Meu Aluno Escreve como Fala, e Agora? Uma Intervenção Bem-Sucedida no Ensino Fundamental Ii
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Meu Aluno Escreve como Fala, e Agora? Uma Intervenção Bem-Sucedida no Ensino Fundamental Ii - Alcione de Oliveira Souza
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO LINGUAGEM E LITERATURA
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, verdadeiro sentido de tudo, pela presença constante.
À minha avó Terezinha, meu porto seguro, pelo amor incondicional.
À minha filha, Sophia, poesia em minha vida, pela leveza de existência.
Ao meu pai, Alvimar, pelo exemplo de amor aos livros.
À minha irmã, Alcilene, pelas oportunidades renovadoras de ser apenas eu.
Ao amigo e padrinho Tarcísio, meu anjo da guarda, pelas orações e conselhos.
Aos Arautos do Evangelho, na pessoa do padre Wagner, pelo santo convívio.
Às Faculdades Prominas de Montes Claros, pelo apoio e incentivo.
Ao Socioeducativo de Montes Claros, pela fundamental colaboração.
À professora Ros’elles, por me apresentar à Linguística.
À professora Liliane, pelas valiosíssimas contribuições.
E a todos que, de alguma forma, contribuíram para a construção desta obra.
PREFÁCIO
Foi com imensa satisfação que recebi o convite da autora para elaborar o prefácio deste livro, fruto da pesquisa realizada por ela, sob minha orientação, durante o mestrado. Principalmente porque pude acompanhar sua trajetória acadêmica de sucesso, já que ela também foi minha aluna na graduação e na especialização.
O livro que ora apresento trata da análise dos efeitos de uma proposta de ensino alternativa sobre o apagamento do -r final dos verbos infinitivos na escrita de alunos do ensino fundamental II, questão que envolve a interferência da oralidade na escrita, sob a perspectiva do Modelo de Redes, da Fonologia de Uso e do Modelos de Exemplares.
Importante esclarecer que, como nessa perspectiva teórica, abordagem centrada na Linguística Cognitiva, o conhecimento linguístico, que está em constante construção, emerge a partir do uso da linguagem, da experiência do usuário, o objeto de estudo também emergiu dos dados coletados durante a fase do diagnóstico, diferentemente do que ocorre em muitas pesquisas.
Em razão disso, a proposta de ensino considerou o papel da experiência e da interação na aprendizagem em questão, ao tratar das atividades ortográficas elaboradas, fundamentadas na proposta de ensino de ortografia de Morais (2010), além do uso do software Pedro no Parque de Diversões
na consolidação das habilidades metafonológicas.
Além disso, a perspectiva teórica também possibilitou considerar as conexões que podem ter sido estabelecidas pelos alunos, antes e depois da proposta de ensino, no que se refere ao apagamento do -r final dos verbos infinitivos na escrita, e propor uma reorganização das conexões na rede. Ou seja, uma verdadeira viagem dentro da cabeça do aluno para entender como ele aprende e, com isso, facilitar a sua aprendizagem.
Fica aqui, então, o meu convite a você, professor ou não, que procura por mais do que uma boa leitura, que busca um novo olhar sobre o ensino e a aprendizagem de língua portuguesa. É o que oferece este livro, resultado do esforço da autora e do seu amor à educação. Uma obra produzida por uma professora, atuante e experiente nos vários níveis de ensino, público e particular; consciente, portanto, da importância da publicização do que funciona em sala de aula, especialmente quando o professor ama o que faz, assumindo, não só como profissional, mas também e principalmente como pessoa, o seu papel de bem formar outras pessoas.
Enfim, como conhecedora da qualidade da obra e de sua autora, desejo que a disseminação das ideias aqui contidas sirva de fonte de inspiração para novas reflexões a respeito do processo de ensino e aprendizagem e dos estudos da/sobre a nossa tão encantadora língua portuguesa.
Liliane Pereira Barbosa¹
Professora do Programa de Pós-Graduação Mestrado Profissional em Letras da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes)
APRESENTAÇÃO
Desde que algumas das principais políticas educacionais do Brasil têm tentado dar maior fluidez
ao percurso escolar dos alunos por meio dos mais diversos programas de aceleração
e do sistema de progressão continuada, um fenômeno tem surgido e chamado a atenção: os alunos estão avançando nos anos escolares, mas não em aprendizagem, pelo menos não no que se espera deles.
Dessa forma, muitos têm chegado aos anos finais do ensino fundamental (6º ao 9º ano) sem apresentar as competências básicas em leitura e escrita, e têm ingressado no ensino médio com as mesmas dificuldades. Uma realidade que vem preocupando e frustrando os professores, sobretudo os de língua portuguesa, já que, mesmo não sendo formados para alfabetizar, costumam ser cobrados nesse sentido.
Por outro lado, alguns pesquisadores (Maluf², Diniz³, entre outros) vêm confirmando, em seus estudos, que a aquisição da leitura e da escrita, em línguas de sistemas alfabéticos, relaciona-se a diferentes habilidades metalinguísticas, de modo especial, as metafonológicas (consciência fonológica⁴); e que, portanto, a falta de domínio dessas habilidades pode estar na origem da maioria das dificuldades enfrentadas pelos alunos em processo de alfabetização.
Com isso, diversos outros estudos (Capovilla e Capovilla⁵; Nunes, Frota e Mousinho⁶) vêm testando (e indicando) o desenvolvimento em consciência fonológica como uma estratégia eficaz de intervenção pedagógica na recuperação (e prevenção) de vários tipos de defasagens relacionadas à aquisição da leitura e da escrita, inclusive os de natureza fono-ortográfica. Contudo poucos pesquisadores têm se voltado ao público dos anos finais do ensino fundamental, evidenciando, assim, a necessidade de elaboração e de aplicação de projetos de intervenção também nos contextos pós-alfabetização
⁷.
Ora, considerando a existência de uma estreita relação (já comprovada) entre o bom desempenho em habilidades metalinguísticas (especialmente as metafonológicas) e o sucesso na consolidação do processo de alfabetização em crianças, é possível afirmar que um trabalho de intervenção, baseado em atividades que fomentem o desenvolvimento da consciência fonológica dos aprendizes, pode ajudar a pelo menos minimizar algumas dificuldades de escrita, que, como salientei anteriormente, vêm acompanhando a vida escolar dos alunos em outras fases de escolarização.
Foi pensando nisso que me propus a realizar uma pesquisa, por meio da qual fosse possível verificar a eficácia de um Plano de Intervenção, elaborado e implementado com base no diagnóstico dos problemas de escrita mais recorrentes em alunos do ensino fundamental II, bem como nos resultados positivos alcançados pelos estudos que apontam o desenvolvimento da consciência fonológica como importante aliado no tratamento das dificuldades fono-ortográficas, originadas seja pela influência da oralidade na escrita ou pela não consolidação da transição da escrita alfabética para a ortográfica.
Assim, espero que, ao compartilhar uma experiência bem-sucedida, eu possa não apenas fornecer aos meus colegas professores (especialmente os de língua portuguesa e alfabetizadores) mais um subsídio teórico-metodológico útil no ensino da nossa língua materna, mas, principalmente, a coragem necessária para bem realizarem seu trabalho, apesar dos tantos problemas enfrentados em sala de aula todos os dias e que, muitas vezes, vão além das nossas competências.
Alcione de Oliveira Souza
Outubro de 2019.
Sumário
Parte 1
Subsídios teóricoS
A Linguística Cognitiva e os Modelos Baseados no Uso 15
Metacognição e Metalinguagem 29
A habilidade metafonológica ou consciência fonológica 33
Os níveis de consciência fonológica 35
O nível silábico 35
O nível intrassilábico 36
O nível fonêmico 36
Pesquisas de intervenção sobre a consciência
fonológica 39
Fenômenos fonológicos 43
O apagamento do -r final em verbos no infinitivo 48
A oralidade e os erros
ortográficos 53
O ensino de ortografia 59
Parte 2
A TEORIA APLICADA
Uma experiência de intervenção pedagógica no ensino fundamental II 69
Etapa 1 – Pré-Intervenção: o diagnóstico 71
Descrição e análise do corpus pré-intervenção 75
Resultados preliminares 87
Etapa 2 – O Plano de Intervenção 94
A elaboração do projeto 94
A implementação do projeto 97
Etapa 3 – Pós-intervenção: comparando os resultados 104
Descrição e análise do corpus pós-intervenção 104
Resultados finais 119
Resultado geral 124
CONSIDERAÇÕES FINAIS 127
REFERÊNCIAS 129
ANEXO A 139
ANEXO B 140
ANEXO C 141
APÊNDICE A 143
APÊNDICE B 144
APÊNDICE C 145
ÍNDICE REMISSIVO 147
Parte 1
Subsídios teóricoS
A Linguística Cognitiva e os Modelos Baseados no Uso
Um dos aspectos mais discutidos nos estudos sobre a linguagem refere-se à sua aquisição, apresentada atualmente como essencialmente multidisciplinar, posto envolver questões advindas não só da Linguística, mas também de outras áreas do conhecimento, como a Psicologia (do Desenvolvimento, do Comportamento, Cognitiva etc.), a Pedagogia, a Filosofia e a Antropologia. Mas nem sempre foi assim.
Até a década de 1960, a teoria vigente sobre a aquisição da linguagem era o behaviorismo⁸, contra a qual se posicionou o linguista Noam Chomsky, que, ao adotar uma postura inatista⁹, não via a linguagem como um conjunto de comportamentos verbais – como postulava o behaviorismo – mas como uma capacidade específica da espécie humana, dotada geneticamente e adquirida como resultado do desencadear de um dispositivo inato, inscrito na mente
¹⁰.
O principal argumento de Chomsky a favor do inatismo, conforme Scarpa¹¹, estava na pobreza do estímulo¹²
, sugerindo que o conhecimento da língua deveria ser muito maior que sua manifestação, já que uma criança, sendo exposta normalmente a uma fala precária e fragmentada, não poderia dominar, em tão pouco tempo, um conjunto tão complexo de regras ou princípios (que, segundo a teoria, constituiria a gramática internalizada do falante). Nessa perspectiva, a linguagem é vista como
[...] vinculada a mecanismos inatos da espécie humana e comuns aos membros dessa espécie, daí a ideia de universais linguísticos. Esta visão, que coloca a linguagem num domínio cognitivo e biológico, admite que o ser humano vem equipado, no estágio inicial, com uma Gramática Universal¹³ (GU), dotada de princípios universais pertencentes à faculdade da linguagem e de parâmetros fixados pela experiência
, isto é, parâmetros não marcados que adquirem seu valor (+ ou -) por meio do contato com a