E-book365 páginas5 horas
Mineração, genealogia do desastre: O extrativismo na América como origem da modernidade
Nota: 5 de 5 estrelas
5/5
()
Sobre este e-book
Esta obra não é um livro de história. É um ensaio histórico-sociológico que pretende colocar na mesa dos debates uma tese sobre o lugar e o papel da mineração moderno-colonial na posterior configuração do projeto civilizatório hegemônico, que dá forma à vida social contemporânea. Nossa tese afirma, de maneira simples, que a mineração moderno-colonial foi o detonante fundamental do Capitaloceno. Aqui se procura demonstrar como esse tipo histórico de exploração das "riquezas" minerais da Terra, nascido do empreendimento da invasão e da conquista colonial do "Novo Mundo", desencadeou e motorizou toda uma série de grandes deslocamentos geológicos e antropológicos que desembocaram na grande crise ecológico-civilizatória que hoje paira sobre nossa Mãe Terra e, especificamente, sobre nossa comunidade biológica, os humanos. A invasão, conquista e colonização — primeiro, da América e, logo, do mundo inteiro — tiveram na sede pelo ouro a força motriz e o sentido-mor de sua existência, e na eficácia letal do chumbo e do ferro, o meio indispensável de sua realização. Essa perversa liga de metais — a violência a serviço da cobiça — é o que, em definitivo, desde o século XVI, forja as bases materiais e simbólicas do regime de dominação hegemônico moderno. […]
Desde que a primeira edição deste livro foi publicada, em 2013, uma grande quantidade de acontecimentos se deu no panorama da mineração transnacional na América Latina. Fatos não apenas importantes e graves, mas fatos no sentido de toda a densidade política que esse termo expressa. É o caso evidente do incomensurável crime massivo da Samarco no Vale do Rio Doce, no Brasil. E de crimes dirigidos a pessoas, como o assassinato de Berta Cáceres e a tentativa contra Gustavo Castro Soto, em Honduras; ou o assédio e a perseguição policial-judicial a Máxima Acuña, no Peru. Houve ainda mortos e feridos "ao acaso", como nas violentas repressões das greves contra a mineradora Tintaya Marquiri, no Peru. Eu poderia mencionar os sucessivos vazamentos de milhões de litros de água cianetada pela Barrick Gold, em San Juan, no leste da Argentina; os quarenta mil litros de ácido sulfúrico nos rios Baranuchi e Sonora, no México; a contaminação dos mananciais que abastecem a população de Santo Antônio do Grama, em Minas Gerais, pela ruptura de um mineroduto da Anglo American; e tantos outros crimes contra a natureza que, no jargão mineiro, são apresentados como "acidentes". […]
Assim, na atualidade como na origem, a mineração — a mineração colonial moderna — segue como a veia aberta mais lacerante e sangrenta, em nossa entidade histórico-geopolítica chamada de "América Latina", mas também para além, em todo o Sul global. Esta história é uma história escrita por rastros cada vez maiores de sangue. Seus grandes feitos vão de massacre em massacre. Seus "avanços tecnológicos" são, na verdade, o aperfeiçoamento da arte da guerra, o uso eficaz da violência; o incremento na intensidade e na capacidade de controle, apropriação, extração e trituração das energias vitais, de montanhas, paisagens, corpos de água, biodiversidade.
Desde que a primeira edição deste livro foi publicada, em 2013, uma grande quantidade de acontecimentos se deu no panorama da mineração transnacional na América Latina. Fatos não apenas importantes e graves, mas fatos no sentido de toda a densidade política que esse termo expressa. É o caso evidente do incomensurável crime massivo da Samarco no Vale do Rio Doce, no Brasil. E de crimes dirigidos a pessoas, como o assassinato de Berta Cáceres e a tentativa contra Gustavo Castro Soto, em Honduras; ou o assédio e a perseguição policial-judicial a Máxima Acuña, no Peru. Houve ainda mortos e feridos "ao acaso", como nas violentas repressões das greves contra a mineradora Tintaya Marquiri, no Peru. Eu poderia mencionar os sucessivos vazamentos de milhões de litros de água cianetada pela Barrick Gold, em San Juan, no leste da Argentina; os quarenta mil litros de ácido sulfúrico nos rios Baranuchi e Sonora, no México; a contaminação dos mananciais que abastecem a população de Santo Antônio do Grama, em Minas Gerais, pela ruptura de um mineroduto da Anglo American; e tantos outros crimes contra a natureza que, no jargão mineiro, são apresentados como "acidentes". […]
Assim, na atualidade como na origem, a mineração — a mineração colonial moderna — segue como a veia aberta mais lacerante e sangrenta, em nossa entidade histórico-geopolítica chamada de "América Latina", mas também para além, em todo o Sul global. Esta história é uma história escrita por rastros cada vez maiores de sangue. Seus grandes feitos vão de massacre em massacre. Seus "avanços tecnológicos" são, na verdade, o aperfeiçoamento da arte da guerra, o uso eficaz da violência; o incremento na intensidade e na capacidade de controle, apropriação, extração e trituração das energias vitais, de montanhas, paisagens, corpos de água, biodiversidade.
Relacionado a Mineração, genealogia do desastre
Ebooks relacionados
Sertão, Fronteira, Brasil: Sertão, Fronteira, Brasil Imagens de Mato Grosso no mapa da civilização Nota: 0 de 5 estrelas0 notasHistória & Natureza Nota: 5 de 5 estrelas5/5Sertão, sertões: Repensando contradições, reconstruindo veredas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasUma ecologia decolonial: pensar a partir do mundo caribenho Nota: 5 de 5 estrelas5/5Paisagens sobrepostas: índios, posseiros e fazendeiros nas matas de Itapeva (1723-1930) Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOnde aterrar?: Como se orientar politicamente no antropoceno Nota: 0 de 5 estrelas0 notasInfraestrutura para o desenvolvimento sustentável da Amazônia Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAnticapitalismo romântico e natureza: O Jardim Encantado Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDireitos da natureza: Ética biocêntrica e políticas ambientais Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPós-extrativismo e decrescimento: Saídas do labirinto capitalista Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO retorno da terra: As retomadas na aldeia tupinambá da Serra do Padeiro, Sul da Bahia Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA inconstância da alma selvagem Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCaipora e outros conflitos ontológicos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO eclipse do progressismo: a esquerda latino-americana em debate Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMetafísicas canibais: Elementos para uma antropologia pós-estrutural Nota: 5 de 5 estrelas5/5Preconceito contra a origem geográfica e de lugar: as fronteiras da discórdia Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAmazônia: Por uma economia do conhecimento da natureza Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDilemas ambientais-urbanos em duas metrópoles latino americanas: São Paulo e Cidade do México no século XXI Nota: 0 de 5 estrelas0 notasFronteiras da dependência: Uruguai e Paraguai Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTeoria da reprodução social: Remapear a classe, recentralizar a opressão Nota: 0 de 5 estrelas0 notasGeografias: Reflexões conceituais, leituras da ciência geográfica, estudos geográficos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDiante de Gaia: Oito conferências sobre a natureza no Antropoceno Nota: 5 de 5 estrelas5/5Planejamento Territorial V 1: reflexões críticas e perspectivas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasVozes vegetais: Diversidade, resistência e histórias da floresta Nota: 5 de 5 estrelas5/5Formação política do agronegócio Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOnde estou?: Lições do confinamento para uso dos terrestres Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAs Américas e a Civilização: Processo de Formação e Cassas do Desenvolvimento Desigual dos Povos Americanos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPolíticas da natureza: Como associar as ciências à democracia Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Política para você
O capital - Livro 1 - Vol. 1 e 2: O processo de produção do capital Nota: 4 de 5 estrelas4/5O príncipe Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPolítica: Para não ser idiota Nota: 4 de 5 estrelas4/5A corrupção da inteligência Nota: 5 de 5 estrelas5/5O CAPITAL - Karl Marx: Mercadoria, Valor e Mais valia Nota: 4 de 5 estrelas4/5Os Ungidos: A fantasia das políticas sociais dos progressistas Nota: 5 de 5 estrelas5/5Bitcoin Para Iniciantes Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA eleição disruptiva: Por que Bolsonaro venceu Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Contrato Social Nota: 4 de 5 estrelas4/5A Riqueza das Nações - Adam Smith: Vol. I Nota: 5 de 5 estrelas5/5Como ser um conservador Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMarxismo: Uma ideologia atraente e perigosa Nota: 5 de 5 estrelas5/5O Livro Urgente da Política Brasileira, 4a Edição Nota: 4 de 5 estrelas4/5Bolsonaro: o mito e o sintoma Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPor que o Brasil é um país atrasado?: O que fazer para entrarmos de vez no século XXI Nota: 5 de 5 estrelas5/5O Príncipe: Tradução direta do original italiano do século XVI Nota: 4 de 5 estrelas4/5Tratado sobre a Tolerância Nota: 0 de 5 estrelas0 notasRegime fechado: Histórias do cárcere Nota: 4 de 5 estrelas4/5O CAPITAL - Livro 2: O Processo de Circulação do Capital Nota: 5 de 5 estrelas5/5Churchill e a ciência por trás dos discursos: Como palavras se transformam em armas Nota: 4 de 5 estrelas4/5LIBERALISMO - Adam Smith: Formação de Preços e a Mão invisível Nota: 5 de 5 estrelas5/5O Que Os Pobres Não Sabem Sobre Os Ricos Nota: 5 de 5 estrelas5/5LIBERALISMO: Roberto Campos em sua melhor forma Nota: 5 de 5 estrelas5/5A Arte da Guerra Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPare de acreditar no governo: Por que os brasileiros não confiam nos políticos e amam o Estado Nota: 5 de 5 estrelas5/5O príncipe, com prefácio de Paulo Vieira Nota: 4 de 5 estrelas4/5
Avaliações de Mineração, genealogia do desastre
Nota: 5 de 5 estrelas
5/5
1 avaliação1 avaliação
- Nota: 5 de 5 estrelas5/5horacio machado araoz number one super hiper ultra plus golden
Pré-visualização do livro
Mineração, genealogia do desastre - Horacio Machado Aráoz
Está gostando da amostra?
Página 1 de 1