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Inferno: Trilogia Arcanjo, #3
Inferno: Trilogia Arcanjo, #3
Inferno: Trilogia Arcanjo, #3
E-book175 páginas2 horas

Inferno: Trilogia Arcanjo, #3

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Sobre este e-book

Lilith foi raptada pelas forças do mal e arrastada até o submundo, onde os Elohim tramaram um destino horrível para ela. Embora o círculo tenha sido rompido e os elementos não estejam no seu auge, seus companheiros decidem ir procurá-la, percorrendo a eterna cadeia de suplícios e tormentos dos nove círculos do inferno, arriscando não só suas vidas, mas suas almas.

Apoiados pelo arcanjo Uriel, dividido entre suas metades divina e humana, e por Yago, com o coração dividido, vão Saray, cada dia mais misteriosa e distante; Ana, com seus poderes crescentes aproximando-se à escuridão; e Víctor, cuja humildade o impede de ver que possui a magia mais poderosa de todas. Estão acompanhados pelo enigmático Zabulón, que continua seu milenar jogo de xadrez contra os Elohim e que vai revelar, enquanto descem às profundezas do inferno, os segredos que vem protegendo, o que dará uma reviravolta na história, com um desfecho que vai te deixar sem respiração.

IdiomaPortuguês
Data de lançamento26 de ago. de 2020
ISBN9781071563922
Inferno: Trilogia Arcanjo, #3

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    Inferno - Joseph R. Meister

    UM

    Recuperei a consciência na mais completa e aterradora escuridão. Uma dor de cabeça sem precedentes me perfurava as têmporas e entrava no mais profundo do meu cérebro. Tentei abocanhar o ar e senti ânsias de vômito, mas não consegui vomitar nada, pois tinha o estômago vazio. Respirei profunda e pausadamente até que minha cegueira momentânea se dissipou e minha visão clareou.

    Estava deitada em uma superfície de pedra grosseiramente esculpida na rocha. Uma tocha de ferro oxidado incrustrada na parede iluminava debilmente o que parecia ser uma cela. Um grosso portão de madeira, com uma janelinha com grades, fechava o acesso à única saída e me deixava reclusa em um espaço mínimo, opressivo, como em uma toca escavada nas profundezas da terra.

    Junto a mim, jogada no chão, estava a cestinha que completava minha fantasia de Chapeuzinho Vermelho. Apesar dos dolorosos latejos que castigavam minhas têmporas, ao vê-la, lembrei tudo: a festa à fantasia, o sorriso de Yago, o beijo de Uriel, o rastro de sangue até os andares superiores do colégio que me conduziram até Suzie, sua transformação em estringe, a perseguição pelo quarto andar abandonado, o encontro fatal com Apocalipsis... E o vórtice, o portal que conduzia ao abismo.

    Então, eu estava no inferno?

    No interior da cestinha, cobertos por um pano quadriculado vermelho e branco, estavam uns pãezinhos que Elisa havia assado, um pote de mel e uma garrafa de vinho que, igual à estória, eu devia levar para a casa da vovozinha. Agora que o lobo havia me encontrado e prendido, talvez fosse minha única fonte de sustento. Pensei em Elisa e Gabriel, meus pais adotivos e me perguntei se já haviam sabido do meu desaparecimento.

    Contive as lágrimas, já que não era momento para lamentos. Chorar não me serviria de nada naquela situação. Decidida, ergui meu corpo até ficar em pé, embora a tontura ameaçasse me derrubar. As marteladas na minha cabeça eram insuportáveis. A dor ia e vinha em ondas, como uma maré constante e incontrolável.

    Me aproximei da porta com passos vacilantes, cuja madeira lascada estava seca e envelhecida. Empurrei com força, mas a fechadura resistiu. Me atrevi a espiar pela grade de ferro negro que obstruía a pequena janela e pude vislumbrar um corredor aberto na rocha com uma fila de tochas e algumas portas similares àquela que me impedia de escapar da minha estreita prisão. Tive certeza que eram celas parecidas à minha. Não se via ninguém. Não se escutava nada.

    — Socorro! — chamei com voz débil e meio pastosa — Tem alguém aí?

    Ninguém respondeu, mas achei ter escutado um gemido que vinha do interior de uma das celas contíguas.

    Sem forças para gritar, com a boca seca e a língua parecendo uma lixa, uma sede insaciável me torturava. Dei a volta e inspecionei o minúsculo espaço que me rodeava, mas tudo o que encontrei foi o vazio, o frio, o estéril.

    O vinho, pensei.

    Ajoelhei no chão junto à cesta, tirei o pano e peguei a desejada garrafa. Com desespero, tive que recorrer a todas as minhas forças para arrancar a rolha e dar uns goles sôfregos. O vinho era robusto e forte, fresco e amadeirado, com toques frutais, mas me contive a tempo. Não queria que me subisse à cabeça e turvasse meus sentidos. Foi ainda mais difícil lutar para conseguir colocar a rolha de volta no gargalo da garrafa, e a deixei outra vez junto aos pães e ao pote de mel.

    Não tinha fome, nem sequer sabia quantas horas haviam passado desde o meu sequestro, mas era melhor guardar meus poucos alimentos para mais adiante, quando não pudesse mais resistir à tentação do seu chamado.

    — Parece que a nossa encantadora donzela acordou. — disse uma voz maldosa, carregada de veneno.

    Virei rapidamente, sobressaltada, e pude ver Suzie... Quer dizer, Demência, do outro lado da porta, me observando com antipatia através da janelinha de grades. Seu sorriso cruel e misterioso, parecia rígido, disforme.

    Não queria que me visse naquele estado, débil e derrotada, então me cobri com o capuz da minha capa vermelha, com a esperança de que a escuridão escondesse meu rosto do seu escrutínio. Fiquei em pé com dificuldade e me aproximei da porta que nos separava.

    — Onde estou? — perguntei fatigada — Para onde me trouxeram?

    — Você está no inferno, querida. — seu sorriso venenoso se alargou — Um lugar do qual nunca poderá escapar ainda que tente.

    — Por quê? Por que fez isso comigo?

    — Ordens, já te disse. — respondeu secamente — Nem sempre gosto de obedecer, mas dessa vez o fiz com imenso prazer. A princípio, minha intenção era te matar, porque você era a mais débil e desse modo conseguiríamos romper o círculo de vocês em mil pedaços. Depois você acabou com Tormento, o que indica que é mais perigosa do que eu pensava.

    — Você me chamou de mosquinha morta.

    Diante do meu comentário, Demência soltou uma das suas enlouquecidas gargalhadas, o que aumentou a dor que me torturava.

    — Me equivoquei. — lambeu os lábios libidinosamente, saboreando minha derrota e meu cativeiro — Em troca, agora me alegro que você esteja viva e possa sentir o horror e a dor que te aguardam.

    — Você vai me matar? — perguntei, aterrorizada pelas suas palavras.

    — Vai depender de você e da sua decisão. — afirmou com satisfação — De qualquer maneira, você está condenada.

    — Não! — me rebelei — É você que será condenada pelas suas más ações, e não terá nem que esperar outra vida para receber seu castigo. O ódio está te corroendo por dentro como uma doença incurável.

    — Levo meus pecados com orgulho. — Sorriu e estreitou os olhos, onde brilhava uma loucura insondável — Enganei a todos vocês, apelei aos seus bons sentimentos para te arrastar a este lugar de pesadelos e cumpri a minha missão. Agora uma recompensa me espera, uma glorificação.

    — Ao que você se refere?

    — O Amo está muito satisfeito com a sua captura e autorizou que o Aquelarre celebrasse um ritual. Com o sangue das minhas irmãs mortas, que conservamos em uns frascos, me transmitirão suas forças e habilidades. — declarou entre risos — Serei três vezes mais poderosa!

    — Você me mentiu. Disse que meu pai estava vivo, mas ele morreu em um incêndio quando eu era pequena.

    — Você acha isso? — levantou uma sobrancelha e me contemplou, zombeteira — Continua sendo uma menininha ingênua e ignorante, mas logo descobrirá a verdade, uma verdade que fará com que prefira estar morta.

    Fiquei muda, à beira de um desmaio.

    — Meus amigos me tirarão daqui! — disse por fim.

    — Nem sonhe com isso. — me alfinetou, esboçando uma careta repulsiva — Qual deles estaria disposto a descer às profundezas da terra para nunca mais regressar? Uriel, um arcanjo renascido que prefere ser humano a assumir seu papel na guerra do céu? Yago, um hábil espadachim que é incapaz de amar de novo depois da morte da sua namorada? Víctor, que poderia ser o mais poderoso de todos se não fosse sua aversão à violência e ao sangue, se não estivesse tão limitado pelos seus equivocados conceitos de bem e do mal?

    — Talvez todos eles, guiados por Zabulón. — especulei.

    Um breve pânico cruzou pelo seu rosto, mas desapareceu rapidamente.

    — Zabulón é um ser egoísta e manipulador. — replicou com raiva — Não arriscará sua vida nem por você nem por ninguém. E aqui existem seres demoníacos que poderiam reduzi-lo a uma sombra do que é, arrebatar sua imortalidade e tortura-lo até que suplique por uma morte piedosa.

    — Já parou para pensar por que nos ajuda? — perguntei, tentando semear a dúvida e o temor no interior da sua mente perturbada — Por que alguém como ele trabalha em uma biblioteca pública, levando uma vida tão rotineira, sem cor ou sem graça?

    — Suponho que seja para vigiar vocês, do mesmo modo em que eu me infiltrei no colégio... — titubeou um instante — Aonde você quer chegar?

    — Isso é uma guerra e ele fará todo o possível para ganha-la! — afirmei, cada vez mais insegura — Somos seus aliados e não nos deixará para trás. Inclusive se eu caio, ele fará com que paguem muito caro. Te asseguro isso!

    — Tenho que ir — se despediu com um sorriso cínico —, mas deixe-me fazer uma advertência: não tente escapar. Além desses muros existem criaturas horripilantes e sedentas de sangue que não duvidarão nem um instante antes de se lançarem sobre você e te despedaçar. Seja paciente. Desse modo a surpresa que te espera será ainda maior.

    Me jogou um beijo, se afastou da janelinha e foi caminhando pelo sinistro corredor, desprendendo uma turva aura de maldade que fez com que as chamas das tochas tremulassem.

    — Espera! — gritei.

    Suas gargalhadas histéricas retumbaram nas paredes de pedra até extinguir-se.

    Fiquei novamente sozinha, com uma dor de cabeça que estava me matando e que não cedia. Não sabia se era de dia ou de noite. Não se escutava o menor ruído.

    Melhor assim. Não queria nem pensar nos seres que Suzie havia mencionado, os repulsivos habitantes do submundo e os pecadores irremediáveis cuja condenação se estenderia pela eternidade.

    Era isso que o destino tinha reservado para mim? Uma condenação eterna?

    Não considerava que tivesse feito nada para merecer isso. Embora, talvez, fosse minha culpa que Uriel negasse a unir-se ao exército celestial e o próprio Deus estava me castigando por retê-lo. Mas teria que ser um Deus cruel e sem misericórdia pra infligir um castigo tão duro para um pecado tão insignificante como um beijo, um beijo com o qual eu havia sonhado e desejado, mas que, no fim, havia rejeitado.

    Me joguei no chão, em um canto, e me cobri com a minha capa que agora, na penumbra, parecia coberta de sangue seco. Notei a tocha que ardia sem se consumir, à mercê de algum feitiço demoníaco. A chama se agitava, dotada de vida. A dor não me dava trégua, me perseguia incessantemente.

    — Fogo, vem a mim. — sussurrei — Alivia a minha dor e a minha solidão.

    As chamas dançantes tremeram, piscaram e se estabilizaram de novo sobre a tocha, como uma vigorosa flor de fogo.

    No entanto, uma estranha e cálida sensação me invadiu, me confortou, se instalou no meu corpo e na minha mente, proporcionando consolo e alívio.

    A dor se apaziguou lentamente. Respirei um ar onde flutuavam resquícios de enxofre e cinzas. Fechei as pálpebras. Não conseguia manter os olhos abertos.

    Tudo havia começado com os espelhos, com as visões dos incêndios e os gritos dos que morreram ali. Antes, quando me olhava neles, podia ver uma menininha assustada e frágil. Mais tarde, via uma jovem na flor da idade, uma bruxa que acabava de descobrir seus poderes, uma garota insegura que tinha se apaixonado pela pessoa equivocada... Pelas pessoas equivocadas.

    O que veria agora neles?

    Sofrimento, dor e morte?

    Recordei um lindo poema de Gioconda Belli intitulado Dor dos Espelhos, que dizia assim:

    É com nada mais que medo

    que uma mulher se aproxima

    dia após dia ao espelho

    e interatua com a própria imagem.

    É hora de feitiços e bruxas.

    Hora de cosméticos e abluções,

    a nostalgia entre as fotos luminosas

    da nada eterna juventude.

    Então a gente se pergunta

    quanto tempo durará a paixão,

    o amor pelas bicicletas

    e os contos de amantes secretos.

    A gente se pergunta se o amor terá idade,

    Se o tempo será tão implacável

    como espelhos.

    Sim, a hora dos feitiços e das bruxas havia chegado. Não podia me render, não faria isso. Pensei em Víctor, em Ana, em Saray, meus companheiros, meus amigos. Eles também jamais se renderiam.

    Deixei que o sono me embalasse, com um pequeno sorriso nos lábios.

    Era a hora dos feitiços e das bruxas.

    DOIS

    Despertei na inquietante penumbra da minha cela. O fogo perene da tocha continuava ardendo, mas minha dor de cabeça havia desaparecido.

    Me levantei e sacudi a dormência que havia se apoderado das minhas articulações depois de dormir por várias horas sobre uma superfície de pedra que nem sequer estava fria. Talvez, debaixo dele, ardessem os fogos do inferno, as chamas do abismo sem fim.

    Estava morrendo de sede e a fome enviava dolorosas espetadas no meu estômago vazio, pedindo minha atenção. Ajoelhei no chão, junto à cestinha, e peguei uns dos pãezinhos, que já havia começado a endurecer. Cortei pela metade e abri o pote de mel, deixando cair um jorro de ouro líquido sobre o pão. Devorei o pão rapidamente, saciando a fome que me

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