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O Álbum de Lilly
O Álbum de Lilly
O Álbum de Lilly
E-book381 páginas4 horas

O Álbum de Lilly

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Sobre este e-book

Meu novo livro, O Álbum de Lilly, um romance longo. É uma história poderosa de amor, guerra e memória. Esse romance incomum escrito por mim, o filho de um sobrevivente do Holocausto, é baseado nas difucldades e nos desafios de minha família que ocorreram entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial. É uma fábula apaixonante de esperança jovem e de sonhos à beira do desespero e da morte. A história é sobre amor, sobre a futilidade da guerra e sobre o extermínio de pessoas inocentes por terem crenças diferentes.

Baseada em uma história real, demorei três anos para pesquisar e incontáveis viagens para a Polônia. Não é um livro fácil de ler e é apropriado para adultos.

IdiomaPortuguês
EditoraBadPress
Data de lançamento8 de nov. de 2018
ISBN9781547546749
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    Great book, breaking heart. Love story at war time. Must read.

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O Álbum de Lilly - Uri J. Nachimson

O Álbum de Lilly

Uri Jerzy Nachimson

––––––––

Traduzido por Amanda de Faria 

O Álbum de Lilly

Escrito por Uri Jerzy. Nachimson

Copyright © 2018 Uri Jerzy Nachimson

Todos os direitos reservados

Distribuído por Babelcube, Inc.

www.babelcube.com

Traduzido por Amanda de Faria

Design da capa© 2018 Uri Jerzy Nachimson

Babelcube Books e Babelcube são marcas comerciais da Babelcube Inc.

O Álbum de Lilly

Romance baseado em uma história real

Por Uri Jerzy Nachimson

Copyright © 2016 by Uri Jerzy Nachimson

All rights reserved.OW Ref #91230 dated 2016-02-04 09:01:07

Língua original: Hebraico

Título em Inglês: Lilly's Album

Nenhuma parte desse livro pode ser reproduzida, guardada em um sistema ou transmitida de qualquer forma por qualquer modo, seja eletrônico, mecânico, gravando ou de outra forma qualquer sem permissão expressa e escrita da publicadora. Para mais informação, contate jerzynachimson@gmail.com.

Esse livro é baseado em uma história real, mas alguns dos personagens no livro são resultado da imaginação do autor, incluindo partes da trama. Qualquer semelhança entre personagens e pessoas da vida real é puramente incidental e não implica qualquer conexão entre elas.

ÍNDICE

Treblinka

Personagens Principais no Livro:

Prólogo

Nascimento da Lilly

Ventos bolcheviques soprando do Leste

A sorte sorri para Cesia

A vida em Wloszczowa

Um Convidado Nada Bem-Vindo

O Julgamento

Os Resultados

A Objeção de Lilly

A Visita a Varsóvia

Um Ouvido Empático

O Natal, O Chanukah e um Aniversário

Aprendizado Superior

Obrigação Nobre

O Concerto

Amor Imaturo

Problemas dos Ricos

Alma Atormentada

Jornada no Expresso Oriente

Turquia

Desapontamento Amargo

O Presente

O Acordo

Mudando de Rumo

Um Amigo Verdadeiro?

O Casamento Incerto

Irena

No Rio Pilica

De Olho em Adek

Izio Intervém

Um Sonho Realizado

A Situação Deteriora

1936

Está Pronto?

Lilly aos vinte e um

O Refugiado de Berlim

Amor e Ódio

Guerra no Horizonte

A Faísca Judaica

Decisões Cruciais

Os últimos dias inebriantes em Varsóvia

Sons da Guerra

Sob Ocupação Nazista

Vida na sombra da morte

Como um alvo para humilhação

As condições em Wloszczowa

A situação com Izio

A Alemanha ataca a Rússia

A situação com Moses

Boa Sorte a Izio e Stanislaw

O Fim Está Próximo?

Moses

A Solução Final

Epílogo

FIM

Treblinka

––––––––

Não há voz tão triste como o vento em Treblinka

Olhos que temos, mas não veem, orelhas que temos, mas não [ouvimos

Somente o coração sabe e ele treme em silêncio.

Só o vento era bondoso, cobrindo suas cinzas

Nas valas da terra, gentilmente acobertando.

Quando o mundo virou as costas, só o vento deu tributo!

Na piedade somos poupados dos eternos lamentos.

Na morte, também, esses endurecidos, mas não esquecidos;

Esperará aqui, batendo suas asas em pesar!

(Dedicado a Lilly por Edwin Vogt, 2000)

Para adequadamente velar por minha família, eu primeiro tive que conhecê-la, então os levantei de seus túmulos desconhecidos, os trouxe à vida, e então os deixei morrer com dignidade.

(Uri Jerzy Nachimson)

Personagens Principais no Livro:

––––––––

Wolf e Ida Nachimzon: pais de David, Lilly e Izio.

David, Lilly, Izio: crianças.

Eugenia, Roza, Cesia, Emma, Berta nee Friedberg Muniek: irmão e irmãs de Ida.

Stanislaw Szajkowski: marido de Eugenia.

Paulina Nachimzon, (nee Wolfson):mãe de Wolf, irmã de Juliusz Wolfson.

Izabela Grinevskaya: tia de Ida (pseudônimo de Berta Friedberg) Wolowelski: marido de Cesia (pai de Adam e Jerzy).

Adam Wolowelski: filho de Moses e melhor amigo de David.

Jan Sosnowski: Conde da Vila de Maluszyn.

Zosia Szawlonska: vizinha polonesa (mãe de Ewa).

Fela Goslawska: Amiga de Lilly em Varsóvia.

Irena Oleinikowa: Namorada polonesa de David de Wloszczowa.

Klara Feinski: A namorada judia de David de Varsóvia.

Edek (Edward)Zaidenbaum: Namorado judeu de Lilly.

Lolek Bitoft: Namorado polonês de Lilly e filho do farmacêutico em Wloszczowa.

Prólogo

Em um dia frio e de neve do inverno, em 1943, o último transporte do gueto em Wloszczowa, uma pequena cidade ao sul da Polônia, está se aprontando para sair. Está transportando os últimos judeus remanescentes ao campo de extermínio em Treblinka. Lá, na plataforma de concreto cercada com arame farpado, soldados alemães ficavam de guarda, alguns segurando bravos cães de ataque, expondo seus dentes intimidadores. Com as pontas dos rifles, eles empurraram as pessoas apavoradas que tinham acabado de desembarcar do trem no qual estiveram apertadas por dois dias em vagões trancados sem comida ou água. Elas são levadas a uma estrutura larga de concreto e ordenadas a se desnudarem e se aprontarem ao chuveiro. Completamente nuas, ouvem que deviam correr ao salão de limpeza; quando este se enche, as portas são fechadas. Entre dúzias de judeus que foram enfiados na câmara fechada, encontrei Lilly, a minha tia jovem e bonita, parada ali nua, tentando esconder sua nudez com as mãos, tremendo de frio e medo. Escuridão quase completa reina lá dentro com pessoas se empurrando, rezando, chorando e gritando em desespero.

Passados alguns minutos, um pequeno acesso abre do teto e um único raio de luz penetra. Todos olham para cima e assistem como um pequeno cilindro é jogado ao quarto. De repente, um cheiro pungente sobe do chão e envolve a sala. As pessoas agarram suas gargantas, se engasgando, tossindo e vomitando. Elas começam a subir uma sobre a outra, tentando chegar a níveis mais altos onde ainda há um pouco de ar.

Após alguns momentos, não há mais movimento; não há mais choro ou sofrimento. O silêncio mortal toma conta.

O som de crepitar é ouvido e as portas abrem. Guardas usando máscaras espiam e veem que ainda há alguns corpos tremendo e pulsando enquanto espuma branca escorre de suas bocas. Os guardas rapidamente se afastam, permitindo que o gás dissipe e evapore antes que outros prisioneiros cheguem para remover os corpos e levá-los ao crematório onde serão queimados. Entre os corpos, está o de minha tia Lilly, que tinha vinte e sete anos.

Eu reconheci sua imagem das muitas fotos que foram encontradas em perfeito estado em seu álbum pessoal que foi escondido por uma família polonesa. Também senti que a conhecia pelas histórias que ouvi de meu pai – seu irmão mais velho.

Desde que vi sua imagem, comecei a sonhar, e o sonho me assombra; essas imagens aterrorizantes recorrentes. Quase sempre, no ponto em que seu corpo é lançado ao forno do crematório e o som metálico da porta de ferro sendo trancada, eu acordo suando com meu coração batendo com força.

Me deito acordado na cama e penso e imagino o que aquelas pobres almas, que foram como ovelhas ao abate, devem ter sentido. Aquelas eram pessoas de verdade, muitas das quais eram da minha grande e diversa família. Esses pensamentos provocam raiva em mim e um desejo forte por vingança. Meu corpo dói e se recusa a acreditar que tudo isso realmente aconteceu.

Mas eu já estive lá muitas vezes, em Majdanek, Treblinka, Auschwitz, Birkenay e Dachau. Eu vi tudo; as barracas, o crematório, a parede de execução, a plataforma e os trilhos de trem. Apesar de setenta anos terem se passado, parece que foi ontem.

Lilly foi assassinada quatro anos antes de meu nascimento e dois anos antes do fim da Segunda Guerra.

Polônia, na pequena cidade de Wloszczowa, 25 de dezembro de 1915

Nascimento da Lilly

Lilly nasceu um minuto depois da meia-noite de 25 de dezembro de 1915, bem quando os sinos da igreja tocavam celebrando o nascimento de Jesus. Ela veio ao mundo como ele, judia.

A família de Lilly vivia na cidade polonesa de Wloszczowa, à sudeste da capital, a cidade Varsóvia. Eles viviam na rua Kilinskiego, no número 13. Uma pequena casa branca de dois andares, onde da cerca da frente da casa, um caminho estreito levava à entrada principal. No fundo, havia um jardim descuidado com cercas de madeira que a separava das casas vizinhas nos dois lados.

Quando o parto de Ida começou e as contrações ficaram mais fortes, Jadwiga, a doula polonesa, foi chamada para ajudar a preparar para o nascimento iminente. Muitos dias antes, o Dr. Herman Mirabel, um parente próximo de Lodz, fora chamado para trazer o bebê ao mundo. Wolf, marido de Ida, insistira que ele estivesse presente no nascimento. Embora Dr. Herman fosse dentista, Wolf respeitava o vasto conhecimento que ele tinha de medicina, já que ele estudara medicina por muitos anos antes de se especializar em ortodontia, e sua presença tinha um efeito calmante em Wolf.

Ida não era mais uma jovem; ela tinha quase trinta anos quando deu à luz ao seu primeiro filho, Davidek, cerca de três anos antes. O pequeno Davidek agora se escondia ao lado da lareira no andar debaixo, enquanto seu tio Stanislaw tentava distraí-lo do que acontecia no andar de cima brincando de esconde-esconde com ele. Dr. Herman também estivera presente no primeiro parto, embora esse tenha ocorrido no hospital em Varsóvia.

Apesar de seu peso, Wolf tinha uma incrível agilidade correndo de cima para baixo pelas estreitas escadas de poucos em poucos minutos. Quando chegava ao andar de cima, ficava perto da porta fechada e ouvia o que estava acontecendo. Ele então corria para baixo para dar as notícias do progresso ao seu cunhado Stanislaw. Quando os sinos da igreja tocaram e o mundo cristão foi informado do nascimento do nascimento do Messias Jesus, a voz de uma recém-nascida chorando podia ser ouvida.

Wolf correu pelas escadas. Quando chegou à porta do quarto, parou por um instante como um educado senhor polonês e bateu na porta e pediu permissão para entrar.

O pequeno Davidek teve que esperar no andar debaixo por mais uma hora antes de ter permissão para ver sua nova irmãzinha. Quando a porta do quarto de Ida finalmente reabriu, Stanislaw e Davidek subiram para ver a bebê Lilly, que estava limpa e envolvida em uma toalha, segurada nos braços da mãe com uma aparente calma espalhada por seu belo rostinho.

Jadwiga se apressou para colocar os lençóis sujos e as toalhas em uma sacola grande. Ida estava deitada coberta por um lençol branco até a cintura, exausta, mas com um sorriso feliz porque sempre quisera uma filha, a quem chamaria de Lilly.

Assim que Ida se sentiu forte o bastante para andar, ela permitiu que visitantes viessem para a casa. Para acomodar todos, Wolf teve que estender a mesa de jantar e a colocou contra a parede da sala de estar. Ele pôs várias garrafas de Wisniak, vodca, e pratos de pedacinhos bem cortados de kielbasa[1]. Em tigelas florais de cerâmica, ele colocou doces de strudel com cheiro delicioso junto a um bolo de levedura que sua vizinha polonesa, Zosia Szawlonska tinha preparado com antecedência.

O primeiro a chegar foi o comandante do batalhão do exército Austro-Húngaro acampado na praça Rynek no centro da cidade. Ele era o comandante da unidade ocupante que entrara na cidade alguns meses antes sem enfrentar qualquer resistência e sem qualquer tiro.

As pessoas da cidade olharam a eles com apatia e indiferença, enquanto os soldados riam enquanto olhavam com curiosidade aos judeus ortodoxos, usando longos casacos pretos e chapéus de pele, usando longas barbas e tranças do lado no rosto que assopravam com o vento do inverno. A língua que falavam soava como alemão, mas eles não podiam entender nada.

Wolf se aproximou do militar, apertou sua mão enquanto se curvava e disse:

—Bem-vindo à minha casa, Herr Comandante Schoenfeld. Que grande honra isso é.

O militar passou com suas botas brilhantes de couro, se aproximou de Wolf e bateu em seu ombro. Respondeu:

—Eu vim conceder minha bênção a você nessa abençoada ocasião. Eu o agradeço por me convidar.

Wolf acompanhou o militar à mesa, o apresentou a Ida e ao bebê e pôs dois goles de vodca.

—À Lilly — o oficial Choenfeld gritpu — Que ela tenha uma vida longa e feliz — com isso, ergueram os copos e atiraram o conteúdo por suas gargantas.

Wolf conhecera Schoenfeld, que era um entusiasta de bridge, desde que ele ocupara a cidade de Wloszczowa e ficado por lá. Quando ele inquiriu entre os residentes da cidade sobre quem jogava bridge, Wolf, um ávido jogador, se apresentou. Todas as quartas à tarde, prontamente às seis horas, Wolf chegava em sua motocicleta na propriedade do Conde Jan Sosnowski. Wolf era o contador do Conde e o conselheiro financeiro. Em seu caminho, ele passava pela igreja e buscava o padre da cidade, Padre Dabrowski, que era um jogador de bridge astuto e afiado e que admirava muito Wolf.

Embora Wolf fosse judeu, ele não sentia muita simpatia pela religião, por qualquer religião. Ele nunca estivera em uma sinagoga, não compreendia ídiche e raramente tinha contato com judeus ortodoxos. Ele não se interessava na política e adotava costumes poloneses. Ele se apresentava como polonês de origem judaica. No entanto, ele nunca negou sua origem e nem tentava escondê-la de qualquer maneira.

Quando o motorista particular do Conde Sosnowski chegou na casa e subiu as escadas sozinho, Wolf sentiu que o Conde não viria à celebração. De fato, o Conde não veio, mas enviou uma caixa enfeitada de madeira pintada que tinha uma pulseira fina de prata com um fecho no formato de um coração. Cabia perfeitamente ao redor do pequeno braço da bebê Lilly.

Wolf animadamente agradeceu o motorista e deu a ele um copo de boa vodca e alguns pedaços de kielbasa. Havia um enorme respeito mútuo entre o Conde e Wolf, um tipo de amizade reprimida, não como a amizade que existia entre ele e o Padre Dabrowski.

Então tia Eugenia, irmã de Ida, chegou com seu marido Stanislaw. A irmã de quinze anos de Ida, Emma, chegou com sua irmã solteira Roza, com quem ela morava. Emma era uma leitora voraz, amava os livros, uma estudante excelente, mas teimosa e rebelde. Quando o movimento jovem de judeus seculares se estabeleceu, ela se juntou sem consultar ninguém da família. Passadas várias semanas, ela se mudou para um grupo jovem mais avançado, conhecido como Hachalutz, que combinava estudos de agricultura com treino de esporte.

Então veio a esposa do Dr. Herman, a tia Bertha, com seus dois filhos, Mietek e Irka, tendo viajado desde Lodz.

O Padre Dabrowski chegou para dar seus bons votos, mas ficou por apenas alguns minutos. Embora quase todos soubessem dele e de sua amizade com Wold, ele não ficou muito para não envergonhar os convidados com sua presença.

Conforme os primeiros convidados começaram a sair, Cesia, irmã de Ida, e seu irmão Muniek chegaram. Ao mesmo tempo, Zosia, sua querida vizinha, que estava em um estágio avançado da gravidez, chegou também. Ela fora muito prestativa na casa, se certificando de que Ida tinha tudo do que precisava.

Todos queriam segurar a pequena Lilly que dormia nos braços da mãe e não notava o que acontecia ao seu redor.

Dr. Herman se ofereceu como garçom. Serviu a todos com chá fervendo do samovar muito impressionante que Wolf ganhou de seu irmão mais velho quando o visitou anos antes em Moscou.

—A água está quente o bastante? — Ida perguntou.

Herman a observou e perguntou sorrindo:

—Não confia em mim, querida?

Ida estava preocupada porque uma epidemia de cólera tomava conta da cidade e tomara muitas vidas.

A tia Eugenia não estava nada feliz com a presença do militar austríaco e mostrou grande insatisfação quando ele se aproximou dela e beijou sua mão. Ele a encarou e falou em alemão, mas ela fingiu que não entendeu o que ele disse.

Eugenia se aproximou de Ida, pegou Lilly de seus braços e disse para a irmã:

—Agora você deve tocar algo para nós.

Ida enrubesceu e tentou se afastar, mas todos os convidados começaram a aplaudir, então ela não teve opção. Ela pegou seu violão de doze cordas, se sentou suavemente em uma cadeira mais alta e começou a tocar. Seus dedos finos começaram a se mover rapidamente e os sons agradáveis do ritmo flamenco que aprendera dos músicos ciganos da rua começaram a surgir. Ela havia trazido o cigano para casa e pago com refeições quentes para que ele treinasse suas melodias de flamenco favoritas.

O militar austríaco, que estava bastante bêbado, tentou sua sorte ao dançar, enquanto os convidados o encorajaram com aplauso rítmico. Wolf ficou atrás dele com as mãos erguidas, pronto para segurá-lo se ele tropeçasse. De repente, Wolf se encontrou deitado no chão, enquanto o soldado ainda dançava e batia as solas das botas no grosso carpete que cobria o chão de madeira.

Ida parou de tocar. Stanislaw e o Dr. Herman levaram Wolf ao quarto e o deitaram, depois tiraram sua gravata-borboleta e seu cinto. Wolf, que sofria de pressão alta, periodicamente precisava de sanguessugas postas na pele para sugarem seu sangue para abaixar a pressão sanguínea.

Da jarra de vidro que estava no canto de sua mesa, eles tiraram as sanguessugas famintas e as colocaram em seu pescoço e braço.

Os convidados chocados começaram a se dispersar e sair. Então, em uma nota ruim, a celebração de nascimento em honra de Lilly terminou abruptamente.

Alguns dias depois, Wolf se recuperou.

Vestido como sempre em seu terno elegante, com uma gravata-borboleta preta, uma bengala em uma mão e uma maleta marrom de couro na outra, ele foi para suas reuniões. Wolf, que graduara em Direito, nunca havia atuado como tal. Morando em Varsóvia, se aplicou e foi contratado ao Ministério das Finanças. Ele se especializou no monitoramento de pagamentos de impostos e foi nomeado supervisor regional do distrito de Radom-Kielce. Como Wloszczowa ficava a meros cinquenta quilômetros de Kielce, e lá era onde Eugenia e Stanislaw Szajkowski, e Roza viviam, ele decidiu ficar em Wloszczowa. Ele alugou uma pequena casa e levou todos os seus pertences de Varsóvia.

Stanislaw, cunhado de Wolf, era empregado pelas autoridades locais como guarda-florestal onde trabalhou por muitos anos. Ele cuidava da catalogação e do controle da diluição das florestas circundantes.

Ele então conseguiu um emprego cuidando de um pequeno moinho que pertencia a uma das pessoas mais ricas da cidade, o rabino Moses Eisenkott, um judeu estritamente observante. Como os fazendeiros locais assediavam seus empregados, o rabino Eisenkott deu a Stanislaw a responsabilidade de lidar com os fazendeiros. Stanislaw era encorpado, bonito, alto, tinha os olhos brilhantes e o capelo espetado como um porco-espinho. Ele estudara em escolas poloneses e falava polonês fluente. No entanto, quando era hora de falar com camponeses poloneses, ele falava na língua deles e misturava suas palavras e ameaças com todas as palavras vulgares que se possa imaginar. Era a única língua que entendiam.

Muitas vezes, até em dias frios, ele tirava a camisa, agarrava um grande machado e cortava uma árvore sozinho, tudo para impressionar e assustar aqueles que quisessem assediar os empregados do rabino Eisenkott.

O assassinato de Franz Ferdinand, herdeiro ao trono austríaco, pelo estudante sérvio, não chocou a imprensa polonesa. O incidente apareceu em um pequeno artigo e não suscitou grande interesse. Ninguém pensou que um incidente local que ocorrera em Saravejo afetaria a Europa inteira e seria catalizadora do começo da Primeira Guerra Mundial.

Quando o exército austro-húngaro invadiu Varsóvia no começo de agosto de 1941 e derrotou os russos, os inimigos de morte dos poloneses, nos olhos de muitos eles se tornaram aliados e heróis. Quando entraram na cidade de Wloszczowa, não houve grande ressentimento contra o exército conquistador. Ao contrário, os judeus, que tinham recentemente sofrido repetidos ataques nas mãos dos fazendeiros locais, tinham esperança de que dali em diante seriam protegidos pelo batalhão ocupante parado na cidade.

Em março de 1917, os rumores circulavam sobre protestos sem precedência pela fronteira russo-polonesa, quando o Czar Nicolau II abdicou e nomeou um governo frágil. O partido Bolchevique, liderado por Vladmir Lenin, se tornou mais e mais vocal, até a noite de 24 de outubro daquele ano, quando os comunistas derrubaram o governo e tomaram o poder.

Na noite de 16 de julho de 1918, toda a família Romanov, inclusive Nicolau II, foi executada em Moscou. A burguesia e a nobreza russa fugiram por causa da raiva das massas. Entre os que escaparam à Polônia com uma grande porção de seu dinheiro, estava o negociante judeu chamado Moses Wolowleski. Ele fugiu para a Polônia e chegou à Varsóvia junto a seu filho de cinco anos, Adam.

Ventos bolcheviques soprando do Leste

Em 2 de novembro de 1917, o Barão Balfour escreveu a seguinte carta oficial ao Barão Rothschild, que se tornou conhecida como a Declaração Balfour.

Ministério das Relações Exteriores

2 de novembro, 1917

Caro Lord Rothschild,

Tenho o grande prazer de endereçar a V. Sa., em nome do governo de Sua Majestade, a seguinte declaração de simpatia quanto às aspirações sionistas, declaração submetida ao gabinete e por ele aprovada:

O governo de Sua Majestade encara favoravelmente o estabelecimento, na Palestina, de um Lar Nacional para o Povo Judeu, e empregará todos os seus esforços no sentido de facilitar a realização desse objetivo, entendendo-se claramente que nada será feito que possa atentar contra os direitos civis e religiosos das coletividades não-judaicas existentes na Palestina, nem contra os direitos e o estatuto político de que gozam os judeus em qualquer outro país.

Desde já, declaro-me extremamente grato a V. Sa. pela gentileza de encaminhar esta declaração ao conhecimento da Federação Sionista.

Arthur James Balfour."

Quando o conteúdo da carta foi publicado na imprensa, os membros judeus da administração municipal de Wloszczowa organizaram uma manifestação solidária de massas. Todos os jardins de infância e crianças de escolas judaicas, incluindo de escolas hasídicas e estudantes de yeshivas das vilas próximas, vieram para a assembleia. A praça da cidade estava cheia de pessoas celebrando. Wolf e seu filho David estavam entre os participantes do comício. Foram feitos discursos e a atmosfera era festiva. Os líderes das organizações Bonds estavam ausentes, mas o resto dos movimentos sionistas, religiosos e seculares, participaram.

Esse foi um dos raros momentos nos quais se podia ver ortodoxos abraçando judeus seculares e os cumprimentando com bênçãos de agradecimento pela oportunidade dada a eles pelo governo de Sua Majestade ao retorno do povo judeu à sua terra. Houve gente que veio mesmo sem entender o significado do anúncio. O sentimento era de que algo grande estava acontecendo e que, talvez, o Messias tivesse chegado para levá-los para a terra de leite e mel. Muitos sabiam que o objetivo era deixar seu amado país que fora sua terra por muitas gerações; o país ao qual eram leais, sua cultura, língua, costumes. Eles teriam que deixar toda a riqueza que tinham acumulado para trás e começar uma nova vida em outro lugar, em um país hostil, com um clima difícil e uma população islâmica que não os queria por lá.

Alguns dias depois da grande euforia, tudo se acalmou. A vida na cidade voltou ao normal e seguiu relativamente quieta. O exército de ocupação havia trazido seus próprios administradores, embora falassem alemão, e todas as instituições governamentais, Côrtes e escritórios municipais reabriram mais uma vez. Muitos nomes de rua mudaram e o nome de Rynek (praça central) foi renomeada como Franz Josef Platz.

No dia do mercado, muitos soldados vinham e compravam mercadorias, até mesmo de vendedores judeus. A competição entre os vendedores poloneses comumente levava a confusões e a praça Rynek se tornava um campo de batalha.

Roza e Emma se davam bem. Roza era a mais velha das seis filhas e um filho de Isaac Friedberg, um negociante cuja empresa falira e que tinha morrido quebrado muito jovem. Ele era um dos filhos do conhecido escritor judeu Abraham Shalom Friedberg, que faleceu em 1902 e foi enterrado em Varsóvia.

Depois de Roza nascer, filha de Isaac e Leah, eles tiveram Ida e Bertha. Quando sua primeira esposa faleceu, Isaac casou novamente e teve as filhas Eugenia e Cesia, o filho Muniek e a filha mais nova, Emma. Como Roza continuou solteira, ela adotou sua irmã mais nova, Emma, e elas viviam juntas em um pequeno apartamento.

Uma vez, quando Emma voltou da escola para meninas onde aprendia a arte da costura e tecelagem, ela trouxe para casa um panfleto que havia escondido sob a blusa.

Roza notou que todos os dias Emma se trancava em seu quarto e mal saía, e começou a suspeitar de algo.

Um dia, Roza surpreendeu Emma e entrou em seu quarto enquanto ela lia o panfleto.

—Posso saber o que você está lendo? — Ela perguntou com curiosidade.

—Que diferença faz? É melhor que você não saiba — Emma respondeu.

—Eu ordeno que você me diga — Roza insistiu.

—É o Manifesto Comunista de Karl Marx e Frederik Engels — Emma replicou.

—Você sabe que está trazendo lixo para casa? Você quer que nós duas sejamos presas? — Roza berrou.

—Você não tem com o que se preocupar. A revolução já está aqui — Emma respondeu em uma voz autoritária de importância.

—Do que você está falando? Eu não quero ouvir essas bobagens suas — Roza retorquiu.

—Eu

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