A Redação (além) do Enem
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A Redação (além) do Enem - Fernanda Massi
Reitor
Sérgio Carlos de Carvalho
Vice-Reitor
Décio Sabbatini Barbosa
Diretor
Luiz Carlos Migliozzi Ferreira de Mello
Conselho Editorial
Abdallah Achour Junior
Daniela Braga Paiano
Edison Archela
Efraim Rodrigues
Ester Massae Okamoto Dalla Costa
José Marcelo Domingues Torezan
Luiz Carlos Migliozzi Ferreira de Mello (Presidente)
Maria Luiza Fava Grassiotto
Otávio Goes de Andrade
Rosane Fonseca de Freitas Martins
A Eduel é afiliada à
Catalogação elaborada pela Divisão de Processos Técnicos
Biblioteca Central da Universidade Estadual de Londrina
Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP)
Bibliotecária: Solange Gara Portello – CRB-9/1520
M417r Massi, Fernanda.
A redação (além) do ENEM [livro eletrônico] / Fernanda Massi. – Londrina : Eduel, 2020.
1 Livro digital : il.
Inclui bibliografia.
Disponível em: http://www.eduel.com.br
ISBN 978-85-302-0088-6
1. Exame Nacional do Ensino Médio (Brasil). 2. Redação. 3. Língua portuguesa – Redação. I. Título.
CDU 806.90-085
Enviado em: Recebido em:
Parecer 1 22/01/2017 23/03/2017
Parecer 2 29/06/2017 27/10/2017
Aprovação pelo Conselho Editorial em: 27/12/2017
Direitos da tradução em Língua Portuguesa reservados à
Editora da Universidade Estadual de Londrina
Campus Universitário
Caixa Postal 10.011
86057-970 Londrina – PR
Fone/Fax: 43 3371 4673
e-mail: eduel@uel.br
www.eduel.com.br
Sumário
APRESENTAÇÃO
A REDAÇÃO NOS EXAMES E VESTIBULARES
OS TEXTOS MOTIVADORES
E O COMANDO DE PROVA NA REDAÇÃO DO ENEM
COMPETÊNCIA I NA REDAÇÃO DO ENEM: "DEMONSTRAR DOMÍNIO DA
MODALIDADE ESCRITA FORMAL DA LÍNGUA PORTUGUESA"
NORMA CULTA
COMPETÊNCIA II NA REDAÇÃO DO ENEM: "COMPREENDER A
PROPOSTA DE REDAÇÃO E APLICAR CONCEITOS DAS VÁRIAS ÁREAS DE
CONHECIMENTO PARA DESENVOLVER O TEMA, DENTRO DOS LIMITES
ESTRUTURAIS DO TEXTO DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVO EM PROSA"
TEMA, GÊNERO (REDAÇÃO DE VESTIBULAR) E TIPO TEXTUAL
(DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVO)
COMPETÊNCIA III NA REDAÇÃO DO ENEM: "SELECIONAR, RELACIONAR,
ORGANIZAR E INTERPRETAR INFORMAÇÕES, FATOS, OPINIÕES E
ARGUMENTOS EM DEFESA DE UM PONTO DE VISTA"
COMPETÊNCIA IV NA REDAÇÃO DO ENEM:
"DEMONSTRAR CONHECIMENTO DOS MECANISMOS LINGUÍSTICOS
NECESSÁRIOS PARA A CONSTRUÇÃO DA ARGUMENTAÇÃO"
COERÊNCIA TEXTUAL, COESÃO TEXTUAL, ARGUMENTAÇÃO E AUTORIA
COMPETÊNCIA V NA REDAÇÃO DO ENEM: "ELABORAR PROPOSTA DE
INTERVENÇÃO PARA O PROBLEMA ABORDADO, RESPEITANDO OS
DIREITOS HUMANOS"
O CONTEXTO DE PRODUÇÃO DA REDAÇÃO NO ENEM
PALAVRAS FINAIS...
REFERÊNCIAS
ANEXO
APRESENTAÇÃO
O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) foi criado em 1998, no governo do então presidente, Fernando Henrique Cardoso, como um exame de rendimento externo¹ do ensino médio brasileiro, com o intuito de contribuir para a melhoria da educação nesse nível de escolaridade. O objetivo inicial do ENEM era avaliar as habilidades e competências dos alunos concluintes do ensino médio fora do ambiente escolar, ou seja, de que forma o conteúdo aprendido na escola poderia ser aplicado em outras situações. Com os resultados do ENEM, seria possível avaliar se as dificuldades dos concluintes do ensino médio no exame eram as mesmas ou se variavam em função das escolas, da origem social, da região do país. Ao mesmo tempo, o desempenho dos alunos forneceria material para se avaliar os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio (PCNEM) e verificar se eles estavam sendo cumpridos.
Entretanto, os resultados do ENEM foram pouco utilizados para esse fim, e serviram, apenas, como indicativo de que os estudantes brasileiros apresentavam sérios problemas de leitura e escrita e de matemática. Nos dois primeiros anos de existência do exame, não foram gerados nem mesmo relatórios pedagógicos com informações sobre os participantes. A partir de 2001, esses relatórios começaram a ser produzidos e foram disponibilizados no Portal do Instituto Nacional de Pesquisa (INEP), órgão responsável pelo exame, até 2010². Neles, são apresentados os dados referentes aos participantes (por estados da federação, raça, cor, faixa etária, renda, tipo de instituição etc.), seus desempenhos no exame, as matrizes que subsidiam as provas e demais informações pedagógicas sobre o ENEM.
Os dados dos participantes do ENEM e suas notas não são divulgados abertamente ao público. As notas são enviadas diretamente aos participantes por meio de um boletim individual de desempenho. Essas dificuldades de acesso aos dados dificulta a própria realização de pesquisas sobre o tema, como será discutido ao longo deste livro.
Em seus primeiros anos de existência, o ENEM contribuía para o ingresso dos alunos no ensino superior, pois servia tanto como um treinamento para o vestibular, quanto auxiliava a composição da nota final em algumas universidades. Em 2004, o governo do presidente Luís Inácio Lula da Silva criou o Programa Universidade para Todos (PROUNI), pela Lei nº 11.096/2005, a fim de facilitar o acesso às universidades brasileiras com a concessão de bolsas de estudo integrais e parciais a cursos de graduação e cursos sequenciais de formação específica, em instituições privadas de educação superior. As bolsas são dirigidas a alunos egressos da rede pública ou da rede particular na condição de bolsistas integrais, com renda familiar per capita máxima de três salários mínimos. As instituições que aderem ao programa recebem isenção de tributos.
Em 2009, o chamado novo ENEM
passou a ser utilizado como ferramenta de seleção para ingresso no ensino superior, privilegiando os alunos que já apresentavam bom rendimento escolar. Em 2010, o Ministério da Educação criou o Sistema de Seleção Unificada (SISU), que seleciona estudantes para instituições públicas brasileiras a partir da nota obtida no ENEM, reforçando a relevância do exame. Desde então, a nota do ENEM substituiu alguns dos mais importantes vestibulares do país, como os dos Institutos Federais de Ensino Superior (IFES) e os das Universidades Federais, aumentando significativamente a procura dos estudantes pelo exame. O resultado do ENEM também passou a ser utilizado por universidades particulares e os alunos oriundos de escolas públicas são incentivados a prestar o exame por meio da isenção do pagamento da taxa de inscrição – em 2016, o valor da inscrição foi de R$68,00 (sessenta e oito reais). Outras funções do ENEM são a certificação de conclusão do ensino médio (para alunos que frequentaram o curso supletivo ou pessoas que estão privadas de liberdade – ENEM PPL) e, segundo o INEP, a autoavaliação
de desempenho.
Em 2017, o Ministério da Educação (MEC) decidiu que o ENEM não serviria mais como certificado de conclusão do ensino médio. Embora não tenha havido uma manifestação oficial do órgão para apresentar o motivo de tal exclusão, é possível associá-lo ao resultado obtido pelos participantes que fizeram tal solicitação em 2016. Dos 8.630.306 inscritos, 1.033.761 solicitaram a certificação e apenas 7,7% (79.184) atingiram a nota mínima necessária para o aproveitamento (que equivale a mais de 450 pontos em todas as provas e mais de 500 pontos na redação) (MEC, 2017).
A função de autoavaliação é bastante explorada por muitas escolas públicas e particulares, bem como por cursos preparatórios para o ENEM e vestibular. Com base nos boletins de desempenho individual, recebidos somente pelos participantes, os resultados são divulgados como meio de promover a instituição escolar. O próprio INEP divulgava um documento, intitulado Enem por escola
(a última edição é de 2015), com o desempenho das escolas por unidades da federação, categoria administrativa, localização (urbana ou rural), porte da escola, indicador de permanência, indicador de nível socioeconômico e indicador de formação docente. Mesmo que esse não seja seu objetivo, tal documento estimula a disputa entre os alunos para que alcancem resultados expressivos no exame.
Diante desse cenário, o ENEM se tornou responsável por decidir o futuro de milhões de jovens brasileiros, ganhando a força de um vestibular – embora o INEP não reconheça essa nomenclatura e prefira mantê-lo como o Exame Nacional do Ensino Médio, que possui mais funções do que o vestibular. Com isso, surgiram inúmeros cursos e materiais preparatórios específicos para o ENEM, e as práticas escolares, principalmente as de leitura e escrita, passaram a voltar-se mais para o exame (ZIRONDI, 2006).
Uma das partes mais importantes do ENEM é a prova de redação, que é avaliada separadamente e que não pode ser zerada para que os participantes consigam acesso às universidades, ou seja, para que a nota geral do exame seja validada. A redação é uma questão aberta (discursiva), a única em toda a prova do ENEM (as demais questões são de múltipla escolha, objetivas), que exige do participante a produção de uma resposta ao tema solicitado, com o objetivo de se avaliar sua produção escrita e sua capacidade de leitura dos textos motivadores.
No atual cenário brasileiro, o aprendizado de produção textual no ensino médio, principalmente no terceiro ano, passou a ser direcionado ao ENEM, como uma espécie de treinamento específico para o exame (ZIRONDI, 2006). Esse processo, além de ignorar as diretrizes curriculares já estabelecidas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM), que prevê o trabalho com diferentes gêneros textuais (não apenas o dissertativo-argumentativo), provoca um estreitamento do currículo escolar, que passa a se restringir à preparação de uma redação para o contexto específico do exame.
Nesse sentido, o conteúdo peculiar cobrado no ENEM reduz as concepções de norma culta, texto dissertativo-argumentativo, tipo textual, coerência, coesão e proposta de intervenção ao padrão solicitado na Matriz de referência para a redação do ENEM
. Esses conceitos, porém, não são específicos do exame, pois fazem parte de um uso mais amplo da língua portuguesa e podem ser discutidos em outros contextos de produção textual. Assim, utilizar os mesmos parâmetros da redação do ENEM em outros exames vestibulares, por exemplo, não irá garantir a atribuição da mesma nota ao texto. Isso não significa que todas as provas de redação deveriam ser corrigidas da mesma forma, mas sim que saber escrever um bom texto vai muito além de conhecer e aplicar os critérios de correção da redação do ENEM. Os alunos que estiverem preparados para escrever boas redações conseguirão fazê-las bem em qualquer circunstância e contexto de produção.
Diante da ampliação das condições de acesso ao ensino superior, 7,1 milhões de participantes se inscreveram no ENEM em 2013. Em 2014, esse número cresceu 21,6% e foi para 8,7 milhões de estudantes. Em 2015, houve uma pequena queda na quantidade de inscritos (11%) em relação a 2014, mas um aumento em relação a 2013: foram 7,7 milhões de participantes. Em 2016, como já citamos anteriormente, houve 8.630.306 inscritos no exame, o que representa um crescimento de quase 23% (1.630.306 de