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As Crónicas de Clayton
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As Crónicas de Clayton
E-book362 páginas5 horas

As Crónicas de Clayton

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Sobre este e-book

Há acontecimentos estranhos na vila de Nosfort, Massachusetts

Aparece um corpo com marcas estranhas no pescoço, desaparecem pessoas importantes da vila, e quem são aqueles estranhos pálidos e de dentes afiados que as pessoas parecem não notar?

Para o Xerife Clayton Harris, só há uma conclusão. Mas como pode um homem da Lei dar conta de um ninho de sugadores de sangue que decidiu assentar na vila? Com a ajuda de um parceiro morto-vivo, claro. Fica a conhecer o Xerife Harris e Sherwin Williams, a dupla xerife/vampiro que une forças para salvar a vila de Nosfort da sua iminente ruína.

Prepara-te para uma viagem cheia de adrenalina com Sherwin e Harris numa interessante combinação de mistério, sátira e diversão. Entra na vila de Nosfort, na costa este, com as Crónicas de Clayton!

IdiomaPortuguês
Data de lançamento12 de abr. de 2020
ISBN9781393206101
As Crónicas de Clayton
Autor

Edwin Stark

Hello, my name's Edwin Stark, and I was born in Caracas, Venezuela. That's South America for the few geographically-challenged ones out there. I suppose that somehow the stork had just stumbled out from a pub while it was delivering me, (it was confused to say the least) and mishandled my humble persona, leaving me stranded in this unlikely place. Having German ancestry, I spoke that language as a toddler, but my Mom had the misconception that I'd fit better here if I spoke Spanish, so that tongue was lost during my growing years. I grew up dreaming crazy tales and was my teacher's pet when it came to composition class—but not in deportment: that was for certain—and as I grew up I tried to get noticed as a writer by submitting to every magazine and writing contest available in my home country. No such luck; the publishing market in Venezuela is utterly locked out: you can only see your words in print if you're already a notorious politician or a TV celebrity. Since I wasn't in the inclination of becoming a serial murderer to achieve notoriousness and get published, the need to rethink the approach to my writing career became a must. Eventually, I decided to switch languages and start writing in English. I was already proficient in that language... but was I good enough to tell stories in that fashion? I then started to write short stories, effectively dumping my native language. I wrote nearly 200 short stories during a period of about eighteen months, slowly learning the nuances of story-telling in another language than your own. I already had the benefit of having the knack of telling a tale; I only had to adjust. 190 of them short tales certainly sucked; 10 were really neat, but the important thing was the learning process. These ten tales eventually made it into Cuentos, the short story collection which became my third book. I succeeded so well in tearing myself apart from Spanish, that almost everyone I meet online says: "I CAN'T BELIEVE ENGLISH ISN'T YOUR FIRST LANGUAGE!" So far, I wrote four books: AI Rebellion, a rather preachy cyberpunk thriller that still shows the struggle of switching languages (and I only recommend people to read it if they're on an archeological mood, as in if they're interested in seeing my progress as a writer), Eco Station One, a very bizarre and funny satire, the aforementioned Cuentos, and The Clayton Chronicles, a rather cookie-cut vampire tale. All these are available for the Kindle reader on Amazon, in paperbacks and all e-book formats in Smashwords.

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    Pré-visualização do livro

    As Crónicas de Clayton - Edwin Stark

    Introdução

    Para ser lido apenas pelos meus fãs

    (Vocês Os Três)

    Quando os dois contos que estão neste livro virem finalmente a luz do dia, na verdade já terão viajado um longo caminho; não apenas no espaço, mas também no tempo. Começaram a sua bizarra jornada na década de 1990, num meio completamente diferente da narrativa ficcional normal a que todos os leitores estão acostumados: começaram a respirar e a caminhar como roteiros.

    Nesta parte da introdução, senti-me meio tentado a fazer uma simples operação de copia e cola no meu processador de texto acerca sobre como os roteiros em questão foram atirados sem qualquer cerimónia para o meu lendário baú de escritor, mas podem ler sobre isso na minha coleção de contos, Cuentos. Existe uma pequena passagem nessa coleção, como prefácio de um dos meus contos Williams/Clayton, que descreve as razões pelas quais os deixei criar mofo... e a razão obscura sobre como, afinal, acabei por lhes limpar o pó.

    Concentremo-nos na criação dos próprios contos.

    Em Caracas, a minha cidade natal, na Venezuela, costumavam cortar a Avenida Boyaca ao tráfego nas manhãs de domingo, de maneira a que os ciclistas, os skaters e as pessoas pudessem usá-la como um espaço de recreio. Tendo em conta o quanto Caracas é stressante, com uma taxa de homicídio quase quatro vezes maior do que em Manhattan (com 1/3 da população), esta foi certamente uma das ideias mais brilhantes que os idiotas lerdos responsáveis pelo governo do meu país podiam alguma vez ter desenvolvido.

    Numa manhã de domingo, estava a andar na minha bicicleta de oito mudanças pela Avenida Boyaca, apreciando a vista. Já que a avenida tem quatro faixas alcatroadas (duas para Oeste, duas para Este, óbvio!) que acompanha a encosta de Ávila, um dos nossos Parques Nacionais principais, e fica 100 metros mais acima do que o edifício mais alto da cidade, a vista que se tem de Caracas é de cortar o fôlego. Os pássaros cantavam e tinha-se levantado uma leve neblina que escurecia o horizonte.

    Alguém andava de bicicleta ao meu lado; não importa quem era, o tipo em questão mostrou-me quem realmente era anos depois, um maldito traidor, que continua a ser, por isso, não nos preocupemos demasiado com a sua identidade.

    Este F.D.P traidor fez um comentário desnecessário sobre o filme Blob – Outra Forma de Terror e sobre uma variada lista de filmes antigos dos anos 50 (a maioria deles da American International Pictures), e diverti-me francamente com a sua ignorância total sobre o assunto. Não acertou um único enredo até misturou alguns, mas foi engraçado ouvi-lo a deambular na sua feliz estupidez. Foi aí que percebi que o polícia em todos aqueles filmes é sempre o cético, o verdadeiro descrente quando os adolescentes entram no seu gabinete, tentando avisá-lo do perigo iminente depois de o monstro/vampiro/ser do outro mundo (escolham) aparecer na metade final da primeira parte ou no início da segunda.

    Comentei com este idiota/imbecil/pulha (escolham) certificado sobre como seria engraçado se houvesse uma mudança total dos papéis, e o xerife fosse o verdadeiro crente. Recebeu a ideia entusiasticamente e começou a lançar-me a ideia com as suas opiniões e sugestões. Se isto fosse um jogo de ténis, diriam que eu estava a servir-lhe bastante bem com a precisão mortal que a minha mente de escritor era capaz na altura... enquanto ele atirava-a de volta de maneira injusta com uma recuperação infantil... com a bola coberta com o lodo dos seus pensamentos, pensando que era inteligente o suficiente para me dar ideias.

    Bem, o dia de bicicleta eventualmente acabou e voltei para casa com uma ideia a saltar dentro da minha cabeça. Creio que este palerma acabou por ter apenas uma leve noção do que tínhamos falado enquanto andávamos de bicicleta e que, provavelmente, já se esqueceu de tudo na segunda-feira mas deixem-me dizer-vos que eu não me esqueci. Escrevi essa imagem principal do xerife que acredita em monstros (depois de a polir com o equivalente mental a um esfregão da loiça: as noções de escória daquele tipo eram como barro molhado; ficaram agarradas à minha adorável bola de ténis mental), e empilhei-a na minha pasta de ideias. Tão simples e fácil como isso – escrevi num post-it amarelo com todas essas palavras rabiscadas: xerife que acredita em monstros.

    Semanas depois, desenterrei a minha pasta de ideias e analisei-as. Normalmente, deixo ali as coisas para ganharem bolor: às vezes, simplesmente, autodestroem-se (que raios de ideia foi aquela de ter um lagarto gigante a abrir uma loja de esquina? Como?) mas se o conceito for muito forte e mesmo bom, brilha tanto como uma joia rara mesmo após meses no armazém.

    O post-it já não se segurava a nada; a leve cola tinha secado e já não estava limpa e translúcida: estava tão cinzenta e poeirenta como uma múmia recentemente desenterrada, mas a ideia lá apontada ainda brilhava.

    Sentei-me para escrever o roteiro (que até estava decente, à sua maneira), adicionando ao meu xerife-crente uma espécie de amigo vampiro, criando a pequena e problemática vila de Nosfort e os acontecimentos estranhos que por lá se passam e, no fim, havia imensas ideias para uma continuação. Por isso, digamos que eu quase escrevi um filme e a sua continuação, um logo a seguir ao outro.

    Vamos lá ver, a minha relação de amor/ódio com Hollywood é algo que realmente não gosto de publicitar, mas houve um pequeno estúdio que comprou o primeiro roteiro. Infelizmente, os tipos deixaram que um ano se passasse e a compra não foi renovada; quaisquer informações adicionais sobre o paradeiro deste grupo específico de cineastas foram infrutíferas; foi como se uma criatura voraz de outra galáxia os tivesse engolido (e tendo em conta o tipo de besta que Hollywood é, acho que foi mesmo isso que aconteceu: não se preocupem, levantei o cheque da compra, haha).

    Também escrevi alguns contos sobre Sherwin Williams e Clayton Harris, mais alguns sobre a vila, Nosfort, sobre algumas coisas bizarras que tinham acontecido esporadicamente aos seus habitantes, e uma história final sobre Sherwin Willams que termina todo o arco da história que inclui A.I. Rebellion e A Timed Mess, livros que nunca cheguei a escrever. Anos depois, num evento que falei no prefácio acima mencionado de Cuentos, forcei-me a guardar os roteiros de novo no Baú do Escritor. (Suspiro).

    Gostaria de fazer alguns comentários sobre o processo de transformar roteiros em livros. Em primeiro lugar, considero que o ato de transformar um filme num livro é o ato mais cobarde que um escritor pode alguma vez fazer, então ficaria profundamente ofendido se sugerissem que fiz isso ao meu próprio trabalho. Acho que nem se aplica aqui porque, na verdade, não fiz filmes a partir de roteiros (imaginem-me a atirar uma framboesa a qualquer acusador irresponsável). 

    O primeiro livro d’As Crónicas de Clayton Harris é precisamente igual ao roteiro original. Algo estranho acontece em Nosfort; Harris conhece Williams e os dois juntam-se para lutar contra a ameaça, mas tinha muitas mais ideias depois de acabar o primeiro roteiro de Clayton Harris. Coloquei no segundo roteiro muitas mais coisas que não faziam sentido e, infelizmente, essa pequena coisa sofria de continuite (o termo médico para inchaço da continuação).

    Era bom e divertido mas, como em qualquer outra segunda parte de tudo, era mais do mesmo, e foi basicamente uma desculpa para levar as personagens ao confronto final. Então, já devem ter percebido que estava bastante relutante em transformar a farsa que era o roteiro num livro, mas aconteceu algo quando comecei a procurar pelo roteiro original, apenas para verificar as minhas notas sobre ele. 

    Não estava em lado algum.

    Sou um tipo que vive a vida imerso numa desorganização organizada, o que significa que há pilhas de manuscritos, notas e revistas à minha volta. Basta mencionarem um certo artigo e, provavelmente, desenterrarei o documento em menos de cinco minutos, já que, na maioria das ocasiões, sei onde raios procurar.

    Desta vez, zilch. Niente.

    Quase virei toda a minha casa de pernas para o ar. Finalmente, depois de duas semanas à procura, atribuí a perda a um mero acaso. A perda do roteiro foi uma coisa boa: o que se seguiu foi uma melhoria dez vezes superior em relação ao roteiro original. O título continua a ser super cliché, e o seu fim é fiel à ideia principal que domina a maneira como os nossos heróis persistem na conclusão. No entanto, enquanto tentava melhorar um pouco o enredo, tropecei numa feliz partida do destino.

    O verdadeiro escritor de terror deve ocasionalmente entrar em território tabu para horrorizar o seu público. Creio que o consegui no capítulo 6 do segundo livro das Crónicas de Clayton. Nesse capítulo, passei a fronteira para a Terra do Tabu... e recuei rapidamente, como se tivesse entrado em água a ferver. Não é todos os dias que tenho a oportunidade de escrever algo que me choca completamente (e, acreditem, tenho uma imaginação desprezível). Tive que reescrever o capítulo de raiz para o suavizar; era demasiado explícito, demasiado gráfico, então reescrevi-o para sugerir inteligentemente, permitindo ao leitor apenas vislumbrar uma ténue ideia que a sua mente sugere por detrás do diáfano véu da imaginação.

    Como podem ver, estava a remoer a mente de um assassino em série que mata raparigas, estava no meio de coisas nada agradáveis que encontrei por lá, e tropecei nesta noção pequenina que era a ideia principal de todo o capítulo. Reconheci imediatamente a ideia pelo que era, como fã do género (e aspirante a escritor), li Danse Macabre de Stephen King e percebi que tinha tropeçado numa ideia Tabu em que poderia trabalhar facilmente. OK, se estão a perguntar-se sobre o que estou a divagar, sugiro que peguem numa cópia da brilhante exposição de Stephen King sobre o terror porque os seus conceitos da Terra do Tabu vão muito para além do âmbito da sua introdução. Tudo bem, eu espero enquanto vão ver.

    Vamos lá ver, as possibilidades de um escritor de terror em horrorizar estão a diminuir a cada década porque os tabus estão a ruir constantemente hoje em dia; as coisas que revoltariam as entranhas de uma dona-de-casa na década de 1950 agora só provocam uns risinhos. Suspeito que o Bart Simpson acertou à primeira quando no primeiro episódio de Treehouse of Horror, comenta sobre o filme Sexta-feira 13 Até é inofensivo para os dias de hoje[1].

    No entanto, creio que consegui tropeçar numa noção que será sempre um tabu, tal como imagino que irá permanecer assim no futuro. É apenas uma coisinha que acontece no capítulo 6 do segundo livro das Crónicas, mas sei que, quando for encontrada e interpretada (ou mal interpretada, como quiserem), haverá muitas pessoas que farão uma grande tempestade por causa desta coisinha pequena.

    Bem, para terminar esta introdução, as histórias que estão prestes a ler são viajantes no tempo de uma altura em que não havia internet, os telemóveis só em sonhos e os Simpson eram apenas um brilho nos olhos de Mr. Groening. Por isso, creio que a minha frase inicial de que eles já tiveram uma longa jornada para chegarem às vossas mãos é verdadeira.

    Atenciosamente,

    Edwin Stark

    O SANGUE ERRANTE

    Crónica de Clayton # 1

    Capítulo: Um

    NOSFORT, 1971. – VERÃO

    Danny Tremain caminhou atentamente pela Main Street, passando a esquina de Chelsea e ignorando por completo a Reader Street. Passou pela loja dos doces e não prestou atenção alguma à montra da loja ToyLand na esquina de Ashwood Street.

    A ausência de uma pausa em frente ao seu lugar preferido, onde podia olhar durante horas para os brinquedos e as novidades que tinham acabado de chegar era bastante incomum. Normalmente, perderia horas a olhar para todos aqueles brinquedos que nunca poderia comprar sozinho, até o dono, Mr. DeSalle, um homem normalmente paciente, o enxotar gentilmente num gesto impaciente.

    Danny Tremain, de dez anos, voltaria mais tarde ao seu lugar favorito depois de lidar com o assunto importante que lhe ia na mente. Ia a caminho do gabinete do xerife para fazer a coisa certa. Ainda bem que os outros miúdos da sua idade não estavam com ele na altura; tê-lo-iam apelidado de menino certinho, bom samaritano, etc., e quaisquer outros nomes que lhes viessem à cabeça sobre uma pessoa que conhecia o seu dever cívico.

    Daniel sentia-se contente por não estar com os seus amigos da escola... ainda. O que tinha para contar ao xerife era um segredo pessoal e não era de mais ninguém. Por isso, saboreou a posse temporária do seu segredo obscuro até chegar a altura de o contar a alguém com autoridade.

    Estava a deambular nas traseiras da zona industrial em Elm Street, na esperança de encontrar algo interessante para fazer perto do ferro-velho de Hector, já que estávamos a meio do verão, cinco dias depois do Quatro de Julho e já não havia escola. Entediado dos pés à cabeça, espreitou pela pequena cerca de arbustos que ladeavam a zona má do matagal do latino. Havia uma pequena cova e um cano de escoamento, bem escondido pelo arvoredo, e Dan costumava ir para aquele lugar para ver o que a fraca corrente podia trazer. Estava um dia nublado e fresco, especialmente para aqueles dias de verão sem escola, e ele normalmente fazia descobertas pequenas, mas interessantes. Certa vez encontrou uma nota de cinco dólares, que gastou animada, mas sabiamente, na Marvel Comics, duas comics por semana. Noutra ocasião, encontrou um fio de ouro com um pequeno medalhão em forma de coração que guardava a fotografia de três raparigas bonitas; tinha a intenção de o dar à mãe no aniversário passado, mas este item em específico costumava dar-lhe arrepios por razões desconhecidas e tinha reconsiderado de imediato, guardando-o para o Natal seguinte. Houve outra altura em que tinha encontrado um castor morto e inchado naquela cova. Para Dan, que nunca tinha visto um de perto com exceção das imagens no livro da escola, era uma oportunidade interessante para o examinar minuciosamente o melhor que podia; é claro, tudo isto a partir de uma distância segura que era dada por um pau longo e afiado que usou para virar o roedor.

    Hoje, Dan foi para o Ferro-velho de Hector e quando entrou no arvoredo, percebeu de repente que tinha ganho mais do que tinha esperado. Tinha encontrado um...

    Agora, Daniel estava em frente à esquadra da polícia, na esquina da Main Street com a Sycamore. Era um edifício de dois andares de tijolos vermelhos e argamassa, com duas grandes janelas à frente. Estampado ao longo delas, num gracioso arco de letras, estava escrito a palavra Xerife. Diretamente abaixo estavam letras pequenas que diziam, de uma maneira menos elaborada, N.P.D.. Daniel acenou aprovando o símbolo e depois subiu os três degraus, abriu a porta e entrou na esquadra da polícia.

    * * *

    Estar dentro da esquadra da polícia era uma enorme fonte de desapontamento para o jovem Daniel. Não se parecia nada com as esquadras da polícia que tinha visto na televisão. Três secretárias, cada uma complementada com um conjunto de arquivadores, e uma dúzia de cadeiras de madeira resumiam o conteúdo do primeiro andar. Havia uma escada em espiral de ferro forjado que subia para o andar de cima do edifício e ao seu lado estava uma porta trancada que limitava o acesso a uma escada de madeira, que levava à escuridão no andar inferior de um pequeno bloco de detenção. Dany sentiu uma certa curiosidade mas rapidamente considerou pedir ao Xerife Clayton para o deixar dar uma espreitadela – depois de Dan lhe contar sobre o que tinha descoberto, claro.

    Danny olhou rapidamente para as placas de identificação em cada secretária e reparou que o lugar do Xerife Clayton estava vazio, bem como o do agente Hugh Pritchett. Infelizmente, Cliff Golan estava ali. Se havia algum agente do xerife que odiava tanto crianças como Golan odiava, Dany adoraria conhecer esse homem da lei hipotético: seria digno de uma entrada no Guinness World Records. Raios, Dan até pagaria um bilhete para ver um tipo assim.

    Cliff Golan estava sentado na secretária que servia de zona de receção com os pés em cima da mesa, a ler o Norsfort Gazette. Danny sabia que se o Xerife Clayton apanhasse Golan a fazer aquilo mais uma vez, cairia o inferno. O Xerife Clayton Harris era um polícia muito profissional e não gostava nada quando um dos seus subordinados se comportava com uma total falta de princípios.

    Assim que a porta de entrada se fechou atrás de si, Danny notou que o Agente Clifford Golan tinha lançado um olhar despreocupado por cima do jornal Gazette e afundou-se rapidamente por detrás das páginas do jornal aberto, agindo como se Danny fosse o tipo de problema que desaparecia se ele simplesmente o ignorasse.

    Danny aproximou-se da secretária de Golan e fez um som gutural com a sua garganta para captar a atenção do tipo. Golan quase se escudou com o Gazette e Danny teve que recorrer ao seu som gutural, não apenas uma mas mais duas vezes antes de o agente finalmente deixar o seu material de leitura com um gesto exasperado e se dignou a dar uns segundos do seu tempo precioso.

    – Que queres, miúdo? – perguntou o Agente Golan, com uma ênfase tal no miúdo que quase implicou que ser menor de idade era um crime digno de pena de morte.

    – Quero falar com o Xerife Clayton, senhor – respondeu Danny como mandava a cortesia, lutando contra o desejo, felizmente breve, de brindar o seu senhor com todo o veneno rastejante que sugeria o se real humor.

    – O Xerife está no segundo andar, nos arquivos, miúdo – disse Golan, apontando com o polegar para a escada em espiral.

    – Posso ir lá acima falar com ele? É importante – perguntou o miúdo, endireitando as costas para mostrar que estava a falar a sério.

    Golan olhou para ele, suspeito.

    – Não... não podes. É contra as regras. É melhor sentares e esperares – disse, apontando com o polegar para a fila de três cadeiras de madeira na parede oposta.

    Apontou com o polegar duas vezes como se fosse a arma mais mortífera do mundo e voltou a erguer o Gazette para se isolar do campo de visão de Danny. Na humilde opinião de Golan, se houvesse um miúdo mais ranhoso que Danny Tremain, com todo o gosto pagaria um bilhete para o ver.

    * * *

    O Xerife Clayton Harris amava o seu trabalho e era por isso que estava nos arquivos no andar de cima. Não estava a tentar encontrar alguma informação relevante entre os arquivadores poeirentos, mas estava a fazer uma chamada pessoal importante. Com toda a insistência que tinha colocado no profissionalismo quando conferenciava com o seu pessoal, não se atreveu a fazer esta chamada pela linha de telefone principal enquanto estava sentado na sua secretária, não fosse Hugh ou Clifford ouvirem-no, por isso, subiu as escadas, dizendo que ia inspecionar alguns arquivos antigos.

    Mais cedo naquela manhã, enquanto andava desde casa como fazia todos os dias, passou à frente da Cave do Sal, a loja local de itens colecionáveis. Sal Schneider comercializava cartas de basebol antigas, estátuas de estuque estranhas das décadas de 1920 e 1930, e livros de banda desenhada antigos.

    Hoje, a sua loja tinha na montra um raro Vault of Horror #26 que parecia estar em perfeito estado, nem uma dobra na capa ou uma página dobrada. Durante todo o dia, Clayton tentou entrar em contacto com Sal pelo telefone para fazer algum tipo de acordo sobre esse assunto em específico.

    Danny Tremain, que estava sentado no andar de baixo, ter-lhe-ia dito uma coisa ou duas sobre a sua ânsia obscura, já que ste tipo de comportamento compulsivo e quase obsessivo era mais adequado a um pré-adolescente do que a um homem de 38 anos, que também era o xerife da vila. A descoberta do seu interessezinho por banda desenhada da EC comics haveria de levantar muitas sobrancelhas pela vila e franzir muitos cenhos na assembleia municipal. Haveria muitos sobrolhos erguidos pela vila e muitos desses sobrolhos no concelho da vila não veriam com bons olhos a descoberta do seu pequeno interesse secreto em banda desenhada da EC comics

    Como iria parecer mal na próxima reunião sobre verbas, lá foi ele para os arquivos e usou essa extensão do telefone, tendo o cuidado de enviar as contas para o seu telefone de casa.

    Por fim, a voz familiar de Sal respondeu depois de uma longa série de toques de chamada.

    – Cave do Sal. Daqui fala o Sal. Como o posso ajudar?

    – Olá, Sal, daqui é o Clayton Harris.

    – Olá, Xerife – disse Sal –, como está?

    – Bastante bem, Sal, velho camarada. Digamos... será que os meus olhos me enganaram ou colocaste o Vault #26 em exposição na montra esta manhã?

    O tom de voz de Sal mudou para um mais adequado aos negócios. Clayton Harris quase podia imaginá-lo, a esfregar gananciosamente uma mão na outra.

    – Sim... que tem? – disse Sal.

    – Sabes que o meu filho Jonathan adora colecionar esse tipo de coisas, está sempre a chatear-me por causa dos números em falta da sua coleção e, ultimamente, o Vault #26 parece estar no topo das suas grandes prioridades – disse o Xerife Harris... e foi aqui que ele começou a afastar-se cada vez mais da verdade.

    Sim, ele tinha um filho de dezassete anos, mas Jonathan pouco se importava com a EC comics. Sarah, a esposa de Clayton, e Jonathan abanariam as suas cabeças em incredulidade por este veemente afastamento da verdade. Depois de uma pequena ronda de negociações, Sal finalmente deu uma quantia de dois dígitos que o Xerife Harris considerou razoável.

    – Importas-te de colocar na caixa dos reservados até passar aí mais logo, Sal? – perguntou Clayton.

    Sal concordou e mencionou que tinha sido um prazer fazer negócios com ele, uns segundos antes de Harris colocar o auscultador de novo no telefone.

    O Xerife Harris dirigiu-se para as escadas em espiral enquanto retirava a carteira para verificar o seu conteúdo. Anuiu, satisfeito por poder pagar o que Sal pedia pela revista sem grandes problemas, à exceção de que ficaria com pouco dinheiro para os dias que faltavam até, finalmente, receber o ordenado. Sarah matá-lo-ia por esta compra inesperada, mas era um preço que tinha que pagar por ser um instruído coletor de recordações.

    Começou a descer as escadas, rangendo em cada degrau de metal e assobiando uma melodia alegre.

    * * *

    Porém, o bom humor de Harris durou pouco tempo. Quando chegou ao final da escada em espiral, reparou em duas coisas. Clifford Golan estava a arrumar as coisas em cima da secretária, o que significava que tinha colocado de novo os seus cascos em cima da mesa. A segunda coisa em que reparou foi em Danny Tremain sentado, com aquela postura rígida e direita normal nele, numa daquelas cadeiras de madeira terrivelmente desconfortáveis do outro lado da parede. Apesar de o miúdo já ser grande o suficiente para colocar os pés no chão enquanto estava sentado, tinha encontrado uma posição que lhe permitia balançá-los devagar enquanto raspava suavemente com as pontas dos ténis no chão. Parecia um miúdo dois anos mais novo, entediado pela espera injustificável.

    O Xerife Clayton ficou parado momentaneamente no fundo das escadas, sem ter a certeza sobre como proceder. Cliff parecia especialmente aborrecido, mais provavelmente por causa dos raspões suaves que os pés de Danny faziam e, nesta situação, seria pouco profissional falar primeiro com o miúdo. Harris encolheu os ombros e perguntou ao agente o que se passava.

    – O miúdo Tremain quer falar consigo, Xerife – replicou Golan sucintamente.

    Sabendo o quanto Clifford não gostava de crianças, Harris limitou-se a responder com um aceno astuto. Depois, mudou a sua atenção para o rapaz.

    – Olá, Danny... que se passa? – indagou.

    Danny parou de balançar os pés e reafirmou-se voltou àquela postura insuportavelmente direita que parecia aborrecer toda a gente. Oh, não, pensou Harris, Isto vai tornar-se numa enorme dor de cabeça quando crescer.

    – Tenho algo importante para lhe contar, Xerife.

    – Bem, podes dizer, Danny.

    Danny Tremain deitou ao agente Clifford Golan um olhar bastante azedo. Harris sentiu Golan a enrijecer consideravelmente perante o olhar e suspirou mentalmente.

    – Clifford, queres ser um tipo porreiro e podes ir ao Restaurante da Betsy – disse Harris, pausando para olhar o jovem mestre Danny –, e uma vaca-preta para o nosso visitante. Que sabor, Dan? Chocolate?

    – De baunilha seria bom.

    Baunilha, oh, fantástico. Devia de ter adivinhado, pensou Harris.

    Clifford resfolegou profundamente, o seu rosto corou pela raiva controlada por se ter tornado de repente o rapaz dos recados, especialmente por isso implicava trazer uma guloseima para um miúdo de dez anos. Não obstante, saiu da sua cadeira e dirigiu-se para a saída.

    Harris sorriu quando ouviu a porta a bater.

    – OK, ele não nos incomodará tão cedo. Entra no meu gabinete, Danny.

    O gabinete do Xerife era a secretária mais longe da porta e a que estava ladeada com mais arquivadores do que as outras duas. Danny sentou-se numa das cadeiras de frente para a secretária. O miúdo examinou curiosamente a placa de identificação com o nome de Harris durante um ou dois segundos e depois tomou a iniciativa.

    – Xerife, estava a deambular pelo Ferro-velho do Hector e encontrei uma coisa que tem que ver – disse o miúdo com uma cara tão séria

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