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Desaparecida?: Stockholm Sleuth Series, #1
Desaparecida?: Stockholm Sleuth Series, #1
Desaparecida?: Stockholm Sleuth Series, #1
E-book314 páginas4 horas

Desaparecida?: Stockholm Sleuth Series, #1

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Sobre este e-book

Ela: uma mulher sueca de trinta e poucos anos, e muito atraente. Ele: um homem alemão de férias em uma pequena cidade na Suécia, em busca de descanso e consolo ao seu coração partido. Eles se encontram. Ele se apaixona. Mas antes que um relacionamento possa surgir entre os dois, ela desaparece misteriosamente. Então, Martin sai à procura de Liv com a ajuda de dois detetives suecos em uma corrida contra o tempo. No entanto, no processo, Martin e a dupla de detetives acabam colocando suas vidas em risco.

Desaparecida? é o primeiro livro da série Stockholm Sleuth, onde Elin e Lars, os dois detetives particulares são apresentados ao leitor. Se você busca uma leitura com muita ação e cheia de reviravoltas, não pode deixar de ler o romance policial sueco de Christer Tholin.

IdiomaPortuguês
Data de lançamento16 de jul. de 2020
ISBN9781071556023
Desaparecida?: Stockholm Sleuth Series, #1

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    Pré-visualização do livro

    Desaparecida? - Christer Tholin

    Copyright © 2020 Christer Tholin

    Stockholm, Sweden

    contact@christertholin.one

    www.christertholin.one

    ––––––––

    Tradução em português por Maria Catarina Gestinari

    Título da edição original em alemão:

    VERSCHWUNDEN?

    Publicado em 2016

    Design da capa por Anne Gebhardt

    Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser utilizada, reproduzida, ou distribuída em qualquer forma ou por qualquer meio, mecânico ou eletrônico, incluindo fotocópia e gravação, sem a autorização prévia e por escrito do editor, ao não ser no caso de breves citações utilizadas em resenhas críticas ou outros usos não comerciais permitidos pela lei de direitos autorais. Qualquer um que realizar ações não autorizadas em relação a esta publicação, estará sujeito a processos criminais e danos morais.

    ISBN (mobi): 978-91-985792-6-0

    ISBN (epub): 978-91-985792-7-7

    ISBN (pdf): 978-91-985792-8-4

    ISBN (livro de bolso): 978-91-985792-9-1

    Este livro é uma obra de ficção. Todos os nomes, personagens, lugares e eventos, são produtos da imaginação do autor ou utilizados de forma ficcional. Qualquer semelhança com eventos e lugares reais, ou pessoas reais, vivas ou não, é pura coincidência.

    Para minha esposa

    Conteúdo

    Parte I

    Quarta-feira,16 de setembro

    Sábado, 19 de setembro 6

    Domingo, 20 de setembro

    Segunda-feira, 21 de setembro

    Terça-feira, 22 de setembro

    Quarta-feira, 23 de setembro

    Quinta-feira, 24 de setembro

    Sexta-feira, 25 de setembro

    Sábado, 26 de setembro

    Domingo, 27 de setembro

    Segunda-feira, 28 de setembro

    Parte II

    Segunda-feira, 16 de novembro

    Terça-feira, 17 de novembro

    Quarta-feira, 18 de novembro

    Quinta-feira, 19 de novembro

    Sábado, 21 de novembro

    Domingo, 22 de novembro

    Segunda-feira, 23 de novembro

    Sábado, 28 de novembro

    Terça-feira, 1 de dezembro

    Quarta-feira, 2 de dezembro

    Sexta-feira, 4 de dezembro

    Epílogo

    Dois meses depois

    Seu livro gratuito

    Meus agradecimentos ao leitor

    Sobre o autor

    SEGREDOS?

    assassinato?

    Seu livro gratuito

    Leia o Prequel da série Stockholm Sleuth

    Um breve conto investigativo sobre Lars, um dos detetives particulares da série. Nesta história, ele ainda trabalha como policial, e junto com seu parceiro Kalle, é chamado para uma casa, onde vizinhos denunciam uma briga. Este caso mudará a vida de Lars para sempre.

    Conto exclusivo para leitores da série – faça o download aqui:

    www.christertholin.one/free

    Parte I

    Quarta-feira, 16 de setembro

    1

    Agora faltava pouco para chegar. Talvez mais meia hora dirigindo. De certo modo, a viagem havia se estendido por mais tempo do que esperava. Ele havia deixado Berlim à noite, e tomado a balsa de Rostock para Trelleborg. Sua cabine, com um único beliche, era simples. A noite fora curta. A balsa chegou na Suécia exatamente as seis horas da manhã, mas o percurso de Trelleborg até a casa de férias mostrou-se penoso. Primeiro, o limite de velocidade da estrada era de 110 quilômetros por hora. Havia também, trechos por vias comuns onde ele raramente conseguia atingir o limite de 70 km/h. Por algum motivo, sempre acabava atrás de um grande caminhão de carga. Bom, estava quase chegando. Pelo menos seu Audi começava a roncar; a rota parecia adequar-se perfeitamente ao carro.

    Martin havia colocado as direções do proprietário da casa no banco do passageiro, ao seu lado. É muito fácil de achar. Apenas siga as instruções cuidadosamente, e lembre-se de dirigir bem devagar quando estiver perto para não perder os desvios, o proprietário disse em Berlim, quando Martin foi pegar as chaves. Tudo o que ele podia fazer agora, era torcer para que as instruções estivessem corretas, e para que ainda fosse fácil segui-las após sair da estrada principal. No início, seu GPS não conseguia nem localizar o endereço.

    Pelo menos a paisagem era deslumbrante, repleta de florestas, verdes prados exuberantes, e lagos ocasionais. Quase não havia cidades, e casas eram vistas somente de vez em quando, escondidas no meio de toda a natureza, geralmente pintadas do típico vermelho ferrugem, amarelo ou azul claro. Era a primeira viagem de Martin à Suécia, e as primeiras impressões confirmavam a imagem que ele tinha do local: natureza primitiva e tranquilidade. Ele precisava disso – sobretudo, precisava pensar –, o que significava decidir como proceder a partir daquele momento.

    Mais de um ano já havia se passado desde a separação entre Martine, sua esposa e a filhinha Lara. Mas a audiência do divórcio ocorrera apenas três semanas atrás, e o havia afetado mais do que o esperado. Agora só faltava assinara papelada, junto com o direito de visitação. Além de tudo, sua esposa – não, sua ex-esposa –, estava se casando novamente, o que não ajudaria na relação com sua filha.

    Depois da reunião com o juiz, ficou claro para Martin que ele não poderia continuar desse jeito. Precisava de um tempo para colocar os pensamentos em ordem. Foi aí que se deparou com o anúncio: Casa de férias no sul da Suécia: férias em harmonia com a natureza. Pensou nisso por dois dias, e então, ligou e fez a reserva, o que não era difícil na baixa temporada. Sim, e agora estava quase lá.

    Comece indo em direção a Gulsten. Certo, ele fizera isso. A estrada ficava cada vez mais estreita conforme atravessava a floresta. E então, a paisagem abriu-se novamente, e uma cidadezinha surgiu em frente. Devia ser Tensta, o local de compras mais próximo.

    Um pouco antes de entrar na cidade, Martin avistou uma placa que dizia "Koloniområde Öst-Tensta". Virou na entrada estreita e ainda pavimentada. Após mais alguns quilômetros a paisagem mudou. Deixou de ser plana e passou a subir gradualmente. Adentrou mais uma vez a floresta, como o proprietário da casa havia descrito. No ponto em que se encontrava, deveria virar no terceiro desvio à esquerda. Mas... o que poderia ser considerado desvio? Certamente não essa entrada minúscula, onde mal cabia um carro. Ou será que podia? Bom, ele claramente já havia passado por uma, já sobre a segunda, não tinha tanta certeza. E assim continuou, o que significava que infelizmente, não era tão óbvio onde deveria virar, nem tão simples como o homem havia dito; e isso, mesmo Martin dirigindo muito lentamente, e verificando com cuidado cada entrada.

    Durante um longo tempo, a estrada seguiu pela floresta, ainda subindo de forma suave. Finalmente, mais uma bifurcação apareceu. Uma curva à direita levaria a Östergård, mas não havia nenhuma indicação à esquerda, apenas algumas caixas de correio. Ele não tinha escolha. Virou à esquerda. O asfalto continuou apenas por mais uns 100 metros, embora a estrada de terra fosse perfeitamente transitável e com o terreno bem nivelado. De acordo com as instruções, ele deveria entrar na segunda entrada à direita, então, esperava que logo alguma coisa – qualquer coisa – aparecesse.

    Dirigiu por mais uns dois quilômetros até chegar a uma clareira. Ali, havia uma bifurcação, com a entrada da direita conduzindo até uma das extremidades da clareira, onde ficava uma casa amarela. Dirigiu até ela. Um Jeep estava estacionado na porta da garagem, e em frente ao portão do jardim, uma placa exibia as palavras "Hjärtatsplats". Martin parou o carro. Será que deveria tocar a campainha e perguntar?

    Assim que pisou para fora, notou que não precisaria: ao lado da casa, uma mulher trabalhava no jardim. Apoiando-se sobre uma pá, levou o olhar até Martin. Aparentava ter a mesma idade que ele. Usava roupas de trabalho e seus cabelos loiros arranjavam-se em uma trança.

    Com licença, Senhora, poderia me ajudar?perguntou Martin, em inglês. A mulher andou até a cerca e em uma expressão indagadorao observou. Ela tinha lindos olhos azuis, e sua pele era coberta de sardas. Pequenas gotas de suor marcavam sua testa.

    Podemos falar em alemão se quiser,respondeu em um alemão fluente.

    Não sabia que meu sotaque era tão forte.

    Não é isso. Eu vi a placa do carro.

    Ah, claro. Desculpe incomodar, mas não tenho certeza se estou no caminho certo.

    Para aonde você vai?

    Eu aluguei uma casa de férias. Se chama..., olhou o pedaço de papel, "... ‘Solplats’. Sabe me dizer se é perto daqui?"

    "Solplats. Ela pronunciou Sulplats. Sim, você não está tão longe. Só precisa voltar um pouco até a última bifurcação, entrar na outra estrada, e virar depois de percorrer uns três quilômetros. É a terceira ou quarta casa à direita, eu acho. Não tem como não ver. O nome está escrito na frente, em letras enormes."

    Ótimo! Que alívio. Pensei que poderia ter virado no lugar errado. De acordo com este papel, é a quarta casa. Mas muito obrigado pela ajuda; e em alemão. Onde aprendeu a falar tão bem?

    Ah, obrigada. Faço muitos negócios com a Alemanha.

    Não, eu que agradeço, se errar o caminho de novo eu volto. Até mais!

    Tenho certeza de que vai encontrar a casa. Tchau! seu sotaque sueco era adorável.

    Martin entrou no carro e manobrou. Acenaram um para o outro, e então ele voltou a dirigir em direção à última bifurcação e entrou na outra estrada. Viu-se de volta na floresta. Depois disso, as coisas começaram a fluir: primeiro, a estrada à direita; depois, as três casas – uma vermelha, depois uma azul, e outra vermelha – e finalmente, a quarta casa, "Solplats, também pintada de vermelho. O nome estava escrito em grandes letras, sobre uma pequena placa presa a um poste na frente da casa. O dono havia dito que o nome significava lugar ensolarado". Fazia sentido: a estrada subira a colina, e levara até uma clareira bem no alto. E de lá, uma linda paisagem mostrava-se passando pelo campo até terminar em um pequeno lago.

    A casa era térrea e pequena, com telhas quase pretas, e as armações das janelas brancas. O jardim estava coberto por uma grama alta e algumas pedras soltas aqui e ali. Não havia cerca, pelo menos não daquele lado. Martin dirigiu até o pequeno espaço da garagem, na parte de trás da casa. Havia chegado.

    Sábado,19 de setembro

    2

    Martin aquecia suas mãos na xícara de café. As manhãs no terraço eram frias, mas a vista era de tirar o fôlego. O lago surgia calmo por entre o verde das árvores. Do seu lado, bem perto, estendia-se uma longa pradaria que abrigava uma manada de veados. Todas as manhãs, Martin os observava. Um dia conseguiu ver vários deles. Que bom que havia trazido seus binóculos.

    A casa era mobiliada de forma a proporcionar conforto e praticidade. Martin já se sentia em casa. Passara os dois primeiros dias se acomodando e conhecendo os arredores. E agora poderia permitir-se relaxar e fazer caminhadas. Já havia andado bastante. Não tinha quase nenhuma placa, assim, ele era obrigado a seguir com muita cautela para não acabar perdido. O clima havia se mostrado um tanto instável, mas ele desfrutava da mesma forma. O local era como um terreno baldio onde não se via uma alma. Até mesmo as casas vizinhas pareciam vazias, o que era bom; teria tempo de sobra para pensar.

    Para Martin, uma coisa era clara: ele manteria contato com sua filha e usaria ao máximo seus direitos de visita. Quando ainda estava em sua casa, considerou afastar-se por completo, para dar uma chance à nova família de sua esposa. Mas essa fora uma reação instintiva, e agora sabia que essa escolha causaria a ela enorme sofrimento. Além disso, não achava que sua filha aceitaria. É verdade que a menina era mais apegada à mãe, mas seu pai também era muito importante para ela.

    As intenções de Martin não eram de se intrometer no novo relacionamento de sua ex. Coisa que já havia feito em relação a educação da filha – Martin e sua ex-esposa brigavam constantemente a respeito disso. A imagem de homem que sua esposa – não, ex-esposa –havia passado para a filha já era bem negativa. Acontece que nem todos os homens são chauvinistas. Mas Martin já não tinha mais vontade de discutir. Durante o tempo que teria com sua filha, tentaria passar uma imagem verdadeira de si mesmo, o que seria bem diferente do que transmitia sua ex. Bom, de qualquer forma não seria fácil.

    Hoje Martin planejava fazer compras. Os mantimentos que havia comprado em um pequeno centro de compras, no primeiro dia, já estavam acabando. Havia um supermercado específico que abria todos os dias, e ele apreciava o conforto de não ter que pensar em que dia da semana estava. Enquanto isso, ele havia se acostumado com a estrada que descia a montanha, atravessando a floresta, sem mencionar que raramente encontrava outro carro pelo caminho.

    Em Tensta, Martin foi direto para o centro de compras, que ficava na avenida principal. Um enorme estacionamento dava acesso direto às lojas, que se alinhavam em forma de L. O supermercado ficava bem na ponta. Pegou um carrinho e começou a andar. Notou que a seleção de produtos era um tanto limitada, ao não ser pela complexa variedade de laticínios. Em sua primeira vez no mercado, havia comprado um pouco de Filmjölkpor conta da grande vaca ilustrada na caixa. Descobriu mais tarde que era leite de manteiga, do qual ele não era muito fã, e não combinava nem um pouco com o café. Dessa vez, decidiu comprar Mellanmjölk, mesmo que a embalagem não exibisse nenhuma vaca. Havia no mercado também uma vasta seção de peixes. Martin pegou vários potes com arenques em diferentes tipos de molho e colocou-os em seu carrinho.

    Na fila para pagar, uma mulher desacompanhada na sua frente estava envolvida em uma discussão com a mulher do caixa. Martin a reconheceu. Era a agradável moça que o havia ajudado com o caminho até a casa. Parecia que havia um problema com seu cartão de crédito. Ela ainda não notara sua presença, então Martin a abordou.

    Com licença, posso ajudar?

    A mulher virou-se e olhou para ele. Carregava uma expressão séria, mas as rugas em suas sobrancelhas logo dissolveram-se em um sorriso de reconhecimento.

    Ah, é você! Olá! Sim, a máquina não está lendo meu cartão, e eu não trouxe dinheiro o suficiente.

    Ficarei feliz em ajudar. De quanto você precisa?

    Que gentil de sua parte! Pagarei de volta imediatamente. Não é muito, só 260 coroas.

    Não tem problema. Tenho o suficiente. Por sorte ele havia trazido bastante dinheiro, visto que provavelmente não conseguiria usar seu cartão aonde quer que fosse.

    A vizinha de Martin explicou a situação à mulher do caixa, e ambas pareceram aliviadas. Era uma mulher atraente, sua vizinha, e ao entregá-la o dinheiro, seus dedos se tocaram. O breve contato, fez com que um calafrio descesse pela espinha de Martin. Ele congelou, incapaz de reagir de qualquer maneira a não ser encarando-a. Após vários segundos, que mais pareceram minutos, conseguiu livrar-se de sua posição petrificada e pagou as compras. Será que ela havia notado sua reação?

    Colocaram os itens em sacolas plásticas e dirigiram-se juntos até à saída.

    Agradeço muito por ter me ajudado, ela disse, e sem nem me conhecer.

    Sem problemas. Pelo menos me deu a chance de retribuí-la por sua ajuda no outro dia.

    Foi muito gentil. Seus olhos azuis brilhavam. Já sei! Vou usar outro cartão para sacar dinheiro, e amanhã, você pode ir lá em casa para um café. O que acha? Assim posso devolver seu dinheiro. Pode ser?

    Claro, eu adoraria. Que horas devo ir?

    Lá pelas três horas. Consegue encontrar o caminho até lá?

    Ah sim, com certeza. Já passei por perto várias vezes.

    Certo, então até amanhã. Mal posso esperar.

    Eu também.

    A propósito, meu nome é Liv.

    Martin.

    "Certo. Na Suécia dizemos hejdå para se despedir."

    Heydoh. Martin repetiu, desajeitadamente.

    "Nada mal, para a primeira tentativa. Hejdå!"

    Seguiram por direções contrárias enquanto andavam até seus respectivos carros. Martin virou-se para olhá-la. Era uma mulher atraente, mesmo vista de costas.

    Agora, a caminho de casa, Martin pensava sobre o encontro acidental. Estava ansioso para vê-la novamente e passar um tempo com outra pessoa. Afinal, sentia-se um pouco solitário, isolado naquela casa. Além de que, havia se interessado por ela. Imaginava se ela moraria sozinha.

    ––––––––

    O dia passou rapidamente. Martin passara a tarde na floresta, durante mais tempo do que havia imaginado, após tentar um novo caminho e acabar perdido. Então, para piorar a situação, começou a chover forte e ele voltou para casa ensopado e exausto. Mas após um banho quente já se sentia melhor.

    Para o jantar, Martin fez peixe e rendeu-se a uma garrafa de vinho. Seus pensamentos voltaram-se para a filha. Ele sentia sua falta, e naquele momento, arrependeu-se de deixar as coisas chegarem a esse ponto. Talvez não tivesse se esforçado tanto. Será que não havia nada mais a ser feito para salvar o casamento?

    Chegou um momento em que Martin não tentava mais entrar em consenso, e passou a ignorar as infinitas reclamações de sua esposa o máximo que podia. Bom, tudo bem, se fosse honesto, ele poderia ser considerado um chauvinista. Durante o breve período em que se encontrava em casa, relacionava-se exclusivamente com a filha, ou então focava em seu trabalho. Ele e uma colega haviam aberto uma advocacia, juntos, o que exigia muito trabalho, especialmente no primeiro ano. Sua indiferença enfurecia sua esposa, e as brigas eram constantes, até mesmo em relação a assuntos triviais. E então, Martin mergulhou cada vez mais em seu trabalho.

    Até que ela conheceu Gerhard, e o fim passou a ser inevitável.  Não que ele houvesse de fato tentado algo para impedi-lo. De certa forma, ele nunca se importou muito, pois não acreditava que sua esposa chegaria ao ponto de pedir o divórcio.  Mas ela pediu; na primeira oportunidade. E lá estava ele. Mais um gole de vinho e iria para a cama.

    Domingo, 20 de setembro

    3

    Nem daria tempo para o motor se aquecer no curto trecho até a casa de sua vizinha Liv, mas Martin não queria ir a pé. Ainda chovia, e a estrada estava enlameada.

    Martin estava ansioso para reencontrar Liv.  Ela era uma mulher interessante e atraente. Pensou em sua reação no supermercado no dia anterior, e imaginou se experimentaria uma sensação parecida hoje; quando se cumprimentassem, por exemplo.

    Estacionou o carro na beira da estrada, no mesmo lugar em que havia parado antes. Antes de sair do carro, pegou o pacote de biscoitos que havia deixado no banco do passageiro ao seu lado. Não era o presente mais original, mas não queria fazer outra viagem até a cidade para comprar flores. Então, ele subiu os três degraus até a porta da frente. Não havia campainha, mas apenas um grande anel que funcionava como batente de porta, o qual agora ele usava. Ninguém apareceu. Esperou um pouco, e tentou novamente, dessa vez mais alto. Nada. Tentou três vezes, com bastante força. O batente era ao certo barulhento o suficiente. Ainda assim, nada mudou. Martin olhou em volta. O Jipe estava estacionado na entrada da garagem, e não havia nenhuma outra casa à vista então ela não poderia estar no vizinho. Estaria tomando banho? Ele tentou novamente, e gritou Olá!. Nada.

    Martin andou até o Jipe. Trancado. O capô estava frio. Deu uma volta ao redor da casa. Na parte de trás havia um terraço semicoberto, com uma mesa e algumas cadeiras de jardim. Tudo estava deserto. Foi até o terraço e olhou através do vidro. Do lado de dentro, havia uma pequena mesa de jantar, e ao lado dela, uma cadeira virada para baixo. Algo não parecia certo. Ele bateu no vidro e gritou novamente. A porta se abriu ligeiramente. Estava destrancada. Martin empurrou-a um pouco mais e deu um passo hesitante adentrando a casa. Gritou mais uma vez, dessa vez sem esperar resposta.

    Ao não ser pela cadeira, tudo parecia normal; uma sala de estar e de jantar confortavelmente mobiliada. Aventurou-se adentrar um pouco mais. Ao lado, estava a cozinha impecavelmente arrumada. Ele não via nada que indicasse preparativos para um café, e a cafeteira estava limpa. Teria Liv se esquecido dele? Ou seria ele, quem havia entendido errado?

    Martin se sentia nervoso, andando pelo lugar onde não havia sido convidado, e pensava se deveria ir embora, quando decidiu dar uma olhada em cima do armário de roupas que ficava perto da entrada. Lá encontrou as chaves do carro e um celular ligado. Sem esses itens ela não deveria ficar fora por muito tempo, certo?

    A chave da porta da frente estava inserida na fechadura por dentro. Martin virou a maçaneta e percebeu que estava trancada, o que significava que Liv havia saído pelo terraço. Teria ido até a casa de um vizinho, mesmo distante? Não parecia haver outra opção. Ou talvez algo poderia ter acontecido com ela; poderia ter caído de uma escada, ou algo do tipo.

    Martin decidiu investigar. Olhou dentro do lavabo e então subiu os degraus estreitos até o andar de cima, onde havia um banheiro e dois quartos pequenos. Mas Liv não estava em lugar nenhum. Desceu as escadas.

    O que ele deveria fazer? Simplesmente ir embora e tentar novamente amanhã? Ou será que deveria esperar? Aqui na sala de jantar? Imaginou-se sentado à mesa enquanto Liv abria a porta do terraço. Ele diria envergonhado: Olá, eu decidi entrar.

    Não, aquilo não parecia nada bom. Martin saiu da casa e entrou em seu carro, carregando consigo os biscoitos. Aborrecido, colocou-os de volta no banco do passageiro. Decidiu então dirigir até as casas vizinhas e perguntar por Liv. Ligou o carro e pegou a estrada. Dois quilômetros mais tarde, ainda sem nenhuma casa à vista, Martin virou-se. Atrás da casa de Liv não havia nada a não ser floresta, por muitos quilômetros e em ambas as direções. Disso ele estava certo.  Para onde ela poderia ter ido a

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