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O Silêncio Incessante em Narrativas de Luiz Vilela
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O Silêncio Incessante em Narrativas de Luiz Vilela
E-book265 páginas2 horas

O Silêncio Incessante em Narrativas de Luiz Vilela

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Sobre este e-book

Carlos Drummond de Andrade, em seu poema "Diálogo incessante", afirma que "Mesmo no silêncio e com o silêncio dialogamos". Ao ler o livro de Yvonélio Nery Ferreira, com o qual conseguiu navegar pelas águas turvas do silêncio a partir da produção literária de Luiz Vilela, foi possível perceber o constante diálogo no e com o silêncio.

Ler O silêncio incessante em narrativas de Luiz Vilela, além de ser uma oportunidade de viajar pelos ditos e não ditos do silêncio, também se constitui numa forma de conhecer a produção (contos, romances e novelas) e os dados relevantes da vida de Luiz Vilela, mesmo para aqueles que ainda não tiveram um contato mais íntimo com a narrativa do escritor mineiro. Isso só é possível porque Yvonélio conseguiu apreender a essência das criações literárias de Vilela, não apenas a partir daquilo que ecoa das palavras, mas também dos seus diversos silêncios. Assim, quem imagina que não há nada a dizer do silêncio será surpreendido pelos tantos silêncios detectados e expressos a partir das análises cativantes de Yvonélio, pois à medida que a leitura avança, o leitor, seguindo percursos dialógicos da modernidade, é apresentado ao silêncio amoroso, é levado a transitar entre o silêncio político e a política de silenciamento e, ademais, vai se emocionar com os silêncios da velhice, esses de que muitos falam, imbricados aos ecos da memória.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento6 de ago. de 2020
ISBN9786558200758
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    O Silêncio Incessante em Narrativas de Luiz Vilela - Yvonélio Nery Ferreira

    Editora Appris Ltda.

    1ª Edição - Copyright© 2018 do autor

    Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.

    Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98.

    Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores.

    Foi feito o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nºs 10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010.

    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO LINGUAGEM E LITERATURA

    Aos meus pais, José e Nair,

    pelas palavras e pelos silêncios.

    O constante diálogo

    Há tantos diálogos

    Diálogo com o ser amado

    o semelhante

    o diferente

    o indiferente

    o oposto

    o adversário

    o surdo-mudo

    o possesso

    o irracional

    o vegetal

    o mineral

    o inominado

    Diálogo consigo mesmo

    com a noite

    os astros

    os mortos

    as ideias

    o sonho

    o passado

    o mais que futuro

    Escolhe teu diálogo

    e

    tua melhor palavra

    ou

    teu melhor silêncio

    Mesmo no silêncio e com o silêncio

    dialogamos.

    ~

    Carlos Drummond de Andrade

    PREFÁCIO

    MEMÓRIA E SILÊNCIO: EXPERIÊNCIAS DA LINGUAGEM

    Gosto do silêncio, não gosto de escrever com barulho, não.

    Então, por esse motivo, prefiro escrever à noite.

    ~ Luiz Vilela

    Este é um livro para Luiz Vilela, um dos mais significativos representantes da moderna ficção brasileira. Mas este é um livro que vai muito mais mostrar que o silêncio, paradoxalmente, é uma das mais obstinadas experiências da linguagem e uma das manifestações literárias que mais paralisam a crítica. Por isso ficar mudo de admiração é uma das reações mais comuns diante de seu objeto literário que se transmuda porque se quis livro, fez-se tese e deseja-se novamente livro. Como os ouvir, autor e leitor, depois de ter sido a leitora inaugural do que aqui se apresenta? O movimento dos capítulos me leva a ouvir uma primeira e uma segunda voz sem dissonância: memórias de dois tempos. O tempo passado de Luiz Vilela e o tempo presente desta publicação.

    A obra de Luiz Vilela, no que aqui se apresenta, edifica-se em um complexo sistema de redes que se comunicam tematicamente, orquestradas pela memória interna dos capítulos. Considero mesmo, depois de ler toda a análise feita, que o silêncio é preenchido por um narrador que lembra, e porque lembra se torna um contador de histórias, que literariamente transforma pessoas em personagens. Um memorialista no que de mais amplitude pode se dar ao termo.

    Como a memória se processa na literatura de Luiz Vilela? Parte-se do princípio que a capacidade humana tem de recuperar as coisas vividas e pela potencialidade do imaginário verbalizar cenas e fatos. Assim, as memórias literárias não passam só pela autoria, por aquele que lembra, mas pelo narrador que traz para o texto um somatório de experiências de linguagem; e essas experiências são sempre revigoradas por possibilidades líricas. A expressão da temporalidade em um texto de caráter, seja ele subjetivo, seja ele uma pretensa objetividade, comprometido com a história de quem conta, extrapola o real vivido. Aquilo que se convencionou chamar de realidade em relação ao passado dificilmente pode ser definido ou isolado com precisão. Não se pode confundir a realidade com aquilo que é contado, pois as memórias ficcionalizadas dão ao texto certa garantia de realidade, mas ao mesmo tempo elas se escrevem e se constroem muito mais pelas possibilidades da invenção. Se há uma permuta entre o real e o imaginário, há muito mais espaço para a fantasia.

    Eduardo Portella, professor e crítico literário, marco dos estudos literários, em um dos textos pioneiros sobre o assunto, Problemática do Memorialismo, define memórias como entidades literárias autônomas, que se situam no meio caminho entre a autobiografia e a história. Teoricamente o lugar parece evidenciar-se realmente como o não lugar. Não há mais como situar entre isto e aquilo. Há sim que se considerar a possibilidade de ser isto e aquilo. As memórias articulam duas práticas significantes na revitalização das histórias contadas: as referências concretas e o ato de lembrar, o que implica marcas autobiográficas, marcas autorais, marcas ficcionais. Esse é o narrador de Luiz Vilela que ocupa um lugar privilegiado para as fabulações da história de um Brasil profundo.

    Quem escreve ficção memorialística em tempos de crise? Quem se arrisca a criar as suas verdades? A resposta toma como base a reflexão de Machado de Assis: Um contador de histórias é justamente o contrário do historiador, não sendo um historiador, afinal de contas, mais do que um contador de histórias. A ficção memorialística arrisca-se mesmo assim à condição de documento. A elaboração textual, metafórica e alegórica de textos ficcionais pode subverter esse estatuto.

    Assim procurei ler nesses dois momentos, o da redação do que aqui se apresenta e agora no da sua publicação, como é mostrada a capacidade de Luiz Vilela preencher e interpretar silêncios. A leitura minuciosa mostrou no arranjo interpretativo dos enredos e personagens que toda palavra é memória e toda memória do outro detona no leitor ou na leitora a sua própria memória. Mesmo quando assumem o estatuto ficcional na voz do leitor. Mesmo quando buscam um objetivo na análise textual: ler as formas de silêncio, enquanto elementos esvaziados de significação, mas plenos de sentidos e reveladora de subjetividades de personagens bem construídos. A assertiva é correta: Luiz Vilela desenvolveu leituras do silêncio com base nas próprias histórias contadas, nos temas da solidão, dos excessos e negações que o mundo contemporâneo impõe aos indivíduos e dos fracassos amorosos. Ao relacionar o silêncio e o tempo histórico ele percorreu os caminhos da memória, destacando o silêncio político e as políticas de silenciamento até chegar às narrativas que problematizam a velhice e as mazelas que dela decorrem. Ambos, autor e leitor, reunidos em tempos distintos, escritura e leitura, conseguiram sim nos fazer entender nos silêncios e nos seus preenchimentos uma história do Brasil escrita muitas vezes pelo desencanto com a modernidade.

    Ao passar por Mikhail Bakhtin e procurar entender os percursos dialógicos da modernidade, a análise consegue encontrar várias formas de silêncio: o silêncio essencial, a solidão humana, o medo do silêncio como contraponto ao excesso da comunicação e o complexo empreendimento do escritor mineiro para fazer do tempo a sua matéria e traçar os seus principais percursos ficcionais: o silêncio religioso materializado em perdas, o silêncio amoroso refigurado em fracassos, o silêncio das memórias, um dos principais eixos da obra e da sua abordagem crítica, nas fabulações da infância, e o silêncio que se deseja definitivo: o da velhice o da morte. Em cada abordagem percebe-se que o ficcionista passa a contemplar o mistério fundamental da vida e os percalços da vida moderna. Exemplifico aqui com os mesmos recortes de leitura: ao procurar entender as personagens e os personagens verifica-se a aproximação entre narrativa e narrador e a linguagem literária deixa de ser um instrumento de comunicação para ser muito mais um elemento pleno de significação. Isso se pode ver principalmente nas narrativas com dramas familiares em pequenas cidades e suas tensões sociais. O que marca a diferença nessa leitura é a percepção estética da obra de Luiz Vilela e a capacidade novelesca de sua criação. A complexidade temática, estrutural, sintática e vocabular não impede a exteriorização dos sentimentos e potencializam a interioridade silenciosa de cada personagem nas tramas e nos dramas. As personagens e os personagens de Vilela, na leitura sensível que virá, conseguem, pela memória e por exercitar formas de silêncio, provocam um esbatimento da noção de espaço, de forma que os objetos se destacam em função de significados emocionais. Mulheres, homens, crianças padecem do drama da expressão, procuram dizer o que não conseguem e, apesar da profusão de diálogos – graficamente formas de silêncio representadas pelo intervalo entre uma fala e outra –, revelam estados de alma, inquietações existenciais, situações dramáticas seja pelas interdições religiosas e políticas, seja pelas relações afetivas.

    A abordagem da velhice é o ponto inquietante na leitura, especialmente, dos contos de Luiz Vilela. Os gestos e as imagens são representados como desencadeadores da memória, e os sentidos (tato, olfato, audição) são apresentados como recursos proustianos do contado e do contido, onde memória e silêncio interior e exterior se misturam ao vazio dos espaços. A morte, por exemplo, perpassa os caminhos do biológico, do cronológico, do existencial, do cultural, do social, do econômico. Em um dos contos analisados, a morte se faz presente nos comentários de uma senhora de 90 anos que só vai ter consciência de sua finitude com o desaparecimento dos amigos e com a irônica noção de que seu tempo também está acabando; em outro conto, a morte assume caráter social, cultural, existencial, por se tratar de um suicídio, tema tão interdito e silenciado, narrado em tom memorialístico e poético. Essas duas narrativas são as únicas que busquei para exemplificar os eixos de nossas leituras: minha, de Luiz Vilela e do autor deste livro: a memória e o silêncio são estruturadores da obra escolhida e da análise aqui representada pela conclusão que imbrica as palavras do autor e de seu leitor: [...] às vezes, as palavras servem apenas para realçar o silêncio, que não se constitui enquanto elemento esvaziado de significação, mas sim como algo incessante na obra de Luiz Vilela.

    Prof.ª Dr.ª Tânia Regina Oliveira Ramos

    Universidade Federal de Santa Catarina

    SUMÁRIO

    PERCURSOS DO SILÊNCIO

    1

    LUIZ VILELA: O AUTOR, A OBRA, DO DIÁLOGO AO SILÊNCIO

    1.1 O AUTOR

    1.2 A OBRA

    1.2.1 Os contos

    1.2.2 Os romances

    1.2.3 As novelas

    1.3 DO DIÁLOGO AO SILÊNCIO

    2

    DA MODERNIDADE E SEUS SILÊNCIOS: PERCURSOS DIALÓGICOS

    2.1 DOS EXCESSOS: NEGAÇÕES E SILÊNCIOS

    2.2 DO SILÊNCIO AMOROSO: OS FRACASSOS

    3

    DO TEMPO E SEUS SILÊNCIOS: PERCURSOS DA MEMÓRIA

    3.1 DO SILÊNCIO POLÍTICO ÀS POLÍTICAS DE SILENCIAMENTO

    3.2 DA VELHICE: MEMÓRIAS E SILÊNCIOS

    O SILÊNCIO INCESSANTE

    REFERÊNCIAS

    De Luiz Vilela:

    Geral:

    PERCURSOS DO SILÊNCIO

    Este livro é fruto de pesquisas e de percepções advindas desde os primeiros contatos com as narrativas de Luiz Vilela, possibilitando, pelo contexto ficcional e estético, adentrar narrativas de aparente simplicidade, permitindo-me entender sutilezas e fissuras de condutas humanas a partir das subjetividades construídas em situações comezinhas, de um cotidiano que, paulatinamente, mostrava-se torturante e não aprazível.

    Minhas primeiras leituras, anteriores às apresentadas nesta obra, basearam-se em alguns contos de Vilela com fundamento em teorias do existencialismo sartreano, com o objetivo de demonstrar o modo pelo qual as relações interpessoais se estabelecem, propiciando sentimentos de angústia e mal-estar nos personagens. Centrei minha perspectiva de análise na construção dos diálogos – elemento composicional considerado pela crítica literária como o mais forte de sua obra – a partir das relações entre os sujeitos narrativos.

    As abordagens utilizadas para compreender o funcionamento dos diálogos possibilitaram a percepção de outro elemento que perpassa a obra de Vilela, o silêncio. E, imbuído da possibilidade de continuar pesquisando as narrativas do referido autor, foram desenvolvidos estudos que hoje compõem o presente livro.

    Nesta obra, as leituras teóricas, entremeadas àquelas decorrentes da obra de Vilela, foram delineando o percurso a ser trilhado, e um caminho de leitura se configurou: uma leitura textual de variadas formas de silêncio nas narrativas de Luiz Vilela. No intuito de compreender o modo como os silêncios emanam e constituem sua ficção, percebi que discussões acerca das relações entre os personagens se fariam imprescindíveis. Para tanto, com o objetivo de compreender esses sujeitos narrativos e as relações que se estabelecem entre eles, busquei teorias acerca da modernidade e do dialogismo de Mikhail Bakhtin. Encontrei, também, em teorias tangíveis ao campo da memória, o silêncio coadunado à noção de temporalidade histórica e ao âmbito do plano individual e corporal dos personagens pela velhice.

    No primeiro capítulo – Luiz Vilela: o autor, a obra, do diálogo ao silêncio – desenvolvi um panorama da obra de Luiz Vilela entremeando características de seus textos, sua biografia e aspectos de sua fortuna crítica. Procurei especialmente índices de leituras que também centrassem seu olhar crítico em representações da condição humana e da vida social, local de onde Luiz Vilela retira sua matéria ficcional. Desse barro, emolduram-se sujeitos esfacelados e desajustados, que se guiam pelo medo, pela angústia, pelo tédio, pelo mal-estar, pela insatisfação, entre outros sentimentos, ao se depararem com a necessidade de enfrentamento do mundo e de suas mazelas.

    Em síntese, busquei mostrar que as narrativas de Vilela – alicerçadas em um cotidiano, por vezes, torturante e revelador da fragilidade humana – não mascaram, mas desnudam a realidade. É esse ambiente um dos fatores responsáveis por impelir a incompletude dos personagens em face das relações que se desconstroem ao mínimo sinal de desconforto, revelando desejos e comportamentos reprimidos, chegando ao leitor em pequenos flagrantes do dia a dia, destacando quão falha é a comunicação desses sujeitos, que passam a ser marcados, também, pelo silêncio.

    Para tanto, esse foi o caminho que busquei percorrer, no propósito de evidenciar que as narrativas de Luiz Vilela são perpassadas por diferentes formas de silêncio. Intitulei o primeiro percurso transitado de Da modernidade e seus silêncios: percursos dialógicos, no qual me propus a salientar aspectos que caracterizam os sujeitos na modernidade. O objetivo desses apontamentos foi o de embasar e alicerçar as leituras que seriam feitas dos personagens de Vilela, seres que, como já destaquei, sentem-se perdidos em meio ao caos diário, à deriva, sem ter onde ancorar, imersos em introspecções difusas, ante a instabilidade do mundo.

    A obra Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade¹, de Marshall Berman, foi importante para a minha pesquisa ao destacar que o sujeito moderno vive uma vida de paradoxo e contradição, apresentando ilusória fixidez do real, aparentemente estável, mas que se esfacela em consequência dos anseios do dia a dia. Assim é o ambiente das narrativas de Vilela, uma representação do real particularizado pela instabilidade das relações interpessoais, quase sempre incompletas, pois a comunicação se mostra falha, e dessas lacunas formadas pela palavra, que não se sustenta, emanam silêncios que passam a significar os estados de espírito e a guiar o comportamento dos personagens.

    Ressalto, assim, que o contato entre os sujeitos vai se liquefazendo e, além de criar silêncios, ocasiona, também, os sentimentos já apontados. Ditos e não ditos coadunam-se nos discursos que pouco a pouco se (des)constroem na inseparável similitude entre palavra e silêncio. O mal-estar causado por esse ambiente acaba por avultar o fato de o silêncio ser uma possibilidade de o indivíduo resgatar o valor da palavra, perdido em meio ao caos cotidiano.

    A partir das teorias de Berman, fiz uma leitura da formação da modernidade e dos sujeitos que nela coabitam. De acordo com o filósofo estadunidense, na primeira fase – fim do século XVI ao fim do século XVIII – os sujeitos, apesar de estarem iniciando suas experiências na vida moderna, não conseguem identificar o que os atingiu; na segunda fase, decorrente da Revolução Francesa e suas repercussões, os indivíduos partilham o que é viver em uma era de revoluções; a terceira fase, século XX, corresponde à expansão do processo de modernização que passa a abarcar virtualmente todo o mundo. Cabe salientar que os séculos XVIII e XIX foram responsáveis pelo descentramento do sujeito, em virtude das mudanças ocorridas no campo social, econômico e político, com o advento da Revolução Industrial e das correntes cientificistas. Nesse ínterim, Charles Baudelaire foi de suma importância ao apresentar, por meio de seu ensaio O pintor da vida moderna², as bases para a compreensão do sujeito contemporâneo, uma vez que suas considerações coadunam com as características desse indivíduo despersonalizado, fragmentado e caótico.

    Após abordar as visões de Baudelaire, discuti sobre o início do século XX, principiando com as características das Vanguardas Europeias e do Modernismo, passando pelas Primeira e Segunda Guerras Mundiais, até chegar à década de 1960. As indicações de um sujeito fragmentado, múltiplo e esfacelado se evidenciam, estabelecendo uma crise de identidade nos sujeitos, como aponta David Harvey³, outro teórico utilizado para abarcar essas descrições acerca do homem contemporâneo.

    Além de Harvey, escolhi algumas ideias desenvolvidas por Stuart Hall⁴ – sobre a mudança nas identidades – e por Zygmunt Bauman⁵ – também sobre identidade, mas principalmente acerca da modernidade, do sujeito e suas relações – como subsídios para as leituras a que me propus, haja vista terem guiado a visada a respeito dos silêncios que se instauram nos personagens de Vilela enquanto representações dos sujeitos contemporâneos e suas relações.

    Para que eu pudesse observar essas correlações entre os sujeitos narrativos e compreender seus silêncios, busquei na teoria de Mikhail Bakhtin, mais precisamente no dialogismo, subsídios que me possibilitassem entender como se estruturam as relações às quais me referi. Logo, foi imprescindível ponderar sobre a correspondência estabelecida entre linguagem e sociedade, sobre a ideologia que nela encontra-se presente e sobre o fato de a palavra – consequentemente o silêncio também – ganhar sentido nos espaços socialmente organizados pelos sujeitos.

    Fundamentado em textos como Marxismo e filosofia da linguagem⁶ e Problemas da poética de Dostoiévski⁷, de Mikhail Bakhtin, e em

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