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Relíquias e memórias de um pastor
Relíquias e memórias de um pastor
Relíquias e memórias de um pastor
E-book518 páginas7 horas

Relíquias e memórias de um pastor

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Sobre este e-book

Um baú contendo objetos inusitados e antigos manuscritos é encontrado. A descoberta traz, ao mundo, o conhecimento de um pastor de ovelhas, Josias de Belém, contemporâneo e testemunha do nascimento de Jesus Cristo. Viagens, aventuras, profundas reflexões e revelações estão presentes neste livro, cuja narrativa deve prender o leitor que se dispõe a seguir o pastor, em todos os seus passos.
IdiomaPortuguês
EditoraViseu
Data de lançamento1 de fev. de 2020
ISBN9788530013745
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    Relíquias e memórias de um pastor - Rene Alves

    mamãe.

    Prefácio

    Respeitável doutor Marcelo Almeida,

    Foi com certo ceticismo que recebi seu material para tradução e análise. Mas, dada a seriedade de seu trabalho, que conheço como acadêmico, (e por que não dizer como amigo?), aceitei o desafio. O senhor doutor desde o início foi bastante crédulo quanto à autenticidade do material encontrado, e mesmo assim, de bom grado o submeteu ao rigor e análise da ciência. Por isso, louvo suas escolhas.

    Me deparei então com um material rico em detalhes de escrita. Um grego impecável, por vezes com inserções hebraicas, feitos nos caracteres próprios da língua hebraica. Possuo algum conhecimento de hebraico, mas não poderia traduzi-lo com tanta propriedade; não como o faço com o grego. Daí o primoroso auxílio do doutor Raul Gonzales. Sem ele este trabalho seria uma fraude.

    Todos os testes já feitos comprovam a idade de todos os materiais. É um material autêntico, surrealmente conservado, e por tabela tornou meu trabalho mais fácil.

    Senti-me tocado, envolvido com o enredo que me era apresentado. Sou um pesquisador, um cientista. Custo a crer em coisas. Mas saber da possibilidade de tudo isso ter acontecido me traz uma empolgação juvenil que já nem me lembrava. Uma história dentro do grande evento da humanidade. Crédulos, céticos... não importa. Todos vivem sob este evento, nem que seja apenas na contagem dos anos. Estes textos me trouxeram momentos muito reflexivos. Revi a própria vida várias vezes nesta empreitada. Marcelo, me deve uma bela noite de sono perdida.

    Creio não ser necessária uma explicação, muito menos uma argumentação simplória, sobre as eventuais dificuldades de uma tradução deste tipo. O trabalho, apesar de dispendioso, foi, contudo, prazeroso, dada a riqueza de vocábulos que seu autor, o dito Eliel, se utilizou. Então, empenhei toda minha energia em traduzir da forma mais fiel. Há termos nas línguas antigas que tem o mesmo peso e conotação de expressões contemporâneas. Neste sentido, há novas e importantes descobertas. Sendo assim, é preciso muita ponderação, muito equilíbrio para transmitir estas ideias com fidelidade, trazendo-as ao leitor atual, mas sem deturpar nada e sem perder a pureza da idéia original. Foram necessárias disciplina e meticulosidade. Caro amigo, presumo que consegui. Digo isto com entusiasmo e receio, dadas as ameaças que me chegam. Há quem não queira a verdade. Há quem tenha temor pelo que há de vir. Tempos sombrios, doutor.

    Existem sombras do mal por todos os lados, fato. Zele também pela própria segurança, Marcelo. Não sabemos o que nos virá e quem nos virá.

    Entrego então o texto completo, traduzido. Faça bom uso. Fechei com chave de ouro minha carreira. A aposentadoria veio. Me mudarei sem deixar rastros para manter a mim e a minha família em segurança. Cuide-se, meu caro.

    Teu amigo,

    Kelvin Stewart, PhD

    Chicago University.

    I

    Prólogo

    Eu, Eliel, filho de Levi, que é filho de Gamaliel, filho de Josias, o qual foi homem íntegro e de fé da cidade de Belém de Judá, venho deixar registrado nestes escritos tudo o que meu bisavô me transmitiu, a fim de que, no tempo futuro que a Deus aprouver, sejam lidos e descobertos.

    Segundo Josias, haveriam tempos difíceis, onde a fé se perderia, e seria subjugada ao poder humano e à decadência espiritual. Tempos esses em que o próprio nome do Mestre seria explorado por homens inescrupulosos, quando não ridicularizado ou desacreditado. Fé é tesouro que, quando em mãos erradas, vira destruição. Ele, Josias, é o dono de um cofre; o portador de conhecimentos que serão riqueza para vós.

    Escrevo em segredo; mais ninguém sabe do trabalho que empenho nessa narrativa, que julgo ser a mais fiel que um simples mortal poderia empenhar. Apenas Levi, meu pai, e Josias, que tudo me contou, sabem desta empreitada. As perseguições que nós, seguidores do Mestre Jesus, o Cristo, sofremos, são o real motivo do segredo e da reclusão.

    Dentro do baú que vocês, a essa altura, já encontraram (pois de outra maneira eu não os estaria comunicando isto) estão vários objetos, além dos escritos. Vocês poderão entender o que são e qual sua riqueza. Vão poder avaliar sua importância, no desenrolar da história de Josias de Belém, pastor de ovelhas na cidade de Davi, o rei.

    Conforme profecia do meu bisavô, este baú seria encontrado apenas no tempo oportuno, para se resgatar a riqueza da fé; para ser oásis em deserto causticante. Não me espantaria então saber, caso eu pudesse estar entre vocês, que o mundo passa por grave crise, dos homens, dos reis, e da natureza. Aprenderão a ver além de aparências; encontrarão significância nos que parecem desprovidos de significado. Objetarão a respeito dos heróis, quais verdadeiros e quais falsos, que estarão no meio do povo. Chegada é a hora da redenção da humanidade. Chegada é a hora de encontrar o caminho, enfraquecer a maldade e fazer germinar o Reino.

    À minha pessoa, reservo a alegria honrosa do privilégio de escrever estas palavras, ser o arauto de uma história dentro da Grande História, e contribuir para o Reino. Declaro a vocês, agora portadores da mensagem, um novo tempo de rebuliço, de inquietação. E embora o mundo ferva, e em outras vezes seque, a força se renova, e um novo tempo principia. Tenho no fundo do coração a certeza de que a água que aqui vocês beberão renovará a vida de vocês. De dentro pra fora. Sempre de dentro pra fora. Que Deus vos dê força. Que Deus vos dê paz e bem.

    II

    Identidade

    Poucos sabem quem é ele. É só um serviçal. Mas, não à toa, o serviçal é citado. Brevemente mencionado na narrativa de Lucas, o médico de Antioquia, que começa a circular pelo mundo grego.

    Está ele entre os mais importantes serviçais. Não se enganem. Nada é mais enganador que a aparência. Que seja sua vida a inspiração para tantas vidas que tomarão conhecimento dos fatos a partir destes textos. Louvado seja Deus!

    III

    Hebrom

    Naqueles dias, estava Josias, um jovem natural de Belém, em visita à cidade de Hebrom. Estava ele com dezoito anos. Em Hebrom morava seu tio Bartolomeu, irmão de sua mãe, casado com Miriam, e com a qual teve dois filhos e uma filha. Eles eram Caleb, Joabe e Carmem.

    Para Josias, era sempre uma alegria estar na presença de seus tios e primos. Eram de uma família humilde, porém unida e fraterna em sua convivência. Não faziam da distância um empecilho, e na medida do possível, se reuniam e confraternizavam, seja por ocasião de bodas, nas festas religiosas, ou nos aniversários, quando a mazal¹ se faz muito presente e sensível. Samuel não perdeu o vínculo com eles, mesmo depois de sua mulher já morta. Nutria grande amizade pelo cunhado, agradabilíssimo senhor. Já em sua velhice, Bartolomeu esbanjava alegria e disposição. Miriam, quinze anos mais nova, era de uma doçura incomparável, e também de uma discrição jamais vista. Todos, dos mais velhos aos mais jovens, se esforçavam por aproveitar cada minuto desta alegria que era a presença de cada um.

    Logo partiriam, e havia mais a se fazer em Hebrom. Antes do seu regresso a Belém, desejava Josias, em companhia de Caleb e Joabe, visitar o Túmulo dos Patriarcas. Em Hebrom estão sepultados Abraão, Isaac e Jacó. Era, portanto, tradição da família de Josias ao menos uma vez ao ano visitar a sepultura dos pais do povo hebreu, gesto cheio de significados para a identidade e fé de todo um povo. No entanto, seu pai e seu irmão ajudavam Bartolomeu a cortar madeira. Caleb e Joabe não pareciam estar dispostos. Ocioso e impaciente, Josias foi só até o mausoléu histórico e sagrado, não sem antes comer um pedaço de pão eximiamente preparado por Miriam. Partiu, então, sem esperar que ninguém o acompanhasse. Não levava muito tempo.

    Sensações. O jovem naquele dia sentiu algo diferente diante do túmulo de Abraão. Certo era que conhecia as Escrituras, assim como a história do homem de fé que saiu de Ur para ser o pai de uma nação. Certo era também de que a visita ao mausoléu fosse sempre seguida de uma prece ao Senhor, em agradecimento e súplica. A súplica se fazia para que, ao exemplo de Abraão, pudéssemos ter uma fé a toda prova. Mas nesse dia, uma sensação de estranheza, ansiedade e paz invadiam o interior do jovem Josias. A fé de Abraão parecia estar viva na sua carne, correndo seu corpo como o sangue que lhe sustentava. Pare ele, era quase como se os patriarcas se levantassem, num arroubo profético. Estranha sensação para o jovem. Era o que sentia; e quem poderia dizer o contrário? Tinha a clara impressão de que, ao voltar para Belém, nada mais seria do mesmo jeito. Parecia estar no ar, como uma brisa que prevê a chuva. Nada, nada do mesmo jeito!

    Tendo feito a prece habitual, partiu ele de volta para a casa do tio. Na primeira curva encontra um homem alto, usando uma túnica de um azul cintilante raro, um turbante, e um olhar penetrante. Tocava halil, a flauta hebraica. Era atraente a música ali feita. Parecia estar em harmonia com todos os sentimentos experimentados pelo rapaz que voltava de suas preces. O homem, imóvel à beira do caminho, chamava a atenção por sua música e sua presença. Seu olhar parecia ver mais do que os olhos viam, e com este olhar mirou Josias, sem deixar de tocar. Mirou-o como se esperasse por ele, e como se tivesse encontrado o que procurava. Os olhos sorriam de satisfação.

    Josias passou diante dele, e como que encantado pela música e pela extravagante figura que ali estava, parou e observou. O homem tocou sua música até o fim, agradeceu com um sorriso de paz, e mantendo a expressão jovial e as sobrancelhas arqueadas, pergunta:

    — Já visitou o Túmulo dos Patriarcas, jovem?

    — Já, senhor – responde Josias.

    O homem, empertigado, na postura de quem pensa o que vai falar, pergunta:

    — Já pensou o que são agora Abraão, Isaac e Jacó, alem de pó?

    Josias, expressando no rosto certa estranheza, fez que não com a cabeça.

    — Se eles são pó, o que reverenciamos? Pó? – provoca o homem.

    — Reverenciamos grandes homens de Deus que são os pais do nosso povo! – responde Josias, já parecendo incomodado.

    — Mas onde estão estes homens, para além do pó? Podem eles receber a reverência de vocês?

    — São justos, estão com Deus. Se estão com Deus, podem nos ver e ouvir.

    Parecendo feliz com aquele jovem decidido, o homem observa:

    — Tens uma fé pura, meu jovem. Mas, eia! Andemos! Não se empate por causa desta conversa. Você precisa voltar para seu tio e seu pai.

    Conhece ele meu pai e meu tio? Conhece a mim?. Começava a parecer inusitada a companhia daquele homem. Seria, porventura, alguém muito próximo da família? Um parente do qual não se lembrava? Fosse quem fosse, continuaram caminhando lado a lado. O homem tendo a flauta em mãos.

    — Quão grande era a fé de Abraão, não é, jovem? Sabe de como Abraão se dispôs a sacrificar o próprio filho? Sacrificar por ser fiel?²

    Josias não respondeu, pela obviedade da pergunta. Qualquer judeu sabia da história de Abraão. Andaram alguns pequenos instantes em silêncio para, em seguida, o homem retomar de onde parou:

    — Quem seria obediente a tal ponto nesses dias? Quem é fiel?

    Josias olhava e refletia, agora não mais exasperado, mas movido pela virtude da piedade.

    — Conhece os profetas e seus escritos?

    Josias afirma com um sinal de cabeça. E o flautista continua

    — Deus fala a seu povo como um marido à sua esposa. Quer que seja fiel. É, no entanto, o único fiel: Deus, o Senhor.

    Andam mais um pouco. O flautista parecia ainda não ter concluído seu pensamento:

    — Abraão foi fiel. Deus foi fiel. Seguindo o pensamento, Abraão sacrificaria o filho. Quem, pois, sacrificaria o filho com a mesma fidelidade? Deus?

    O homem para abruptamente, e toma sua flauta. Toca uma melodia lenta, sinuosa. Parecia a música vibrar em perfeita harmonia com aquele céu límpido, lavado pela chuva que caíra no dia anterior em Hebrom. Josias volta a sentir o mesmo que sentiu no túmulo. Fascínio e medo... medo do que não se sabe. Voltou o pensamento ao momento presente: quem era aquele homem?

    — Isaac, o menino, seria sacrificado – continua o homem. Foi em seu lugar imolado um cordeiro. Deus sacrificaria o Filho, ao mesmo tempo Filho e Cordeiro... porque é fiel. Isso faz sentido?

    Josias parou, olhou para baixo, pensativo. Abraão fiel, Deus fiel. Mas não! Apesar de tudo que conhecia das Escrituras, algo parecia sem sentido. Estava pensando nessas coisas, e o coração lhe ardia no peito. Deus e Abraão; o filho e o Cordeiro. Começava a considerar o cordeiro mais importante do que até então pensara. O flautista trazia a imagem do cordeiro como salvação. O animal era o representante da cura de um momento. Aonde chegaria essa conversa?

    O homem, mais atrás agora, voltava a tocar a melodia alegre do princípio. E, numa curta pausa da música, Josias virou-se para trás e já não viu nem sombra dele. Desapareceu, sem aviso e sem rastro. Retornando à casa de Bartolomeu, achou mais prudente não contar nada a ninguém. Decerto pensariam que estava louco.

    Então, era hora de voltar para casa. Às portas da casa de Bartolomeu, prontos para a despedida, Josias guardou na memória as últimas palavras de seu tio querido. Não mais tornaria a vê-lo, pois morreria na semana seguinte.

    Meu querido jovem, que você seja sempre corajoso, ouça sempre o que o coração te diz, e esteja atento aos sinais de Deus

    Disse Bartolomeu essas coisas com olhos vagos e com voz doce. Com estas palavras, partem Josias, seu pai Samuel e seu irmão mais velho, Adonias, em lombo de jumento, rumo a Belém.


    1 Mazal: palavra hebraica que significa boa sorte, bênção que vem do alto.

    2 A história de Abraão é contada em Gênesis.

    IV

    Noite

    Belém dista de Hebrom cerca de 162 estádios ³. Ao lombo de jumento, Josias, seu pai e seu irmão preferiam percorrer o caminho bem ao entardecer, quase à noite. Embora o horário reservasse o perigo dos ladrões dos caminhos, os homens dessa família eram habituados a saídas e incursões noturnas. Eles, juntamente com outros parentes e vizinhos, eram pastores de ovelhas. Revezavam-se em turnos para vigiar os rebanhos. Para quem fazia a guarda noturna, o sono era o principal inimigo. Ser pego de surpresa por ladrões de rês era terrível.

    Assim, bem próximo do ocaso, eles atravessam o vale de Hebrom, rumo ao norte. Sabendo de antemão que seria noite de lua cheia, teriam a tranquila claridade sem o calor escaldante do dia. Samuel já não apreciava ficar curtindo ao sol, coisa que fez muito em sua juventude. Agora, preferia uma jornada sem fadiga; outrossim lhe parecia mais agradável poder conversar com os filhos durante o caminho sem parecer estar pagando uma pena.

    Vale de Hebrom! Não há quem por lá passe e o esqueça. Ao entardecer, as montanhas, qual grandes paredes delineando um amplo corredor, fazem sombra. Também estavam providos de agasalho, pois sabiam que naquela região, durante a primavera, as baixas temperaturas ainda se faziam bem presentes à noite. O céu era limpo; chuvas não os pegariam de surpresa. E o poente era belo, esplendoroso. Anoiteceria e o céu traria uma miríade de estrelas.

    Adentraram o vale, primeiro em jornada silenciosa. Os primeiros minutos para Josias foram estranhos, o que o tornava mais lacônico que de costume. A impressão registrada no túmulo dos Patriarcas o perseguia. Seu coração falava... estas certezas só quem as sente atesta. A quem saiba não negar o coração, este o presenteia com sutis e permanentes lições, que comumente demoram para ser entendidas e aplicadas. O encontro com o flautista desconhecido não era menos estranho. Portanto, era a sensação de dúvida, a espera sem fundamento de que algo incompreensível, intangível e inescrutável estava por vir. Tudo isto era, pois, a razão do silêncio de Josias. Samuel e Adonias pareceram embarcar na mesma onda de silêncio. E foi depois de alguns minutos, com um Josias um pouco mais relaxado, que Samuel inicia conversa.

    — Josias está bem calado. O que acontece?

    — Não é nada, meu pai.

    — Vai ver ele deve ter ficado encantado com as moças de Hebrom, já que em Belém elas estão cada vez mais raras – caçoa o irmão.

    — Bobagem! – responde Josias, vagamente.

    Ali, naquele caminho, as vozes parecem se tornar importantes e imponentes. No silêncio da noite, sem paredes e com céu límpido, uma voz que fala com você parece muito mais penetrante. Josias descobria a cada dia que estar a caminho lhe era prazeroso e estava em sua natureza. E lá, neste tom e com esta intensidade, Samuel disse:

    — Notei que Josias já estava diferente quando voltou da visita ao túmulo de nosso pai Abraão. Apressado! Não podia esperar? Chateou-se?

    Tendo consciência de que seria difícil explicar algo que não tivesse uma razão para existir, Josias guardou para si as sensações que tivera em Hebrom, e que agora voltavam com força, nesta jornada rumo a Belém. Talvez a mãe, a quem Deus já havia levado, tivesse mais compreensão para enxergar a alma de seu filho e dar vazão a sentimentos, decifrando a linguagem das sensações indecifráveis. Os homens são em sua grande maioria lógicos e práticos. Josias não encontraria no pai o melhor contorno de compreensão para com estas sensações. E salvando-se essa característica dos homens, Josias viu uma exceção no tio, quando lhe disse aquelas coisas antes da partida de Hebrom. Ouça sempre o que o coração te diz, e esteja atento aos sinais de Deus. Era como se o tio soubesse de algo. Soubesse sem exatamente o saber, e se sabia, era do profundo de sua alma, sem ver com exatidão. Talvez o visse como figura borrada, da qual não se distinguem exatamente as feições. E o pai, apesar da personalidade pragmática, esteve atento ao comportamento do filho.

    De repente, Samuel começa a dizer coisas fortes. Simples e fortes.

    Aqui, por estes caminhos, e em todos estes vilarejos e cidades, já passaram profetas. Naqueles tempos, profetas proclamavam o que Deus lhes mandava dizer. Muitos deles deixaram seus escritos, que veneramos e rezamos nas sinagogas. Meu avô me dizia ser bem possível que encontrássemos profetas em todos os recantos.

    Quisera Deus que tivéssemos mais profetas, ou melhor, que voltássemos a ter profetas. Infelizmente, não profetizamos por nossa própria vontade. Não posso eu chegar e dizer que a partir de agora serei arauto do Todo Poderoso. Mas creio também que um profeta precisa estar atento aos sinais de Deus, atento ao chamado. E eis que nossa nação parece estar bem longe disso. Não consigo imaginar o Senhor falando com nossos mestres das sinagogas, nossos doutores da Lei, tão presunçosos. Nós os respeitamos, mas tenho quase certeza que a maioria das pessoas sente o mesmo que eu. Sentem que a palavra destes homens não as inflama, e não as fazem mais próximas de Deus.

    Nem mesmo conseguimos uma unidade. Adoramos o Altíssimo em locais diferentes. Os samaritanos fizeram seu próprio templo no monte Garizin. Nossa gente se distanciou de Deus; e não houve profeta que conseguisse restituir a unidade. Divisão, sempre divisão.

    De todos os profetas, penso eu que nenhum foi maior que Isaías. E ainda assim, muitos já não acreditam nele. Ele fala do Messias, nosso libertador enviado por Deus, mas Deus nos manda uma nação que oprime, com um exército que não temos a menor condição de enfrentar. De onde virá o tal Messias?

    Então Adonias pergunta:

    — Como o Messias fará para reunir um exército tão poderoso a ponto de expulsar os romanos daqui?

    — O Senhor sabe como fazer todas essas coisas. Veja como ele fez Abraão sair de Ur pra ser o pai de toda a nação. E veja também Moisés, salvo das águas, que morava nas dependências do faraó e libertou todo o povo. Já fomos oprimidos por babilônios e assírios. Nossa história é dura.

    — Será que o Messias virá de Roma?

    Samuel não conseguiu esconder um olhar reprovador e de incredulidade diante da suposição de Adonias. Tanto quanto o luar permitia ver, Samuel se controlou para não ser rude.

    — Seria o Messias um pagão? Quanta tolice, Adonias!

    — Ora, essa é a maneira de Deus agir. A maneira mais impensável. Não foi assim com Abraão e Moisés?

    Houve uma breve pausa, com Samuel pesando o que disse o filho, antes de concluir:

    — Pensando melhor, tolos somos todos quando tentamos prever o que Deus quer. Que perdoe-me o Senhor... mas já tive minhas dúvidas se esta é uma profecia verdadeira. Tanto tempo se passou...

    Adonias parecia animado com o assunto:

    — Para mim, meu pai, o maior dos profetas foi Elias, que foi embora no turbilhão de fogo. Será que Elias volta? Será que é ele que vem pra libertar?

    Josias acompanhava aquela conversa como espectador. Apesar de considerar a conversa edificante, seu pensamento ainda estava longe.

    Então veio o momento em que Josias sairia de seu estado de torpor. Estavam eles próximos ao entroncamento do caminho para Belém e o desvio para Betsur. Como se já estivesse esperando por isto naquela noite; como se a noite já tivesse mostrado sua disposição para o mistério. Era para ser apenas mais uma luz. E era um fenômeno luminescente. Mas era diferente, inesperado.


    3 Cerca de 25 kilometros.

    V

    Estrelas

    E em um tempo muito curto, o tempo que duram os nossos pensamentos, Josias associou a luz às sensações que o envolveram durante todo o dia. Viu Josias algo naquele céu noturno que os encobria. Um brilho diferente. Era o brilho de uma nova estrela que surgia, grande, espetacular. A estrela dava sua luz, e se apagava, como um farol a sinalizar algo. Estrela que piscava, fazendo um movimento da direita para a esquerda, como se fosse um movimento de remos em um barco, para logo depois se apagar, e em seguida retornar como estrela normal. Quando fazia o movimento de remo, seu brilho se tornava amarelado; e quando no seu estado normal, era de cor branca. Um sinal luminoso exuberante. Também Samuel e Adonias puderam ver.

    — Vocês estão vendo isso? – pergunta, atônito, Samuel.

    Josias e seu irmão confirmaram.

    — É o céu dando um sinal – Samuel, com embargo na voz – Será o Senhor mostrando algo? Será um mensageiro?

    Mal terminou o pai de falar estas coisas, e várias estrelas cadentes puderam ser vistas, bem adiante. Algo incomum acontecia no firmamento. Adonias aponta e exclama:

    — Olhe, meu pai! Veja a direção! É em Belém que está acontecendo isso. As estrelas estão caindo lá.

    — Será que as pessoas de nossa Belém estão vendo isso?

    E discorreram, apreensivos, se poderia ser sinal de alguma desgraça ocorrendo em Belém. Algum castigo vindo do céu, nesses tempos de usura, prepotência, Roma e Herodes⁴.

    Apenas Josias permaneceu calado. Um grande arrepio lhe percorreu a espinha. Josias pôde sentir o coração batendo com uma força não imaginada. O coração pulsava em compasso diferente, acelerado. Ele estava certo: aquele dia não era como todos os outros. Não tinha sequer certeza se os próximos seriam. Desde este dia (e até a sua velhice), Josias aprenderia a ouvir seu coração e a estar atento aos sinais. Dali até a sua velhice, Josias absorveria sabedoria, e aprenderia com todos os sinais que a vida lhe viesse a oferecer. Reconheceria também que esse mesmo coração fala em línguas estranhas, através de sensações não explicadas, sensações sem razão aparente, mas que meticulosamente indicam caminhos. A grande e diferente estrela e suas semelhantes cadentes eram mapas a mostrar caminhos que ele não sabia aonde dariam. Mas que o coração mostrava serem inevitáveis. Aprendera, pois, a lição de seu tio.


    4 Herodes, rei cliente de Israel conhecido por sua tirania e crueldades.

    VI

    Anúncios

    Chegaram à noite em Belém e avistaram a cidade com muito mais movimento que o normal. O motivo de tal alvoroço era o recenseamento ordenado pelo imperador romano, pelo qual cada família deveria viajar até a terra natal de seu chefe, e ali inscrever-se a fim de constar nos autos do império, numa empreitada ousada e desvairada do governo. Terras e edificações estavam em jogo. Por este motivo, Belém recebia viajantes, cidadãos dispersos por todo o reino de Judá e Israel. Muitos vinham de Hebrom, outros da Galiléia, da Iduméia e de várias outras partes desta terra. Era um lugar pequeno para tanta gente. Por estar na rota de várias cidades maiores, o pequeno lugar recebia muitos viajantes para pernoite em suas pousadas. Belém, a Casa do Pão, era um alvoroço.

    Estando já próximos de casa, foram eles, Josias, Samuel e Adonias, encontrar-se com o irmão de Samuel, chamado Jomar, e que era igualmente criador de ovelhas e parceiro no empreendimento pastoril, a fim de saber alguma novidade.

    Por aqui está tudo bem; apenas bastante movimento por causa do recenseamento. O único problema é que as hospedagens não estavam prontas para receber tanta gente. Belém é tão pequena, tão acanhada. Pessoas que tinham quartos sobrando se dispuseram a hospedar viajantes e receber alguns denários a mais. O senhor Mardok chegou a relatar até sobre um casal galileu, em que a mulher está grávida, já nos dias de dar a luz, e que não encontrou lugar nas hospedarias aqui. Serviu a eles uma manjedoura, com bastante palha pra servir de cama; um repouso provisório, e infelizmente precário. Só não entendo porque uma mulher nesta situação teria de vir. Me parece, no mínimo, sandice.

    Alguns comentários a mais sobre este fato no mínimo estranho. Jomar disse se lembrar do homem que trazia a mulher grávida. Este, na sua infância e primeira juventude, viveu em Belém. Por motivos desconhecidos, se mudaram para a Galiléia. Disse que não era de muito falar. Jomar parecia não gostar muito de galileus. Era fácil notar.

    Samuel e os filhos ouviram tudo. Sensibilizaram-se com a história, mas não com disposição suficiente pra procurar o casal e saber se precisavam de algo. Josias os tinha como loucos em seu pensamento, sem achar outra palavra que os qualificasse com mais precisão. O pai e o irmão certamente estavam pensando o mesmo. Nem sequer era sobre isto que queriam falar com Jomar.

    Perguntaram se em Belém o povo viu as luzes e as estrelas cadentes. Jomar desconheceu o fenômeno, e disse não ter escutado nenhum comentário a respeito. Pela sua expressão, pensava se tratar de algum comentário jocoso. Pediu então Jomar que eles descansassem, pois haviam chegado de viagem e precisavam do repouso. Ele afirmou que o filho estava na guarda das ovelhas com mais dois homens, e que no dia seguinte poderia ser, portanto, a vez de Samuel e seus filhos. Haviam formado com Jomar uma sociedade no comércio pastoril que até agora dava certo.

    Tendo passado a noite, seguida de um dia sem muitas novidades, Samuel e seus filhos foram ao final da tarde para seu posto, a fim de vigiar as ovelhas. Em geral, as incursões noturnas aconteciam quando as ovelhas estavam mais agitadas e com novas crias. Pastorear à noite era algo comum nesse ofício. A vigilância era necessária: predadores e ladrões costumavam agir, e ainda mais com o alto fluxo de gente nestes dias em Belém.

    Encontravam-se eles em uma noite agradável, em que a calma tomava conta de todo lugar. Parecia que a paz que ali se fazia tinha a virtude de se espalhar por toda a extensão da terra e dos mares. Adonias, em breve comentário, lamentou-se que tantos fossem logo dormir. Não conhecem a noite, se lamentava. Estavam eles numa campina, que se erguia ligeiramente rumo ao nascente, e logo após a parte mais elevada, seguia-se um vale, largo, de vegetação muito rala. Não se encontravam muito distantes do povoado, pois era possível ouvir alguns burburinhos ao longe. Os pastores se alternavam, e enquanto um fazia a vigilância, os outros descansavam em pequenos cochilos. O primeiro turno de vigia, assim que anoiteceu, foi assistido por Adonias, enquanto Josias e Samuel cochilavam. Na próxima troca, foi a vez de Josias, dando lugar ao descanso de Adonias.

    E estando Josias em seu posto, na tranqüilidade da noite, teve a atenção atraída por um ruído. Um ruído abafado, que parecia vir pelo ar, como se fosse uma roda muito pesada sendo arrastada pelo chão, virando com toda a lentidão que o peso lhe obrigasse. O ruído se repetia em pequenos ciclos de tempo. O jovem pastor girava a cabeça para todos os lados, desconhecendo a fonte deste som. Os intervalos de tempo entre uma emissão e outra se tornavam, agora, menores. Seu pai e seu irmão dormiam pesadamente.

    Sem prévio aviso, o ruído virou um estrondo, que fez acordar, sobressaltados, os outros dois, arrancando-os do seu descanso. Foi apenas o tempo de se colocarem de pé junto a Josias, e uma grande luz se fez no céu, dissipando as trevas da noite para aqueles três pastores. Era uma grande luz, um turbilhão de luz; luz branca que se vestia de todos os matizes e brilhava alternando o branco límpido com as mais diversas cores. Estas cores não foram jamais vistas por aqueles homens com tamanha intensidade. Não emitia calor: era apenas luminosidade. Cheios de pavor e admiração, os homens viram esta luz se ampliar, alcançando tamanho maior no horizonte. Foi Adonias quem primeiro soltou um grito de exclamação diante daquele espetáculo brilhante.

    E, num momento de êxtase, o que era um grande estrondo se transforma em sons harmoniosos, sons de vozes com tal beleza e harmonia jamais encontradas semelhantes por aqueles pastores, se é que existia algo tão belo entre os homens. A música que acontecia removia uma parte do medo, do pavor inicial que se criou com todo o fenômeno. E logo era possível distinguir os sons: eles se faziam entender na língua dos pastores de Belém. Dizia: Glória! Glória a Deus na maior das alturas! Glória! Sua paz reina na Terra, aos homens bem aventurados! Glória! Glória!. Também na luz formas começaram a se definir, formas nítidas, que tomavam a aparência de homens, mas eram muito mais perfeitos. Flutuavam no céu, junto à luz. Deles vinha o som. Deles vinha a música. Estes seres eram os portadores da luz. Imediatamente os pastores perceberam e compreenderam: eram anjos, emissários de Deus, numa manifestação extraordinária.

    Eram muitos, uma multidão. Três destes anjos saíram da miríade, e pairaram à frente dos pastores. A luz que saía deles era tanta, que dificultava ver-lhes os rostos. Eis que um deles fala, a voz como uma trombeta, altissonante e nítida ao nível da perfeição:

    "Não tenham medo de nós! Fiquem em paz! Trago para vocês uma grande notícia! Chegou o tempo! O Salvador, o Messias esperado, nasceu. Nasceu aqui em Belém, conforme as profecias. Vão adorá-lo! Na manjedoura encontrarão o casal, e o Menino. É o Filho de Deus: adorem-no e alegrem-se."

    Permaneceu a música e o clarão durante algum tempo, e nesse tempo os três emissários se afastaram dos pastores para se juntarem novamente à multidão de anjos luminosos. E, num repente, desaparece tudo: os anjos, a luz, a música, ficando o silêncio e a noite. Com a força desta experiência, Samuel e Adonias caem por terra, desmaiados. Josias, ainda que extremamente tocado pelos acontecimentos, permanecia de pé.

    Viu o irmão e o pai ao chão, e viu também, vinda do vale, uma outra luz, como um raio luminoso coniforme, que se erguia a partir do vale e em direção ao firmamento. Pai e irmão logo despertarão, pensou. Decidido, caminha então, trôpego, morro acima, até que pudesse visualizar o vale inteiro. Ele vê.

    Vê, no interior do vale, em meio à escuridão noturna, a figura luminosa de um anjo, que manipulava a luz em suas mãos, como se manejasse uma espada. Ao modo dos guerreiros treinados no manuseio de armas, os movimentos do corpo como esboços de ataque e defesa, o anjo dançava tendo a luz em suas mãos. Parecia que a intenção do ser era sinalizar e atrair. A figura ali presente girava o raio de luz com incrível velocidade, e logo após um último giro, o raio de luz se apagou. Ficou apenas o anjo, que naquele momento começava a caminhar na direção de Josias. Esperar ali mesmo seria a única coisa que o jovem faria. Conforme o anjo se aproximava, o pastor pôde ver que ele ainda trazia nas mãos uma luz, porém, muito menor que o raio do momento anterior. Um pequeno bastão de luz. E à medida que o anjo se aproximava na escuridão, suas vestes começaram a mudar de cor, assumindo matizes mais azulados. Também o bastão de luz começava a se apagar e a tomar uma forma sólida na mão do ser celeste.

    Um pouco mais próximo, e sua túnica já era completamente azul. Leva o bastão em transformação junto ao rosto, e uma melodia familiar alcança os ouvidos do jovem Josias. A melodia! O ser de túnica azul cintilante se aproximando... flauta!!! Josias pôde ver o rosto. Era ele! O homem de Hebrom! E então, depois de toda a resplandecência e todo ribombar, eles estavam novamente frente a frente, como dois amigos que se reencontram. O homem sorri para Josias, que ainda ofegava.

    — Salve Josias, filho de Samuel!

    — Como devo chamá-lo, senhor?!

    — Eu sou aquele que ouve as preces dos homens. Eu sou aquele que atende os homens em suas necessidades. Fui eu quem atendeu Hagar no deserto. Já ouvistes falar de Hagar? E de mim?

    E com uma breve e polida reverência, ele se apresenta:

    — Salatiel é meu nome. Mas hoje uma nova missão me é confiada. Hoje, a missão é te dar suporte para as coisas que tu, Josias, terás de fazer. Pequeno és tu, jovem, e grande é a tua missão. Ouviu o anúncio? O Messias está entre os homens. Nasceu o libertador! Deus olhou para o seu povo. E você foi o escolhido, Josias de Belém: serás o braço direito do Messias.

    Josias espera um instante, calado. Esperava mais alguma coisa. Ainda sem reação para argumentar muito, prossegue:

    — Mas eu? Deve haver engano. Eu... eu sou apenas um pastor de ovelhas.

    — Acha mesmo que Deus se engana, filho de Samuel? Pode o Senhor fazer julgamento errado sobre as pessoas, sendo ele o único que conhece por inteiro cada um dos homens?

    — Não! – Josias titubeia diante do que tinha falado antes – mas, ainda não entendo! O que farei eu?

    — Deixe as coisas andarem, filho. Eu estarei sempre por perto. Agora vá! Vá com os seus visitar o Menino Deus! Mas, quanto à sua missão, é segredo até tempo oportuno. Converse com a família que vocês vão encontrar, mas converse em particular com eles. Há uma missão que é só tua.

    O jovem pastor olha desta vez bem nos olhos de Salatiel:

    — Então és anjo?

    — Chame como quiser, Josias de Belém. Se esta é a palavra certa, me chame de anjo, então. Estou a serviço de Deus. Em alguns momentos, os portais dos Céus e do inferno se abrem, e nós podemos assumir formas. Formas de homens. Eu e meus próximos somos espíritos protetores.

    Josias se virou para ver o pai e o irmão, que se levantavam. Ao virar de volta o rosto, Salatiel havia desaparecido, mais uma vez.

    VII

    Visita

    Partiram os três, pressurosos, para a cidade. Haveriam de encontrar o Anunciado de qualquer forma. Samuel lembrou-se do que disse Jomar, seu irmão: um casal, cuja mulher estava prestes a dar a luz. Onde estavam? Esta era a parte que não se lembrava. E certamente eram eles que deveriam ser encontrados. Tiraram, então, Jomar, do seu descanso. Ainda sem entender o motivo de tão grande interesse, e com imenso mau humor por conta da perturbação, disse a eles que era a gruta na saída da cidade. Imediatamente se recordaram onde era, afinal eram de Belém. E os

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