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Os Párias
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E-book92 páginas58 minutos

Os Párias

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Sobre este e-book

Dois irmãos são arrancados de suas camas no meio da noite pelo governo e levados para uma fortaleza isolada nos cantos mais distantes da Siberia.


Amizades se formarão e a lealdade será testada enquanto os dois irmãos lutam para se encontrarem, mas tragédia ronda o complexo e relações de sangue nem sempre significam família.


Destinos se entrelaçam e os fatos colidem em “Os Párias”, neste conto explosivo de Erik Hofstatter, autor do aclamado “Contos Moribundos”.

IdiomaPortuguês
Data de lançamento6 de ago. de 2023
Os Párias

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    Os Párias - Erik Hofstatter

    PARTE UM

    DEMYAN

    O ENCARCEIRAMENTO

    Eu dormia quando eles vieram. Dois homens armados com Kalashnikovs e usando roupas de proteção contra radiação. Um dos homens me agarrou pelos cabelos e me arrastou para fora do conforto da minha cama, era a última vez que eu dormiria em um colchão macio. O outro homem apontou um rifle para meu rosto antes de me dar uma coronhada.

    Acordei tremendo em um chão de cimento. Mesmo com a visão embaçada, consegui distinguir uma silhueta no canto mais distante da cela – a sombra de um corpo humano – pequeno, imóvel e gélido. Tentei me levantar, mas minhas pernas fracas dobraram-se e desabei de volta ao cimento imundo.

    Sem fôlego, fiquei deitado e examinei o entorno. Sólidas, as paredes cinza, com rachaduras que variavam da espessura entre um fio de cabelo e enormes fissuras, me cercavam como um mapa de veias.

    O ar era úmido e mofado. A única iluminação vinha de uma minúscula janela selada com barras, a sete metros do chão e inalcançável. Duas camas de palha alinhavam-se à parede oposta. Parecia ser algum tipo de cela.

    Esfreguei meus pés doloridos e notei um buraco no meio do chão. Não havia nenhum banheiro visível, então concluí que aquilo deveria ser minha latrina. O corpo no canto fez um movimento súbito. Recuei rastejando até estar completamente contra a parede. Um cabelo longo e preto cobria seu rosto.

    — Urgh… Demyan?

    Reconheci a voz imediatamente e flutuei na sua direção depressa. Com delicadeza, movi seu corpo frágil e a envolvi nos meus braços, tirando seu cabelo do rosto.

    — Akilina, você está viva, — sussurrei com ternura.

    Olhei fixamente para seu rosto por bastante tempo. O olho de Akilina ainda estava fechado; o outro olho... Desaparecido. Um galo enorme decorava sua testa anormal, que por sua vez, se projetava para fora como um chifre de rinoceronte. Lágrimas de satisfação rolaram pelo meu rosto. Sentia-me grato por dividir a cela com minha irmã.

    Akilina permaneceu apática deitada em meus braços. Reunindo todas as minhas forças, levantei e caminhei, como se carregasse uma bigorna sobre a areia movediça, para depositar seu corpo frágil em uma das camas de palha. Minhas pernas e braços continuaram a tremer de exaustão por muitos minutos depois.

    Enquanto ela dormia, inspecionei as paredes. Procurava por qualquer mensagem que pudesse ter sido deixada por um ocupante anterior, mas nada encontrei. A porta da cela não cedeu nem um milímetro quando a empurrei com toda a minha força.

    Por um momento, cheguei a considerar a latrina como rota de fuga, mas era muito estreita para qualquer um de nós. Estávamos sem saída.

    VOZ DAS PROFUNDEZAS

    Na manhã seguinte, encontrei duas vasilhas de mingau e dois copos de água no chão. Estranhíssimo, não tinha ouvido ninguém entrar. O choque de ser abduzido deve ter cobrado um preço alto ao meu corpo. Voraz, eu comi como um animal e lentamente dei de comer a Akilina. Ela estava ainda muito fraca e traumatizada. Gotas de suor se formavam em sua enorme testa, sinal claro de febre. Acariciando seus cabelos negros, deixei que ela dormisse em paz e passei a andar de um lado ao outro, esperando que um plano surgisse na minha mente.

    Nasci com uma deformidade no quadril, o que tornava a tarefa de correr impossível para mim. O desastre acontecera há mais de dezessete anos. Minha mãe sempre falava sobre o assunto e sobre como meu pai tinha morrido por causa do acontecido. Ela também culpava seus genes por nossas deformidades.

    — Eu devia ter abortado vocês dois, — ela me dizia sempre.

    No entanto, não ficava com raiva dela. Eu teria me abortado se tivesse tido a chance. Sempre fui diferente, e não por causa das anormalidades, mas porque eu tinha uma visão de mundo díspar de todas as outras das pessoas.

    Eu me sentia grotesco, mas pelo menos recebi a benção da inteligência. Tinha mais poder mental do que as crianças nascidas após a radiação.

    Nossa mãe costumava nos assustar contando histórias nas quais o governo levava crianças malcriadas para trancá-las em um asilo escondido nas profundezas das regiões mais isoladas da Sibéria; por isso éramos sempre bem comportados.

    Caminhei pela cela por alguns minutos. Como poderíamos escapar? Não tinha nem ideia de onde estávamos! Não tinha mais ninguém da família além de minha irmã e minha mãe, ambas trancafiadas neste lugar infernal.

    Akilina agitou-se e soltou um gemido. Ajoelhei-me ao lado dela e senti sua temperatura. Ela ardia em febre. O que podia fazer para diminuir sua temperatura? Subitamente, ouvi um som metálico e um barulho de chave sendo girada. Dois homens vestidos em suas roupas de proteção entraram, exatamente como na noite da abdução. Abracei minha irmã tentando protegê-la, mas um dos homens deu um chute impiedoso que me faz voar do outro lado da cela.

    O outro homem a lançou por cima do ombro como um pedaço de

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