TV Digital no Brasil: Estudos Sobre a Transição Analógico-Digital em Brasília e Belo Horizonte
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Sobre este e-book
Na experiência vivida, buscou-se entender o quão importante a televisão ainda é na formação do imaginário brasileiro, as expectativas em relação a mais uma etapa de evolução tecnológica, o desconhecimento e a falta de informação a respeito do potencial que a TV Digital poderia desenvolver e a frustração de alguns setores quando se constata somente a mudança da qualidade da imagem e do som, sem que a interatividade tenha sido implementada.
O resultado dessa jornada é expresso nos artigos escritos por estudiosos do tema. Boa leitura!
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TV Digital no Brasil - Cláudio Magalhães
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO
Esta publicação é dedicada às centenas de pesquisadores, professores, bolsistas, alunos e profissionais que, ao longo dos últimos 20 anos, têm se dedicado a estudar e a propor uma TV Digital no Brasil do tamanho de seu território, de sua inserção na sociedade e no desejo incessante de melhorarmos a nossa cidadania com uma verdadeira comunicação social.
AGRADECIMENTOS
Um livro feito a tantas mãos tem número ainda maior de colaboradores que ajudaram de forma consistente ou momentânea, mas sempre emocional a cada um dos pesquisadores. Na impossibilidade de listá-los, tanto pela quantidade quanto pelo receio da injustiça do esquecimento de alguém, nosso agradecimento fica no coração e na toada da temática desta publicação, que seja transmitido e sintonizado por cada um(a) que, de alguma forma, ajudou e torceu para que este trabalho fosse ao ar.
Ainda assim, algumas pessoas e instituições foram importantes para o conjunto da obra. Entre elas, foram fundamentais o apoio da Universidade Católica de Brasília; do Programa de Mestrado Profissional de Inovação em Comunicação e Economia Criativa e do Programa em Pós-Graduação em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário Una e seu Mestrado Profissional, de onde foi gestado e é, atualmente, acolhido; o Núcleo de Estudos da Realidade Digital – Nerd, turma que construiu a publicação que está em suas mãos (ou tela). Em especial, a sua então coordenadora, Lucília Machado, que nunca mediu esforços para apoiar o grupo e torná-lo uma cria saudável e em constante desenvolvimento.
Um agradecimento especial à pesquisadora e, ainda mais, entusiasta da comunicação pública eletrônica e comunitária, Deisy Feitosa que, quando à frente da equipe de transição da Seja Digital/EAD em Brasília e Belo Horizonte, além do apoio operacional dado aos pesquisadores, foi inspiradora para que não deixássemos de sonhar com uma TV Digital que visse o telespectador menos como consumidor e mais como cidadão.
Os organizadores do livro ainda agradecem a todos os autores e convidados, sempre solícitos, generosos e entusiastas, o que facilitou a administração de uma turma na casa de duas dezenas de pesquisadores.
PREFÁCIO
A TV Digital Brasileira está morta, mas o defunto goza de boa saúde
A TV Analógica demorou mais de 50 anos para atingir a resolução de alta definição.
Poucos recordam, mas a HDTV surgiu analógica na década de 1990 e, apesar das tentativas da indústria japonesa, não emplacou, assim como a tecnologia europeia HD MAX, que tampouco sobreviveu.
Hoje a TV Digital de alta definição, a HDTV, transformou-se em Ultra e já encontramos transmissões abertas de teste em 4K na Coreia do Sul e nos Estados Unidos e, no Japão, existem canais em 8K desde 2018, isso tudo em menos de 20 anos de sinais digitais implantados.
Esse admirável mundo novo é um misto de televisão com qualidade de cinema e computador dedicado, que acessa material on-line, uma TV com múltiplas entradas invisíveis para o consumidor.
Num país como o Brasil, o sonho da TV Digital chegou muito forte, não tanto pela qualidade de imagem e som, mas muito mais pelas possibilidades que a tecnologia digital permite.
Na verdade, acredito que esse movimento deu-se em vários países da América Latina, afinal, seria incrível termos uma TV como agregadora de uma infinidade de serviços, ou seja, enxergamos na TV Digital todo seu potencial tecnológico, principalmente nos serviços públicos.
Eu mesmo sempre acreditei na TV Digital como algo a mais, como demonstrei em minha tese de doutorado, totalmente baseada nas possibilidades de a TV Digital servir como base para um sistema de alerta de emergências que poderia ajudar populações em risco iminente e ajudar a salvar vidas.
É incrível como, com todos os estudos e experimentos realizados, até hoje quase nada tenha sido de fato colocado em prática no Brasil, mas por quê?
A meu ver, porque simplesmente nossos anseios estavam mais focados na prestação de serviços públicos, sem prever um modelo de negócios atraente para as TVs comerciais e as indústrias invisíveis que comandam o negócio da televisão, que são os fabricantes de equipamentos e as operadoras das telecomunicações.
Vejamos o exemplo da indústria de equipamentos: para uma empresa fabricante de equipamentos de televisão ter de embarcar diferentes tipos de midlleware por região, o país dificulta a fabricação em massa e a distribuição globalizada e, quanto às operadoras de telecomunicação, estas estão muito mais interessadas em serviços que são cobrados, como a nossa internet de cada dia, do que na TV gratuita. O exemplo da faixa de 700 MHz, exatamente nas frequências que estavam destinadas à TV Pública, e que foi leiloado para a entrada de tecnologias como o 5G, demonstra bem isso.
Dessa forma, a TV gratuita cada vez mais é refém de um mercado ávido por fazer do acesso ao conteúdo audiovisual um modelo de negócio em escala que oferece, além das possibilidades inerentes ao vídeo sob demanda, como acesso na hora em que quiser, pausar, avançar e retroceder, agora também os conteúdos ao vivo, incluindo as emissoras locais via internet e, é claro, deixando de ser gratuita.
Nessa encruzilhada se encontra o futuro da televisão broadcast, com Estados Unidos e Japão trabalhando em sistemas de ultra definição de TV aberta e vários outros países, incluindo os europeus, pensando em uma TV que dependerá do 5G. Ou seja, com pagamento de pacotes de dados de internet para ser acessada, é a robustez da TV broadcast frente à promessa da internet de altíssima velocidade e disponível em qualquer lugar.
Neste livro é demonstrado um belo resgate de algumas iniciativas, diversas lacunas e várias possibilidades que fazem uma televisão digital brasileira aberta, plural, inclusiva e acessível, afinal, o maior sonho que já tivemos em forma de televisão pública, que conseguiu ser ao mesmo tempo moderna e precocemente levada à obsolescência pela falta de interesse público de fazer frente às novas tecnologias emergentes que estão transformando a forma de fazer e consumir televisão.
Fica a lição de sermos excelentes em criar tecnologias e soluções, com trabalho conjunto entre universidades, centros de pesquisa e empresas brasileiras, mas ainda temos muito a aprender em termos de negócios globalizados.
Por fim, a reunião de tantos pesquisadores em Brasília e Belo Horizonte mostra que a busca pelo conhecimento persiste nos sonhos de uma TV Digital de interesse público, e suas investigações são um convite a não deixar que as ideias fiquem fora de sintonia e saiam do ar.
Boa leitura, leve adiante, multiplique e pensemos que a história da TV Digital brasileira pode estar só começando...
Fernando José Garcia Moreira - Presidente ABTU
LISTA DE SIGLAS
Sumário
INTRODUÇÃO 17
Cláudio Magalhães
A EXPECTATIVA E A ENTREGA
MAIS DE UMA DÉCADA DEPOIS, A TV DIGITAL AINDA É A
TV DO PODE
27
Cláudio Magalhães e José Dias Paschoal Neto
TV DIGITAL E A ILUSÃO DA INTERATIVIDADE 41
André Ferreira Santana, Carlos Alexandre Geraime de Souza, Cláudio Magalhães e
José Dias Paschoal Neto
A EXPERIÊNCIA DE BRASÍLIA
COTIDIANIDADE DIGITAL: RECONFIGURAÇÕES DAS
MEDIAÇÕES PELA TELEVISÃO 61
Alexandre Schirmer Kieling e Kênia Cardoso Vilaça de Freitas
TELEVISÃO PÚBLICA DIGITAL COMO ESPAÇO CIDADÃO EM
TEMPO DE PRIVATIZAÇÕES: O CASO DO BRASIL 4D NO
DISTRITO FEDERAL 71
Cosette Castro
A TRANSIÇÃO DA TV DIGITAL E SEUS IMPACTOS NA
AUDIÊNCIA DA TV BRASIL 89
Adriano Adoryan
A EXPERIÊNCIA DE BELO HORIZONTE
As pesquisas do Nerd – Núcleo de
Estudos da Realidade Digital
E OS 7%? A PERCEPÇÃO DAS FAMÍLIAS CARENTES DE UMA COMUNIDADE DE BETIM/MG A RESPEITO DA TRANSIÇÃO
DA TV ANALÓGICA PARA A TV DIGITAL 101
Eudes Moreira Sobrinho e Wellington Nora Soares
MOSTRA QUE EU ESCUTO: A PERSPECTIVA DA TV DIGITAL
PARA OS SURDOS E SEUS EDUCADORES 115
Angela Araújo Costa e Veridiana Antônia Alves de Souza
CRECHE DIGITAL? A PERCEPÇÃO DE EDUCADORES E
CRIANÇAS SOBRE A TV DIGITAL 125
Flávia dos Santos Pereira
DE QUEM REALMENTE ACOMPANHOU A EVOLUÇÃO: A PERCEPÇÃO DO IdOSO A RESPEITO DA TRANSIÇÃO DA
TV ANALÓGICA PARA A TV DIGITAL 143
Mirla Carolina Braga do Carmo
PARA QUÊ, SE ESTOU NA INTERNET? A PERCEPÇÃO DOS
JOVENS NA TRANSIÇÃO PARA A TV DIGITAL 153
Caetano Bonfim Ferreira, Gledson Alessandro Silva Santos e Sérgio Luis de Jesus
POSFÁCIO: TV Digital ginga, mas em ritmo
de bolero 167
Alzimar Ramalho e Neuza Meller
GLOSSÁRIO 175
LEGISLAÇÃO DO SISTEMA BRASILEIRO DE TV
DIGITAL (SBTVD) 177
Sobre os autores 185
INTRODUÇÃO
Estava eu tomando café com a esposa:
– Estamos terminando o livro sobre a transição. Nossa, e pensar que meu primeiro evento sobre TV Digital foi há quase 20 anos...
– É, e pensar que as pessoas iam comprar a blusa que a atriz estaria usando na novela...
– Íamos assistir aos jogos em múltiplas câmeras e marcar consultas nos postos de saúde perto do nosso bairro!
Depois daquele primeiro evento, perdi as contas dos que estive nessas duas décadas. E dá-lhe os três exemplos: comprar roupa da artista, ver futebol de diversas maneiras interativas e marcar consultas (este como exemplo meio permanente de acesso aos serviços públicos costumeiramente distantes dos cidadãos menos favorecidos).
Minha esposa não é especialista em TV, mas mestre em Comunicação, com pegada em responsabilidade social e, além disso, companheira que me viu na labuta para entender e ajudar, de alguma maneira, que essas e muitas outras promessas fossem cumpridas, nem que parcialmente. Este livro quer tentar observar se devemos ficar frustrados, soltar foguetes ou fazer planos.
Em poucos anos, o Brasil inteiro deverá mudar o sistema de ver televisão. O sinal de TV, antes analógico, será digital. Estamos vivendo, portanto, em plena era de transição, fato que não nos impacta somente no âmbito tecnológico, uma vez que não se trata de mera substituição de um sistema por outro, mas de um processo cujos desdobramentos vão mais além: afeta nossas vidas no aspecto econômico, político, social e, talvez, o mais importante, cultural. A presença da televisão no cotidiano dos brasileiros é inegável, ainda que as mídias digitais tenham expressividade crescente. A televisão digital, ao unir essa conhecida tecnologia ao mundo cibernético, tem possibilidade tecnológica para promover alterações culturais relevantes, entre elas o modo como vemos televisão, as interações sociais que se originam e são disseminadas a partir dela, as possíveis reorientações no mercado publicitário etc.
Sabe-se que, em um país com um território continental, de características demográficas e geográficas as mais diversas, cujos índices de desigualdade são enormes, nem todos serão incluídos nessa nova realidade ao mesmo tempo e do mesmo modo. A situação de vulnerabilidade socioeconômica em que grande parte da população se encontra constitui-se em um obstáculo que pode, de imediato, expor essas pessoas a mais uma forma de exclusão. São tantas as variáveis, atores e situações envolvidos que se constatou uma demanda de pesquisas para se entender melhor esse contexto único, um verdadeiro marco na história tecnológica nacional.
Este livro é, portanto, o resultado de uma série de pesquisas realizadas em Brasília/DF e Belo Horizonte/MG, com visão crítica a respeito de que maneira a transição vem afetando (ou deveria estar) alguns grupos sociais, entre eles crianças, jovens e idosos. Na capital federal, a implantação e o estudo foram realizados em parceria entre a Universidade Católica de Brasília (UCB)