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Antonio Conselheiro: Nem santo, nem pecador
Antonio Conselheiro: Nem santo, nem pecador
Antonio Conselheiro: Nem santo, nem pecador
E-book75 páginas42 minutos

Antonio Conselheiro: Nem santo, nem pecador

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Sobre este e-book

Em Antônio Conselheiro – Nem santo, nem pecador o professor de história Marcelo Biar envereda-se pela ficção para contar a trajetória de um dos mais célebres e fascinantes personagens do episódio retratado por Euclides da Cunha em Os Sertões. Messias? Louco? Mártir? Quem, afinal, foi Antônio Vicente Mendes Maciel?
Ilustrada pelas xilogravuras da série Canudos, gravadas entre 1978 e 1998 pelo renomado artista Adir Botelho, a biografia romanceada acompanha os passos do sertanejo nascido em Quixeramobim, no Ceará, que entrou para a história brasileira como Antônio Conselheiro, ícone maior da Guerra de Canudos, ocorrida entre 1896 e 1897, no sertão da Bahia. Um homem de convicções fortes, extremamente religioso, que lançou mão de inteligência, generosidade e honestidade para ajudar os mais necessitados.
Da infância sofrida, marcada pelo convívio com o pai alcoólatra e a madrasta agressiva, passando pelos estudos a que teve acesso – sorte de poucos num Nordeste miserável e povoado por analfabetos – a fim de estar apto a ser ordenado padre, conforme sonhara sua família, até as peregrinações pelo sertão que o levaram ao Arraial de Canudos – nada escapa ao historiador Marcelo Biar fazendo as vezes de romancista neste livro.
Agora, a trajetória controversa de Antônio Conselheiro chega às mãos de crianças e jovens num livro imperdível, mesmo que o sertão vire mar ou o mar vire sertão.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento1 de jul. de 2009
ISBN9788581220369
Antonio Conselheiro: Nem santo, nem pecador

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    Antonio Conselheiro - Marcelo Biar

    Créditos

    UM

    Blem, blem, blem... Ao som dos sinos de Quixeramobim, o sol ia se deitando no horizonte.

    Como sempre, depois de um dia inteiro de trabalho, os homens foram para a venda de seu Manoel tomar uma bebida e jogar conversa fora. Lá para as tantas, seu Vicente entrou na venda; fez-se um grande silêncio...

    – Ora bolas, o que houve, o jegue mordeu a língua de vocês?

    Ninguém ousou responder. Todos tinham muito medo de seu Vicente.

    – Mordeu ou não mordeu? Estou perguntando! – insistiu o recém-chegado.

    Seu Manoel tomou dois goles de coragem e respondeu tentando mostrar naturalidade:

    – Que isso, compadre?! Que jegue que nada... Pra falar a verdade, nós tomamos foi um baita susto.

    – Susto por que, homem? Sou tão feio assim?

    – Bonitinho não é... Brincadeirinha! Tomamos um susto porque não faz nem dois minutos que saiu daqui seu Araújo.

    – Que bobagem! – resmungou seu Vicente. E continuou:

    – E daí que um Araújo estava aqui?

    – Ora... sabe como é... o senhor sendo Vicente Mendes Maciel, encontrar com um Araújo...

    – Deixa de bestagem, homem. Nossa guerra já acabou faz alguns anos.

    – Sabe-se lá... – disse seu Manoel, que, tentando fazer a conversa ficar mais suave, perguntou: – E as novidades?

    – Que novidades que nada! As coisas cada vez mais caras... a produção caindo...

    Seu Vicente era mesmo um homem muito ranzinza. Desses que reclamam de tudo. Seu Manoel tentou de novo:

    – E sua esposa, dona Maria Chana, como tem passado? Já deve estar quase chegando o grande dia, reparei que sua barriga está muito grande.

    – Pois já não está mais.

    – Como não?

    – Ela deu à luz um menino hoje cedo! Vai se chamar Antônio.

    – Que maravilha! Parabéns, compadre! Vamos guardar bem esta data, 13 de março de 1830, dia em que nasceu Antônio, o primeiro filho de seu Vicente. E o senhor ainda diz que não tem novidades! Ora, vamos comemorar...

    – E lá isso é novidade? Toda hora não nasce alguém? Além do mais, só as coisas boas devem ser comemoradas. Por enquanto este menino só nasceu, ainda não fez nada que preste pra comemorarmos.

    Todos se calaram impressionados com a frieza de seu Vicente. Ele tomou o último gole, se virou e foi embora resmungando.

    – Não vai ser fácil a vida deste menino! – disse lá com seus botões seu Manoel.

    DOIS

    Os dias iam chegando um atrás do outro. No mesmo ritmo, Antônio crescia. Ah... como era inteligente e educado o menino! Mas o que quase ninguém via é que lá no fundo de seus olhos uma tristeza se escondia. E não era pra menos: amargura de pai, tormento de filho.

    Uma vez, passando pela praça ouviu seu pai, que estava bebendo na venda de seu Manoel, gritar.

    – Moleque, venha cá!

    – Sim, meu pai...

    E, antes mesmo que acabasse sua frase, recebeu um tapa daqueles. Machucado mais por dentro que por fora, perguntou baixinho:

    – Mas o que fiz, meu pai?

    – Ora, não sabia que estava te chamando? Por que demorou então?

    – Sim, meu pai, logo que soube vim correndo.

    – Pois então aprenda a correr mais rápido.

    – Eu estava do outro lado da praça. Conversando com o vigário Domingos.

    – Muito me agrada que você proseie com o padre, mas aprenda que eu sou seu pai e você deve me obedecer!

    – Sim, meu pai.

    – Agora pode ir brincar.

    – Mas o senhor não queria

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