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Poliana
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E-book326 páginas5 horas

Poliana

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Sobre este e-book

A infância sofrida, a perda dos pais e a mudança para a casa da tia, com quem nunca tivera contato algum, não foram capazes de tirar o brilho dos olhos e a contagiante alegria da pequena Poliana. Olhando o mundo sob uma ótica imensamente positiva, a garota contagia crianças e adultos com sua inocência e peculiar presença de espírito. Assim, mesmo diante das grandes adversidades, Poliana ensina com suas ações que há sempre algo com o que podemos nos alegrar.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento4 de nov. de 2020
ISBN9786555004847
Poliana

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    Poliana - Eleonor H. Porter

    1

    Senhorita Polly

    A senhorita Polly Harrington entrou na cozinha de maneira apressada naquela manhã de junho. Ela não costumava fazer movimentos apressados; na verdade, tinha orgulho da tranquilidade de seus modos. Mas hoje ela estava se apressando, realmente se apressando.

    Nancy, que lavava pratos na pia, ergueu os olhos com surpresa. Fazia apenas dois meses que Nancy estava trabalhando na cozinha da senhorita Polly, mas ela já sabia que a patroa não costumava se apressar.

    – Nancy!

    – Sim, senhora – respondeu Nancy com alegria, sem parar de secar o jarro que estava segurando.

    – Nancy – a voz da senhorita Polly soou muito severa desta vez –, quando eu estiver falando com você, gostaria que parasse de trabalhar e prestasse atenção ao que eu tenho a dizer.

    Nancy ficou corada. Largou imediatamente o jarro, com o pano ainda em volta dele, o que quase fez com que o jarro caísse, e isso não contribuiu para a compostura dela.

    – Sim, senhora; vou fazer isso, senhora – gaguejou, ajeitando o jarro e se virando de maneira afobada. – Estava apenas dando continuidade ao meu trabalho, pois a senhora me disse que hoje especialmente eu deveria me apressar na lavagem da louça.

    A patroa franziu a sobrancelha.

    – Basta, Nancy. Eu não pedi explicações. Pedi a sua atenção.

    – Sim, senhora. – Nancy abafou um suspiro. Ela estava se perguntando se algum dia seria capaz de agradar aquela mulher. Nancy nunca havia trabalhado fora antes; mas uma mãe doente que enviuvara de repente, ficando com três crianças pequenas além de Nancy, obrigara a garota a trabalhar para ajudá-las, e ela havia ficado muito contente quando encontrou uma vaga na cozinha da mansão no alto da colina. Nancy tinha vindo de Corners, que ficava a cerca de dez quilômetros dali, e conheceu a senhorita Polly Harrington apenas como a senhora do antigo solar dos Harrington, e uma das mais ricas moradoras da cidade. Mas isso fazia dois meses. Ela agora conhecia a senhorita Polly como uma mulher austera e de rosto severo que franzia a sobrancelha se uma faca caísse tilintando no chão, ou se uma porta se batesse, mas que nunca considerava sorrir, mesmo quando as facas e portas estivessem quietas.

    – Quando você terminar o trabalho da manhã, Nancy – dizia agora a senhorita Polly –, você pode arrumar o quartinho no topo das escadas do sótão e armar a cama. Varra o cômodo e limpe-o, é claro, depois que você retirar dali os baús e as caixas.

    – Sim, senhora. E, por favor, onde devo guardar as coisas que eu retirar dali?

    – Na frente do sótão. – A senhorita Polly hesitou, mas depois prosseguiu. – Acho que é melhor contar para você agora, Nancy. Minha sobrinha, a senhorita Poliana Whittier, vem morar comigo. Ela tem 11 anos, e vai dormir naquele quarto.

    – Uma garotinha… vindo para cá, senhorita Harrington? Ah, que bom! – exclamou Nancy, pensando na alegria que eram as suas irmãs menores na sua casa em Corners.

    – Bom? Bem, essa não é exatamente a palavra que eu usaria – replicou com rigor a senhorita Polly. – No entanto, pretendo fazer o melhor que eu puder, é claro. Sou uma boa mulher, assim espero. E sei o meu dever.

    Nancy ficou corada.

    – É claro, senhora; eu só pensei que uma garotinha por aqui talvez pudesse… alegrar as coisas para a senhora – titubeou ela.

    – Obrigada – respondeu a senhora secamente. – No entanto, não posso dizer que vejo qualquer necessidade imediata disso.

    – Mas é claro, a senhora… a senhora quer bem à filha de sua irmã. – Nancy se arriscou a dizer, sentindo que de algum modo ela deveria preparar as boas-vindas para essa pequena e solitária desconhecida.

    A senhorita Polly ergueu o queixo com altivez.

    – Bem, na verdade, Nancy, só porque aconteceu de eu ter uma irmã que foi tonta o bastante para se casar e colocar crianças desnecessárias em um mundo já cheio o bastante de gente, não consigo entender por que eu deveria particularmente querer ter de cuidar delas eu mesma. No entanto, como eu disse antes, espero que eu saiba o meu dever. Certifique-se de limpar as quinas, Nancy – concluiu ela, severa, à medida que saía do cômodo.

    – Sim, senhora – suspirou Nancy, e pegou o jarro ainda um pouco molhado, que agora estava tão frio que teria de ser secado mais uma vez.

    Em seu quarto, a senhorita Polly pegou mais uma vez a carta que havia recebido há dois dias vinda do distante povoado a oeste, e que fora uma surpresa muito desagradável para ela. A carta estava endereçada à senhorita Polly Harrington, Beldingsville, Vermont, e dizia o seguinte:

    Cara senhora,

    Sinto informá-la de que o reverendo John Whittier morreu há duas semanas, deixando uma criança, uma menina de 11 anos de idade. Ele não deixou quase nada além de alguns livros; pois, como a senhora sem dúvida sabe, ele era o pastor da igreja desta pequena missão, e recebia um salário exíguo.

    Creio que ele era o marido de sua finada irmã, mas ele me deu a entender que o relacionamento entre as famílias não era dos melhores. No entanto, ele pensou que, em nome da memória de sua irmã, a senhora poderia querer ficar com a criança e criá-la entre os parentes dela no leste. Por isso escrevo esta carta para a senhora.

    A garotinha estará pronta para partir quando a senhora receber esta carta; e, se puder tomar conta dela, ficaríamos muito gratos se a senhora pudesse escrever dizendo que ela vá de imediato, pois há um homem e sua esposa aqui que em breve irão para o leste, e eles podem levá-la até Boston e botá-la no trem para Beldingsville. É claro que avisaríamos à senhora em que dia e em que trem deve esperar Poliana.

    Espero ouvir em breve notícias favoráveis da senhora.

    Respeitosamente,

    Jeremiah O. White.

    Franzindo a sobrancelha, a senhorita Polly dobrou a carta e colocou-a de volta no envelope. Ela havia escrito uma resposta no dia anterior, dizendo que com certeza ia acolher a criança. Ela esperava saber exatamente qual era seu dever, por mais desagradável que fosse a tarefa.

    Sentada com a carta nas mãos, seus pensamentos se voltaram para a irmã Jennie, a mãe da criança, e para a época em que Jennie, com 20 anos, insistira em se casar com o jovem pastor, apesar da oposição da família. Um homem rico havia se interessado por ela, e a família preferia ele ao pastor, mas Jennie não tinha a mesma opinião. A seu favor, o homem rico tinha mais anos e mais dinheiro, enquanto o pastor tinha apenas uma mente jovem cheia dos ideais e do entusiasmo da juventude, e um coração repleto de amor. Jennie, quem sabe de maneira natural, havia preferido essas qualidades; então, casara-se com o pastor e fora com ele para o sul na condição de esposa de um missionário nacional.

    A separação havia acontecido. A senhorita Polly lembrava bem, apesar de na época ser apenas uma garota de 15 anos, a mais nova. A família havia tido pouco contato com a esposa do missionário. Para garantir algum contato, a própria Jennie escrevera, por algum tempo, e dera à sua última filha o nome de Poliana em homenagem às suas duas irmãs, Polly e Anna; seus outros filhos haviam morrido. Aquela havia sido a última vez em que Jennie escrevera; e alguns anos depois veio a notícia de sua morte, escrita em um bilhete curto e desconsolado pelo próprio pastor, enviada de um pequeno povoado no oeste.

    Enquanto isso, o tempo não havia parado para os residentes da mansão na colina. A senhorita Polly, olhando para a grande extensão do vale abaixo da colina, pensou nas mudanças que esses 25 anos haviam causado em sua vida.

    Ela agora tinha 40 anos, e estava sozinha no mundo. Pai, mãe, irmãs: todos estavam mortos. Já fazia muitos anos que ela era a única dona da casa e dos milhares em dinheiro deixados a ela por seu pai. Houve quem tivesse abertamente sentido pena de sua vida solitária, e aqueles que insistiram para que ela arrumasse um amigo ou companheiro para morar consigo; mas ela rejeitou a sua piedade e os seus conselhos. Ela não era solitária, dizia. Ela gostava de ficar sozinha. Ela preferia a tranquilidade. Mas agora…

    A senhorita Polly se levantou com a sobrancelha franzida e os lábios bem cerrados. Se sentia feliz, é claro, por ser uma mulher bondosa, e pelo fato não só de saber o seu dever como por ter um caráter forte o suficiente para cumpri-lo. Mas… Poliana! Que nome ridículo!

    Capítulo 2

    O velho Tom e Nancy

    No quartinho do sótão, Nancy varreu e esfregou com vigor, prestando atenção especial às quinas. Havia vezes, de fato, em que o vigor que ela imprimia ao trabalho era mais uma válvula de escape para seus sentimentos do que vontade sincera de eliminar a sujeira: Nancy, apesar de sua submissão medrosa à sua patroa, não era nenhuma santa.

    – Eu… só… desejo… poder… limpar… as quinas… da… alma… dela! – balbuciou nervosamente, marcando as palavras com golpes mortais da ponta de sua vassoura. – Tem muita coisa para limpar aqui, com certeza! Que ideia colocar aquela bendita criança bem aqui em cima neste quartinho quente, e que não tem calefação no inverno, com tantos cômodos para escolher neste casarão! Crianças desnecessárias, de fato! Hum! – disparou Nancy, torcendo o pano com tanta força que os dedos doeram com o esforço. – Neste momento, não acho que crianças sejam a coisa mais desnecessária por aqui!

    Durante algum tempo, ela trabalhou em silêncio; depois, terminada a tarefa, ela olhou com genuíno desgosto para o quartinho vazio.

    – Bem, acabou… a minha parte, pelo menos – suspirou ela. – Não tem sujeira aqui... e nenhuma outra coisa também. Coitadinha! Belo lugar para botar uma criança solitária com saudades de casa! – concluiu ela, saindo do quarto e batendo a porta com força. – Oh! – ela deixou escapar, mordendo o lábio. Depois, disse obstinada: – Bem, eu não me importo. Espero que ela tenha escutado a batida!

    No jardim naquela tarde, Nancy tirou alguns minutos para conversar com o velho Tom, que capinava e cavava as trilhas do lugar fazia incontáveis anos.

    – Senhor Tom – começou Nancy, olhando de relance por sob o ombro para se certificar de que ela não estava sendo observada. – O senhor sabia que tem uma garotinha vindo morar aqui com a senhorita Polly?

    – O quê? – indagou o velho enquanto endireitava a coluna encurvada, com dificuldade.

    – Uma garotinha… para morar com a senhorita Polly.

    – Pare de fazer piadas – disse Tom, incrédulo. – Por que não me diz que o sol vai se pôr no leste amanhã?

    – Mas é verdade. Ela mesma me disse. – Nancy garantiu. – É a sobrinha dela; e ela tem 11 anos.

    O homem ficou boquiaberto.

    – Gente! Será que… – balbuciou ele; depois, um brilho suave se estampou em seus olhos pálidos. – Não pode ser... mas deve ser... a filhinha da senhorita Jennie! Nenhuma das outras se casou. Então, Nancy, deve ser a filhinha da senhorita Jennie. Deus seja louvado! Jamais imaginei que meus velhos olhos veriam isso!

    – Quem era a senhorita Jennie?

    – Ela era um anjo vindo direto do céu – sussurrou o homem com fervor. – Mas o patrão e a patroa antigos a conheciam como a sua filha mais velha. Ela tinha 20 anos quando se casou, e foi embora daqui faz muito tempo. Todas as crianças dela morreram, ouvi falar, exceto pela última; e deve ser esta que está vindo morar aqui.

    – Ela tem 11 anos.

    – Sim, deve ter mesmo essa idade – concordou o homem.

    – E ela vai dormir no sótão… que vergonha! – resmungou Nancy olhando mais uma vez por sobre o ombro para a casa atrás dela.

    O velho Tom franziu a sobrancelha. Logo em seguida, um sorriso curioso encurvou seus lábios.

    – Fico imaginando o que a senhorita Polly vai fazer com uma criança em casa – disse ele.

    – Hum! Bem, e eu fico imaginando o que uma criança vai fazer com a senhorita Polly em casa! – retrucou Nancy.

    O velho riu.

    – Acho que você não gosta da senhorita Polly – comentou ele, escancarando os dentes.

    – Como se alguém pudesse gostar dela! – desdenhou Nancy.

    O velho Tom deu um sorriso estranho. Ele se encurvou e voltou a trabalhar.

    – Acho que talvez você não saiba sobre o caso amoroso da senhorita Polly – comentou ele devagar.

    – Caso amoroso… Ela? Não!... e acho que ninguém mais saiba tampouco.

    – Ah, sabem sim – falou o velho balançando a cabeça. – Ele ainda é vivo... e mora nesta cidade.

    – Quem é ele?

    – Isso eu não vou contar. Não é de bom tom que eu conte. – O velho se empertigou. Em seus pálidos olhos azuis, à medida que ele olhava para a casa, estampava-se o orgulho sincero pela família que o criado leal havia servido e amado por muitos anos.

    – Mas não parece possível… ela com um amante – insistiu Nancy.

    O velho Tom balançou a cabeça.

    – Você não conheceu a senhorita Polly como eu – argumentou ele. – Ela era muito bonita... e ainda seria, se ela se permitisse.

    – Bonita? A senhorita Polly?

    – Sim. Se ela soltasse aqueles cabelos presos como antigamente, e usasse aquelas capotas decoradas com ramalhetes de flores, e aqueles vestidos brancos de renda, você veria como ela ficaria bonita! A senhorita Polly não é velha, Nancy.

    – Não é mesmo? Caso ela não seja, finge muito bem! – disse Nancy com desdém.

    – Sim, eu sei. Isso começou naquela época... na época em que ela brigou com o namorado – comentou o velho Tom concordando com a cabeça. – E parece que desde então ela só se alimenta de amargura e espinhos... ela é bem amarga e espinhosa de se lidar.

    – Eu é que sei – afirmou indignada Nancy. – Não há jeito de agradá-la, não há maneira, não importa o quanto se tente! Eu já teria ido embora, não fosse pelo salário e pelos meus parentes em casa, que precisam dele. Mas algum dia… algum dia eu vou explodir; e, quando isso acontecer, vou embora daqui. Vou mesmo.

    O velho Tom concordou com a cabeça.

    – Eu sei. Já senti a mesma coisa. É natural... mas é melhor não sentir isso, minha filha; é melhor não. Acredite em mim, é melhor que não. – E ele tornou a encurvar a velha cabeça na direção do trabalho diante de si.

    – Nancy! – chamou uma voz aguda.

    – S-sim, senhora – gaguejou Nancy, e voltou apressada para a casa.

    Capítulo 3

    A chegada de Poliana

    No tempo esperado, veio o telegrama que anunciava que Poliana chegaria em Beldingsville no dia seguinte, 25 de junho, às quatro horas da tarde. A senhorita Polly leu o telegrama, franziu a sobrancelha e depois subiu as escadas para o quarto do sótão. Ela ainda fazia isso enquanto olhava à sua volta.

    O quarto continha uma cama pequena e bem-arrumada, duas cadeiras de encosto reto, um lavatório, uma cômoda – sem espelho – e uma mesinha. Não havia cortinas nas janelas da mansarda, nem quadros na parede. Durante o dia todo o sol havia batido no telhado, e o quartinho era como um forno. Como não havia telas, as janelas haviam permanecido fechadas. Uma mosca enorme estava zumbindo raivosamente em direção a uma das janelas, voando de cima para baixo, de cima para baixo, tentando sair.

    A senhorita Polly matou a mosca e atirou-a pela janela (abrindo-a apenas alguns centímetros para isso), endireitou uma cadeira, voltou a franzir a sobrancelha e saiu do quarto.

    – Nancy – disse ela alguns minutos mais tarde, na porta da cozinha. – Encontrei uma mosca lá em cima, no quarto da senhorita Poliana. A janela deve ter ficado aberta em algum momento. Já encomendei telas, mas até que elas cheguem, espero que você se certifique de que as janelas permaneçam fechadas. Minha sobrinha chega amanhã às quatro da tarde. Gostaria que você fosse buscá-la na estação. O Timothy vai levar você até lá de charrete. O telegrama diz: "Cabelos claros, vestido de xadrez vichy vermelho, chapéu de palha." É tudo o que sei, mas acho que será o suficiente.

    – Sim, senhora; mas... a senhora…

    A senhorita Polly claramente entendeu o motivo da pausa, porque franziu a sobrancelha e disse, seca:

    – Não, eu não irei. Não é necessário que eu vá, eu acho. É só isso. – Ela se virou e foi embora: as providências da senhorita Polly para garantir o conforto de sua sobrinha Poliana já haviam sido tomadas.

    Na cozinha, Nancy apertou com força o ferro contra o pano de prato que ela passava.

    – "Cabelos claros, vestido de xadrez vichy vermelho, chapéu de palha": de fato, é tudo o que ela sabe! Bem, eu teria vergonha de admitir que eu iria, eu iria… e sendo ela a minha única sobrinha, vindo para cá depois de atravessar o continente!

    Às 15h40 do dia seguinte, Timothy e Nancy foram de charrete para encontrar a convidada. Timothy era filho do velho Tom. Às vezes diziam na cidade que, se o velho Tom era o braço direito da senhorita Polly, Timothy era o esquerdo.

    Timothy era um jovem de temperamento doce, além de ser bonito. Apesar de fazer pouco tempo que Nancy estava trabalhando na casa, ela e Timothy já eram bons amigos. Hoje, no entanto, Nancy estava absorta demais em sua missão para ser a tagarela de sempre, e foi quase em silêncio que ela foi até a estação e desceu da charrete para esperar o trem.

    Ela ficou repetindo em sua mente as palavras "cabelos claros, vestido de xadrez vichy vermelho, chapéu de palha". Uma e outra vez ela ficou imaginando que tipo de criança seria essa Poliana.

    – Espero pelo bem dela que ela seja quieta e sensata, e não deixe cair facas ou bata portas com força – suspirou ela para Timothy, que havia caminhado até onde ela estava.

    – Bem, se ela não for assim, ninguém sabe o que será do resto de nós. – Timothy riu de escárnio. – Imagine a senhorita Polly com uma criança barulhenta! Meu Deus! O trem está apitando!

    – Ai, Timothy, eu… eu acho que foi maldade dela me mandar vir buscar a menina – tagarelou uma Nancy subitamente assustada, enquanto se virava e se apressava em direção a um ponto em que poderia ver melhor os passageiros que saíam do trem naquela pequena estação.

    Nancy não demorou muito a vê-la: a garotinha magra usando o vestido de xadrez vichy vermelho, com duas grossas tranças loiras caindo pelas costas. Sob o chapéu de palha, um rostinho ansioso e sardento se virava para a direita e para a esquerda, aparentando procurar alguém.

    Nancy reconheceu a menina de saída, mas demorou algum tempo para poder

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