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Memória, Identidade e Mídia em Processos Comunicacionais Kaingang: Estudo de Recepção em Perspectiva Histórica no Sul do Brasil
Memória, Identidade e Mídia em Processos Comunicacionais Kaingang: Estudo de Recepção em Perspectiva Histórica no Sul do Brasil
Memória, Identidade e Mídia em Processos Comunicacionais Kaingang: Estudo de Recepção em Perspectiva Histórica no Sul do Brasil
E-book317 páginas4 horas

Memória, Identidade e Mídia em Processos Comunicacionais Kaingang: Estudo de Recepção em Perspectiva Histórica no Sul do Brasil

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Sobre este e-book

Memória, identidade e mídia em processos comunicacionais Kaingang trata dos sentidos produzidos pela recepção no contexto de indígenas situados nos cenários de Santa Maria e região metropolitana de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Fruto de uma pesquisa inspirada pelo pensamento intercultural, o livro focaliza as configurações da memória e identidade étnica a partir das suas vivências com os meios de comunicação e suas relações de existência material e simbólica nas cidades. Essas relações são refletidas nas demandas pelos seus territórios, na sua percepção como índios de tradição e na sua construção como públicos, por onde se evidenciam as mediações/matrizes comunicacionais que estruturam os modos de ver e se ver e os embates para demarcar um lugar no campo comunicativo.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento7 de mai. de 2021
ISBN9786558207214
Memória, Identidade e Mídia em Processos Comunicacionais Kaingang: Estudo de Recepção em Perspectiva Histórica no Sul do Brasil

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    Pré-visualização do livro

    Memória, Identidade e Mídia em Processos Comunicacionais Kaingang - Carmem Rejane Antunes Pereira

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    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO

    À memória de meus pais, Américo e Libânia.

    AGRADECIMENTOS

    Muitas pessoas contribuíram com este trabalho, e, embora sem nomear a todas aqui, agradeço-as imensamente.

    Agradeço aos interlocutores e interlocutoras, cujas vozes simbolizam o viço dos povos profundos para continuar existindo. Em nome de todos, registro com gratidão, a amizade e o diálogo com Augusto Ópe Kaingang, ex-cacique da Terra Indígena de Iraí, falecido em maio de 2014. Uma das maiores lideranças Kaingang da Região Sul do Brasil, reconhecido pelas lutas em defesa dos direitos originários no campo e na cidade, nas ruas e na universidade e pela grande capacidade de interlocução com mundo branco e com a juventude. Um sábio com grande senso político; um tronco velho na linguagem nativa.

    Um agradecimento especial ao meu orientador Prof. Alberto Efendy Maldonado, mestre na minha formação como pesquisadora, a quem admiro como cientista e pensador de elevado compromisso intelectual com a ciência e com a vida. Também aos Profs. que integraram a banca de avaliação da tese, Jiani Adriana Bonin e Ronaldo Henn, (Unisinos), Veneza Mayora Ronsini (UFSM) e José Eugênio de Oliveira Menezes (Faculdade Cásper Líbero/SP); à Capes, pelo reconhecimento que me possibilitou prosseguir novas etapas de pesquisa.

    Agradeço muitíssimo aos colegas do grupo de pesquisa Processocom Unisinos/CNPq, pelos inúmeros aprendizados, pela troca de conhecimentos, pelas aventuras científicas e pela alegria. Mil gracias.

    Também agradeço as pessoas que encontrei na caminhada através do seu relevante trabalho com os povos originários. Em nome de todos, agradeço a Roberto Liebgott, coordenador do Conselho Indigenista Missionário – CIMI Sul.

    Sou grata ainda a Ana Lucia Enne, Gládis Linhares, Ana Elisa de Castro Freitas e a Dulci Matte, que gentilmente enviaram suas pesquisas. Ao professor Rogério Reus Gonçalves da Rosa, ao professor Dorvalino Cardoso da Aldeia Por Fi e ao antropólogo e pesquisador Luiz Fernando Caldas Fagundes pela atenção e disponibilidade.

    Por fim, agradeço com carinho as minhas filhas Laura e Luíza, ao Fernando e aos meus irmãos e irmã pelo afeto, em especial aqui ao Marco Antônio, pelo apoio nessa jornada.

    Eu acho que aí os índio tavam descobrindo as história né?

    (Maria Ka Gru Carvalho)

    O real não está na saída nem na chegada:

    ele se dispõe para a gente é no meio da travessia.

    (Guimarães Rosa)

    A memória na qual cresce a história, que por sua vez a alimenta,

    procura salvar o passado para servir ao presente e ao futuro.

    (Jacques Le Goff)

    PREFÁCIO

    O livro de Carmem Pereira, Memória, identidade e mídia em processos comunicacionais Kaingang, é o resultado de uma trajetória fecunda dessa pensadora e investigadora brasileira. Cabe salientar sua destacada história acadêmica no campo da Ciências da Comunicação, e no da Antropologia, plena de compromisso, estudo crítico, profundo e sistemático dos modos de vida, das culturas, dos processos de produção de sentido, dos usos e das apropriações de indígenas, de trabalhadoras, de camponeses, de comunidades e de movimentos sociais. De maneira responsável e comprometida, seu trabalho de pesquisa tem-se concentrado nos seres humanos situados no mundo dos explorados, excluídos, marginalizados e subvalorizados pelas estruturas sistêmicas do capitalismo rentista selvagem do Brasil.

    A obra, em sentido emancipador, é respeitosa e propositiva: aprende, escuta, colabora, observa, aconselha, registra e constitui parcerias cruciais para gerar pesquisa e pensamento em processos de coprodução profundos Kaingang-Carmem-Kaingang. Desse modo, socializa com os Kaigang cosmovisões, valores, sensibilidades, comportamentos, vida política, contradições, sabedorias, conflitos, usos midiáticos e tecnológicos; como também, limitações, adversidades, problemas, desvios, mudanças, incompreensões proprias da existência humana na sua complexidade histórica.

    O livro é uma atualização da tese de doutorado de Carmem Pereira (2006-2010); processo no qual tive o privilégio de ser parceiro de sua bela caminhada pela pesquisa, tendo a satisfação de encontrá-la como uma pensadora/pesquisadora/militante insumisa, que problematizou nossos papéis acadêmicos de maneira profunda; e fez possível o diálogo inventivo em perspectiva transmetodológica, como alternativa aos comportamentos e ideias elitistas, formais, neocoloniais e conservadores; preponderantes nas estruturas acadêmicas contemporâneas. É importante lembrar que tive a oportunidade de acompanhar, ainda, como orientador/aprendedor/parceiro, a trilha de construção da sua dissertação de mestrado Recepção televisiva no contexto dos movimentos de mulheres camponesas do Rio Grande do Sul (2002-2004), fase na qual estabelecemos nosso ethos comunicacional de encontro, como interlocutores/pesquisadores, numa perspectiva crítica de transformação transmetodológica.

    Assim, o livro é uma superação e continuidade dessa história. O capítulo primeiro apresenta uma linha de trabalho orientada por uma epistemologia histórica, própria do Sul, dos lugares de pensamento alternativos/críticos que valorizam os saberes ancestrais, que os reconhecem como fonte valiosa de conhecimento. A autora desenvolve uma metodologia comunicacional que se aproxima com respeito, meditação, reflexão e rigor investigativo as memórias, resistências, territórios, combates, exproriações e dinâmicas culturais dos Kaingang. Indaga mediante uma práxis teórica que valoriza de igual modo, os depoimentos, a história oral, as configurações de vida indígenas; e, simultaneamente, a pesquisa-da-pesquisa, o estudo dos teóricos de referência; assim como exercita uma crítica sistemática das metodologias e das teorias dos vencedores, consagrados pela história oficial. Esses componentes transmetodológicos fazem possível que esse primeiro capítulo inagure um processo de leitura/aprendizagem heurístico, renovador para a problemática investigada.

    No segundo capítulo, a perspectiva histórica da autora avança, ao abordar a problemática das identidades culturais, em termos da defesa de uma interculturalidade multiversal, reconhece, valoriza e promove as cuturas étnicas, as culturas diversas, como uma alternativa ao hegemonismo imperial imposto, primeiro pelo colonialismo eurocêntrico, e atualmente pelo neocolonialismo estadunidense. Nessa parte do livro, analisa também a multidimensionalidade da comunicação, como um componente transmetodológica que questiona os saberes totalitários nas ciências formais; e pensa/pesquisa a comunicação como configurações/ambientes/contextos/dimensões socioculturais e técnicas, de relevância na estruturação das formações sociais contemporâneas. Assim, no livro, a complexidade cultural multidimensional Kaingang interpenetra-se com uma complexidade comunicacional (digital e eletrônica), para produzir conhecimento sobre as inter-relações mídias/Kaingang, que define como processos comunicacionais de confrontação, resistência, reformulação, apropriação e reconstrução necessários. As matrizes comunicacionais da cultura, os ethos constituidos, as identidades construídas, a multiplicidade de tempos e de processos de produção de sentido confluem num arranjo transmetodológico bem arquitetado, que oferece para as leitoras e leitores um texto esclarecedor e desestabilizador sobre comunicação intercultural.

    No terceiro capítulo, Carmem Pereira mostra seu talento metodológico, multilético, ao aceitar o desafio de observações em movimento, como próprias da cultura de fluxo Kaingang, do seu caráter dinâmico de caminhantes exímios, da sua configuração sociopolítica instável e seu amor pela natureza em movimento. Os processo midiáticos são investigados e reconhecidos nessas dinâmicas próprias, nessas reconstituições diversas, nessas existências de sobreviência/luta/sabedorias/afetos. Pereira consegue expressar essa riqueza intercultural midiática com singular força e qualidade expressiva. Os seus movimentos de pesquisa e de narração trabalham essas existências, tanto no plano social coletivo (aldeias) quanto no plano intersubjetivo (sujeitas(os) histórico/culturais comunicacionais), e produzem um conjunto de conhecimentos valiosos para a sociedade e o campo científico.

    No quarto capítulo do livro, a autora articula aspectos tratados em capítulos anteriores, e os concretiza no espaço da cidade, concebido como território praticado. Na urbe mostra aos Kaingang por eles mesmos, nas suas reflexões, pensamentos, diálogos, depoimentos; nesse complexo narrativo/argumentativo, os Kaigang estão no texto em nível de importância e centralidade equivalente a dos pensadores mais conceituados da área de Ciências da Comunicação e das Ciências Sociais. Desse modo, Pereira quebra a lógica hierárquica neocolonial, etnocêntrica, e tece um texto fluído, profundo, comprometido, ético, crítico e expressivo. Este livro não é uma representação dos Kaingang, o que a autora apresenta são os Kaigang falando, pensando, analisando, avaliando, refletindo, propondo. As inter-relações com as mídias, os desafios pelo reconhecimento das aldeias urbanas, a valorização dos seus modos de vida, as propostas éticas de existência dialógica com a natureza, são muito bem narradas e articuladas na sua argumentação. São os Kaigang concretos lutando por uma vida melhor; nessa visão, procuram projetos que deem continuidade aos seus modos de vida históricos de saúde psicológica, ecológica, sociológica e cultural; e, ao mesmo tempo, saibam dialogar com os modos midiatizados, urbanos, modernos de existência. Procuram estabelecer pontes, e, simultaneamente, defendem tempos/espaços de liberdade étnica irrenunciávies.

    Finalmente, no quinto capítulo, Carmem Pereira explicita um conjunto importante de argumentos sintéticos, de reflexões e de sistematizações que sustentam seu pensamento crítico multidimensional, transmetodológico, transdisciplinar. Nesse construto intelectual, a existência Kaingang é expressada na sua condição de povo digno, soberano, intercultural; que precisa ser reconhecido e valorizado pelo Estado brasileiro, pela conjunto dos setores sociais que conformam o país, pelas instituições de ensino e de pesquisa, pelos governos locais e estaduais, e pelos cidadãos comuns (condicionados pelos bloqueios estruturais a pelas posturas negativas em relação aos indígenas). Os guardiões da floresta, da natureza, da vida, de uma cosmovisão holística que combina a valorização da vida, precisam ser respeitados, atendidos e valorizados pelos sistemas midiáticos industriais, e pelos novos meios de comunicação digital. A comunicação, em sintonia com o livro de Carmem Pereira, deve dar a conhecer o povo Kaingang por ele mesmo, na sua grandeza e nos seus limites, na sua história e na sua corajosa existência de resistência e renovação.

    Alberto Efendy Maldonado

    Professor titular e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação – Unisinos

    Catedrático titular – Cátedra Armand Mattelart do Centro Internacional de Estudos Superiores em Comunicação – Ciespal

    Coordenador geral para América Latina da Rede Amlat

    APRESENTAÇÃO

    Este livro trata das relações entre memória, identidade e mídias, registrando uma travessia de pesquisa feita de diálogos com indígenas Kaingang, nas cidades rio-grandenses de Santa Maria e Porto Alegre. É resultado da minha tese de doutoramento defendida no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Unisinos em agosto de 2010. O texto original passou por algumas alterações com o desejo de ampliar a leitura para um público interessado pelas dinâmicas culturais, históricas e comunicacionais e pelos direitos dos povos indígenas, tema tão necessário à sociedade brasileira.

    Importante apontar que, no âmbito das comunidades indígenas sulistas, investigações sobre realidades comunicacionais, especialmente na perspectiva de recepção, eram e ainda são ainda incipientes, embora tratadas por outros campos disciplinares em seus aspectos etnológicos, arqueológicos e históricos. Entre as etnias mais trabalhadas, encontram-se a Guarani Mbyá e a Kaingang, ainda que nossos conterrâneos sejam formadores de comunidades Guarani Ñadeva, Laklãnõ/Xokleng, Xetá e Charrua, também situadas no Sul do Brasil.

    Assim, o livro procura contribuir para a visibilidade indígena, a partir da pesquisa em comunicação pela abordagem da recepção em perspectiva histórica. Essa perspectiva destaca as matrizes culturais e a memória étnica como mediações fundamentais da identidade; pensada aqui como narrativa em processo, oriunda da ação dialética de tempos largos e curtos, lentos e velozes, em que as mídias aparecem estruturando o campo comunicativo e mediando as agências do sujeito comunicacional.

    A abordagem da recepção e, por conseguinte, as múltiplas dimensões do contexto que dessa trilha emergem levam a muitas reflexões sobre o que se tem chamado de presença indígena nas cidades.¹ O fenômeno não é considerado novo, e esta obra o registra, entre diferentes configurações, como memórias dos interlocutores e interlocutoras, assim como outras obras remetem a questão aos primórdios de formação das cidades² e outras ao momento em que conformam o espaço urbano globalizado.³

    Essa presença torna ainda mais complexo o recenseamento indígena, ⁴ considerando contextos e cenários muito diversos: terras indígenas distantes das cidades ou não, comunidades indígenas vivendo em capitais ou cidades de porte médio, aldeias próximas a elas, pessoas de uma única ou de várias etnias em núcleos domésticos, cidades indígenas e várias outras circunstâncias. Ainda – e crucial – envolve aspectos econômicos, demandas por direitos e relações assimétricas de poder com o Estado, as mídias hegemônicas e a população regional.

    Nesta obra, essa presença levou a pensar o ir e vir Kaingang como buscas e intercâmbios peculiares, pelos quais a circulação demonstra nuances de uma realidade marcada por migrações, trânsitos e deslocamentos múltiplos. Todas elas fomentaram o olhar metodológico para as redes étnicas que se organizam em relações primordiais, de afetos, territoriais, educacionais e comunicacionais, entre outras.

    Nesses processos, muitas vezes, os deslocamentos e os intercâmbios são importantes para compreender memórias e expressões de um sujeito, cujo contexto fala de problemas comuns às maiorias pobres no que se refere a habitação, saneamento básico e saúde, por exemplo, somente para citar fatores crônicos da vulnerabilidade social. Mas que fala, ao mesmo tempo, de um grupo e de uma população autodeclarada que se empenha para retomar e ocupar territórios, manter suas tradições e, ao seu modo, divulgar sua cultura. Nesses processos, muitas vezes, experimentando discriminações estimuladas pelo racismo que permeia a sociedade nacional.

    Ainda, gostaria de lembrar que a finalização do livro se deu em meio à crise sanitária da Covid-19. Nesse cenário, mulheres e homens Kaingang constroem ações de resistência em saúde e participam do Comitê pela Vida e Memória Indígena, procurando repercutir as consequências da pandemia, enfrentar a desinformação e melhor informar os parentes, e a sociedade, pelas suas redes sociais.

    Espero que a leitura do livro contribua para pensar a pesquisa em comunicação, a cidade e sua expansão, suas metáforas; e para fortalecer a pulsão pela vida e a valorização da ciência.

    Carmem, Santa Maria, inverno de 2020.

    LISTA DE SIGLAS

    Sumário

    INTRODUÇÃO 21

    1

    APROXIMAÇÕES COM A HISTÓRIA KAINGANG 29

    1.1 Das frentes de expansão aos aldeamentos impostos: aliciamentos e resistências 31

    1.2 A espoliação dos territórios 35

    1.3 Os mitos do povo do mato 42

    1.4 Representações visuais e dinâmica cultural 44

    2

    HORIZONTES DA RECEPÇÃO EM PERSPECTIVA HISTÓRICA 47

    2.1 Comunicação e as múltiplas dimensões da globalização 47

    2.2 Cultura como dinâmica histórica 50

    2.2.1 Identidade cultural e etnicidade 62

    2.2.2 Identidade cultural e território 66

    2.2.3 Identidade cultural e memória étnica 68

    2.3 Trilhas de compreensão da interculturalidade 72

    2.3.1 Comunicação, matrizes e reconhecimento 83

    2.3.2 Recepção e a multiplicidade temporal 89

    2.3.3 A produção de sentido desde as mediações 94

    2.3.4 O ethos midiatizado e as mediações históricas 98

    3

    MOVIMENTOS DO OLHAR EM DISTINTOS CENÁRIOS 103

    3.1 Mapeando relações entre mídias e comunidades indígenas 112

    3.2 Cartografando as falas do lugar indígena 114

    3.3 Demarcando a aldeia como lugar de memória 117

    3.4 Lugares kaingang na instância das mídias 122

    3.5 As mídias nas relações de significações do sujeito 124

    4

    NARRATIVAS COMUNICACIONAIS DO SUJEITO INTERCULTURAL 127

    4.1 Buscando uma vida melhor 131

    4.2 A cidade como território praticado 134

    4.3 A revitalização das tradições 136

    4.4 Tessituras da alteridade no entorno regional 141

    4.5 Marcas da vida comunicacional 147

    4.5.1 As mediações/matrizes na temporalidade do sujeito 148

    4.5.2 Os gêneros televisivos como mediação cultural 157

    4.5.2.1 Identidade cultural nas apropriações sobre o índio noticiado 164

    4.5.2.2 Identidade cultural nas interações e percepções do espaço comunicativo 168

    5

    A TRAVESSIA E SUAS SENDAS DE TRADUÇÃO 175

    REFERÊNCIAS 181

    INTRODUÇÃO

    Este livro é fruto de uma viagem realizada para construir um mapa cujos contornos configuram, dialeticamente, a identidade cultural indígena, nos processos comunicacionais Kaingang.

    Sua tessitura é vislumbrada a partir dos universos socioculturais indígenas, nas suas relações com instâncias midiáticas, procurando identificar interações que dão conta dos modos de ver e se ver dos públicos, considerando as mediações históricas e matrizes culturais que constituem o sujeito intercultural.

    A metáfora do mapa procura aí o seu sentido; pois, ao discutir identidade, mídias, memória e etnia, é preciso abarcar os entrelaçamentos da comunicação no contexto da cultura em sua dinâmica histórica. O que significa pensar a cultura em transformações e permanências no âmbito de processos de exclusão e desigualdade, pelos quais o sujeito, nas suas agências sobre o mundo, estabelece múltiplas relações para dar sentido à sua existência.

    Nessa perspectiva, os grupos indígenas não são vistos como um mundo à parte das problemáticas contemporâneas que indagam sobre a dimensão relevante das mídias como fabricantes de memórias e como fonte de informação e de entretenimento para a maioria da população brasileira⁶.

    Essa dimensão, que compõe os enigmas da modernidade⁷, permite pensar a comunicação como processos tecnológicos, culturais, políticos e históricos e considerar os ordenamentos midiáticos que perpassam diferentes contextos socioculturais, nutrindo uma espécie de cultura midiática, entendida como uma racionalidade que impregna as práticas sociais e intervém na modelação social⁸. Entretanto, e como discute esta obra, por ser o mundo social em grande parte diversificado, nem todas as práticas sociais se midiatizam de forma homogênea, pois os processos de transformações e/ou hibridação são operados mediante particulares atores, desiguais universos materiais e distintos universos culturais e políticos.

    Dessa forma, a especificidade das práticas possibilita investigar as configurações da identidade cultural nos processos comunicacionais Kaingang, focalizando tais configurações na dimensão histórica da recepção, abordando os usos dos meios, sem reduzir sua existência ao confinamento do real. Os meios, em especial a televisão, são vistos como parte de sistemas midiáticos produtores de bens simbólicos, cuja espessura se revela nas práticas cotidianas e nas demandas oriundas de contextos locais. Por isso, a relevância de investigar os entrecruzamentos de culturas globais e locais, os distintos cenários de visibilização dos lugares indígenas kaingang, bem como as apropriações peculiares com a instância midiática, para compreender relações identitárias na vastidão do campo comunicativo.

    Nesse horizonte, a recepção é uma dimensão crucial para pensar o Kaingang como consumidor e ator, situado e posicionado; como sujeito da comunicação mediado por condições e matrizes culturais indígenas; como grupo étnico, pelas suas pertenças e suas demandas de visibilidade social. Portanto, como alteridade histórica sulista formadora de uma memória social, para a qual a mídia se faz relevante ao construir efeitos de sentido sobre a realidade multicultural de que todos somos feitos.

    Daí porque a etnicidade, como chave conceitual sociológica e antropológica, comparece para indagar as dinâmicas identitárias, considerando a formação do Rio Grande do Sul, os danos produzidos aos territórios ameríndios provocados pela expansão das fronteiras agrícolas, bem como as políticas de proteção ao índio, desenvolvidas pelo Estado brasileiro ou por entidades missionárias.

    Nos marcos da etnicidade, os lugares de memória surgem como noção heurística para

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