A motivação para os nomes dos lugares da Floresta Nacional de Humaitá, no sul do Amazonas: a partir das narrativas de seus moradores
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A motivação para os nomes dos lugares da Floresta Nacional de Humaitá, no sul do Amazonas - Ana Paula Teixeira Gouveia
incentivo.
APRESENTAÇÃO
Este trabalho é o produto de minha pesquisa de mestrado no Programa de Pós Graduação em Letras Linguagem e Identidade, da Universidade Federal do Acre, onde fui aluna entre os anos de 2014 e 2016 e, atualmente, sou professora. A pesquisa foi orientada pelo Professor Doutor Alexandre Melo de Sousa, e contou com suporte financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas-FAPEAM e suporte logístico de campo do Núcleo de Pesquisa e Extensão em Ambiente, Socioeconomia e Agroecologia-NUPEAS, então coordenado pela Professora Doutora Ana Cláudia Fernandes Nogueira. O NUPEAS é da Universidade Federal do Amazonas, instituição na qual fiz minha graduação em Letras Português em Inglês, no Campus do município de Humaitá-AM.
No NUPEAS, ainda enquanto bolsista de pesquisa de iniciação científica – PIBIC, tive a oportunidade de trabalhar com algumas das populações tradicionais localizadas em áreas não urbanas, do sul do Amazonas, coletando narrativas dos seus moradores que desempenham trabalhos ligados à pesca, agricultura e extrativismo vegetal. Na época, os objetos de pesquisa estavam arraigados às questões de conflito agrário, e na política de reforma agrária do país, de modo geral. Nas narrativas orais dos moradores das comunidades, chamou-me a atenção a riqueza de fatos, ideias e experiências dos trabalhadores e das trabalhadoras daqueles lugares; e, quando conheci os estudos sobre o significado e a motivação dos nomes de espaços geográficos durante o mestrado, veio a intenção de estudar a motivação dos nomes de um espaço não urbano, uma comunidade tradicional, dando centralidade às narrativas das pessoas que lá residem.
O locus da pesquisa é a Floresta Nacional (FLONA) de Humaitá é uma unidade de conservação de uso sustentável, cujo órgão responsável é o Instituto Chico Mendes da Conservação da Biodiversidade – ICMBIO, com sede em Humaitá. A FLONA, em sua chamada área interna, é composta por sete localidades: Maicy, Barreira do Tambaqui, Salomão, Barro Vermelho, Boa Esperança, Buiuçu e Palha Preta.
Este trabalho, então, procurou reunir a perspectiva teórico-metodológica dos estudo linguísticos, concentrados nesta subárea que se interessa pelos significados e motivações para os nomes dos espaços geográficos, que é a Toponímia, com uma perspectiva metodológica que envolve a pesquisa de campo e o uso de narrativas orais das pessoas que moram na FLONA.
RESUMO
A nomeação dos lugares é uma das mais antigas atividades humanas, parte das relações desenvolvidas nos diversos espaços geográficos. Inerente a esses fatores há uma motivação que impulsiona a escolha dos designativos, e isso aponta para as diversas relações desenvolvidas pelos grupos humanos em lugares diversificados. A Toponímia é um campo de estudo da Linguística que tem os topônimos (nomes de lugares) como objeto de pesquisa, que são, geralmente, coletados em mapas. No entanto, neste trabalho, objetivou-se analisar a motivação para os topônimos da Floresta Nacional (FLONA) de Humaitá, uma comunidade tradicional do sul do estado do Amazonas, a partir da memória oral dos moradores dessa localidade. Essa Floresta Nacional é constituída por sete comunidades: Maicy, Barro Vermelho, Barreira do Tambaqui, Salomão, Boa Esperança, Buiuçú e Palha Preta. Os objetivos específicos foram coletar os topônimos da FLONA de Humaitá, identificar a motivação para a nomeação dos lugares na perspectiva dos moradores da reserva e classificar os topônimos a partir dessa motivação. Essas classificações toponímicas foram elaboradas, no Brasil, por Dick (1986 e 1990). Dick (1986, 1990 e 1996) foi, ainda, a base teórica para a definição e discussão da Toponímia. Já, no que toca à memória, foram usados autores como Bosi (1994), Portelli (2010), Rossi (2010), Alberti (2005), Passerini (2011) e Meihy (2000). A metodologia utilizada foi a de cunho qualitativo. Nesse recorte, partiu-se da pesquisa campo e os instrumentos de coleta de dados foram a pesquisa documental, a observação participante e o uso de narrativas. Contou-se com doze narrativas de sessenta topônimos. A comunidade na qual se identificou o maior número de topônimos foi a Comunidade Maicy, com 55% e, as Comunidade Palha Preta e Boa Esperança, foram as que menos se destacaram nesse aspecto. Dos sessenta topônimos, há em maior quantidade aqueles classificados como zootopônimos, 23,34%, ao passo que temos, em quantidade reduzida, os hagiotopônimos aparentes e os litotopônimos, com 3,33% cada. Pensar, portanto, nos recortes teórico e metodológico para contemplar a motivação toponímica, por meio da memória oral de comunidades tradicionais, foi também pensar na trajetória dos estudos toponímicos quanto ao tratamento do seu objeto de estudo, o topônimo. Nesta dissertação, a análise da motivação toponímia centrou-se na memória, que traz, dentre outros aspectos, a relação entre o homem e os nomes dos lugares.
Palavras-chave: Toponímia. Memória. Motivação toponímica. FLONA de Humaitá.
ABSTRACT
The nomination of places is one of the most well-known human activities that implies signification of places to the mankind, the importance and the relations developed in many different geographic places. There is a motivation for the names of the places, and this point to several factors linked to politics, economy and culture. Toponymy is a field of the Linguistics studies that has the toponymy as object of study. The maps, as the official documents, are the main recourse to collect and catalogue names in a Toponymy study. However, this research aimed to analyze the toponyms of the National Forest (FLONA) of Humaitá by the oral narratives of the residents of this place. The FLONA has seven communities: Maicy, Barro Vermelho, Barreira do Tambaqui, Salomão, Boa Esperança, Buiuçú e Palha Preta. The specific objectives were collect the toponyms, identify the motivation for them, analyze and classified theses names by the oral memory of the FLONA residents. Those classifications, in Brazil, belong to Dick (1986 e 1990). This author was the base of the theory for this dissertation. For the part of memory it has Bosi (1994), Portelli (2010), Rossi (2010), Alberti (2005), Passerini (2011) and Meihy (2000). The methodology is qualitative which implied field research. In this method we used documental research, participant approach and the oral narratives. This research counted on twelve oral narratives and sixty toponyms. The collection was made by the FLONA residents’ contribution. Then, 55% of these toponyms belongs to Community Maicy and the minor quantity belongs to Boa Esperança and Palha Preta, with 3,33%. The main toponymy classification in this research was zootoponym, with 23, 34%, and with 3, 33%, there are apparent hagiotoponym and litotoponym. This way, thinking about the theory and methodology of the Toponymy and contemplate the oral memory to analyze the motivation of place names was a perspective to the research in Toponymy and in the treatment of its object. When the Toponymy adds contributions from other fields, like memory, makes possible the intention to put the people in the center of the discussion about the motivation of place names in Toponymy.
Key-words: Toponymy. Memory. Motivation of place names. FLONA of Humaitá.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
A.F Acidente Geográfico Físico
A.H. Acidente geográfico Humano
ICMBIO Instituto Chico Mendes da Conservação da Biodiversidade
FLONA Floresta Nacional
NUPEAS Núcleo de Pesquisa e Extensão em Ambiente, Socioeconomia e Agroecologia
S. C. Sem Classificação
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
1 TOPONÍMIA E MEMÓRIA: CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS
1.1 TOPONÍMIA: O ESTUDO DOS NOMES DE LUGARES
1.2 A PESQUISA TOPONÍMICA DENTRO DO UNIVERSO DOS ESTUDOS LEXICOLÓGICOS
1.3 CONSIDERAÇÕES SOBRE O SIGNO TOPONÍMICO
1.4 A MEMÓRIA E A TOPONÍMIA
2 TOPONÍMIA E MEMÓRIA: PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
2.1 ÁREA DA PESQUISA: A FLORESTA NACIONAL DE HUMAITÁ
2.2 AS COMUNIDADES E OS MORADORES ENTREVISTADOS
2.3 CRITÉRIOS PARA A ESCOLHA DOS INFORMANTES
2.4 CORPUS DA PESQUISA
2.5 VIAGENS A CAMPO: PROCEDIMENTOS
2.6 ROTEIRO PARA AS ENTREVISTAS
2.7 PROCEDIMENTOS PARA A ANÁLISE DO CORPUS
3 TOPONÍMIA E MEMÓRIA: A MOTIVAÇÃO NA PERSPECTIVA DOS MORADORES DA FLONA
3.1 COMUNIDADE MAICY
3.2 COMUNIDADE BARREIRA DO TAMBAQUI
3.3 COMUNIDADE BARRO VERMELHO
3.4 COMUNIDADE SALOMÃO
3.5 BOA ESPERANÇA
3.6 COMUNIDADE BUIUÇÚ
3.7 COMUNIDADE PALHA PRETA
3.8 TOPONÍMIA E MEMÓRIA: OS TERMOS GENÉRICOS E ESPECÍFICOS NA ANÁLISE DOS DESIGNATIVOS DE LUGAR
3.9 SÍNTESE QUANTITATIVA DOS TOPÔNIMOS DA FLONA DE HUMAITÁ
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ANEXOS
INTRODUÇÃO
A nomeação dos lugares é uma das mais antigas atividades humanas, que se encerra na significação dos lugares para o homem, na sua importância e nas relações desenvolvidas nos diversos espaços geográficos. Inerente a esses fatores há uma motivação que impulsiona a escolha dos designativos, e isso aponta para diversos outros fatores ligados à política, à economia, à cultura de um modo geral, e às diversas relações desenvolvidas pelos grupos humanos em lugares diversificados. A Toponímia é um campo de estudo que tem o topônimo (o nome de um lugar) como objeto de pesquisa, sendo que há o interesse pelos aspectos da motivação e o significado desses topônimos (DICK, 1990).
A proposta desta dissertação está inserida na Toponímia e, nesse campo de estudo, objetivamos analisar a motivação dos topônimos da Floresta Nacional (FLONA) de Humaitá a