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Morte Roxa
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E-book323 páginas5 horas

Morte Roxa

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Sobre este e-book

Um serial killer está a solta na tranquila Richmond-on-Thames.


Uma série de assassinatos chocantes e particularmente terríveis levam o Inspetor Detetive Sean Connor e sua equipe para dentro de uma investigação que se torna um labirinto, no qual todos os caminhos levam em direção a um caso de assassinato não-solucionado de trinta anos atrás. As vítimas, aparentemente sem nenhuma ligação entre si, estão sendo executadas por um veneno único, associado previamente com a notória família Bórgia.


Com os assassinatos começando a se multiplicar a um ritmo alarmante, Connor encontra dificuldades em encontrar pistas, sendo que cada uma o leva a um beco sem saída. A cada volta o assassino parece estar um passo a frente da polícia. Juntamente com sua assistente, a Sargento Lucy Clay, eles devem juntar os fragmentos de evidências que levarão a misteriosa Mulher Chocolate, e assim ao cérebro por trás dos horríveis assassinatos que ficam logo conhecidos como A Morte Roxa.


Mais um mistério fascinante de Brian L. Porter, Morte Roxa vai manter você dando palpites até o final.

IdiomaPortuguês
Data de lançamento24 de abr. de 2022
Morte Roxa

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    Morte Roxa - Brian L. Porter

    UM

    O PRIMEIRO GOSTO

    Olhando para o mundo através da janela de seu escritório, Sam Gabriel tinha muitas razões para se sentir satisfeito consigo mesmo. Ao ver as pessoas aproveitando o calor do sol no parque que ficava diretamente abaixo do prédio do escritório, ele se perguntou se qualquer uma delas poderia se sentir tão feliz como ele naquele momento em particular da sua vida. Tinha apenas quarenta anos de idade e já havia chegado ao mais alto degrau da escada de promoções. Menos de uma hora antes, o velho Lawrence Betts chamou Sam à sua sala e lhe deu o prêmio que ele estava esperando por tanto tempo, uma sociedade! Ser convidado para o papel de sócio na firma Betts, Cowan e Ford era algo que Sam havia sonhado desde que entrou no escritório de advocacia, apenas quatro anos antes, mas nunca tinha imaginado que isso aconteceria tão rápido. Ele havia feito seu nome, mais cedo, com uma pequena firma especializada em assuntos criminais e havia sido convidado a trabalhar para a grande e mais próspera firma na qual estava agora. Ele queria muito ligar para Lynne, sua esposa pelos últimos seis anos, mas ele sabia que ela estava no caminho para Edimburgo para visitar sua mãe, e Lynne nunca, jamais, pensaria em atender ao telefone enquanto estivesse dirigindo. Ela sempre havia sido muito cuidadosa.

    Enquanto Sam pensava em Lynne, começou a perceber uma pequena sensação de queimação, acompanhada por um inexplicável formigamento na sua boca. Devido à animação Sam inicialmente ignorou o desconforto, mas, enquanto assistia duas crianças brincando com um pequeno Yorkshire no parque abaixo de sua janela, ele percebeu outra incomoda sensação, quando sua boca começou a ficar dormente, como se tivesse recebido uma grande dose de novocaína, e a sensação de formigamento aumentou assim como a queimação que agora ia de sua boca até seu abdômen.

    Sam cambaleou para trás até sua mesa, enquanto a queimação aumentava e suas funções motoras falharam de repente. Ele queria mover seus braços e pernas, mas eles não obedeciam aos comandos de seu cérebro. O que diabo está acontecendo? Sam tentou alcançar o telefone que estava convidativamente em sua mesa, para tentar ligar para Maggie, sua secretária. Ele sabia que devia ter comido algo que não fez bem ao seu estômago. Isso só podia ser um ataque violento de intoxicação alimentar, com certeza. Por algum motivo, ao mesmo tempo em que ele alcançava do outro lado da mesa o telefone parecia estar se movendo para longe de suas mãos; não importava o quanto ele tentasse, ele não podia conectar sua mão com o inanimado, mas elusivo, objeto de plástico que havia se tornado em absoluto o foco de sua vida nos últimos segundos.

    Ele não conseguia. O telefone não ia permitir ser pego, então tentou a próxima melhor opção. Ele iria caminhar pelo chão até a porta, abri-la e chamar Maggie para o escritório. Ele já tinha feito isso milhares de vezes antes, por que não daria certo agora? A resposta veio em menos de dois segundos quando Sam Gabriel tentou mover as pernas e em vez disso caiu no chão de sua sala. Ele se sentia mais do que apenas doente agora, e Sam foi tomado pelo medo enquanto o suor de suas sobrancelhas caía em seus olhos. Ele sentiu um aperto em seu peito como se alguém tivesse, de repente, colocado um anel de ferro ao seu redor e estivesse apertando a cada segundo mais. A vida estava sendo rapidamente arrancada de seu corpo, mas sem nada nem ninguém em sua sala que pudesse lhe ajudar. Sam Gabriel nunca havia se sentido tão amedrontado e sozinho.

    Por que ninguém vinha em seu auxílio? Ele não conseguia pensar em um motivo para ninguém ter aparecido até que se lembrou de que havia pedido à Maggie para não ser interrompido sob nenhuma circunstância. Sam queria aproveitar seu grande momento, saboreá-lo e então fazer algumas ligações para amigos e a família contando as novidades. Então teria ido almoçar e encontrado, como sempre, seus colegas da firma e de fora no The Harrow Arms, o bar local para os homens de negócio jurídicos e sofisticados.

    Seu pulso estava lento, sua pele parecia estar pegando fogo e a sensação de calor estava rapidamente se espalhando por todo seu corpo. Ele quase podia sentir o pulsar de seu coração em suas têmporas e sabia que, juntamente com seu pulso, suas batidas cardíacas estavam ficando mais lentas a cada minuto.

    – Que diabo está acontecendo comigo?

    Ele conseguiu dizer essas palavras em voz alta, mas foram as últimas palavras antes que sentisse seu estômago se retorcer, e Sam Gabriel começou a vomitar incontrolavelmente. Ele se retorceu violentamente quando um espasmo sacudiu seu corpo, sentiu a rigidez gelada de sua mesa, e então começou a soluçar quando percebeu que ninguém viria para ajudar, e o que quer que estava acontecendo com ele, poderia potencialmente ter consequências letais. Ele concluiu que isso não era simplesmente um caso de intoxicação alimentar. Algum maldito o havia deliberadamente envenenado. Mas quem e com o que? Ele tentou desesperadamente pensar em algo que ingeriu e que poderia ter causado esse tipo de reação, mas seu pobre cérebro torturado não conseguia pensar em nada.

    A dor em seu intestino aumentou exponencialmente e Sam conseguiu assumir uma posição fetal, seus braços segurando, apertando sua barriga num esforço de diminuir a agonia e controlar a náusea que castigava seu corpo mais cansado a cada minuto. Tornou-se difícil para respirar. Ele pouco sabia naquele estágio, mas Sam estava ficando aos poucos com falta de ar, seus pulmões estavam começando a falhar devido à asfixia. Lúcido até o fim, Sam Gabriel viveu seus últimos momentos no chão de seu escritório, reconhecendo a aproximação da morte iminente, mas sendo incapaz de chamar ajuda, sendo até mesmo incapaz de chamar sua secretária na sala ao lado. Sam pensou em Lynne e na criança que ela estava carregando, o filho ou filha que ele nunca iria conhecer, e então, a dor em seu abdômen atingiu seu ápice e seus pulmões pareciam que estavam sendo esmagados de novo e de novo, Sam fechou seus olhos pela última vez, as crianças no parque perseguiam o pequeno cachorro, e o seu grupo de almoço se reunia nos bancos do parque para aproveitar seus sanduíches e bebidas pré-embalados.

    Sabendo que ele não queria se atrasar para celebrar as novidades de sua promoção com o grupo de almoço, Maggie Lucas ousou bater na porta do escritório de Sam Gabriel menos de dez minutos depois de ele dar seu último suspiro. Os gritos que acompanharam a sua descoberta, do corpo dolorosamente contorcido de seu chefe, trouxeram a equipe e os sócios sêniores da firma Betts, Cowan e Ford, que correram para a sala de seu mais novo promovido a sócio júnior e recentemente falecido. Sam Gabriel tinha vivido menos de duas horas para aproveitar sua promoção.

    DOIS

    SEGUNDAS ESCOLHAS

    Uma hora depois de Sam Gabriel ter falecido no chão de sua sala, David Arnold, um pai de dois filhos com trinta e oito anos e condutor para Great Eastern Railways levava seu trem para uma parada na plataforma dois da New Street Station em Birminghan. A viagem do resort da costa sul de Penzance tinha sido rotineira e David parou na plataforma de Birminghan na hora exata. A queimação em seu estômago havia começado cerca de 16 quilômetros antes da cidade, mas ele a havia deixado de lado por ter comido seu café-da-manhã com muita pressa. Agora ele estava pagando por isso.

    David percebeu, quando começou a sentir a queimação e a sensação de formigamento em sua boca e as cólicas em seu intestino, que poderia ser algo mais sério do que ele havia pensado. Ele sabia que não poderia continuar conduzindo o trem pelo resto de sua escala, que levaria o trem tão longe quanto até sua cidade natal Liverpool, onde deixaria o trem com outro condutor pelo resto do trajeto até Glasgow. Na sua atual condição ele seria um perigo para si e para os passageiros e então, responsavelmente, decidiu sair da cabine e buscar ajuda antes de achar um condutor reserva, se ele pudesse achar um.

    Foi naquele momento, ao mesmo tempo em que tentava se levantar do seu assento e seguir para a porta da cabine, que ele percebeu como as coisas estavam ruins. Apesar de seu cérebro continuar a funcionar perfeitamente bem, David Arnold encontrou-se preso no seu assento. Ele queria se mover, mas não podia. Todas as suas funções motoras pareciam tê-lo abandonado. Que inferno, ele nem mesmo podia levar seu braço à janela para pedir ajuda. Ele se sentia doente e um aperto forte começou a se formar em seu peito, a respiração se tornou difícil. David sabia que ele estava com problemas.

    As portas dos vagões se fecharam, o apito do guarda soou, e os cento e quarenta passageiros a bordo do trem esperaram pela poderosa locomotiva diesel-elétrica começar seu lento deslocamento enquanto puxava a fila de vagões da estação, antes de ganhar gradualmente velocidade enquanto se movia para fora da cidade.

    Quando o trem falhou em se mover, o guarda tentou o apito mais uma vez, pensando que talvez o condutor não tivesse ouvido o estridente e agudo som que indicava que ele podia seguir seu caminho. Quando o segundo apito produziu o mesmo efeito abortivo, o guarda caminhou bruscamente pela plataforma até a frente do trem. Enquanto se aproximava da locomotiva, um supervisor da plataforma se juntou a ele, sendo seu trabalho assegurar que os vagões do trem estivessem em condição segura com todas as portas fechadas antes que começasse a se mover. Os dois homens chegaram simultaneamente à porta da cabine do condutor, e o guarda, um veterano com vinte anos trabalhando no sistema ferroviário, abriu a porta. Normalmente, a porta da cabine estaria automaticamente trancada enquanto o trem estivesse em movimento, mas agora ela permitia ao guarda empurrar o trinco e abri-la para revelar o interior da cabine.

    O piso da cabine estava inundado, manchado com o vômito que David Arnold havia expelido em seus momentos finais. Ele havia permanecido consciente e com a mente clara até o final, e havia ficado aterrorizado pela terrível compressão em seu peito e pulmões, sentindo-se como sendo gradualmente estrangulado por um assaltante invisível, sua necessidade por ar sendo preenchida por nada além de dor. David Arnold pensou em Vicky e Tracy, suas duas filhas jovens e Angela sua mulher, esperando em casa que ele terminasse sua escala e retornasse para elas como sempre fez. Ele podia ver seus rostos em sua mente quando o terrível aperto final o atingiu e o esforço para respirar se tornou suplantado pela necessidade de ceder, de deixar as consequências inevitáveis de seu súbito ataque de dor tomar seu caminho. David Arnold morreu apenas dez segundos antes que Ray Fellows, o guarda, abrisse sua cabine.

    Os rostos assustados de Ray Fellows e Mike Smith, o supervisor de plataforma, espelhavam um ao outro quando eles se engasgaram com a visão horrível que encontrou os seus olhares no momento em que entraram na cabine. Smith desviou o olhar e vomitou, ali mesmo na plataforma. Fellows, apesar do choque de encontrar o condutor naquele estado, conseguiu enviar um pedido de socorro pelo rádio e solicitou que a polícia e os paramédicos fossem convocados.

    A polícia foi, obviamente, a primeira a chegar, pois a força local mantinha uma forte presença na maior parte das estações da rede ferroviária como parte do moderno procedimento contra o flagelo do terrorismo. Um sargento e um policial chegaram à entrada da cabine dentro de dois minutos após a ligação de Fellow, e o sargento não precisou de uma segunda olhada para determinar que era improvável que o condutor estivesse vivo. O esgar sombrio de dor em seu rosto, congelado no momento de sua morte, serviu para anunciar seu estado como morto, então o sargento ordenou ao policial para isolar a área ao redor da cabine até que os paramédicos e um policial mais graduado chegassem para assumir o caso.

    – E quanto ao trem? – perguntou Fellows.

    – Oi? – o sargento respondeu.

    – O trem, Sargento! Provavelmente há mais de cem pessoas nesses vagões esperando para continuar a viagem. O que nós devemos fazer com esse maldito trem?

    O Sargento Peter Seddon pensou rapidamente, e tomou uma decisão.

    – Me desculpe, mas até nós termos certeza de que foi uma morte acidental, eles vão ter que ficar aqui, até que um oficial mais graduado decida liberar eles.

    – Você está certamente de brincadeira. – o guarda respondeu. – Como vamos mantê-los todos dentro do trem? Nós não temos exatamente uma massiva força de segurança aqui, você sabe. Eles podem simplesmente abrir as portas e deixar a estação, e nós nem saberíamos de nada, não é?

    – Davies, – o sargento falou ao policial. – Pegue o rádio e chame todos os homens que nós temos em serviço na estação para vir até aqui. Eu quero o nome e o endereço de cada passageiro, e eu quero isso rápido.

    – Estou cuidando disso, Sargento. – o policial respondeu.

    As pessoas já estavam abrindo as portas dos vagões em todos os oito que faziam parte do trem. Seria preciso de um miraculoso e sobre-humano esforço por parte da polícia para manter todos eles no lugar até que os detetives chegassem. Graças ao esforço impressionante do Sargento Seddon, do policial Paul Davies, e de mais quatro homens do escritório de polícia de transporte na New Street Station, eles alcançaram o quase impossível. Até onde eles sabiam ninguém havia deixado o trem antes da chegada do Inspetor Detetive Charles Carrick e seu assistente, o Sargento Detetive Lewis Cole, trinta minutos depois do chamado.

    Os detetives logo começaram a trabalhar, apesar de que havia pouco a ser obtido dos passageiros e funcionários da estação na Plataforma Dois. A probabilidade que alguém a bordo do trem pudesse ter algo a ver com a morte do condutor era mínima, na mente dos detetives, e depois de se assegurar que os agentes haviam anotado os nomes e endereços dos passageiros, eles foram liberados para continuar seu caminho da melhor forma possível.

    Os paramédicos tinham certeza que o condutor estava morto, (o policial devia ter contado a eles) e Carrick pediu que o corpo permanecesse intocado até que pudesse ser examinado pelo médico-legista e oficialmente declarado como tal. Todo o procedimento levou cerca de uma hora, desde o começo até o final, e após isso os paramédicos removeram o corpo de David Arnold da cabine com todo o cuidado possível, colocando-o em um saco preto, e levando o morto para o necrotério local onde poderia passar por um exame mais rigoroso e uma autópsia, em um esforço para determinar a causa da morte do infeliz condutor. Por ora, a locomotiva seria tratada como uma cena de crime em potencial, forçando o chefe da estação ao inconveniente de encerrar as atividades naquela plataforma, e causando uma severa interrupção em todo o sistema de trens, até que a polícia permitisse que a locomotiva fosse movida para outro trilho.

    As palavras de Carrick, enquanto ele assistia a ambulância levar o corpo do condutor ao encontro do bisturi do médico-legista, iriam se tornar proféticas quando disse a Cole:

    – Eu não gostaria de ver alguém dessa forma todos os dias, sargento. Não senhor, eu não gostaria. Dá arrepios ao ver um corpo como esse. O pobre coitado deve ter ficado em terrível agonia no final, pelo jeito do seu rosto. Ninguém deveria morrer desse jeito, ninguém. Eu espero nunca mais ver um rosto daquele jeito enquanto eu viver.

    – Está certo, senhor. – Cole respondeu.

    Ele não conseguia pensar em nada para dizer naquele momento. Estava muito ocupado tentado segurar a bile e o vômito, que estava lutando contra desde que tinha visto o cadáver do que havia sido o forte e vibrante condutor de trem.

    Naquela hora, nenhum homem podia pensar em nada além da inevitável autópsia, que esperavam que provasse que aquele homem não havia morrido por uma terrível, mas natural morte, e sim talvez, de uma intoxicação alimentar.

    Essa esperança, porém, durou pouco, assim como a esperança de Carrick de que essa fosse a primeira e última vez que visse tal tortura como no corpo de David Arnold!

    TRÊS

    PERGUNTAS SEM RESPOSTAS

    A morte de Sam Gabriel havia causado mais do que um rebuliço dentro das portas sagradas da antiga firma de advocacia. O sócio sênior Lawrence Betts, que a pouco havia apertado a mão de seu sócio júnior recentemente promovido, tinha tomado a responsabilidade de avisar as autoridades, tão logo a secretária de Sam o informou da tragédia que havia acontecido no escritório. Betts, com sessenta e nove anos, aparentando sua idade e também o quanto estava abalado, agora estava sentado à sua mesa, suas mãos preenchidas com toda a sua incansável energia, assim como o Inspetor Detetive Sean Connor que sentava na confortável cadeira de couro a qual Betts fornecia para aqueles que procuravam seus serviços profissionais. No entanto naquele momento, Connor via apenas um triste homem velho, com uma cabeça de cabelos brancos e rugas em suas têmporas, as mãos com manchas senis, um homem com um olhar de derrota em seus olhos.

    – Então, Sr. Betts. – ele começou. – O que você pode me contar que possa esclarecer o que aconteceu aqui hoje? Eu entendi que o Sr. Gabriel estava com o senhor pouco antes de sua morte e que você havia acabado de dar a ele uma grande promoção.

    Betts deu uma pausa por um instante antes de responder. Obviamente Maggie, uma das outras secretarias ou um dos paralegais, já haviam contado ao inspetor da promoção de Sam.

    – Humm, sim, é isso mesmo Inspetor. – ele respondeu. – Sam Gabriel era uma daquelas luzes brilhantes contra um horizonte cada vez mais maçante. Em termos legais ele tinha um desempenho brilhante e uma carreira promissora a sua frente. Eu o teria promovido há um ano, mas queria que ele ganhasse mais um pouco de experiência antes de confirmar o que eu já sabia. Isso não é nada além de uma tragédia catastrófica Inspetor, catastrófica!

    – Sim, senhor, eu tenho certeza que você está certo. Você tem alguma ideia do que pode ter acontecido para causar essa, essa... o que quer que tenha acontecido com ele?

    – Eu posso assegurar para você, Inspetor, que eu não tenho ideia do que poderia ter acontecido ao pobre Samuel. Deixe me dizer para você agora, que Sam não tinha tempo para drogas, então o pensamento de que ele possa ter tido uma overdose de alguma substância ilegal está positivamente fora de questão.

    – O que te faz imaginar que eu possa estar pensando nessa possibilidade Sr. Betts? – perguntou o inspetor.

    – Eu não sei Inspetor. É só por que eu sei, em meus anos de experiência, que quando alguém morre em circunstâncias suspeitas sem nenhum sinal visível de trauma no corpo, a polícia tende a pensar nessa linha, não é mesmo?

    – Você tem uma opinião tão pobre a nosso respeito, não é Sr. Betts? Pelo que eu sei o Sr. Gabriel poderia ter tido um ataque do coração, um derrame, uma hemorragia cerebral, um número de coisas que poderiam ser atribuídas a causas naturais, e ainda sim você automaticamente pensa em substâncias controladas. Eu sei que você é um advogado, mas eu acho que talvez seja você quem esteja pulando para as conclusões. É isso o que realmente pensa que pode ter tido algo haver para contribuir com a morte dele?

    – Não Inspetor, eu não penso nisso, e você deve me perdoar por ter trazido tal assunto em nossa conversa. Eu estou chocado, é só isso, chocado por perder um colega com tal mente brilhante e chocado pelo efeito que essa morte vai ter na vida da mulher e da família dele.

    – Claro Sr. Betts, claro. Então você não tem ideia do que aconteceu ao Sr. Gabriel na sala dele depois que conversou com você e saiu em seguida?

    – Isso está certo. Samuel deixou meu escritório mais ou menos às onze horas, e até onde eu sei pelas conversas com a minha equipe, ele retornou a sua sala e depois de algumas palavras com a secretária pedindo que ela não permitisse que ninguém o incomodasse, depois disso ele não foi mais visto com vida.

    – Não é um pouco estranho senhor, você sabe, após ele receber a grande promoção que ele não quisesse compartilhar com alguém naquele mesmo momento?

    – Não mesmo Inspetor. Samuel Gabriel era um homem modesto e respeitável. Ele iria querer que sua mulher fosse a primeira a compartilhar de seu sucesso. Ele me disse algo sobre ela estar viajando para o norte hoje, acho que para Edimburgo para visitar a família dela e ele não pensaria em perturbar ao telefonar enquanto ela estivesse dirigindo. Ele teria esperado até que ela chegasse ao norte da fronteira, e teria telefonado a ela antes de contar a mais alguém.

    – Mas os funcionários do escritório, os outros membros da sua firma, eu suponho que todos eles sabiam?

    – É claro, mas eles iriam ter que guardar para si mesmos até a hora que saíssem do prédio. Além disso, deixando de lado sua família e amigos, isso não teria muita importância para alguém fora do escritório, não é mesmo Inspetor? Era apenas uma promoção de trabalho, apesar de tudo, e não poderia ter qualquer influência sobre a morte dele.

    – Talvez, Sr. Betts, e talvez não. Nós vamos ter que esperar e ver o que a autópsia poderá nos dizer, não é mesmo? Até que isso esteja concluído, tudo pode ser mera especulação de nossa parte, e dificilmente digno de qualquer um dos nossos status profissionais você não concordaria?

    Betts assentiu em concordância quando alguém bateu na porta. A figura diminuta da Sargento Detetive Lucy Clay se seguiu a sua batida educada ao empurrar a porta e espiar a sala até que viu Connor.

    – Sim, Sargento, o que é isso?

    – É a equipe da perícia e o médico, senhor. Eles querem saber se podem mover o corpo.

    – Assim que o médico pronunciar que esse homem está morto e fizer seu exame preliminar do corpo, eles podem levá-lo embora. – Connor respondeu.

    Betts seria de pouca ajuda adicional aos policiais, seu conhecimento de Sam Gabriel se estendia pouco além das portas do escritório de advocacia, então Connor e Clay passaram as duas horas seguintes perguntando aos outros sócios e funcionários da Betts, Cowan e Ford, tendo como resultado que eles sabiam quase nada sobre o falecido, a não ser do seu sucesso como advogado e os detalhes básicos sobre sua esposa e vida caseira. Que ele tinha um casamento feliz parecia ser um fato universalmente aceito, e todo mundo professava a crença de que Sam Gabriel tinha sido vítima de um trágico acidente, ou de que ele tinha sido acometido por alguma doença terrível e desconhecida, e alguns funcionários chegaram até mesmo ao ponto de perguntar se a polícia iria fazer exames em todos para procurar pela doença que matou o colega deles.

    Foi com um sentimento de alívio quando Connor e Clay deixaram o edifício e voltaram para a delegacia de polícia. Ainda era muito cedo para qualquer resultado post-mortem, e eles decidiram usar o tempo disponível para checar e cruzar referências das declarações que receberam dos funcionários da firma de advocacia, e também para contar a polícia de Edimburgo onde a desafortunada viúva de Sam Gabriel era esperada a chegar a qualquer momento. O escritório escocês teria que dar as más notícias à viúva, mas seria Sean Connor quem teria que lidar como o luto dela e com o interrogatório quando ela voltasse.

    QUATRO

    ARSÊNICO E RENDA ANTIGA

    Catherine Nickels amarrou seu cabelo para trás, esfregou as mãos, colocou as luvas e caminhou deliberadamente para a sala de autópsias. Como médica legista chefe da cidade, com 38 anos de idade, Catherine havia sido chamada para realizar o exame no corpo do recém-falecido Sam Gabriel. Seu assistente, o Dr. Gunther Schmidt estava esperando por ela. Gunther era austríaco de nascimento, de pais alemães, e havia se mudado para a Inglaterra,

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