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O capital - Livro 3 - Vol. 4, 5 e 6: O processo global de produção capitalista
O capital - Livro 3 - Vol. 4, 5 e 6: O processo global de produção capitalista
O capital - Livro 3 - Vol. 4, 5 e 6: O processo global de produção capitalista
E-book1.577 páginas29 horas

O capital - Livro 3 - Vol. 4, 5 e 6: O processo global de produção capitalista

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Sobre este e-book

O Capital é a obra mais importante de Karl Marx, grande pensador do século XIX. É neste livro que, com plena maturidade intelectual, Marx aprofunda e sistematiza a brilhante análise crítica, já presente no Manifesto Comunista, das formas de sociabilidade que caracterizam o mundo moderno.
O Capital não é simplesmente um livro de economia, tem como objeto a reconstrução das principais determinações da vida social global dos homens.
Enquanto o primeiro livro de O Capital é dedicado ao processo de produção capitalista e o segundo trata do processo de circulação do capital, esta terceira parte, subdividida em três volumes, completa a teoria econômica de Marx ao conjunto do sistema capitalista. Um verdadeiro marco do pensamento socialista marxista.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento26 de abr. de 2016
ISBN9788520012024
O capital - Livro 3 - Vol. 4, 5 e 6: O processo global de produção capitalista
Autor

Karl Marx

Karl Marx (1818-1883) was a German philosopher, historian, political theorist, journalist and revolutionary socialist. Born in Prussia, he received his doctorate in philosophy at the University of Jena in Germany and became an ardent follower of German philosopher Georg Wilhelm Friedrich Hegel. Marx was already producing political and social philosophic works when he met Friedrich Engels in Paris in 1844. The two became lifelong colleagues and soon collaborated on "The Communist Manifesto," which they published in London in 1848. Expelled from Belgium and Germany, Marx moved to London in 1849 where he continued organizing workers and produced (among other works) the foundational political document Das Kapital. A hugely influential and important political philosopher and social theorist, Marx died stateless in 1883 and was buried in Highgate Cemetery in London.

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    Pré-visualização do livro

    O capital - Livro 3 - Vol. 4, 5 e 6 - Karl Marx

    Karl Marx

    O Capital

    Crítica da Economia Política

    Livro Terceiro

    O processo global de produção capitalista

    Volumes IV, V e VI

    3ª edição

    Tradução de Reginaldo Sant’Anna

    Rio de Janeiro

    2016

    COPYRIGHT © da tradução, Civilização Brasileira, 2008

    TÍTULO ORIGINAL ALEMÃO

    Das Kapital: Kritik der politischen Ökonomie

    Dritter Band

    Bush III: Der Gesamtprozess der Kapitalistischen Produktion

    Primeira edição 1894

    CAPA

    Evelyn Grumach

    PROJETO GRÁFICO

    Evelyn Grumach e João de Souza Leite

    PREPARAÇÃO DE ORIGINAIS

    Marcos Antônio Batista de Carvalho

    CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE

    SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

    M355c

    vols.

    4, 5 e 6

    Marx, Karl, 1818-1883

    O capital [recurso eletrônico] : crítica da economia política, livro terceiro: o processo global de produção capitalista, volume IV / Karl Marx ; tradução Reginaldo Sant’Anna. - 1. ed. - Rio de Janeiro : Civilização Brasileira, 2013.

    recurso digital

    Tradução de: Das Kapital : Kritik der politischen Ökonomie

    Formato: ePub

    Requisitos do sistema: Adobe Digital Editions

    Modo de acesso: World Wide Web

    Apêndice

    Inclui índice

    ISBN 978-85-200-1202-4 (recurso eletrônico)

    1. Economia. 2. Capital (Economia). 3. Livros eletrônicos. I. Sant’Anna, Reginaldo. II. Título.

    13-00573

    CDD: 335.4

    CDU: 330.85

    Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, armazenamento ou transmissão de partes deste livro, através de quaisquer meios, sem prévia autorização por escrito..

    Texto revisado segundo o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

    Direitos desta tradução adquiridos pela

    EDITORA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA

    um selo da

    EDITORA RECORD LTDA.

    Rua Argentina 171 – 20921-380 – Rio de Janeiro, RJ, – Tel.: 2585-2000

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    Produzido no Brasil

    2016

    Sumário dos Volumes IV, V e VI

    NOTA DO TRADUTOR

    PREFÁCIO — FRIEDRICH ENGELS

    Livro Terceiro: O processo global da produção capitalista

    VOLUME IV

    PARTE PRIMEIRA

    A TRANSFORMAÇÃO DA MAIS-VALIA EM LUCRO E DA TAXA DE MAIS-VALIA EM TAXA DE LUCRO

    I. Preço de custo e lucro

    II. A taxa de lucro

    III. Relação entre a taxa de lucro e a de mais-valia

    VARIÁVEL

    a) m’ e C constantes, v variável

    b) m’ constante, v variável, C modificado pela variação de v

    c) m’ e v constantes, c e portanto C variáveis

    d) m’ constante; v, c e C em conjunto variam

    2. M’ VARIÁVEL

    constante

    b) m’ e v variáveis, C constante

    c) m’, v e C variáveis

    d) Influência da variação de m’ sobre l’

    3. FATORES QUE DETERMINAM A TAXA DE LUCRO

    IV. A rotação e a taxa de lucro

    V. Economia no emprego de capital constante

    1. GENERALIDADES

    2. PARCIMÔNIA NAS CONDIÇÕES DE TRABALHO, À CUSTA DO TRABALHADOR

    Minas de carvão. Negligenciam-se os investimentos mais necessários

    3. ECONOMIA EM PRODUÇÃO E TRANSMISSÃO DE ENERGIA E EM EDIFÍCIOS

    4. APROVEITAMENTO DOS RESÍDUOS DA PRODUÇÃO

    5. ECONOMIAS POR MEIO DE INVENÇÕES

    VI. Efeitos da variação dos preços

    1. FLUTUAÇÕES NOS PREÇOS DAS MATÉRIAS-PRIMAS: EFEITOS DIRETOS NA TAXA DE LUCRO

    2. CAPITAL: ALTA E BAIXA DO VALOR, LIBERAÇÃO E ABSORÇÃO

    3. ILUSTRAÇÃO GERAL: A CRISE ALGODOEIRA DE 1861 A 1865

    Antecedentes históricos: 1845 a 1860

    1861/1864: Guerra Civil Americana. A fome de algodão. O exemplo mais contundente do processo de produção interrompido por escassear e encarecer a matéria-prima

    Resíduos de algodão. Algodão das Índias Orientais (Surat). Influência nos salários dos trabalhadores. Aperfeiçoamento da maquinaria. Substituição do algodão por amido e minerais. Efeitos da cola de amido sobre os trabalhadores. Fios mais finos. Fraude dos fabricantes

    Experimentos in corpore vili

    Aluguéis

    Emigração

    VII. Observações complementares

    PARTE SEGUNDA

    CONVERSÃO DO LUCRO EM LUCRO MÉDIO

    VIII. Diferentes composições do capital nos diversos ramos e consequentes diferenças na taxa de lucro

    IX. Formação de taxa geral de lucro (taxa média de lucro) e conversão dos valores em preços de produção

    X. Nivelamento, pela concorrência, da taxa geral de lucro. Preços e valores de mercado. Superlucro

    XI. Efeitos das flutuações gerais dos salários sobre os preços de produção

    XII. Observações complementares

    1. CAUSAS DE MODIFICAÇÕES NO PREÇO DE PRODUÇÃO

    2. PREÇO DE PRODUÇÃO DAS MERCADORIAS DE COMPOSIÇÃO MÉDIA

    3. CAUSAS DE COMPENSAÇÃO PARA OS CAPITALISTAS

    PARTE TERCEIRA

    LEI: TENDÊNCIA A CAIR DA TAXA DE LUCRO

    XIII. Natureza da lei

    XIV. Fatores contrários à lei

    1. AUMENTO DO GRAU DE EXPLORAÇÃO DO TRABALHO

    2. REDUÇÃO DOS SALÁRIOS

    3. BAIXA DE PREÇO DOS ELEMENTOS DO CAPITAL CONSTANTE

    4. SUPERPOPULAÇÃO RELATIVA

    5. COMÉRCIO EXTERIOR

    6. AUMENTO DO CAPITAL EM AÇÕES

    XV. As contradições internas da lei

    1. GENERALIDADES

    2. CONFLITAM A EXPANSÃO DA PRODUÇÃO E A CRIAÇÃO DE MAIS-VALIA

    3. EXCESSO DE CAPITAL E DE POPULAÇÃO

    4. OBSERVAÇÕES COMPLEMENTARES

    VOLUME V

    PARTE QUARTA

    CONVERSÃO DO CAPITAL-MERCADORIA E DO CAPITAL-DINHEIRO EM CAPITAL COMERCIAL E CAPITAL FINANCEIRO COMO FORMAS DO CAPITAL MERCANTIL

    XVI. Capital comercial

    XVII. O lucro comercial

    XVIII. A rotação do capital mercantil. Os preços

    XIX. O Capital financeiro

    XX. Observações históricas sobre o capital mercantil

    PARTE QUINTA

    DIVISÃO DO LUCRO EM JURO E LUCRO DE EMPRESÁRIO. O CAPITAL PRODUTOR DE JUROS

    XXI. O capital produtor de juros

    XXII. Repartição do lucro. Taxa de juro. Taxa natural de juro

    XXIII. Juro e lucro do empresário

    XXIV. A relação capitalista reificada na forma do capital produtor de juros

    XXV. Crédito e capital fictício

    XXVI. Acumulação de capital-dinheiro: sua influência na taxa de juro

    XXVII. Papel do crédito na produção capitalista

    XXVIII. Meios de circulação e capital. As ideias de Tooke e Fullarton

    XXIX. Componentes do capital bancário

    XXX. Capital-dinheiro e capital real — I

    XXXI. Capital-dinheiro e capital real — II (continuação)

    1. CONVERSÃO DE DINHEIRO EM CAPITAL DE EMPRÉSTIMO

    2. TRANSFORMAÇÃO DE CAPITAL OU RENDA EM DINHEIRO, E CONVERSÃO DESTE EM CAPITAL DE EMPRÉSTIMO

    XXXII. Capital-dinheiro e capital real — III (conclusão)

    XXXIII. O meio de circulação no sistema de crédito

    XXXIV. O currency principle e a legislação bancária inglesa de 1844

    XXXV. Metais preciosos e taxa de câmbio

    1. O MOVIMENTO DO ENCAIXE METÁLICO

    2. A TAXA DE CÂMBIO

    A taxa de câmbio com a Ásia

    Balança comercial da Inglaterra

    XXXVI. Aspectos pré-capitalistas

    JUROS NA IDADE MÉDIA

    VANTAGENS QUE A IGREJA AUFERIA DA PROIBIÇÃO DE JUROS

    VOLUME VI

    PARTE SEXTA

    CONVERSÃO DO LUCRO SUPLEMENTAR EM RENDA FUNDIÁRIA

    XXXVII. Introdução

    XXXVIII. Renda diferencial. Generalidades

    XXXIX. Primeira forma da renda diferencial (renda diferencial I)

    XL. Segunda forma da renda diferencial (renda diferencial II)

    XLI. Renda diferencial II — Primeiro caso: constante o preço de produção

    XLII. Renda diferencial II — Segundo caso: decrescente o preço de produção

    1. CONSTANTE A PRODUTIVIDADE DO INVESTIMENTO ADICIONAL

    2. DECRESCENTE A TAXA DE PRODUTIVIDADE DOS CAPITAIS ADICIONAIS

    3. CRESCENTE A TAXA DE PRODUTIVIDADE DOS CAPITAIS ADICIONAIS

    XLIII. Renda diferencial II — Terceiro caso: crescente o preço de produção. Resultados

    XLIV. Renda diferencial também no pior solo cultivado

    1. PRODUTIVIDADE CRESCENTE DAS APLICAÇÕES SUCESSIVAS DE CAPITAL

    2. DECRESCENTE A PRODUTIVIDADE DOS CAPITAIS ADICIONAIS

    Renda diferencial e renda consideradas mero juro do capital incorporado à terra

    XLV. A renda fundiária absoluta

    XLVI. Renda dos terrenos para construção. Renda das minas. Preço do solo

    XLVII. Gênese da renda fundiária capitalista

    1. OBSERVAÇÕES PRELIMINARES

    2. A RENDA EM TRABALHO

    3. A RENDA EM PRODUTOS

    4. A RENDA EM DINHEIRO

    5. A PARCERIA E A PEQUENA PROPRIEDADE CAMPONESA

    PARTE SÉTIMA

    AS RENDAS E SUAS FONTES

    XLVIII. A fórmula trinitária

    I

    II

    III

    XLIX. Elementos para a análise do processo de produção

    L. As ilusões oriundas da concorrência

    LI. Relações de distribuição e relações de produção

    LII. As classes

    FRIEDRICH ENGELS

    ADITAMENTO AO LIVRO TERCEIRO DE O CAPITAL

    1. LEI DO VALOR E TAXA DE LUCRO

    2. A BOLSA

    ADENDOS

    TABELA DE PESOS, MEDIDAS E MOEDAS INGLESES

    ÍNDICE ONOMÁSTICO

    ÍNDICE ANALÍTICO

    NOTA DO TRADUTOR

    O Livro Terceiro de O Capital compõe-se dos volumes IV, V e VI.

    No legado científico de Marx figuram os manuscritos que contêm sua redação preliminar e única do Livro Quarto, destinado a completar O Capital. Neles, Marx trata da história das teorias econômicas, destacando a questão do valor excedente, e investiga, de maneira exaustiva, diversos problemas fundamentais da economia.

    Estou agora concluindo a tradução integral desses manuscritos.

    REGINALDO SANT’ANNA

    PREFÁCIO

    Da principal obra de Marx consigo, por fim, publicar o Livro Terceiro, em que se conclui a parte teórica. Ao editar o Livro Segundo, em 1885, acreditava que no Livro Terceiro, excetuadas certas partes essenciais, só encontraria dificuldades de natureza técnica. E assim foi na realidade; mas, naquela ocasião, não tinha a menor ideia dos óbices que me criariam justamente essas partes mais importantes, nem de outros obstáculos que fariam retardar a conclusão do livro.

    O primeiro e principal empeço foi a persistente fraqueza da vista que, por anos a fio, reduziu muito o tempo que podia empregar em trabalhos de redação, e ainda hoje só excepcionalmente me permite escrever com luz artificial. Surgiram, de acréscimo, outras tarefas às quais não podia esquivar-me: reedições e traduções de trabalhos anteriores, de Marx e meus, implicando revisões, prefácios e complementos, que muitas vezes requeriam novos estudos etc. Antes de tudo, a edição inglesa do Livro Primeiro me tomou muito tempo, pois me cabia, em última instância, a responsabilidade por seu texto. Quem de algum modo acompanha o crescimento enorme da literatura socialista internacional, em particular atentando para o número das traduções de trabalhos anteriores, de Marx e meus, achará justo que me felicite por ser muito limitado o número de línguas em que tenho podido ser útil aos tradutores e em que não me é permitido recusar-me a rever seus trabalhos. Mas a expansão da literatura era apenas sintoma do crescimento correspondente do próprio movimento internacional dos trabalhadores. E este me impunha novas obrigações.

    Desde os primeiros dias de nossa atividade pública recaía em Marx e em mim boa parte do trabalho de estabelecer relações entre os movimentos nacionais dos socialistas e dos trabalhadores nos diversos países; esse trabalho aumentava na medida em que se robusteciam esses movimentos em sua totalidade. Marx assumiu, até a morte, o peso principal da tarefa; mas esta, depois mais acrescida, recaiu unicamente sobre mim. Felizmente, a relação direta entre os partidos nacionais dos trabalhadores vai-se tornando a regra, que se impõe cada dia mais; apesar disso, minha ajuda é requerida com frequência muito maior que a adequada ao meu interesse pelos trabalhos teóricos. Para quem milita como eu há mais de cinquenta anos neste movimento, os trabalhos que ele propõe constituem dever indeclinável, a cumprir sem dilação. Na agitada época atual, como no século XVI, só do lado da reação se encontram teóricos puros na esfera dos interesses públicos, e justamente por isso esses senhores não são mesmo teóricos verdadeiros, mas simples apologistas dessa reação.

    A circunstância de morar eu em Londres faz que os contatos com os partidos, no inverno, se efetuem por correspondência e, no verão, sejam sobretudo pessoais. Isto e a necessidade de acompanhar a marcha do movimento em número sempre crescente de países e em órgãos de imprensa que aumentavam em ritmo ainda mais rápido geraram para mim a impossibilidade de levar a cabo trabalhos que não admitem interrupção, fora do inverno, especialmente fora dos três primeiros meses do ano. Quando se passa dos 70 anos, as fibras de associação cerebrais de Meynert trabalham com certa circunspecção fatal; as interrupções em trabalho teórico difícil não se superam mais fácil e rapidamente como dantes. Por isso, o trabalho que não era concluído num inverno tinha em grande parte de ser feito de novo no seguinte, o que se deu principalmente com a Parte Quinta, a mais difícil.

    No que segue, verificará o leitor que o trabalho de redação diferiu essencialmente do requerido pelo Livro Segundo. Para o Terceiro, havia apenas uma primeira redação, e ainda extremamente incompleta. Em regra, cada parte era, de início, elaborada de maneira bastante cuidadosa e, na maioria dos casos, em estilo fluente. Mas, quanto mais avançada no texto, mais a redação se tornava esquemática e inacabada, mais continha digressões sobre pontos secundários surgidos no curso da pesquisa, a serem classificadas definitivamente em ordenação posterior, tanto mais longos e complicados eram os períodos em que se expressavam os pensamentos registrados em estado nascente. Em várias passagens, a caligrafia e o estilo revelavam com a maior clareza o aparecimento e o progresso paulatino de uma daquelas recidivas oriundas de estafa, que tornavam cada vez mais difícil o trabalho de elaboração criadora, e, por fim, impossibilitando-o de todo durante algum tempo. E não é de surpreender. Entre 1863 e 1867, Marx não só rascunhara os dois últimos livros de O Capital e preparara para a impressão o Livro Primeiro, mas também efetuara trabalho ciclópico relacionado com a fundação e expansão da Associação Internacional dos Trabalhadores. Mas, por outro lado, já em 1864 e 1865 apareceram sérios sintomas daquelas perturbações de saúde que o impossibilitaram de dar a última demão nos Livros Segundo e Terceiro.

    Comecei meu trabalho ditando o manuscrito todo, que mesmo para mim era muitas vezes difícil de decifrar, a fim de obter cópia legível, o que já me tomou bastante tempo. Só em seguida podia iniciar a redação propriamente dita. Limitei-a ao estritamente necessário, mantendo, o mais possível, o caráter do rascunho, sempre que não prejudicasse a clareza, e não suprimi certas repetições que consideram o assunto sob outro aspecto ou o expressam de outra maneira, como era hábito de Marx. Coloquei por inteiro entre colchetes, assinalando com minhas iniciais, as modificações ou acréscimos que não constituem mero trabalho de redação, ou em que transformei os dados fornecidos por Marx em conclusões próprias elaboradas o mais possível de acordo com seu espírito. Nas notas de pé de página feitas por mim faltam às vezes os colchetes, mas sou responsável pela nota inteira, quando minhas iniciais estejam colocadas embaixo.

    Tratando-se de rascunho, é natural que haja no manuscrito numerosas referências a pontos a desenvolver mais tarde, embora esses propósitos não se efetivassem em todos os casos. Deixei-as ficar, pois patenteiam os projetos de trabalho do autor.

    Pormenorizemos.

    Só com grandes limitações era possível utilizar o manuscrito principal para a feitura da Parte Primeira. Começa logo apresentando os cálculos sobre a relação entre taxa de mais-valia e taxa de lucro (objeto de nosso capítulo III), enquanto a matéria desenvolvida em nosso capítulo I só era tratada mais tarde e ocasionalmente. Dois trabalhos preliminares de reelaboração, de oito páginas em fólio cada um, embora lhes faltasse acabamento quanto à ordenação, serviram-me para organizar o atual capítulo I. Tirei o capítulo II do manuscrito principal. Para o capítulo III, havia toda uma série de elaborações matemáticas inacabadas, e ainda um caderno inteiro, quase completo, da década de 1870, o qual apresentava em equações a relação entre a taxa de mais-valia e a taxa de lucro. Meu amigo Samuel Moore, que traduziu a maior parte do Livro Primeiro para o inglês, assumiu o encargo de refundir para mim o caderno, para o que estava mais bem capacitado como competente matemático formado por Cambridge. Com seu resumo, e recorrendo às vezes ao manuscrito principal, preparei o capítulo III. Do capítulo IV existia apenas o título, mas, sendo o tema — o efeito da rotação sobre a taxa de lucro — de importância decisiva, elaborei-o eu mesmo, e por isso o capítulo todo figura no texto entre colchetes. Evidenciou-se então que era mister introduzir modificação na fórmula da taxa de lucro do capítulo III, para ela ter validade geral. O manuscrito principal é a única fonte do resto da parte, a partir do capítulo V, embora tenha sido necessário grande número de transposições e acréscimos.

    Nas três partes seguintes, com exceção das correções de estilo, pude cingir-me quase inteiramente ao manuscrito original. Certas passagens, relacionadas em regra com os efeitos da rotação, tinham de ser elaboradas de acordo com o capítulo IV que intercalei; foram colocadas entre colchetes e assinaladas com minhas iniciais.

    A maior dificuldade encontrei na Parte Quinta, que trata da matéria mais complexa do livro. E Marx, justamente quando estava trabalhando aí, foi surpreendido por uma das graves recidivas mencionadas. Não se encontra aí um esboço concluído, nem mesmo um esquema, com pontos essenciais para desenvolver, mas um começo de elaboração que várias vezes acaba em massa desordenada de notas, observações e materiais extratados. De início, procurei completar essa parte, preenchendo as lacunas e desenvolvendo os fragmentos apenas esboçados, como de algum modo conseguira fazer com a Parte Primeira, de modo que ela, pelo menos virtualmente, apresentasse tudo o que o autor tencionara oferecer. Fiz pelo menos três tentativas, mas todas elas se malograram, e o tempo que nelas perdi constitui uma das causas principais do atraso. Finalmente, compreendi que estava no caminho errado: teria sido necessário compulsar toda a volumosa literatura especializada nesse domínio para lograr por fim fazer algo que não teria constituído o livro de Marx. Não me restou outra saída senão forçar de certo modo a solução do problema, limitando-me a ordenar do melhor modo possível o que existia e a só efetuar os acréscimos indispensáveis. Assim, na primavera de 1893, concluí, no principal, o trabalho dessa parte.

    Quanto aos diversos capítulos dela, os de números XXI a XXIV estavam em substância elaborados. Para os capítulos XXV e XXVI, era mister selecionar citações e inserir dados que se encontravam alhures. Os capítulos XXVII e XXIX podiam ser quase por inteiro reproduzidos de acordo com o manuscrito, enquanto certos trechos do capítulo XXVIII tinham de ser reordenados. Com o capítulo XXX começaram as grandes dificuldades. Daí em diante era preciso pôr na ordem adequada as citações e a marcha do pensamento a todo momento interrompida por frases intercaladas, digressões etc., e muitas vezes retomada noutras passagens de maneira de todo incidental. Assim, para compor o capítulo XXX foram feitas reorganizações e suprimidas certas passagens que se deslocaram para outros pontos. O capítulo XXXI estava elaborado de maneira mais ordenada. A seguir vem longa seção do manuscrito, intitulada A confusão, constituída de extratos dos relatórios parlamentares de 1848 e 1857, e reunindo, de 23 homens de negócios e economistas, depoimentos relacionados notadamente com dinheiro e capital, evasão de ouro, especulação excessiva etc., às vezes objeto de breves comentários humorísticos do autor. Aparecem aí, nas perguntas e respostas, quase todas as opiniões então correntes sobre a relação entre dinheiro e capital; delas resultava confusão sobre o que seria dinheiro e o que seria capital no mercado monetário. O objetivo de Marx era criticá-la e satirizá-la. Após várias tentativas, convenci-me da impossibilidade de compor esse capítulo; o material, especialmente o comentado por Marx, utilizei-o nos contatos pertinentes.

    O que seguia estava razoavelmente ordenado, e acomodei-o no capítulo XXXII. Logo depois vem nova série de extratos dos relatórios parlamentares sobre todos os assuntos possíveis tratados nessa parte, de mistura com observações mais ou menos extensas do autor. Ao se aproximarem do fim, os extratos e comentários vão se concentrando cada vez mais no movimento dos metais monetários e do câmbio, e têm por remate suplementos vários. Ao contrário, estava perfeitamente elaborado o texto sobre aspectos pré-capitalistas (capítulo XXXVI).

    Todos esses materiais a partir de A confusão, excetuando o que já aproveitara antes, utilizei-os para compor os capítulos XXXIII a XXXV. Naturalmente, precisei fazer então numerosas intercalações, para ligar os assuntos tratados. Essas adições, quando não são de caráter puramente formal, trazem assinalada minha autoria. Assim, consegui por fim encaixar no texto todas as declarações do autor que tinham qualquer relação com a matéria versada, e só eliminei pequena parte dos extratos, a qual repetia o que já fora apresentado alhures ou tocava pontos que o manuscrito não desenvolvia.

    A parte sobre renda fundiária teve elaboração muito mais completa, embora não estivesse ordenada, como evidencia a circunstância de Marx achar necessário, no capítulo XLIII (a última seção da parte sobre renda fundiária no manuscrito), recapitular brevemente o plano da parte inteira. E isto foi muito útil para preparar a edição, pois o manuscrito começa no capítulo XXXVII, continua com os capítulos XLV a XLVII e acaba nos capítulos XXXVIII a XLIV. Os trabalhos maiores apareceram com os quadros relativos à renda diferencial II e quando descobri que no capítulo XLIII não havia estudo algum sobre o terceiro caso dessa espécie de renda, o qual deverá ser tratado aí.

    Para ampliar essa parte sobre renda fundiária, empreendera Marx, na década de 1870, estudos especiais, inteiramente novos. Anos a fio, estudou na língua original e resumiu os dados estatísticos e outras publicações sobre renda fundiária, de conhecimento imprescindível após a reforma de 1861 na Rússia. Essa documentação, lhe proporcionaram amigos russos, da maneira mais completa possível, e Marx tencionava utilizá-la para refundir essa parte. Dada a variedade das formas de propriedade fundiária e de exploração dos trabalhadores agrícolas na Rússia, cabia a esse país desempenhar, na parte relativa à renda fundiária, o mesmo papel que, no Livro Primeiro, a Inglaterra desempenha no tocante ao trabalho assalariado industrial. Infelizmente, não foi possível a Marx executar esse plano.

    Finalmente, da Parte Sétima era completa a redação, embora de caráter preliminar, com períodos intermináveis que tinham de ser fracionados para a impressão. Do último capítulo só havia o começo. O propósito do autor aí era descrever as três grandes classes da sociedade capitalista desenvolvida (correspondentes às três grandes formas de renda: a renda fundiária, o lucro e o salário) — os proprietários de terras, os capitalistas e os trabalhadores assalariados — e a luta de classes inseparável de sua existência, como produto efetivo do período capitalista. Marx costumava esperar as vésperas da impressão para redigir em caráter definitivo resumos conclusivos dessa natureza, quando os acontecimentos históricos mais recentes, com regularidade infalível, lhe forneciam os exemplos mais atuais que serviam de apoio às suas gestações teóricas.

    Aqui, como no Livro Segundo, as citações e referências são consideravelmente mais escassas que no Livro Primeiro. Quando se cita o Livro Primeiro, indicam-se as páginas da segunda edição e da terceira. Quando o manuscrito se reporta a afirmações teóricas de economistas anteriores, em regra indica-se apenas o nome, ficando para a redação final precisar-se a passagem correspondente. Naturalmente, tive de deixar isso como estava. Dos relatórios parlamentares, só quatro foram utilizados, mas com bastante amplitude. São eles:

    1.  Relatórios de Comissões (Reports from Committees) da Câmara dos Comuns, v. VIII, Depressão Comercial (Commercial Distress), v. II, Parte I, 1847-48, Depoimentos. — Título para citação: Commercial Distress, 1847-48.

    2.  Secret Committee of the House of Lords on Commercial Distress 1847, Report printed 1848, Evidence printed 1857. Comissão Secreta da Câmara dos Lordes para investigar a depressão comercial em 1847. Exposição impressa em 1848; depoimentos impressos em 1857 (pois em 1848 eram considerados comprometedores demais). — Citação pelas iniciais: C. D., 1847-1857.

    3.  Relatório sobre as leis bancárias, 1857. — Idem, 1858. Relatórios da Câmara dos Comuns sobre os efeitos das leis bancárias de 1844 e 1845, com os depoimentos. — Citação pelas iniciais: B. A. (às vezes B. C.), 1857 ou 1858.

    Logo que me seja possível, ocupar-me-ei do Livro Quarto, que versa a história da mais-valia.

    No prefácio ao Livro Segundo, tive de ocupar-me com certos cavalheiros que então levantaram grande alarido porque viam em Rodbertus a fonte secreta de Marx e um precursor que o supera. Ofereci-lhes a oportunidade de mostrar do que é capaz a economia rodbertiana; convidei-os a demonstrar como se pode formar e necessariamente se forma igual taxa média de lucro, sem ferir a lei do valor, mas, ao contrário, fundamentando-se nela. Na época, esses cavalheiros, por causas subjetivas ou objetivas — em regra, de qualquer natureza, menos científicas —, proclamavam o bom Rodbertus astro supremo da economia. Sem exceção, silenciaram sobre a questão que lhes propus. Em compensação, outras pessoas achavam que valia a pena cuidar dela.

    Agita-a o professor W. Lexis, ao criticar o Livro Segundo (Conrads Jahrbücher, XI, 5, 1885, p. 452-65), embora não se disponha a dar-lhe nenhuma solução direta. Diz ele:

    A solução dessa contradição (entre a lei do valor de Ricardo-Marx e a igual taxa média de lucro) é impossível se consideramos isoladas as diferentes espécies de mercadorias e se o valor delas deve ser igual ao valor de troca, e este, igual ou proporcional ao preço.

    A solução, segundo Lexis, só é possível se

    "renunciarmos à mensuração do valor pelo trabalho para as espécies isoladas de mercadorias e só considerarmos a produção das mercadorias na totalidade e a distribuição delas pelo conjunto das classes capitalista e trabalhadoras. [...] Do produto global, a classe trabalhadora recebe apenas uma parte [...] a outra que cabe aos capitalistas constitui, no sentido de Marx, o produto excedente e em consequência [...] a mais-valia. Então, os membros da classe capitalista repartem entre si a mais-valia global, não segundo o número de trabalhadores que empregam, mas na proporção da magnitude do capital investido por cada um, sendo a terra incluída como valor-capital. Os valores ideais de Marx determinados pelas unidades de trabalho materializadas nas mercadorias não correspondem aos preços, mas podem ser considerados ponto de partida de transposição que leva aos preços reais. Determina a estes o princípio de capitais iguais exigirem lucros iguais. Decorre daí receberem por suas mercadorias uns capitalistas preços superiores, e outros, preços inferiores ao valor ideal delas. Mas, como os decréscimos e acréscimos de mais-valia se compensam reciprocamente dentro da classe capitalista, é a mesma a magnitude global da mais-valia, como se todos os preços fossem proporcionais aos valores ideais das mercadorias."

    A questão aí, vê-se, está longe de ser resolvida, mas no conjunto foi proposta com acerto, embora de maneira descuidada e sem profundidade. Na realidade, não se poderia esperar tanto de alguém que, como o autor, se proclama com certo orgulho economista vulgar; suas ideias até nos surpreendem, se as comparamos com as de outros economistas vulgares, que serão examinadas mais tarde. É muito peculiar, sem dúvida, a economia vulgar do autor. Diz que o lucro do capital pode certamente inferir-se segundo a concepção de Marx, mas que nada torna obrigatório esse modo de ver. Ao contrário. A economia vulgar ofereceria explicação pelo menos mais plausível, a saber:

    Os vendedores capitalistas, o produtor de matérias-primas, o fabricante, o atacadista, o retalhista obtêm lucro nos negócios vendendo mais caro do que compram, aumentando, portanto, de certa percentagem o preço de custo da respectiva mercadoria. Só o trabalhador não é capaz de impor acréscimo semelhante de valor, pois sua situação desfavorável ante o capitalista o obriga a vender o trabalho pelo preço que a ele mesmo custa, isto é, pelos meios de subsistência necessários. [...] Assim, esses acréscimos de preço mantêm todos os efeitos para os assalariados compradores e efetuam a transferência de parte do valor do produto total para a classe capitalista.

    Não é mister grande esforço de inteligência para perceber que essa aplicação econômica vulgar do lucro do capital leva praticamente aos mesmos resultados a que chega a teoria da mais-valia de Marx: na concepção de Lexis, os trabalhadores estão exatamente na mesma situação desfavorável; são do mesmo modo os depenados, pois o não trabalhador pode vender acima do preço, mas o trabalhador, não. É possível construir na base dessa teoria um socialismo vulgar pelo menos tão plausível quanto o que se constituiu na Inglaterra, fundamentado na teoria do valor de uso e da utilidade marginal de Jevons-Menger. Chego a pensar mesmo que, se George Bernard Shaw conhecesse essa teoria do lucro, seria capaz de agarrá-la com ambas as mãos, despedir-se de Jevons e de Karl Menger e reerguer sobre essa rocha a Igreja Fabiana do futuro.

    Na realidade, essa teoria perifraseia Marx. De onde vêm os meios para pagar todos os acréscimos de preços? Do produto global dos trabalhadores. E na medida em que a mercadoria trabalho — ou seja, a força de trabalho, como diz Marx — se vende necessariamente abaixo do preço. Se é propriedade comum de todas as mercadorias serem vendidas por mais que o custo de produção, se a única exceção é o trabalho sempre vendido pelo custo de produção, então é ele vendido abaixo do preço que é a regra nesse mundo da economia vulgar. O lucro extra que por isso cabe ao capitalista ou à classe capitalista procede (e esta é, em última instância, a única maneira de efetivar-se) do produto suplementar que o trabalhador tem de produzir, sem ser pago, depois de produzir o equivalente ao preço do trabalho; consiste, portanto, em produto excedente, produto de trabalho não pago, mais-valia. Lexis é de extrema prudência na escolha das expressões. Nunca afirma diretamente que esta é a sua concepção, mas, se é, está claro que não defrontamos um daqueles comuns economistas vulgares: diz Lexis que, aos olhos de Marx, cada um deles na melhor hipótese não passa de um mentecapto irremediável. Teríamos em Lexis um marxista disfarçado de economista vulgar. Se é consciente ou não esse disfarce, é um problema que não nos interessa aqui. Quem quiser aprofundá-lo talvez investigue também como é possível que um homem tão inteligente, como ele é sem dúvida, tenha defendido em certa ocasião um disparate como o bimetalismo.

    O primeiro que tentou realmente responder à questão foi o Dr. Conrad Schmidt, na obra A taxa média de lucro na base da lei do valor de Marx, Stuttgart, Dietz, 1889. Schmidt procura harmonizar os pormenores da formação dos preços de mercado com a lei do valor e com a taxa média de lucro. O capitalista industrial obtém com o produto, primeiro, reposição do capital adiantado; segundo, produto excedente por que nada pagou. Mas, para obter esse produto excedente, tem de adiantar capital para produzir; isto é, tem de empregar determinada quantidade de trabalho materializado, para poder apropriar-se desse produto excedente. Para o capitalista, portanto, esse capital adiantado é a quantidade de trabalho materializado, socialmente necessário, para obter esse produto excedente. Isto se estende aos demais capitalistas industriais. Uma vez que, segundo a lei do valor, os produtos se trocam na proporção do trabalho socialmente necessário para produzi-los e uma vez que, para os capitalistas, o trabalho necessário para produzir o produto excedente é justamente o trabalho pretérito acumulado em seu capital, então os produtos excedentes se trocam na proporção dos capitais exigidos para produzi-los, e não na do trabalho neles efetivamente corporificado. A porção que cabe a cada unidade de capital é, portanto, igual à soma de todas as mais-valias produzidas, dividida pela soma dos capitais para esse fim empregados. Por conseguinte, capitais iguais proporcionam no mesmo tempo lucros iguais, o que sucede porque o preço de custo assim calculado do produto excedente, isto é, o lucro médio, se acrescenta ao preço de custo do produto pago e se vendem por esse preço acrescido ambos os produtos, o pago e o não pago. Forma-se a taxa média de lucro, embora, como crê Schmidt, os preços médios das mercadorias isoladas se determinem pela lei do valor.

    A construção é extremamente engenhosa, autêntico modelo hegeliano, embora errada, qualidade que a identifica com a maioria dos modelos desse gênero. Tanto faz o produto excedente ou o produto pago: se a lei do valor também é válida de imediato para os preços médios, então ambos os produtos têm de ser vendidos na proporção do trabalho socialmente necessário que a produção deles requer e consome. A lei do valor dirige-se, antes de mais nada, contra a opinião, oriunda do modo de pensar capitalista, segundo a qual o trabalho pretérito acumulado, que constitui o capital, em vez de ser determinada soma de valor pronto e acabado, é criador de valor — por ser fator da produção e da formação de lucro —, fonte, portanto, de mais valor que o que possui. Essa lei estabelece que essa propriedade cabe unicamente ao trabalho vivo. Sabe-se que os capitalistas esperam lucros iguais na proporção da magnitude dos respectivos capitais, e consideram o capital adiantado, portanto, uma espécie de preço de custo do lucro. Mas, se Schmidt utiliza essa concepção como instrumento para harmonizar com a lei do valor os preços calculados de acordo com a taxa média de lucro, o que está fazendo é destruir a própria lei do valor, incorporando-lhe como um dos fatores determinantes um conceito que lhe é totalmente antagônico.

    Ou o trabalho acumulado cria valor, como o trabalho vivo, e então a lei do valor não vigora; ou não o cria, e neste caso a argumentação de Schmidt é incompatível com a lei do valor.

    Schmidt desviou-se, quando já estava muito próximo da solução, porque julgava ter de encontrar uma fórmula possivelmente matemática que permitisse demonstrar a harmonia entre o preço médio de cada mercadoria isolada e a lei do valor. Mas, se nas proximidades do objetivo perdeu-se por caminhos errados, o conteúdo restante de seu trabalho demonstra com que inteligência soube tirar conclusões novas dos dois primeiros livros de O Capital. Cabe-lhe a honra de ter encontrado por si mesmo a explicação acertada da tendência, até então indecifrável, de cair a taxa de lucro, e que Marx apresenta na Parte Terceira do Livro Terceiro; e mais, de ter derivado o lucro comercial da mais-valia industrial e de ter feito uma série de observações sobre juro e renda fundiária, que antecipam coisas que Marx desenvolveu nas Partes Quarta e Quinta do Livro Terceiro.

    Em trabalho posterior sobre a questão (Neue Zeit, 1892-93, n. 3 e 4), procura Schmidt outro meio de solucioná-la. Este reduz-se ao fato de ser a concorrência que estabelece a taxa média de lucro, ao fazer o capital migrar de ramos com lucros baixos para ramos com superlucros. Nada há de novo na afirmação de a concorrência ser a grande niveladora dos lucros. Schmidt tenta então provar que esse nivelamento dos lucros se identifica com a redução do preço de venda das mercadorias produzidas em excesso, além da medida do valor que a sociedade pode pagar por elas, de acordo com a lei do valor. A razão por que esse caminho não podia levar ao objetivo infere-se bem das explicações de Marx no próprio Livro Terceiro.

    Após Schmidt, P. Fireman lançou-se ao problema (Conrads Jahrbücher, Série Terceira, III, p. 793). Não me deterei em suas observações sobre outros aspectos da teoria marxista. Baseiam-se neste quiproquó: Marx definiria onde desenvolve, e de modo geral dever-se-ia procurar nele definições rígidas, prontas e acabadas, válidas de uma vez para sempre. É por si mesmo evidente que, se as coisas e suas relações recíprocas são consideradas mutáveis, em vez de fixas, suas reproduções mentais, os conceitos, submetem-se por sua vez a alterações e mudanças, não ficando petrificados em definições rígidas, mas desenvolvendo-se de acordo com o processo histórico ou lógico de sua formação. Vê-se, assim, claramente por que Marx, no início do Livro Primeiro — começa lá pela produção mercantil simples, considerando-a a condição histórica prévia, para, em seguida, lançando-se dessa base, chegar ao capital —, parte justamente da mercadoria simples, e não de uma forma derivada no tocante aos conceitos e ao aspecto histórico, a mercadoria já modificada pelo capitalismo. É o que Fireman absolutamente não pode entender. Preferimos deixar de lado essas e outras coisas secundárias, que ainda poderiam motivar objeções várias, e ir diretamente ao cerne do problema. Enquanto a teoria ensina a Fireman que a mais-valia, dada sua taxa, é proporcional ao número das forças de trabalho empregadas, a experiência ensina-lhe que o lucro, uma vez dada a taxa média, é proporcional à magnitude do capital total empregado. Explica ele a coisa dizendo que o lucro é fenômeno meramente convencional (quer ele dizer, inerente a determinada formação social, existindo e desaparecendo com ela); sua existência se vincula apenas ao capital; este, quando está bastante forte para extorquir lucro, é constrangido pela concorrência a extorquir taxa igual de lucro para todos os capitais. Sem taxa igual de lucro, não é possível haver uma produção capitalista; suposta essa forma de produção, a massa de lucro para cada capitalista isolado dependerá unicamente, dada a taxa de lucro, da magnitude do respectivo capital. Por outro lado, o lucro consiste em mais-valia, em trabalho não pago. Como, então, a mais-valia, cuja magnitude depende da exploração do trabalho, se transforma em lucro, cuja magnitude depende da grandeza do capital exigido para obtê-lo?

    É simples. Em todos os ramos de produção em que é maior a relação entre [...] o capital constante e o variável, as mercadorias se vendem acima do valor, e isto significa também que, naqueles ramos de produção onde é menor a relação entre capital constante e capital variável, isto é, c : v, as mercadorias se vendem abaixo do valor, e que só quando a relação c : v configura determinada grandeza média, as mercadorias se vendem pelo verdadeiro valor. [...] Essa incongruência entre preços diversos e os correspondentes valores elimina o princípio do valor? De modo nenhum. Os preços de umas mercadorias ultrapassam o valor na mesma medida em que outras caem abaixo do valor, e assim a soma total dos preços permanece igual à soma total dos valores [...] e em última instância desaparece a incongruência. Esta é uma perturbação; mas, nas ciências exatas, nunca se costuma considerar uma perturbação calculável como refutação de uma lei.

    Comparando-se o que diz Fireman com as passagens correspondentes do capítulo IX, ver-se-á que ele realmente tocou no ponto decisivo. A acolhida fria injustamente dada a tão importante artigo de Fireman revela que ele, após essa descoberta, ainda precisaria de muitos elos intermediários, a fim de poder elaborar a solução plena, palpável do problema. Por muitos que fossem os interessados no problema, todos eles receavam escaldar-se. E isto se explica pela forma inacabada do achado de Fireman e pelas carências que ele revela na compreensão da teoria marxista e na própria crítica geral dela, baseando-se nessa compreensão.

    O professor Julius Wolf, de Zurich, nunca falta quando há a oportunidade de expor-se ao ridículo numa questão difícil. O problema todo, diz ele (Conrads Jahrbücher, Série Terceira, II, p. 352ss.), resolve-se pela mais-valia relativa. A produção da mais-valia relativa baseia-se em acréscimo do capital constante em relação ao variável.

    Acréscimo de capital constante implica acréscimo de produtividade dos trabalhadores. Mas, uma vez que esse acréscimo de produtividade, ao baratear os meios de subsistência, acarreta acréscimo de mais-valia, estabelece-se relação direta entre mais-valia crescente e participação crescente do capital constante na totalidade do capital. Aumento de capital constante indica aumento de produtividade do trabalho. Não variando o capital variável e acrescendo o constante, aumenta por isso, necessariamente, a mais-valia, de acordo com Marx. Esta é a questão que nos foi proposta.

    Marx diz exatamente o contrário em inúmeras passagens do Livro Primeiro; afirmar que, segundo Marx, a mais-valia relativa aumenta, ao diminuir o capital variável em relação ao acréscimo do capital constante, é algo tão assombroso que ultrapassa todos os limites da linguagem parlamentar; Julius Wolf demonstra em cada linha que não entendeu nem relativa nem absolutamente o mínimo de mais-valia, seja absoluta ou relativa; ele mesmo diz: aqui, à primeira vista, tem-se realmente a impressão de estar num poço de incongruências, o que, diga-se de passagem, é a única frase verdadeira em todo o seu artigo. Nada disto vem ao caso. Julius Wolf está tão orgulhoso de sua descoberta genial que não pode deixar de conferir a Marx, por isso, louvores póstumos e de glorificar o inescrutável desvario próprio como nova demonstração da argúcia e perspicácia com que foi projetado seu (de Marx) sistema crítico da economia capitalista!

    Mas Wolf oferece algo melhor:

    Ricardo faz duas afirmações: a emprego de capital igual corresponde mais-valia igual (lucro), e a emprego de trabalho igual, mais-valia igual (segundo a quantidade). Surgiu então a pergunta: como tornar compatíveis as duas asserções? Marx, porém, não admitiu a pergunta nessa forma. Sem dúvida demonstrou (no Livro Terceiro) que a segunda afirmação não deriva incondicionalmente da lei do valor, contradizendo-a mesmo, e portanto [...] deve ser rejeitada de plano.

    Em seguida, examina quem de nós dois, eu ou Marx, se equivocou. Naturalmente, não pensa que ele mesmo se perdeu pelo caminho.

    Seria ofender meus leitores e desconhecer de todo a comicidade da situação gastar uma palavra que fosse com essa rutilante joia. Limito-me a acrescentar: com a mesma audácia com que era capaz de já referir-se ao que Marx demonstrou sem dúvida no Livro Terceiro, aproveita a oportunidade para noticiar suposto comentário entre professores, de que o trabalho citado de Conrad Schmidt seria inspirado diretamente por Engels. Julius Wolf! Pode ser usual, no mundo em que viveis, propor publicamente um problema e dar, às escondidas, a solução aos amigos particulares. Não poria em dúvida vossa capacidade para tanto. Este prefácio vos prova que, no mundo que frequento, não é mister descer a tais baixezas.

    Mal tinha Marx morrido, e Achille Loria, com a maior rapidez, publicou sobre ele um artigo na Nuova antologia (abril de 1883): uma biografia regurgitante de informações falsas, seguida de uma crítica da atividade pública, política e literária. A concepção materialista da história de Marx é aí falsificada e torcida com tal desassombro que deixa entrever um grande objetivo. E esse objetivo realizou-se: em 1886, esse mesmo Loria publicou um livro, La teoria economica della costituzione politica, em que apresenta aos contemporâneos estupefatos, como descoberta sua, a teoria da história de Marx, que desfigurara de maneira tão completa e intencional em 1883. Sem dúvida, a teoria de Marx está aí bastante empobrecida; nas citações e exemplos históricos pululam erros que não se toleram em nível secundário de educação; mas a que vem tudo isso? Segundo se prova aí, não foi Marx quem, no ano de 1845, descobriu que, por toda a parte e sempre, as condições e acontecimentos políticos se explicam pelas correspondentes condições econômicas, e sim Loria, em 1886. Pelo menos teve a sorte de embair os conterrâneos e ainda vários gauleses, pois seu livro saiu depois em francês, e agora na Itália pode jactar-se de autor de uma nova e sensacional teoria da história, até que os socialistas de lá, com o tempo, despojem o ilustre Loria das furtadas penas de pavão.

    Mas tudo isso não passa de uma pequena amostra do que Loria é capaz. Assegura-nos que todas as teorias de Marx repousam sobre um sofisma consciente (un consaputo sofisma); que Marx não recuava diante de paralogismos, mesmo quando os reconhecia como tais (sapendoli tali) etc. Depois de impingir aos leitores, com inúmeras frioleiras ignóbeis do mesmo jaez, o necessário para verem um ambicioso como Loria em Marx, que, como nosso professor paduano, se exibira, para impressionar, com as mesmas ridículas e tolas pantomimas, é que se sente em condições de revelar-lhes importante segredo, o que nos traz de volta à taxa de lucro.

    Diz Loria: segundo Marx, a massa de mais-valia produzida numa empresa industrial (Loria confunde aí mais-valia e lucro) se rege pelo capital variável empregado, pois o capital constante não proporciona lucro. Mas isso contradiz a realidade, pois na prática o lucro se rege não pelo capital variável, e sim pela totalidade do capital. O próprio Marx o percebe (Livro Primeiro, capítulo XI)I e admite que na aparência os fatos contradizem sua teoria. Mas como resolve a contradição? Remete os leitores a um volume a sair e que ainda não apareceu. Acerca desse volume, Loria já dissera antes a seus leitores não acreditar que Marx, nem por um momento, tivesse pensado em escrevê-lo, e agora proclama triunfalmente:

    Não me enganei, portanto, ao afirmar que esse segundo volume com que Marx ameaçava continuamente seus adversários, sem aparecer jamais, bem podia ser um expediente engenhoso imaginado por Marx na falta de argumentos científicos (un ingegnoso spediente ideato dal Marx a sostituzione degli argomenti scientifici).

    E agora, quem não estiver convencido de que Marx se nivela ao ilustre Loria no charlatanismo científico é um caso perdido.

    Ficamos, portanto, sabendo que, segundo Loria, a teoria da mais-valia de Marx é absolutamente incompatível com a realidade de igual taxa geral de lucro. Veio então à luz o Livro Segundo e nele propus publicamente a questão relacionada justamente com esse ponto.II Se Loria fosse inibido como nós alemães, teria ficado um tanto perplexo. Mas é um meridional atrevido, vivendo num clima quente, onde, como ele está em condições de afirmar, a ardidez é de certo modo condição natural. Está proposta perante o público a questão da taxa de lucro. Publicamente, Loria declarou-a insolúvel. E justamente por isso supera-se agora a si mesmo, resolvendo-a publicamente.

    O milagre acontece nos Conrads Jahrbücher, nova série, v. XX, p. 272ss., num artigo sobre o trabalho acima citado, de Conrad Schmidt. Depois de ter aprendido com Schmidt como se forma o lucro comercial, de súbito passa a ver tudo claro.

    Uma vez que a determinação do valor pelo tempo de trabalho proporciona vantagem aos capitalistas que empregam maior parte do capital em salários, pode o capital improdutivo (deveria dizer comercial) extorquir desses capitalistas privilegiados um juro (deveria dizer lucro) e estabelecer assim a igualdade entre os diversos capitalistas industriais. [...] Assim, por exemplo, se os capitalistas industriais A, B e C empregam na produção, cada um, 100 jornadas de trabalho, e respectivamente 0, 100 e 200 de capital constante, encerrando-se 50 jornadas no salário de 100, obterá cada capitalista mais-valia de 50 jornadas, e a taxa de lucro será de 100% para o primeiro, 33,3% para o segundo e 20% para o terceiro. Mas, se um quarto capitalista D acumula um capital improdutivo de 300, que exige juro (lucro) de A no valor de 40 jornadas, e de B no valor de 20, a taxa de lucro, tanto de A quanto de B, ficará reduzida a 20%, igual à de C, e D, com um capital de 300, conseguirá um lucro de 60, isto é, uma taxa de lucro de 20%, como os demais capitalistas.

    Com tão surpreendente habilidade, num estalar de dedos, o ilustre Loria resolve a mesma questão que 10 anos antes declarara insolúvel. Infelizmente não nos revelou a fonte misteriosa onde o capital improdutivo adquire o poder de extrair dos industriais esse lucro extra que ultrapassa a taxa média de lucro, e ainda guardá-lo para si, do mesmo modo que o proprietário da terra embolsa o lucro suplementar do arrendatário, a título de renda. Nessas condições, os comerciantes cobrariam dos industriais um tributo completamente análogo à renda fundiária e assim estabeleceriam a taxa média de lucro. Sem dúvida, o capital comercial é fator essencial na formação da taxa geral de lucro, e quase todo mundo sabe disso. Só um aventureiro que maneja a pena, e no íntimo, não faz o menor caso da economia, pode atrever-se a afirmar que o capital comercial possui o poder mágico de sugar da mais-valia a porção toda que ultrapassa a taxa média de lucro — e antes de esta se ter constituído — e de transformar para si mesmo essa porção em renda como a fundiária, sem para isso precisar de propriedade fundiária. Não é menos surpreendente afirmar Loria que o capital comercial consegue descobrir aqueles industriais que só obtêm mais-valia igual à taxa média de lucro, e torna por dever mitigar um pouco a sorte dessas vítimas infelizes da lei do valor de Marx, para elas vendendo grátis os produtos, sem mesmo receber comissão alguma. Só um refinado saltimbanco poderia imaginar que Marx precisaria recorrer a tão lamentáveis truques!

    Mas nosso ilustre Loria só fulge em todo o esplendor quando o comparamos aos concorrentes nórdicos, como, por exemplo, Julius Wolf, que também tem suas espertezas. Este, entretanto, ao lado do italiano, parece um fraldiqueiro a ladrar, mesmo em seu volumoso livro Socialismo e ordem social capitalista. Como parece bisonho, diria mesmo humilde, diante do nobre arrojo com que o maestro, personificando a evidência mesma, apresenta Marx e — ao modo como julga as pessoas — tacha-o de sofista, paralogista, impostor, charlatão de feira, como se fosse a reprodução consciente do paradigma, o próprio Loria; ou quando afirma que Marx, ao deparar-se com obstáculos intransponíveis, lança aos olhos do público os mágicos fumos de uma prometida conclusão de sua teoria num próximo volume, que, sabe muito bem, não pode nem pretende publicar! Desfaçatez sem limites, enguia a deslizar por situações impossíveis, desprezo heroico aos pontapés recebidos, rapidez no apropriar-se de trabalhos alheios, impertinente propaganda charlatanesca, promoção da glória pelas confrarias: em tudo isso, quem chega aos pés de Loria?

    A Itália é a pátria do classicismo. Desde o grandioso tempo em que nela surgiu a aurora do mundo moderno, gerou protagonistas ciclópicos, de Dante a Garibaldi, de perfeição clássica nunca dantes atingida. Mas também a época da humilhação e do domínio estrangeiro trouxe-lhe caracteres clássicos, dentre os quais dois especialmente burilados: Sganarell e Dulcamara. A unidade clássica de ambos se corporifica em nosso ilustre Loria.

    Por fim, temos de passar para o outro lado do Atlântico. Em Nova York, George C. Stiebeling, médico, também achou uma solução para o problema, e de extrema simplicidade. Tão simples que ninguém de cá nem de lá queria aceitá-la. A recepção irritou-o bastante, e, em série interminável de brochuras e artigos, publicados nos dois lados do Oceano, se queixava amargamente dessa injustiça. Na revista Neue Zeit disseram-lhe que a solução toda se baseava num erro de cálculo, o que, porém, não chegava a perturbá-lo; Marx, embora tenha cometido erros ao fazer cálculos, acerta em muitas coisas. Examinemos a solução de Stiebeling.

    . O [...] problema resolve-se de maneira que, na base da lei do valor, aplicando-se capitais iguais no mesmo espaço de tempo, embora difiram as quantidades empregadas de trabalho vivo, resulta da modificação da taxa de mais-valia igual taxa média de lucro". (G. C. Stiebeling, Das Uertgesetz und die Profitrate, Nova York, John Heinrich).

    Em face de tão bonita e plausível conta, é pena termos de fazer uma pergunta ao Dr. Stiebeling: como sabe que o montante de mais-valia produzido pela fábrica I é absolutamente igual ao montante produzido pela fábrica II? Referindo-se a todos os demais fatores, a c, v, y e x, diz-nos expressamente que representam magnitude igual, considere-se uma ou outra fábrica mas silencia acerca de m. A igualdade entre os dois montantes de mais-valia não se pode inferir da mera circunstância de serem algebricamente batizados com m. E é justamente essa igualdade que é mister demonstrar, pois Stiebeling identifica de imediato o lucro l com a mais-valia. Então só duas hipóteses são possíveis: ou ambos os m são iguais, produzindo cada fábrica a mesma quantidade de mais-valia, e portanto lucro igual para igual capital aplicado, e nesse caso Stiebeling já estabelece de antemão o que lhe cabia demonstrar; ou uma fábrica produz de mais-valia montante maior que o da outra, e nesse caso a conta toda se desmorona.

    Stiebeling não poupou esforços nem despesas para erguer sobre esse erro de conta montanhas inteiras de cálculos e exibi-las ao público. Para a tranquilidade dele, posso assegurar que quase todos os cálculos são igualmente inexatos e, quando excepcionalmente estão certos, provam coisa bem diversa do que ele pretendia. Assim, comparando os dados dos recenseamentos americanos de 1870 e 1880, demonstra realmente a queda da taxa de lucro, mas interpreta-a de maneira totalmente errada e acha que tinha de retificar, de acordo com a prática, a teoria de Marx de uma taxa de lucro sempre invariável, constante. Mas, agora, infere-se da Parte Terceira deste Livro Terceiro que essa taxa de lucro constante de Marx é mera fantasmagoria de Stiebeling e que a tendência a cair da taxa de lucro baseia-se em causas diametralmente opostas às por ele imaginadas. As intenções de Stiebeling são muito boas, mas, se pretendemos nos ocupar de problemas científicos, devemos, antes de mais nada, ler as obras — que queremos utilizar — como o autor as escreveu, e sobretudo não ler nelas coisas que nelas não figuram.

    Resultado da nossa investigação: também no tocante ao problema em debate, só a escola de Marx apresentou contribuições positivas. Fireman e Conrad Schmidt, ao lerem este Terceiro Volume, podem, cada um por seu lado, ficar satisfeitos com os próprios trabalhos.

    FRIEDRICH ENGELS

    LONDRES, 4 DE OUTUBRO DE 1894.

    Notas

    I Corresponde ao capítulo IX da tradução portuguesa, feita de acordo com a quarta edição em alemão, de 1890, revista por Engels.

    II Ver Livro Segundo, p. 19.

    LIVRO TERCEIRO O processo global da produção capitalista

    PARTE PRIMEIRA A transformação da mais-valia em lucro e da taxa de mais-valia em taxa de lucro

    CAPÍTULO I Preço de custo e lucro

    No Livro Primeiro, investigamos os fenômenos do processo de produção capitalista considerado apenas como processo imediato de produção, quando abstraímos de todos os efeitos induzidos por circunstâncias a ele estranhas. Mas o processo imediato de produção não abrange a vida toda do capital. Completa-o o processo de circulação, que constituiu o objeto de estudo do Livro Segundo. Aí — sobretudo na Parte Terceira, em que estudamos o processo de circulação como o agente mediador do processo social de reprodução — evidenciou-se que o processo de produção capitalista, observado na totalidade, é unidade constituída por processo de produção e processo de circulação. O que nos cabe neste Livro Terceiro não é desenvolver considerações gerais sobre essa unidade, mas descobrir e descrever as formas concretas oriundas do processo de movimento do capital, considerando-se esse processo como um todo. Em seu movimento real, os capitais se enfrentam nessas formas concretas; em relação a elas, as figuras do capital no processo imediato de produção e no processo de circulação não passam de fases ou estados particulares. Assim, as configurações do capital desenvolvidas neste livro abeiram-se gradualmente da forma em que aparecem na superfície da sociedade, na interação dos diversos capitais, na concorrência e ainda na consciência normal dos próprios agentes da produção.

    * * *

    O valor de toda mercadoria M da produção capitalista se expressa na fórmula: M = c + v + m. Descontando do valor do produto a mais-valia m, obteremos mero equivalente, isto é, valor que repõe em mercadoria o valor-capital c + v empregado nos elementos da produção.

    Se a fabricação de determinado artigo exigir um desembolso de capital de 500 libras esterlinas, repartidas em 20 para desgaste de meios de trabalho, 380 para matérias de produção,I 100 para força de trabalho, e se a taxa da mais-valia for de 100%, teremos o valor do produto = 400c + 100v + 100m = 600 libras esterlinas.

    Se delas deduzirmos a mais-valia de 100, ficam 500, que apenas substituem o capital desembolsado, de 500 libras esterlinas. Esta parte do valor, a qual ressarce o preço dos meios de produção consumidos e o da força de trabalho aplicada, repõe apenas o que a mercadoria custa ao próprio capitalista, constituindo para ele o preço de custo da mercadoria.

    São duas magnitudes bem diversas o que a mercadoria custa ao capitalista e o que custa produzi-la. Da mercadoria, a parte constituída pela mais-valia nada custa ao capitalista, justamente por custar ao trabalhador trabalho que não é pago. Ao capitalista, o preço de custo parece necessariamente constituir o verdadeiro custo da mercadoria, pois, no sistema capitalista, o trabalhador, após entrar no processo de produção, é um ingrediente do capital produtivo operante pertencente ao capitalista. Se chamarmos de k o preço de custo, a fórmula M = c + v + m transfigura-se em M = k + m, isto é, o valor da mercadoria = preço de custo + mais-valia.

    Por isso, a junção, na categoria de preço de custo, das diferentes partes do valor da mercadoria que apenas repõem o valor-capital despendido na produção dela expressa o caráter específico da produção capitalista. O custo capitalista da mercadoria mede-se pelo dispêndio do capital, e o custo real, pelo dispêndio de trabalho. O custo capitalista da mercadoria é, portanto, quantitativamente diverso do valor ou verdadeiro custo dela; é menor que o valor da mercadoria, pois, se M = k + m, k = M – m. Mas o preço de custo da mercadoria é muito mais que um título existente na contabilidade capitalista. Impõe-se, contínua e praticamente, individualizar essa parte do valor na produção efetiva de mercadorias, pois ela, através do processo de circulação, tem de deixar a forma de mercadoria para reverter à de capital produtivo; o preço de custo da mercadoria deve, portanto, readquirir sempre os elementos de produção consumidos para produzi-la.

    do valor da mercadoria que constituem o preço de custo, nem o sexto restante em que se configura a mais-valia. Mas a investigação revelará que, na economia capitalista, o preço de custo assume o aspecto ilusório de uma categoria da produção do valor.

    Voltando a nosso exemplo. Vamos supor que um trabalhador produz, numa jornada social média de dez horas,jornadas de dez horas.

    Sabemos que (Livro Primeiro, Capítulo VII, p. 249) o valor do novo produto, de 600 libras esterlinas, compõe-se de: (1) valor que reaparece — 400 libras — do capital constantemente despendido em meios de produção e (2) novo valor produzido de 200 libras. O preço de custo = 500 libras compreende os 400c que reaparecem e metade do novo valor produzido de 200 libras (= 100), dois elementos do valor-mercadoria inteiramente diversos, portanto, em sua origem.

    jornadas de dez horas, transferiu-se para o produto o valor dos meios de produção consumidos, no montante de 400 libras. Esse valor reaparece como parte componente do valor do produto, mas não tem sua origem no processo de produção desta mercadoria Só é componente do valor-mercadoria porque era antes componente do capital adiantado. O capital constante é reposto pela parte do valor-mercadoria, por ele mesmo adicionada. Esse elemento do preço de custo tem assim duplo sentido: (1) entra no preço de custo da mercadoria, porque, do valor desta, é um componente que repõe o capital despendido, e (2) constitui um componente do valor da mercadoria, por ser o valor do capital despendido, ou ser de tanto o custo dos meios de produção.

    jornadas gastas na produção da mercadoria constituem um valor novo, de 200 libras. Dele, uma parte repõe o capital variável adiantado de 100 libras, o preço da força de trabalho empregada. Mas esse valor-capital adiantado não entra absolutamente na produção do valor novo. A força de trabalho é valor com referência ao adiantamento de capital, mas, no processo de produção, tem a função de criar valor. O valor da força de trabalho figura no adiantamento do capital, sendo porém substituído, quando o capital produtivo realmente funciona, pela força de trabalho viva, que cria valor.

    A diferença

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