Chiara aos Gen 1970-1974
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Chiara aos Gen 1970-1974 - Chiara Lubich
TERRESTRE
Prefácio
Após os anos de fundação e de difusão em todo o mundo (1966-1969), o Movimento Gen se apresenta nos primeiros anos de 1970 como uma verdadeira e autêntica nova geração de rapazes e moças que acolheram e fizeram próprio o ideal da unidade que lhes foi passado pessoalmente por Chiara Lubich. Foram delineados a sua fisionomia e o seu objetivo: Que todos sejam um
, mesmo ideal de Jesus. E os gen entendem o que isso exige: desencadear uma revolução de amor na própria vida e no mundo inteiro.
A primeira metade dos anos 1970 se caracteriza por uma exacerbação do confronto ideológico-econômico entre Oriente e Ocidente, pelo avanço considerável do consumismo e de hedonismo e por um profundo mal-estar entre os jovens, especialmente na Europa.
Chiara se dirige aos gen e às gen com toda a força e a energia de quem sabe que é instrumento de Deus para a Sua obra. Mostra-lhes a ideia de mulher e de homem que espelham o desígnio de Deus, assim como o tipo de sociedade que gera, radicalmente, a vivência das palavras de Jesus. Assim, essas páginas compilam discursos programáticos, mensagens, cartas e respostas nos quais Chiara manifesta toda a liberdade de expressão e a segurança de ser compreendida por quem já mantém um relacionamento familiar e profundo com ela.
Este segundo volume, que se refere precisamente ao período de 1970 a 1974, constitui um passo posterior na realização editorial da série de textos que recolhem tudo o que Chiara disse e escreveu para a segunda geração do Movimento dos Focolares.
O EDITOR
1970:
UM PASSO a FRENTE
In Gen, janeiro de 1970
Caríssimos gen,
Feliz 1970!
Como veem, este novo ano traz uma boa notícia. A nossa revista Gen foi desmembrada. Pois é, logo, logo vão sair duas revistas, em lugar da do ano passado: uma para os gen e outra para os jovens do mundo todo, os quais gostaríamos que conhecessem o ideal gen.
Após uma rápida pesquisa, mas bastante profunda, vimos que a fórmula aplicada nos anos anteriores não era plenamente satisfatória. A revista era bonita, rica em fotografias, impressa em papel bom e feita da melhor maneira possível. Mas os gen não viam nela a expressão adequada ao Movimento deles.
O motivo principal foi que a revista não era feita só por eles. Na realidade, notava-se um quê de híbrido no conjunto dos artigos, um quê de estático nas seções, que se repetiam de modo um tanto monótono.
O aspecto tipográfico nada tinha de evangélico, era um pouco pobre e inadequada aos jovens.
Além disso, a revista não era para os menores, nem para os maiores e trazia poucas notícias para os verdadeiros gen e notícias demais para aqueles que precisavam conhecer o Movimento Gen, sem ficarem logo sufocados pelo sério compromisso que nossa espiritualidade evangélica exige.
Discutimos o problema e decidimos. Por enquanto, sairá o Noticiário Gen, para os autênticos gen, ou seja, para os animadores do Movimento Gen.
Enquanto isso, vamos estudar uma fórmula para apresentar uma revista à altura de todos os jovens de boa vontade, portanto, ao alcance de muitos deles.
Por isso é um passo à frente, em nossa revolução.
Mas, como esse é o Noticiário Gen, podemos nos perguntar: Quem são os verdadeiros gen?
.
Tive uma ideia clara sobre isso, ao ouvir algumas impressões que as gen portuguesas gravaram, após um congresso nacional que fizeram. As verdadeiras gen, os verdadeiros gen, são aqueles que, por uma grande dádiva de Deus, entenderam o cerne da espiritualidade gen, que não se detiveram em valorizar determinado aspecto do ideal como o amor apenas, ou só a cruz, ou a unidade somente, ou só ver Jesus no próximo etc.
Não. Eles, por serem puros de coração, crianças evangélicas
e jovens na idade, possuem a alma irrigada pela nova vida que a graça de Deus neles semeou. E a vida interior, por ser complexa, tanto e mais do que a vida natural, apresenta múltiplos aspectos. Mas é simples, como a simplicidade de Deus.
Ora, essa vida nova que eles possuem prescinde de qualquer vocação especial, para a qual poderão sentir-se chamados num futuro. Ela pode subsistir com o matrimônio ou com a virgindade, com o sacerdócio ou com a vida religiosa, mas em cada situação aquele gen, aquela gen — se corresponderem ao grande dom de Deus — serão cristãos íntegros, à semelhança dos cristãos do primeiro século e, portanto, candidatos à santidade.
Ouvindo aquelas gen de Portugal, mais pelo tom da voz, que revelava suas convicções, do que pelas próprias palavras, compreendi de maneira nova — diria — as palavras de Jesus: Se não vos converterdes e não vos tornardes como as crianças, de modo algum entrareis no Reino dos Céus
(Mt 18,3).
As crianças, porque isentas de apegos excessivos às próprias coisas, à profissão, às criaturas, às ideias pessoais, estão mais propensas a compreender a mensagem de Cristo. E podem vir a ser verdadeiras mestras também para os adultos.
Gen são aqueles que compreendem a mensagem de nossa espiritualidade evangélica como algo que, embora muito adequado ao tempo, às circunstâncias históricas, às situações em que vivemos, tudo supera, como a Sabedoria, única e imutável, que tudo invade.
Por raciocinarem assim, compreendem não só a própria geração, como valorizam ao máximo a geração que os precedeu, o Movimento dos Focolares.
Eles, na feliz expressão de um gen, sentem que são a revolução permanente daquela geração que Deus suscitou há um quarto de século. E dela — como afirmou outro gen — extraem as ideias e os exemplos, como se tira de um capital, para atuar hoje, no contexto histórico de hoje, com a linguagem de hoje, aquilo que ontem foi feito com ardor idêntico e frutos sem número.
Além disso, os verdadeiros gen veem neste único Movimento de uma nova geração de Deus uma potente revolução, pois é uma revolução evangélica.
Os verdadeiros gen têm um senso profundo, indispensável e indestrutível, da unidade entre eles.
Reconheceram como ideal da vida deles — e isto é fundamental — Jesus crucificado e abandonado, a quem sempre se amoldam.
Eles ainda esperam do mundo amor e ódio e são gratos a Deus por um e por outro.
Os verdadeiros gen, enfim, não se improvisam. São pessoas em quem Deus trabalhou, encontrando o terreno propício e usando os meios adequados.
Com o Noticiário Gen, queremos oferecer humildemente algumas ideias, alguma informação a esses jovens, para cooperar com Deus, jardineiro espetacular, que façam florescer obras-primas de graça, de beleza, de santidade, em benefício de toda a humanidade, que sente fome de paz verdadeira, de amor verdadeiro, de unidade verdadeira e de fatos concretos.
Somente Deus pode dar tudo isso ao mundo.
E os gen querem ser Seus canais.
Então, que Ele nos ajude, e Maria, nossa líder, abençoe os nossos esforços.
A paixão de hoje
In Gen, fevereiro de 1970
A Redação me sugeriu que dissesse alguma coisa sobre Jesus Abandonado. Gostei muito da ideia. Aliás, prometi que vou escrever outras vezes sobre o assunto, se for do agrado de todos.
O fato é que o mistério de Jesus Crucificado e Abandonado é o motor de toda a nossa revolução.
Todos sabemos que, no mundo, a nossa religião tem sido combatida por várias ideologias ou por outras religiões.
Tempos atrás, estive num país onde o cristianismo é apenas suportado. Entretanto, os cristãos possuem uma fé fortalecida pelas dificuldades, chegando a fazer suas práticas de piedade publicamente, na medida do possível, mas conhecem do cristianismo, sobretudo o aspecto da dor, da cruz. De fato, lá, perseguição é o que não falta. E o sofrimento é contínuo.
Encontrei-me por acaso com uma personalidade muito culta, da Igreja. Como conhecia o meu Ideal e o nosso Movimento, pediu-me que lhe falasse justamente de Jesus Abandonado. E logo viu espelhados naquela misteriosa dor de Jesus, e no seu grito, a angústia que os seus cristãos sofriam, o gemido do abandono em que eram obrigados a viver, a perseguição, a ironia que desmoraliza e aniquila, a ausência cada vez mais crescente da esperança…
No final, muito impressionado, depois de ter meditado ponto por ponto, afirmou: Também hoje Cristo sofre na sua Igreja. Jesus Abandonado é como hoje a Igreja vive a sua paixão
.
Tal afirmação proferida por um cristão que havia lutado e sofrido por uma ala da Igreja que parecia marchar em lenta agonia para a morte me fez pensar longamente.
Ao mesmo tempo, porém, uma ideia encheu meu coração de alegria. Se esses irmãos conhecessem a nossa espiritualidade e fizessem de Jesus Abandonado, justamente de Jesus Abandonado, o Ideal de suas vidas, o encontro com Ele nas dificuldades diárias não seria mais um empecilho para a vida cristã deles, mas seria motivo para um novo impulso.
Desse modo, enquanto a Igreja, que é o Reino de Deus no mundo, parece extinguir-se pelo progressivo fechamento das igrejas construídas de tijolos, pelas proibições do culto público, o Reino de Deus, que é basicamente amor, cresceria em cada coração. E, como o amor por Deus não é autêntico, se não se traduz em amor pelo próximo, nasceriam ao redor desses fiéis comunidades cristãs vivas, capazes de reanimar os mornos e os temerosos. E a Igreja, em vez de morrer, refloresceria com nova beleza.
Desde então, só Deus sabe o que Jesus Abandonado operou em muitos países mergulhados em situações semelhantes!
O certo é que nada repercute mais naquelas pessoas do que quando se fala desse misterioso sofrimento de Jesus.
Ele é a chave que lhes abre as portas do impossível, pois, justamente quando deviam morrer, encontraram a vida, justamente onde tudo devia apagar-se, acendeu-se um incêndio.
Assim avança a revolução do amor.
Isso deve fazer todos nós gen pensarmos!
Esses nossos irmãos são quase que constrangidos, pelas circunstâncias, a fazer de Jesus Abandonado o Ideal de suas vidas.
Nós, não. Em muitos lugares onde vivemos, não é assim. Temos liberdade de religião.
Então, qual deve ser a nossa posição diante de Jesus Abandonado?
Acho que deva ser a posição de alguém que se casa com uma criatura movido apenas pelo amor e não pelos interesses mais diversos.
Nós escolhemos Jesus Abandonado porque amamos a Deus. E amar a Deus aqui na terra