A Greve das Cores
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A Greve das Cores - Vicente Amaral
Elton.
I
Quando a primeira luz da manhã iluminou o horizonte, como um jogo de sombras a revelar as formas das árvores e das casas, um olhar mais atento já poderia perceber que aquele não seria um dia como outro qualquer.
O sol erguia-se lentamente, exibindo um brilho difuso e pálido.
Um observador pouco atento poderia pensar que era efeito da neblina, ou talvez interpretar como presságio de alguma precipitação atmosférica, que poderia ser uma tempestade ou talvez uma chuva de granizo.
No entanto, um pouco mais de atenção seria suficiente para se notar que pairava no ar alguma coisa diferente dos conhecidos sinais que a natureza costuma enviar quando fenômenos dessa ordem se avizinham.
O céu estava límpido e sem nuvens, como seria de se esperar em uma tranquila manhã de outono, exceto por uma particularidade bastante estranha: em vez de azul, ele era uma grande abóbada acinzentada como nunca se vira antes nesse mundo.
Somente quando os olhos, ainda mal despertos e deixando de mirar o céu, passearam pelo entorno e fizeram uma análise mais detalhada de tudo que estava ao seu redor foi que puderam perceber: também as folhas das árvores e as flores e os bichos e as pessoas e as casas da vizinhança e os carros e os objetos domésticos e todas as demais coisas apresentavam algo diferente da normalidade.
Aquele dia nasceu trazendo um inesperado e extraordinário fato novo: a total ausência de cores.
O que estava a acontecer levou algum tempo para ser percebido e devidamente assimilado pela maioria das pessoas, principalmente aquelas que acabavam de acordar. Talvez porque, ao despertar bem cedo, o sono resiste e o raciocínio é mais lento. O corpo se põe de pé, mas a cabeça permanece ainda ligada ao mundo dos sonhos e leva um tempo a mais para perceber claramente a realidade das coisas. Após esfregar os olhos, passar uma água fria no rosto ou tomar um banho, aí sim é que se acorda de fato e tudo então volta ao normal.
Mas não foi isso que aconteceu. De nada adiantou esfregar os olhos, e também nada mudou com a água fria no rosto ou a ducha fria do banho. Tudo insistia em continuar sem o menor traço de cor, como um pesadelo do qual não se consegue acordar. As coisas permaneciam em seus devidos lugares de forma bem real, porém diferentes na aparência, como se tudo tivesse passado a fazer parte de um filme do início da história do cinema, quando ainda não se conhecia a fotografia em cores.
O assombro inicial não demorou a se transformar em aflição. Nas mentes assaltadas pelo medo do desconhecido a razão dá lugar ao pânico e a imaginação voa às cegas em busca de alguma explicação. Da mesma maneira que náufragos desesperados se agarram à primeira coisa flutuante que aparece à sua frente, alguns rapidamente abraçaram a possibilidade de que tudo não passa de uma questão circunstancial e que certamente alguma doença afetou sua visão.
Porém, não tardou muito para que descobrissem que todas as outras pessoas próximas também padeciam do mesmo mal. Quando saíram às ruas a interpelar os vizinhos, batendo de porta em porta na desesperada tentativa de encontrar alguém que pudesse explicar o que estava acontecendo, tudo o que viram e ouviram foi que estavam todos com os mesmos sintomas, e ninguém tinha explicação para o estranho fato.
Então trata-se de uma epidemia, diziam alguns. Provavelmente uma doença de origem ainda desconhecida, emendavam outros, transmitida por algum vírus que se espalhou rapidamente pelo ar, afetando a visão das pessoas e inibindo sua capacidade de perceber as cores.
Levadas por essa e outras teorias do gênero, muita gente correu para as emergências, e todos os hospitais tiveram suas recepções e seus corredores invadidos e abarrotados. Mas, para desespero geral, o que se encontrou nesses locais foram atendentes, enfermeiros e médicos igualmente desesperados, todos vítimas da mesma situação.
Colírios e remédios de todo tipo – alopáticos, homeopáticos, fitoterápicos, alternativos e caseiros – passaram a ser consumidos indiscriminadamente, sem qualquer resultado.
Sem explicação ou confirmação de que poderia ser de fato uma epidemia, restava uma remota esperança de se encontrar alguém que continuasse enxergando normalmente tudo colorido.
Sim, porque, caso alguma pessoa confirmasse que ainda era capaz de perceber as cores, talvez ela fosse dotada de algum tipo especial de imunidade ou tivesse alguma resistência especial no organismo, e assim haveria a possibilidade de se fazerem pesquisas que levassem à descoberta de alguma vacina, algum antídoto ou qualquer remédio que curasse esse mal.
Com o avançar do dia, a neblina foi-se dissipando, e com ela o pouco que restava de esperança, deixando claro que o problema era mais sério e muito mais grave do que se podia imaginar.
Após muito sofrimento, muita agonia e incontáveis tentativas de medicação, as pessoas foram dolorosamente percebendo que não se tratava de uma questão de saúde. Só então se conscientizaram de que o problema não estava em seus olhos. Ninguém estava realmente doente. A mudança era externa. O que estavam enxergando era exatamente como as coisas se apresentavam.
O que aconteceu de fato foi que aquele dia nasceu apresentando um mundo bem diferente daquele a que todos estavam acostumados. Um mundo em tons de cinza, totalmente sem cores.
As consequências dessa súbita e inexplicável ausência de cores logo começaram a se manifestar por toda parte. Pessoas completamente desesperadas andavam desorientadas pelas ruas, o trânsito caótico registrava incontáveis batidas e atropelamentos, uma vez que motoristas e pedestres não conseguiam identificar se os sinais estavam abertos ou fechados.
Uma confusão generalizada e sem precedentes instalou-se em todos os lugares onde antes tudo funcionava perfeitamente. Acidentes no trabalho, panes nas comunicações, problemas de toda ordem no meio rural e nas cidades – nos transportes, nas estradas, nos aeroportos, nas indústrias, nas empresas, nas escolas, nos hospitais, nas atividades diárias de cada pessoa.
Sem as cores, o mundo perdeu suas referências habituais e entrou em rota de colapso total.
De todas as partes do planeta vinham notícias pelo rádio e pela televisão. Aparelhos de telefonia móvel emudeceram e a internet deixou de funcionar. Em todos os lugares a situação era idêntica. Os noticiários de todas as redes de comunicação transmitiam pela televisão, em preto e branco, informações referentes ao estranho fenômeno do sumiço das cores. De qualquer lugar que viessem as notícias, elas eram parecidas: povo desesperado e autoridades desarmadas e impotentes diante desse novo e inexplicável fenômeno.
Cientistas, astrônomos, astrólogos, magos, líderes religiosos e estudiosos de todas as áreas foram convocados pelos governos. Dia após dia todos desdobraram-se em pesquisas e análises da estranha ocorrência, em busca do entendimento de suas causas e suas possíveis soluções.
Um grupo de cientistas chegou a atribuir as causas do fenômeno a uma possível inversão dos polos magnéticos da terra. Mas, a despeito de todas as pesquisas, todo o esforço e emprego das tecnologias e conhecimentos científicos mais avançados do mundo, tudo o que conseguiram foram apenas hipóteses e conjeturas.
Assustadas pelos acontecimentos que ninguém conseguia explicar, sentindo-se ameaçadas e desamparadas, multidões saíram às ruas em passeatas e manifestações por todo o planeta. Avenidas e estradas foram ocupadas e interditadas por manifestantes que cobravam providências de seus governantes.
Com o passar do tempo, esses movimentos acabaram por perder o foco e, em meio a uma confusão de novas e disparatadas reivindicações, o propósito inicial se perdeu e a desordem tomou conta de tudo e de todos. Manifestações pacíficas começaram a ser tumultuadas por manifestantes mais exaltados e por oportunistas, que passaram a promover quebradeiras em lojas, supermercados e shoppings, e a incentivar invasões e saques em propriedades públicas e privadas.
Na tentativa de reestabelecer o controle da situação e dispersar as multidões, policiais, a cavalo e em carros blindados, entraram em ação usando armas de choque, gás lacrimogêneo e jatos de água.. Confrontos se espalharam no mundo inteiro, deixando vítimas por toda parte.
O caos se estabeleceu definitivamente, sem perspectiva de solução.
Na história dos povos, a ciência e a religião quase sempre estiveram em lados opostos e protagonizaram embates terríveis, de consequências muitas vezes trágicas. A evolução dos tempos, entretanto, permitiu à humanidade passar por importantes transformações que romperam fronteiras e abriram espaço para uma coexistência mais tolerante entre as duas. Essa evolução ocorreu de tal modo, que se tornou natural buscar sentido no território sagrado da fé para questões que extrapolam a compreensão no campo da ciência e da razão.
As pessoas, então, se entregaram a orações e promessas. Oferendas e velas foram acesas. Incontáveis rituais de toda ordem foram realizados. Adeptos das mais diversas seitas e religiões voltaram seus olhos para o céu, acreditando que somente um poder supremo seria capaz de salvar a humanidade.
Para os crentes, os místicos e os religiosos, esses apocalípticos sinais, já previstos nos livros sagrados e nas escrituras, eram claros avisos de que o fim do mundo estava próximo. Portanto, aos povos deste planeta nada mais restava fazer senão se preparar por meio da oração, do arrependimento de seus pecados e da aceitação plena e sem apelação do juízo final.
II
– Chega! Para mim, chega! Não suporto mais! Tudo isso é um tremendo absurdo, um descaso sem tamanho, uma lastimável falta de sensibilidade e de reconhecimento desses ingratos que não param de transformar em lixo tudo o que a natureza lhes deu! Cheguei no meu limite! Vocês querem saber? Já me decidi: não apareço mais! Não é isso que eles querem? Então assim será. Ninguém verá novamente a minha