Entre Dores, amores e Coronas: Crônicas, Poemas e Contos
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Entre Dores, amores e Coronas - Aline Tavares
Entre Dores, Amores e Coronas
- Crônicas, Poemas e Contos -
borboletasAline Tavares
Cidinha Ribeiro
Denise Arantes
Elisabeth Tavares
Marceli Soares
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Entre dores, amores e coronas : crôncias poemas e contos / Aline Tavares … [et al.]. -- 1. ed. -- Divinópolis, MG : Boutique do Livro, 2020.
Outros autores: Cidinha Ribeiro, Denise Arantes, Elisabeth Tavares, Marceli Soares
ISBN 978-65-9913-531-6
1. Contos brasileiros - Coletâneas 2. Crônicas brasileiras - Coletâneas 3. Poesia brasileira - Coletâneas I. Tavares, Aline. II. Ribeiro, Cidinha. III. Arantes, Denise. IV. Tavares, Elisabeth. V. Soares, Marceli.
Capa: Elisabeth Tavares
Produção do livro digital: Lucas Camargo
Índices para catálogo sistemático:
1. Antologia : Literatura brasileira B869.8
Maria Alice Ferreira - Bibliotecária - CRB-8/7964
Só pensei de comprar uma gaita, me sentar na calçada e ficar tocando, tocando… até que a vida melhorasse.
Manoel de Barros
Dedicamos este livro a todos os profissionais da saúde que se entregam de corpo e alma aos cuidados dos portadores da Covid-19;
aos estudiosos da ciência que buscam solução para a pandemia causada pelo coronavírus;
aos homens e mulheres que arriscam suas vidas na prestação de serviços essenciais para que possamos ficar em casa com conforto e segurança.
A todos nossa reverência e nossa admiração.
Sumário
Aline Tavares
Apresentação
Agradecimentos
Contos
A mala vazia
Por uma torneira
Cris e Rê nascimento
O último aniversário
Doidinha
Rosiléia e seus (des)amores
Sem desculpas para morrer
Vida provisória
Cidinha Ribeiro
Apresentação
Agradecimentos
Contos
Fatalidade
Uma lenda
Cumplicidade
Proteção
Pausas
Propostas
Denise Arantes
Apresentação
Agradecimentos
Diários
03/04/2020
04/04/2020
14/04/2020
15/04/2020, parte da manhã
15/04/2020, parte da tarde
18/04/2020
19/04/2020
20/04/2020
Elisabeth Tavares
Apresentação
Agradecimentos
Crônicas
Fugas diárias
O propósito da humildade
O rejeito essencial
Poemas
Dores da alma
A espera do existir
Marceli Soares
Apresentação
Agradecimentos
Poemas
Abraço
Chocolate quente
Vida colorida
Contos
Ponto de vista
Encontro
A via crucis de zé
Prefácio
Não viemos de longe nem do agora. Antes, plantamos sementes férteis. Elas aguardavam sob o solo. Do fundo, vinham zumbidos a nos confiar o segredo. Precisávamos apenas de atenção mais apurada aos seus caprichos.
Mais tarde, o isolamento nos confinou em casa. Os sons chegavam até portas e janelas, mas se tornavam inaudíveis a quem se escondia deles. As sementes estão prestes a eclodir – o vento nos trazia a notícia ao passar pelas frestas. Cobríamos a cabeça temendo outras revelações. Estávamos paralisadas pelo temor.
Apesar do confinamento e da indiferença aos apelos exteriores, restou-nos a efervescência da palavra. Pela falta de interlocutor, no entanto, ela começava a morrer.
Num instante qualquer, nós a percebemos além das barreiras e da distância física. Estivera apenas adormecido o desejo de partilhar sentimentos calados, de dividir medos e incertezas. Restara-nos o propósito de compartilhar a esperança.
Em meio à expectativa de dias melhores, nos unimos para agregar sabores novos aos já experimentados, para varrer o individualismo e arejar o coletivo quando cada um é responsável por todos.
Num instante qualquer, nos unimos para oferecer aos leitores os frutos do que foi semeado e vingou. Trouxemos-lhes o que há de sagrado em nós: a arte da palavra.
Por meio dela, faremos chegar a cada um de vocês nosso carinho e nossa amorosidade.
As autoras.
Aline Tavares
pontinhosE minha avó cantava e cosia. Cantava canções de mar e de arvoredo, em língua antiga.
Cecília Meireles
Aline Tavares de Sousa nasceu em Goianésia (GO) e aos seis meses mudou-se para Minas Gerais.
Descobriu o gosto pela literatura e pelas artes ainda criança, mas foi na adolescência que encantou-se pela magia das palavras lendo Machado de Assis. Em 2016, inspirada por seu sobrinho Pedro, publicou seu primeiro livro A Incrível História do Onicono (infantil). Em 2018 foi a vez de publicar seu livro de contos Retalhos de Infância e Outras Histórias. A ancestralidade de sua avó, cujas roupas eram feitas por minúsculos retalhos, perpassa suas histórias, marcadas por um olhar cheio de ternura sobre a questão da invisibilidade, das diferenças e da desigualdade. Neste momento de pandemia que nos provoca profundas reflexões, Aline vem nos apresentar sua escrita por meio de histórias em que figuram personagens tão diversas e, por vezes, antagônicas. Todas tocadas pelo rastro da covid-19.
Agradecimentos
Às mulheres-amigas-escritoras (escreviventes), todas desdobráveis, e que aceitaram este desafio, minha gratidão infinita;
aos invisibilizados cujos trabalhos são considerados essenciais;
ao meu amado companheiro de vida, José Hilton Santana, pelos ensinamentos políticos e por ser bálsamo nos momentos de ansiedade; pelos nossos quinze anos de casados celebrados no mês de maio em plena quarentena.
Contos
borboletasA MALA VAZIA
A vida não tem sentido. Envelhecer é uma praga, dizia Augusto, mais conhecido como o Velho das Bengalas. Morava no Hotel dos idosos Doce Refúgio há mais de quinze anos. Escolhia sempre uma bengala que combinasse com a cor da calça que estava vestindo, como se sendo da mesma cor, servisse para disfarçar a necessidade do apoio. Tinha cinco bengalas, tantas quantas lhes eram as cores das calças. Daí o apelido.
Não é possível dizer se a rabugice surgiu com a idade ou se sempre fora rabugento. Fato é que estava, constantemente, envolvido em alguma contenda com os colegas, enfermeiros ou cuidadores.
Veio morar naquele abrigo, o melhor da região em termos de instalações e estrutura, por vontade própria. Nenhum familiar o trouxera. Nenhuma visita desde que chegou. No relatório, informou apenas que a mulher falecera, mais nada. Com uma aposentadoria de juiz, pode pagar pelo melhor quarto, com vista para o jardim, o que de pouco lhe valia, já que a sua vista piorava a cada dia e ele relutava no uso dos óculos.
Eta, vidinha ordinária.
Alguma dor, Seu Augusto?
Algum incômodo?
A resposta era um palavrão ou uma praga. Aos poucos, se acostumaram com seu mau humor. O quadro clínico era estável. A pressão oscilava um pouco. Fora isto, tudo normal para um idoso de oitenta anos. Assim, deixavam que ele espraguejasse à vontade. Não lhe davam ouvidos. Com o tempo, os colegas passaram a evitá-lo. Ressentido, não descia mais para o chá da tarde, para os jogos de tabuleiro ou atividades recreativas, só para as refeições que, por sinal, nunca agradavam ao seu paladar refinado. De vez em quando, uma enfermeira passava, media a pressão e como quase sempre estava bem, saía,