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Escuridão: Trilogia Arcanjo, #1
Escuridão: Trilogia Arcanjo, #1
Escuridão: Trilogia Arcanjo, #1
E-book148 páginas2 horas

Escuridão: Trilogia Arcanjo, #1

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Sobre este e-book

Arrasada pela morte dos seus pais em um incêndio, Lilith tenta retomar as rédeas da sua vida em uma nova cidade. Depois de ser atacada por uma estranha criatura no primeiro dia de aulas, sua chegada ao instituto desencadeará eventos imprevisíveis e catastróficos e, sem intenção, se verá envolvida em uma guerra sem quartel entre os poderes do céu e do inferno. Viciante, envolvente e avassaladora, com esta novela se inicia a Saga Arcanjo, repleta de bruxaria, romance e ação. Para os fãs de séries como Jovens Bruxas (Charmed), O Círculo Secreto e Supernatural.

IdiomaPortuguês
Data de lançamento2 de jun. de 2020
ISBN9781071547182
Escuridão: Trilogia Arcanjo, #1

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    Pré-visualização do livro

    Escuridão - Joseph R. Meister

    UM

    Naquela manhã de setembro despertei sobressaltada por uma campainha penetrante que atravessou meus ouvidos e entrou diretamente no meu cérebro. Detive o despertador com um tapa, embora seus ponteiros não deixassem de mover-se. Cada tic-tac se sincronizava ao ritmo dos meus batimentos cardíacos, lenta, mas inexoravelmente. Ia me atrasar, o que não me impediu de ruminar o assunto, de ser escrava desse objeto torturador dos impontuais, chicote da preguiça, castigo dos dorminhocos.

    Pulei da cama e tomei uma ducha. A água terminou de me acordar, lavou os sonhos inquietantes da noite e afastou, inclusive, as lembranças que tentava esquecer. Mas também me situou novamente na realidade: moça nova, primeiro dia no colégio de uma cidade também nova, desconhecida.

    Havíamos nos mudado durante o verão e ainda não conhecia ninguém. As férias se limitaram a guardar nossas coisas em um monte de caixas e depois desembalar tudo, sair da frente de pintores mal-humorados, esperar que o caminhão de mudanças trouxera nossos móveis e arrumar a que seria nossa casa daí em diante.

    Terminei de secar o cabelo, alisando-o cuidadosamente porque a umidade e a eletricidade estática tendem a deixá-lo crespo. Eu o usava comprido, uma frondosa cabeleira escura, de um preto brilhante, da qual estava muito orgulhosa. Ainda assim evitei me olhar no espelho do banheiro, levemente embaçado pelo vapor. Muitas vezes não gostava o que eu via nele: uma garota sem atrativos, de olhar triste e com alguns quilos sobrando. Como sempre, tinha a autoestima meio baixa.

    Outras vezes, na superfície do espelho apareciam coisas muito mais espantosas, pessoas horrivelmente queimadas que gritavam de dor na sua interminável agonia, espíritos que não haviam podido alcançar o descanso eterno. Eram os meus verdadeiros pais que haviam morrido naquele incêndio, naquele inferno de fogo do qual somente eu pude escapar com vida.

    Quando abri a porta do banheiro, minha mãe estava ali, batendo na porta com as juntas dos dedos.

    — Lilith, você vai se atrasar — me advertiu com um olhar que tentava ser autoritário e com um sorriso que o desmentia.

    — Já vou, mãe — afirmei —. Desço em seguida.

    Na realidade, Elisa não era minha mãe. Era minha mãe adotiva, mas eu a amava como se fosse a biológica. Era escritora e trabalhava em casa, ainda que passasse os dias enfurnada em arquivos e bibliotecas, tão concentrada no seu trabalho que, muitas vezes, tinham que mandá-la embora quando chegava a hora de fechar.

    Uma vez no meu quarto, me vesti rapidamente com a roupa que tinha escolhido com cuidado na noite anterior. Uma calça preta, um pouco ajustada, um top preto franzido na gola e mangas e umas botas estilo militar com uma leve plataforma. Como tenho a manha, me deu tempo de passar um delineador e um pouco de sombra de cor cinza nos olhos. Meio sinistras, mas sem chegar ao gótico.

    Ao descer para a cozinha, fui banhada por uma luz deslumbrante que me fez franzir os olhos, e Elisa já me havia preparado suco de laranja e uns pãezinhos recém-assados que ela tinha aprendido a fazer durante a redação do seu livro Pastelaria francesa para mulheres desesperadas.

    — Preparada para o seu primeiro dia? – me perguntou acariciando minha bochecha.

    — Preparada ou não, tenho que ir, não é?

    — Sim, meu bem. — No seu rosto brotou um sorriso terno, desses que me faziam sentir segura e protegida ao seu lado —. Tem que ir. Estou confiante de que estaremos muito bem aqui. Você vai fazer muitos amigos e pode até ser que conheça algum menino interessante.

    — Mamãe! — protestei, sentindo as bochechas corarem. Ainda não tinha acostumado a falar sobre certos assuntos com ela.

    Tomei o suco em dois goles, mordisquei um pãozinho e coloquei a mochila nas costas, disposta a sair correndo.

    — Espera um momento — Elisa me deteve —. Não vai a lugar nenhum sem me dar um beijo.

    Era inútil me rebelar. Se eu dizia que já não era uma menininha, ela respondia que me tratava como adulta, o que não impedia que nos despedíssemos com um beijo. Como adultas.

    — Te amo, mamãe. — Não somente a beijei, mas também a envolvi em um abraço de urso feroz —. Até mais tarde.

    — Eu também te amo. — E muito sentimental, enxugou as lágrimas com um guardanapo —. Tenha um bom dia.

    — Obrigada. Você também! — gritei enquanto saía pela porta principal, que fechei com um estrondo.

    Era um dia maravilhoso. Um desses dias de final de verão em que o céu é de um azul intenso com nuvens brancas de algodão e o sol brilha, mas sem chegar a incomodar os olhos, derramando sobre o mundo a glória dos seus raios dourados.

    Coloquei a um lado minha porção poética e comecei a caminhar até o instituto com passos rápidos, com a mochila balançando alegremente nas minhas costas. Comtemplei as diversas tonalidades de verde brilhante das folhas das árvores que circundavam as ruas, porém não conseguia ignorar o nó que sentia no estômago. Um resto dos pesadelos da noite anterior? O nervoso do primeiro dia? Uma soma das duas coisas, concluí.

    Foi então que me assaltou, como uma náusea, a certeza de que estavam me seguindo.

    Era uma sensação estranha, perturbadora, mas que não era, em absoluto, desconhecida para mim. Sempre soube quando era observada, sentindo algo como um ligeiro arrepio na nuca. Em casa, sentada no escritório escrevendo ou no computador, podia saber se era papai ou mamãe quem permanecia em silêncio na porta do meu quarto com um sorriso nos lábios. Na rua, quando caminhava apressada em qualquer direção ou enquanto passeava despreocupada sem rumo certo, às vezes sentia essa sensação e levantava a vista a uma determinada varanda para encontrar, invariavelmente, o olhar de algum desconhecido. Inclusive era capaz de perceber um pouco dos sentimentos da pessoa que me olhava.

    Esta vez notava, sobretudo, curiosidade, certa dúvida e, também, uma advertência. Quem quer que fosse, não tinha más intenções.

    Detive meus passos e dei volta rapidamente, já que o que percebia vinha por detrás. A pouca distância vi um garoto da minha idade, todo vestido de preto, o que ressaltava sua magreza, acentuada por óculos de armação grossa também negra. Era de pele morena e rosto mediterrâneo, com um cabelo preto como a noite mais escura, tão preto que sob o sol se tornava meio azulado. Tinha uma cabeleira espessa e desarrumada, como se tivesse penteado cuidadosamente para parecer despenteado.

    Surpreendido por haver sido descoberto, ficou paralisado por um segundo, me observando. Nesse momento, sem que eu percebesse no seu rosto nenhuma expressão, fez um gesto com a mão, que interpretei como um olá.

    Subitamente, uma violenta rajada de vento, carregada de pó e folhas mortas, me envolveu como um mini furacão e me obrigou a fechar os olhos quando neles entraram alguns grãos de areia.

    Quando abri os olhos novamente, piscando repetidamente para me librar dos grãos que me incomodavam, o vento já havia passado e o garoto tinha desaparecido. Assim do nada.

    Simplesmente já não estava. Talvez nunca tenha estado ali.

    Não, pensei. Não tinha sido um sonho, nem uma alucinação. Aquele garoto era bem real. Onde teria se metido?

    Dei meia volta e continuei novamente o caminho para o colégio. Seria o fim da picada chegar tarde no primeiro dia.

    Então, quando menos esperava, escutei a voz dentro da minha mente.

    Corre, Lilith, ele já vem.

    Escutava-se forte e claro. Ressoou no meu cérebro e essa advertência percorreu cada nervo, disparou meus níveis de adrenalina e notei meu coração batendo mais rápido. Senti desejos de sair correndo até ficar sem fôlego.

    E agora eu ouvia vozes? Na minha cabeça?

    Sempre soube que não era muito normal, mas isso tinha um nome: esquizofrenia.

    Lilith, por favor, o Vigia vem para cá.

    O Vigia? A voz estava cheia de pressa, de angústia, de verdadeira preocupação. Minha imaginação fértil começou a fazer das suas e me senti inquieta, nervosa, como se...

    Você não percebe? Não se dá conta? Ele já vem, está se aproximando.

    Quem é você?, perguntei, projetando meus pensamentos, para o caso de que eu pudesse admitir, bem lá no fundo do meu ser, a possibilidade de estar me comunicando com alguém. Ou com algo.

    O medo me golpeou forte na boca do estômago e foi nesse instante que soube, com absoluta certeza, que a voz tinha razão, que algo sinistro se aproximava rapidamente e que uma desgraça ia acontecer. Algo intangível se aproximava, invisível, rastejante. Uma entidade malévola que estendia seus tentáculos cegos, que tateava o terreno procurando uma presa fácil.

    Já é muito tarde. Já está aqui, disse a voz com um tom de derrota, de resignação. E eu soube quem era. A voz que ecoava na minha mente era do garoto que tinha me seguido. Pude captar uma imagem dele abaixado atrás do tronco de uma árvore, sussurrando.

    O que faço?, a pergunta brotou espontaneamente no meu cérebro. Minhas mãos trémulas agarraram com força as alças da mochila até que meus dedos ficaram brancos.

    Você tem que se esconder, Lilith. Ficar invisível.

    Invisível? Ele estava de brincadeira?

    A luz do dia diminuiu, como se o sol tivesse sido eclipsado por uma nuvem escura, mas olhei para o céu e constatei que não era o caso. Um zumbido vibrou no ar e minha respiração ficou entrecortada.

    Instantaneamente, corri até duas lixeiras de recicláveis e me escondi entre elas. Aproveitei umas caixas de papelão empilhadas para me tapar e me ajoelhei no chão, tratando de passar despercebida, de ficar pequena e insignificante.

    Agora silêncio. Você está invisível. Se for preciso, repita isso como um mantra e não pense em outra coisa...

    O dia foi, progressivamente, escurecendo, como se fosse desabar uma tempestade imprevista. O zumbido aumentou. O chão parecia vibrar. O silêncio se estendeu ao meu redor como um manto grosso e escuro. Não se escutava sequer o alegre canto dos pássaros que me acompanharam durante o meu trajeto.

    Sou invisível, pensei, aterrorizada.

    Eu percebia como se fosse um olho enorme flutuando acima de mim, com tentáculos invisíveis em torno do repugnante globo ocular, apêndices amorfos, mas sensíveis, procurando incansavelmente por presas para devorar. Senti uma pressão insuportável no peito e não consegui recuperar o fôlego. Tudo ficou denso, quente e escuro ao meu redor. Fechei os olhos e repeti para mim mesma que essa coisa não podia me ver, mas não isso não me convenceu.

    O zumbido era estrondoso, ensurdecedor, semelhante ao de uma enorme máquina cheia de pistões e engrenagens. O olho observava, sentia, tateava, mas era apenas um instrumento

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