido a tanto sofrimento.

    Eu revirava os olhos, esse orfanato deveria estar louco se achava que aquilo ali era música.

    Enfim, só sei dizer que algo havia mudado ali. E eu me sentia excluída de tudo. Não porque as outras crianças me excluíssem, mas porque eu sabia que não fazia parte de nada daquele local.

    E nem queria fazer.

    CAPÍTULO 03

    A música para e eu o encaro, pasma. Ele estava diferente, tinha crescido alguns bons centímetros por todos os lados. E havia apreendido a tocar violão.

    Realmente era ele?

    A garçonete vem pegar meu prato e eu a seguro pelo braço.

    — Qual é o nome dele? — pergunto discretamente, apontando para o cantor. Preciso de confirmação.

    — Ethan — ela diz, enquanto recolhe minha garrafa de cerveja vazia. — Ele é bom, não é mesmo? Pena que não seja para o bico desse bar, ele é bom demais. E o público aqui é... Bem... Acho que deu para entender, é só olhar a sua volta.

    Eu faço que sim com a cabeça e a observo limpar minha mesa com um pano que parecia mais sujo que limpo. Sorte que a comida era boa, mas eu nem poderia imaginar como seria a cozinha. Nem ousaria.

    Volto a olhar para Ethan assim que ela vai embora. Mais de dez anos sem nem ouvir falar dele e cá estávamos no mesmo local, no meio do nada. Do nada!

    Ele começa outra música e eu olho à minha volta, à procura da garçonete novamente, decidindo voltar ao que vim fazer ali, além de comer. Ela está atrás do balcão, servindo mais algumas pessoas que chegaram, e me encaminho até ela. Assim que chego, ela some entrando por uma porta que imagino ser a da cozinha, eu viro para o lado e percebo os dois homens me analisando. Analisando meu corpo, na verdade, cada centímetro dele, como se eu fosse uma presa. Estou tão cansada disso, tão cansada! É como se fosse permitido avaliar se sou uma garota fácil por estar sozinha num bar. Ou num hotel. Ou numa rua. Ou na estrada. Ou seja, lá onde eu estiver, pois sempre estou sozinha.

    Não! Não é permitido!

    Bufo e os encaro de volta, com cara de poucos amigos. Os sorrisos cínicos morrem na hora. Antes que eu me sinta vitoriosa, percebo que, na verdade, eles apenas desviaram o foco, uma garota entra pelo bar e chama a atenção de todos ali. Ela simplesmente não combina com aquele local. Cabelos loiros platinados e fartos, shorts, camiseta decotada justa e plataforma alta. Um pouco vulgar, mas ao mesmo tempo, parece limpa, delicada e valiosa. Ela ilumina o local com sua presença e não passa despercebida, até o homem que não desgrudara a boca de sua amante, acompanha-a com olhares furtivos.

    A loira chega perto do palco e noto que ela cruza os braços e observa Ethan com olhos ferinos. Não está feliz. Ele sorri para ela, mas não para de tocar sua música.

    — Quanto deu o que pedi? — pergunto à garçonete e ela para o que está fazendo sem me olhar, indo até o caixa fazer as contas, o cansaço estampado em seu rosto.

    Minha curiosidade se aguça e, disfarçadamente, observo a interação do suposto casal, quando não ouço mais Ethan cantar. Praticamente não preciso me esforçar muito para ver o que acontece, pois parece que o que ela quer ali é dar um show, de fato. Ela gesticula e fala alto e eu realmente me espanto com o quanto ela pode ser brava com apenas um metro e meio de altura, no máximo. Num rompante, os dois passam por mim e saem do bar, em meio a uma discussão calorosa, a porta se fecha com estrondo atrás dos dois e eu volto minha atenção para a garçonete novamente. Ela mostra o valor para mim e eu a pago de bom grado, um valor pequeno se comparado ao sabor delicioso que me forrou o estômago.

    — Estou hospedada numa pensão aqui perto e a proprietária me disse que vocês estavam precisando de uma pessoa para trabalhar — digo para ela, esperando o troco —, com quem posso falar a respeito?

    Ela me entrega o dinheiro e dá de ombros.

    — Até poucos dias atrás, o dono realmente tinha colocado uma placa, mas a tirou ontem. Não sei se arranjou alguém, pois ele não veio hoje — ela para de falar, se recosta à parede e enxuga seu rosto suado com a toalha de prato. Então, continua. — De qualquer maneira, você pode voltar amanhã por esse horário que ele estará aqui. O dia é cheio e normalmente ele vem para dar uma força. Quem sabe? — sorri de maneira simpática, mas volta sua atenção para seus afazeres e eu penso se vale realmente a pena tentar algo ali.

    Quando estou saindo do bar, ainda consigo vislumbrar Ethan e a loira discutindo no estacionamento, muito próximos ao meu carro. Olho para baixo, tentando disfarçar minha presença incômoda e sigo pelo estacionamento até bem próximo a eles. Quando já não é mais possível ficar de cabeça baixa, observo-os, de canto de olho, alcançando minha caminhonete, novamente, Ethan direciona seu olhar para mim e eu suspeito que tenha me reconhecido, mas um tapa estalado em seu rosto o faz virar a cabeça na mesma hora e, antes que eu consiga achar minha chave, o vejo furioso segurando o braço da loira enquanto ela o empurra com força para trás.

    Tá doido.

    Sorrio por dentro, agradecendo minha independência!

    Entro no meu carro, bato a porta com força, querendo escapar daquela cena, mas antes que eu engate a ré, olho pelo retrovisor no momento em que a loira tira a aliança da mão e a joga longe. Pisco os olhos tentando acreditar naquela cena estúpida e, assim que engato a primeira, sinto pena de Ethan. Ele está com os olhos cerrados no chão, imagino eu que à procura da aliança, enquanto a loira, de braços cruzados, apenas repete incansavelmente uma negação com a cabeça.

    Acelero e saio dali imediatamente.

    Espero nunca mais vê-los.

    O que mais quero agora é esticar meu corpo naquele colchão duro e velho. Mais do que eu poderia desejar.

    &

    Quando acordo, continuo na cama, não desejo me levantar por um bom tempo. Praticamente tenho dinheiro apenas para mais uma ou duas noites por ali, então meu corpo necessita ficar nesta posição confortável o máximo possível antes que eu volte a dormir na caminhonete. Ligo a TV e agrado meus olhos com a programação matinal. Como era bom simplesmente me sentir inútil, sem dar satisfações a ninguém.

    No entanto, reparo que o sol já promete esquentar o asfalto da rua, por isso, mesmo relutante, eu me levanto, tomo uma chuveirada gelada bem rápida, calço um tênis, visto um short largo, uma camiseta e um boné. Sei que tenho uma hora de corrida antes de começar a derreter e não posso perder isso por nada, nem por essa cama.

    Enquanto corro pelas ruas desconhecidas desta cidade perdida em meu mapa, observo-a. Ela é brutalmente feia. Não há árvores nem parques por todos os dezesseis quarteirões que percorri e parece que não vislumbrarei nenhum pelos próximos. Tudo é cinza, desgastado e largado.

    As poucas pessoas que vejo pela rua não destoam. Sei que é cedo e podem estar em seu incrível mau humor matinal, como o meu, mas duvido muito que uma paisagem árida e seca como essa possa permitir surgir qualquer sentimento terno em sua população. Definitivamente, ficarei aqui

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