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Linguagem e Cognição: Enfoque psicolinguístico para compreender e superar as dificuldades em leitura e escrita
Linguagem e Cognição: Enfoque psicolinguístico para compreender e superar as dificuldades em leitura e escrita
Linguagem e Cognição: Enfoque psicolinguístico para compreender e superar as dificuldades em leitura e escrita
E-book235 páginas3 horas

Linguagem e Cognição: Enfoque psicolinguístico para compreender e superar as dificuldades em leitura e escrita

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Sobre este e-book

Apresentamos esse trabalho para os profissionais das áreas de Letras e da Educação, na perspectiva da Psicolinguística Cognitiva. Inicialmente, a aprendizagem da língua desenvolve-se levando em conta três dimensões que ocorrem simultaneamente, ou seja, o inatismo, a maturação e o ambiente. Os pressupostos epistemológicos para o aprendizado da leitura fundamentam-se na visão de que esta é aprendida por meio de processamento da informação. Os processos psicolinguísticos da escrita sustentam que as metodologias precisam ser revistas, recuperando a especificidade do processo de alfabetização num contexto de letramento. As tarefas ou testes psicolinguísticos apresentados neste livro têm o objetivo de ajudar os educadores, psicopedagogos, psicólogos e orientadores educacionais a compreenderem os mecanismos de processamento da informação e sua relação com as capacidades linguísticas e cognitivas específicas e também as mais gerais. Considerando que a leitura e a escrita são atividades de cunho cognitivo, esse tipo de processamento requer operações mentais de processamento de informação baseadas na estrutura fonológica da linguagem oral.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento26 de mar. de 2020
ISBN9788573912197
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    Linguagem e Cognição - Elias José Mengarda

    Santa Maria, 2014.

    Ao meu pai, homem de princípios e devotado ao trabalho

    (In memorian).

    À minha mãe, mulher de fé e amor incondicional à família.

    À minha esposa, sempre dedicada e carinhosa.

    Ao Bruno, o meu menino de ouro.

    À Lia, a flor mais linda que Deus plantou em seu jardim.

    Este livro é fruto de muito trabalho e foi inspirado em pessoas que marcaram minha formação humana e acadêmica, como Leonor Scliar-Cabral (professora emérita da UFSC), Loni Grimm-Cabral (professora da UFSC), José Morais e Regine Kolinsky, professores da Universidade Livre de Bruxelas, Bélgica.

    Os objetivos principais do livro centram-se na concepção de que a leitura e a escrita são habilidades cognitivas que precisam ser aprendidas num contexto de letramento. Além disso, são propostos testes ou tarefas na perspectiva da psicolinguística cognitiva que proporcionam condições para que os profissionais das áreas de Letras, Educação e Psicologia possam conhecer mais profundamente o perfil cognitivo do educando. A obra também aponta para um trabalho interdisciplinar, enfatizando que essa área do conhecimento, como a psicolinguística cognitiva, pode fornecer instrumentos teóricos e práticos considerados fundamentais para os profissionais da educação que lidam com a linguagem verbal (palavra falada ou escrita) e a linguagem não verbal (gestos, tom de voz, postura corporal, desenhos, figuras, imagens, símbolos) e o seu consequente processamento.

    É importante frisar que os alunos que estão no ensino fundamental representam, para a escola, uma das etapas mais cruciais do seu desenvolvimento, pois a instituição escolar precisa envidar esforços para garantir-lhes as aprendizagens básicas como a leitura, a escrita e os princípios do cálculo.

    Entendo que essas competências poderão ser desenvolvidas com maior eficiência pela escola, se as práticas de alfabetização levarem em conta as contribuições da psicolinguística cognitiva e das neurociências já consolidadas em países desenvolvidos, como a Alemanha, Suécia, Bélgica e Estados Unidos. Para isso, é importante que haja uma constante revisão e atualização dos currículos das universidades brasileiras que formam os profissionais que atuam na educação, incorporando os resultados das pesquisas e experiências já consolidadas nos países desenvolvidos.

    Caros educadores – para todos vocês que atuam na educação das crianças e adolescentes (pedagogos, orientadores educacionais, psicólogos, psicopedagogos), acredito que é possível enfrentar com mais segurança e eficiência os problemas de aprendizagem quanto ao domínio da leitura, da escrita e do cálculo quando, além de saber, sabemos como fazer.

    O autor.

    Dedicatória

    Apresentação

    Introdução

    1. A escrita ao longo da História

    Origens da escrita

    Aprender a ler e escrever

    A língua – modalidade oral e escrita

    Atividades

    2. Bases epistemológicas da aquisição da linguagem

    Princípio inatista

    Princípio maturacional

    Princípio ambiental

    Atividades

    3. A criança e o desenvolvimento da leitura e da escrita

    Uso da tecnologia digital nas atividades de leitura e escrita

    Atividades

    4. Processos psicolinguísticos da leitura

    Modelos de leitura

    Processos psicolinguísticos implicados na leitura

    5. Processos psicolinguísticos da escrita

    6. Concepção de erro na aprendizagem da escrita

    Erros de natureza ortográfica

    Atividade recomendada

    Interferência da fala na escrita (escrita fonética)

    Atividade recomendada

    Segmentação não convencional

    Atividade recomendada

    Discriminação visual/auditiva

    Atividade recomendada

    Processos de regularização

    Atividade recomendada

    Variação linguística

    Atividade recomendada

    7. Leitura, escrita, cálculo e sua relação com a cognição

    8. Processamento de informação e os testes psicolinguísticos

    Linguagem e capacidades cognitivas

    Habilidades diretamente relacionadas à leitura e à escrita

    Conhecimento das letras do alfabeto

    Conhecimento dos grafemas

    Reconto da história o galo vaidoso

    Teste de recuperação da informação

    Teste de compreensão de leitura

    Teste de leitura em voz alta

    Compreensão de leitura

    Avaliação da compreensão leitora

    9. Habilidades de processamento da fala

    Consciência de palavra, de sílaba e de fonema

    Criação de novas palavras

    Variação linguística

    Não se escreve como se fala

    Segmentação das palavras na cadeia da fala

    Sensibilidade fonológica

    Testes metafonológicos

    Teste de subtração silábica

    Teste de inversão silábica (IS)

    Teste de subtração fonêmica (SF)

    Teste de inversão fonêmica

    Teste de inversão fonêmica (IF VCV)

    Teste de acrônimos auditivos

    10. Habilidades relacionadas às competências linguísticas

    Organização direcional espacial de narrativa

    11. Funções cognitivas específicas

    Cognição visual – detecção de uma parte dentro de uma figura complexa

    Desenho da figura de Rey-Oesterrieth (tarefa de cópia)

    Desenho de memória da figura de Rey-Oesterrieth (tarefa de memória)

    Raciocínio analógico: QI – teste de inteligência

    Habilidade de cálculo mental

    Considerações finais

    Referências bibliográficas

    Notas

    Créditos

    A aprendizagem da leitura e da escrita ocorre normalmente mediante a instrução explícita do código alfabético durante o período da alfabetização. Diz-se instrução explícita porque é necessário que o alfabetizador, a partir de uma metodologia cuidadosamente escolhida, ensine à criança os princípios da codificação e da decodificação num contexto de letramento. Não se aprende a ler espontaneamente. Os estudos de Morais (1996, 2002), Capovilla e Capovilla (2003), Scliar-Cabral (2003a; 2003b; 2012) e Dehaene (2012) são fundamentais para entender essa dimensão, que é específica do ato de aprender a ler. A leitura é uma habilidade cognitiva que exige capacidade de discriminação visual das unidades gráficas, memória, atenção, compreensão e interpretação do texto escrito. Dehaene (2012, p. 245) é incisivo a esse respeito: a etapa decisiva da leitura é a decodificação dos grafemas em fonemas, é a passagem de uma unidade visual a uma unidade auditiva. É, pois, sobre essa operação que se devem focalizar todos os esforços.

    Como podemos observar, são exigidas múltiplas habilidades cognitivas para o aprendiz atingir a eficiência leitora. Via de regra, a grande maioria das crianças deveria dominar os princípios fundamentais da leitura ao final da primeira série, mas, infelizmente, no Brasil, não é o que constatamos. O domínio do estágio ortográfico é uma das últimas etapas da aprendizagem da leitura e ocorre quando o aprendiz domina gradualmente as correspondências grafêmico-fonêmicas (associação entre grafemas e fonemas). Devemo-nos lembrar de que essa etapa necessita de um tempo razoável para a sua assimilação e consolidação e, normalmente, deveria estar consolidada nas primeiras séries do ensino fundamental.

    Um sistema alfabético não representa diretamente o significado da palavra, mas a sequência de seus sons. Em termos técnicos, a escrita não representa diretamente os aspectos semânticos das palavras, mas sua sequência fonológica. Acredita-se que a criança utilize a habilidade de refletir e manipular os sons da fala ao iniciar o processo de aquisição da escrita ou quando escreve uma palavra desconhecida, pois sempre que escreve uma palavra deverá ser capaz de segmentá-la em seus sons constituintes (fonemas) antes de encontrar as letras (grafemas) apropriadas (COSTA, 2003).

    Portanto, aprender a ler e a escrever demanda algum tempo e essas habilidades se consolidam nas primeiras séries do Ensino Fundamental. Também é preciso considerar que, dependendo do grau de motivação e do engajamento da criança nas práticas de leitura, esta etapa pode ser vencida sem maiores dificuldades. Quando o processo de alfabetização (instrução inicial) é bem conduzido, os alunos sentem-se atraídos pela magia da leitura, descobrindo, desse modo, as inúmeras possibilidades de representação simbólica criada pelo sistema cognitivo.

    O fato de o aprendiz ter contato frequente com textos de variados tipos, além dos exigidos pela escola e aqueles que ele busca por si mesmo, não é suficiente para tornar a criança uma leitora proficiente. Não existe alfabetização espontânea. Aprende-se a falar naturalmente, mas não se aprende a ler sem a orientação de um professor ou alfabetizador. Será necessária a atuação dedicada do(a) professor(a) para que a criança possa descobrir as relações complexas entre letras e sons que constituem o código alfabético. É fantasioso pensar que basta expor a criança a um acervo rico de materiais escritos e, então, ela aprenderá a ler. Se o alfabetizador não atuar de forma metódica no processo de instrução explícita do código alfabético, a criança não conseguirá desenvolver suas habilidades em leitura e escrita adequadamente.

    Assim sendo, além da escolha dos materiais pedagógicos apropriados (quebra-cabeças, livros infláveis para bebês, livros, vídeos, Internet), produzidos pela indústria cultural, é preciso encontrar uma metodologia que realmente ajude a criança a alcançar a etapa ortográfica, ou seja, que domine as convenções oficiais da língua num contexto de letramento, além de aprofundar, gradativamente, as habilidades de compreensão e interpretação de textos e, assim, tornar-se uma leitora proficiente.

    Ellis (1995) afirma que a criança, ao iniciar o processo de aprendizagem da escrita da língua, passa por três etapas, assim denominadas: a) logográfica; b) alfabética e c) ortográfica. A fase logográfica caracteriza-se pela representação da escrita por meio de grafismos e desenhos com simbologias difusas, pois a atribuição de significado para os objetos representados não é estável. O reconhecimento imediato de palavras se faz sem a mediação fonológica, contribuindo, para isso, de modo significativo, o contexto o qual possibilita à criança inferir a significação adequada. Na fase fonético-alfabética, a criança descobre o princípio da correspondência grafofonológica, podendo, a partir disso, ler e escrever palavras novas. A fase ortográfica caracteriza-se pela decodificação das palavras escritas, que fazem parte ou não de seu léxico¹ ortográfico. As representações lexicais das palavras familiares tornam-se diretamente acessíveis porque a criança reconhece a palavra com base em seus segmentos ortográficos, encontrando diretamente, por identificação, a forma fonológica correspondente.

    Lemle (2009) afirma que para gerar as grafias corretas de palavras que apresentem, por exemplo, grafemas concorrentes em contextos competitivos, como isse em fugisse e ice – em burrice, o aprendiz precisa buscar indicadores de natureza lexical para escrever corretamente essas ocorrências, baseando-se, por exemplo, em algum radical para, a partir disso, derivar a grafia correta da palavra. Por essa razão, é possível falar de um estágio pós-alfabético.

    Como podemos observar pela breve descrição dos diversos estágios que compõem a aprendizagem do sistema de escrita, a criança, ao aprender como funcionam os processos de correspondência do sistema alfabético, enfrenta dificuldades das mais diversas. No entanto, algumas dessas dificuldades são inerentes ao processo específico da aprendizagem da leitura e da escrita porque são atividades cognitivas, ou seja, atividades de processamento de informação que requerem instrução explícita para serem aprendidas.

    Portanto, o processo para aprender a ler e a escrever suscita questões de difícil resposta. Dentre tantas questões, podemos destacar as seguintes: Por que há crianças que conseguem ler com extrema facilidade até mesmo antes dos cinco anos? Por que há crianças que apresentam dificuldades para adquirir esta habilidade? Isso é uma questão de ter mais ou menos inteligência? É falta de motivação para aprender a ler? É uma questão de metodologia ou de professores mal formados? Por que temos, no Brasil, milhares de crianças que terminam a quarta série semianalfabetas ou, simplesmente, sem saber ler? Ou também poderíamos objetar que esta situação de fracasso em termos educacionais advém pelas características da formação cultural do País, o qual, por cerca de três séculos baseou-se numa cultura tipicamente oral? Essas respostas precisam ser buscadas por todos os setores envolvidos na educação, desde o Ministério da Educação, até as universidades que formam os professores e a própria escola que executa e planeja as ações educacionais propostas pelas instâncias governamentais.

    Para fins de compreensão das dificuldades que a criança enfrenta, sobretudo no âmbito da escrita, propomos uma categorização ou tipologia das suas produções escritas, realizadas durante o seu processo de aprendizagem. Algumas dessas dificuldades podem comprometer a aprendizagem de um modo geral. Essa tipologia apresenta a seguinte classificação:

    a) dificuldades relacionadas à ortografia;²

    b) interferência da fala na escrita (o que resulta em erros fonéticos);

    c) a questão das regularizações (super-generalização);

    d) a questão da segmentação das palavras na atividade de escrita;

    e) problemas de discriminação visual e auditiva;

    f) implicação da variação linguística na expressão oral e escrita.

    Com a exposição constante à leitura e à elaboração de textos – práticas que são características do processo de escolarização –, a criança dominará normalmente as competências relativas à leitura e à expressão escrita. O que preocupa sobremaneira são as produções relacionadas à discriminação visual/auditiva, pois estas podem comprometer em graus variados o desempenho em leitura e escrita.

    De acordo com Pinheiro (1989), Lecours e Parente (1997) e Nunes, Buarque e Bryant (2001), as causas subjacentes a esse desempenho estão situadas no nível cognitivo, incluindo fatores emocionais. Outras causas situam-se no nível biológico, o qual implica fatores relacionados ao cérebro, conforme ilustra Dehaene (2012) em seu livro Neurônios da leitura.

    Quando os pais e os educadores não dão a devida atenção para essas dificuldades, seja por desconhecimento, seja por despreparo em compreendê-las e confrontá-las, os problemas se aprofundam, podendo originar dificuldades que comprometem a aprendizagem. Esse tipo de dificuldade é um dos fatores que causa os maiores entraves para a criança na aprendizagem da leitura e da escrita.

    Para as situações de uso da língua em que há implicações advindas da variação linguística, as intervenções pedagógicas devem ser repensadas e reavaliadas, sobretudo, nas séries iniciais. Embora a

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