Os Contos de Betânia
De Bryan Canter
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Sobre este e-book
Uma jovem mulher expula pelo seu pai banida pela sua família vaga pelas ruas de Jerusalém...
...vendendo o seu corpo para sobreviver em uma cidade perversa que não tem compaixão pelos espezinhados.
Quando um homem a promete uma vida diferente, ela supera as suas dúvidas e abre seu coração para ele.
Um estranho chamado Jesus salva Maria da morte e ela se torna uma seguidora devota. Ele a ajuda a se libertar da vida de prostituição, e eles viajam para o vilarejo de Betânia, onde ela nasceu, para buscar uma reconciliação com sua familía. Seu irmão Lázaro, alegremente, a aceita de volta, mas sua irmã e tio deixam muito claro que ela não é bem vinda lá.
Diante da rejeição de sua irmã e da soberba julgadora de seu tio, Maria questiona o perdão de Deus e luta para se perdoar. E mesmo assim, enquanto suas vidas se cruzam e colidem, os mesmos que, tão rápido, a condenam, lutam contra os sus demônios internos - inadequação, presunção, e a necessidade de ter o favorecimento de Deus. Estas atitudes irão separar a sua família para sempre, ou, pode um carpinteiro de Nazaré abrir seus olhos incrédulos e mostrar para eles as maravilhas da fé verdadeira?
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Os Contos de Betânia - Bryan Canter
OBSERVAÇÕES DO AUTOR
Os Contos de Betânia reconta a história de quatro pessoas do pequeno vilarejo de Betânia na época de Jesus – Maria, Marta, Lázaro, e Simão. Estas histórias são baseadas nas passagens dos Evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João, na Bíblia.
Você pode estar se perguntando porque eu recontaria estas histórias aqui, se elas já foram contadas na Bíblia. Por um lado, porque o povo Hebreu e Grego nos tempos de Jesus, sem nenhuma novidade para ninguém, tinham muitas maneiras diferentes de contar as histórias do que nós temos hoje. E também, eu queria atualizar as histórias com um vernáculo mais moderno. Porém, mais importante do que isso, eu queria me aprofundar nos pensamentos e sentimentos destes povos já que encontraram Jesus em situações muito intensas e pessoais. Eu queria imaginar o que os motivavam e como eu reagiria nas mesmas circunstâncias. Em resumo, eu gostaria de me colocar na história e imaginar como eu reagiria à Jesus se eu estivesse no lugar deles.
Todo este projeto começou quanto eu tentava imaginar como Maria Madalena teria se sentido ao entrar em uma casa cheia de vizinhos e conhecidos – um lar onde ela não era bem quista ou bem vinda – e, cheia de humildade, untou os pés de Jesus com um frasco de perfume que custou uma pequena fortuna. Que tipo de coragem isso teria demandado? O que teria feito ela ser tão corajosa? E o que as demais pessoas, que estavam presentes, sentiram ou pensaram? Estas questões e exercícios da imaginação fizeram com que esta história criasse vida para mim e me ajudou a me colocar no meio da ação. Elas me permitiram pensar nestas situações mais profundamente e me permitir a pensar em como eu reagiria na época. Mais importante, me permitiram a identificar, melhor, os princípios eternos que estavam em jogo nestas circunstâncias e considerar como eu poderia aplicar estes mesmos princípios nas minhas situações cotidianas atuais.
Outro conhecimento que surgiu de repassar estas histórias para um estilo de narrativa moderna foi o fato de que todas as pessoas, na Bíblia, reagiram e interagiram com Jesus de maneiras muito diferentes e pessoais. Apesar destes quatro personagens da Bíblia, experimentarem muitas destas situações, cada um deles vivenciaram de uma perspectiva diferente. Isto afetou as suas percepções de Jesus e impactou, significativamente, suas relações individuais com ele. Pensando em como Jesus encontrou cada uma destas pessoas e como, pacientemente, ele as guiou em um profundo entendimento de si mesmo, me permitiu enxergar melhor a mão de Jesus guiando minha própria vida. Também me ajudou a ser mais aberto e paciente com a maneira que Jesus está guiando aos outros, de maneiras diferentes, únicas e íntimas. Meu caminho para uma relação mais profunda com Jesus não é o único caminho certo. A maneira que Jesus está mexendo com minha vida é, muito improvavelmente, igual como ele está mexendo com as vidas da minha família e amigos. E portanto, eu posso encorajar meus colegas Cristãos em suas caminhadas sem tentar força-los a andar no meu caminho, entendendo que todas as jornadas, no fim, levam ao mesmo destino – uma relação profunda, de salvação com Jesus e á um lugar no reino eterno de Deus. Em muitos exemplos – como foi o caso com Maria, Marta, Lázaro e Simão – nossos caminhos se cruzaram, de uma maneira, que estamos fazendo parte de uma genuína, amorosa, comunidade de fé.
Uma observação final. Nunca foi minha intenção que esta experiência se tornasse um comentário teológico. Foi um risco que venho com a narrativa. Infelizmente, a Bíblia não nos dá grandes detalhes sobre as vidas de Marta, Lázaro e Simão. Portanto, muito do que escrevi é de natureza especulativa. Mesmo assim, eu fui cuidadoso para manter tão verdadeiro a narrativa da Bíblia e consistente com os costumes culturais da época, quanto possível. Em relação a identidade de Maria, eu tomei uma decisão específica que pode se tornar alvo de preocupação para alguns leitores.
Apesar de que, muitos comentaristas modernos defenderem que Maria Madalena e Maria de Betânia eram duas pessoas distintas, eu optei por trata-las como a mesma pessoa, como uma antiga tradição da igreja do século sexto. Esta perspectiva, ou qualquer outra que possa parecer diferente de um ponto de vista teológico, não deve ser analisado isoladamente.
Nestas histórias, nós percebemos como os personagens da Bíblia, em situações similares, encontram Jesus de maneiras únicas e intimas. O mesmo serve para nós atualmente. Para aqueles curiosos, ao final do livro eu inclui uma seção que contém as primeiras passagens da Bíblia que eu utilizei como base para estas histórias.
Eu espero que você seja tão abençoado por esta leitura quanto eu quando estava a modernizando.
Bryan Canter
PRÓLOGO
Lázaro acompanhou Maria, pela rua, até a casa de Marta, com seu braço em volta de seus ombros a encorajando e ajudando. Jesus os observavam a distância. Ele sabia que isto não seria fácil para ela. A tentativa de reconciliação tinha sido sua ideia, ele sentia a relutância de Maria. Parecia que as feridas familiares sempre eram as mais difíceis de curar.
A reunião com Lázaro tinha sido muito satisfatória. Então, Jesus novamente, sabia que Maria esperava uma recepção calorosa do seu irmão. Mas Marta.... essa era uma questão totalmente diferente.
Pedro e João estavam ao lado de Jesus, enquanto o resto de seus companheiros permaneceram afastados à uma pequena distância. De onde estavam, na colina, sobre Betânia, o drama que decorria entre Maria, Marta e Lázaro era totalmente visível.
Jesus os olhou. Vocês se lembram quando eu vos disse que minhas palavras colocariam pais contra seus filhos e irmãos contra irmãs?. Bem, creio que vamos ver tudo isto acontecer nesta família.
Pedro respondeu, Eu não entendo, Rabino. As coisas que você ensina são para trazer esperança e encorajamento. Por que as pessoas sempre as distorcem e as utilizam para causar problemas?
João complementou, Pensei que estávamos aqui para ajuda-los a resolver suas diferenças e juntar suas famílias novamente. Não foi por isso que viemos?
Bem, essa é a ideia. Infelizmente, quando as pessoas são orgulhosas e que tenham um mundo centralizado em si só, são confrontadas com a ideia de amor coletivo, tendem a provocar mais raiva do que perdão. Mas se nós pudermos começar reconciliando famílias desta maneira, servirá como uma boa fundação para o resto.
O resto do que, Rabino?
João, meu amigo, com este tipo de fundação, podemos reconstruir comunidades inteiras – vilarejos e cidades.
Jesus se virou para olhar para seu mais jovem discípulo nos olho. Com este tipo de fundação , nós podemos mudar o mundo.
Pedro estava observando Maria e Lázaro se aproximarem da casa. Aquela é a irmã de Maria, Marta, no jardim?
Jesus retornou a sua atenção para a cena e acenou coma sua cabeça. Ele observou Marta se levantar e, cumprimentar Maria, com uma postura mais relutante.
Pedro armou sua cabeça para a direita. Está um pouco longe para que eu consiga ver a expressão no rosto dela, mas ela não parece feliz com a reunião inesperada da família.
Jesus acenou com sua cabeça e franziu. Não, eu suspeito que não.
Eles observaram Maria se aproximar para abraçar a sua irmã, mas Marta não deu qualquer resposta. Ela apenas ficou parada, igual a uma estátua Romana.
"Não desistam delas ainda. Vocês dois certamente sabem que as pessoas das cidades pequenas são diferentes comparadas com as pessoas das cidades grandes, como Jerusalém Cesárea.
Isso é verdade,
Pedro disse. Mas o que você quer dizer com isso?
As pessoas em comunidades fazendárias, como Betânia, ou em vilarejos de pesca como onde você cresceu, tendem a experimentar a fé de maneiras diferentes comparadas a grandes cidades. Eles dependem um do outro, e se entregam a providencia divina para sobreviver dia a dia. Tudo incentiva a eles aprenderem a confiar.
Eu concordo. Pelo menos, é verdade em Betsiada
, disse João
Então, porque viver em um pequeno vilarejo garantiria que Maria e Marta venceriam as suas diferenças?
perguntou Pedro.
Não garantiria. Não necessariamente. Mas a vida em uma pequena comunidade acaba provendo uma boa fundação para a fé, e isso me dá algo com que eu possa trabalhar.
Jesus tirou a sua atenção de Maria e Marta por um momento e observou através das ruas empoeiradas de Betânia. Um pastor guiava sua cabra no caminho para um campo aberto perto de um morro. Uma mulher estava no jardim, puxando ervas daninhas dentre os vegetais e ervas. Um velho Rabino sentado embaixo de uma oliveira, ensinando um pequeno grupo de crianças.
Jesus sorriu. Este era um lugar em que ele podia se sentir em casa. Diferente dos grandes frenesis das grandes cidades, a vida aqui se movia a um ritmo menos turbulento. Ele sabia que passaria incontáveis horas nestas cidades debatendo com estudiosos religiosos sobre a minuta na Lei Mosaica, pois a fé deles foi construída, quase em toda a sua totalidade, sobre os seus conhecimentos acadêmicos das escrituras. Mas para um povo simples de vilarejos como Betânia, a fé em Deus ia além de palavras e conceitos abstratos. Estas pessoas experimentaram o milagre da criação Divina como parte do seu dia-a-dia – em pequenas sementes que se transformam em plantações, no nascimento de bezerros e bodes, no relacionamento interdependente dos seus vizinhos e amigos.
Eu posso sentir aqui.
Jesus disse, um espirito de esperança e confiança. Pode estar enterrado, coberto por grandes camadas de culpa, desprezo e orgulho ferido, mas está aqui, sem dúvidas.
Eles observaram Maria e Lázaro retornarem em direção ao morro, em direção a eles. Eles estavam tão longe para ouvir a conversa entre as duas irmãs, mas o desapontamento no rosto de Maria era evidente.
Não parece que deu muito certo,
Pedro comentou. Pobre garota. Eu sinto muito por ela.
"Infelizmente, as mais profundas feridas podem ser feitas em instantes, mas, depois para sanar, demora.
Então você acha que permaneceremos aqui?
João perguntou. Eu creio que poderíamos voltar a Jerusalém sempre que necessário.
Não se preocupe com isso.
Jesus respondeu. Marta pode não estar feliz com a volta de Maria, mas ela é uma distinta anfitriã. Ela nunca nos daria as costas.
Jesus retomou a cena novamente. Ele sabia que havia problemas bem mais profundos aqui, como haveria em qualquer cidade – igual a relação conturbada entre Marta e Maria. Mas vilarejos, como Betânia, possuíam a essência pura da fé que ele poderia utilizar para restaurar o lugar. Ele sabia que o seu trabalho aqui tinha apenas começado, e sussurrou uma breve prece para o Pai. Então sorriu com a resposta. Venho com a promessa de esperança.
Jesus tinha uma relação especial com o povo desta cidade. Eles estavam passando por grandes desafios e penitências, e todos tinham uma visão diferente dele. Porém, através destes desafios, todos conheceriam Jesus de uma maneira única e intima. Cada um teria a sua história pessoal para contar...
Parte 1
O CONTO DA MERETRIZ
Uma história de ressentimentos
––––––––
O CONTO DA MERETRIZ
Um galo cantou de longe, e os olhos de Maria se abriram. A luz entrou pelas frestas da cortina que balançava com a brisa leve, fazendo com que sombras dançassem pelo quarto. Ela ouviu o Shofar fazendo o seu chamado triste e um estranho pensamento lhe ocorreu – os sacerdotes iriam oferecer o sacrifício da manhã no templo.
Por um momento, Maria tinha esquecido aonde estava, até que rolou na cama e se chocou com o homem que estava deitado ao lado dela, dormindo, o seu bafo tinha toques leves do odor do vinho barato da noite passada. De qualquer maneira, porque ela estava aqui? Ela franziu e afastou o seu rosto do cheiro horrível, do homem, e da vida que ele representava para ela. Vagarosamente, ela começou a sair debaixo das cobertas. Afinal, era contra as suas próprias regras ficar em um dos esconderijos dos seus clientes. Os esconderijos dos seus clientes Romanos podiam até ser bem seguros, mas não o de um cliente Judeu. E ainda por cima, já era tarde, e ela estava cansada, e...
De repente, a porta se abriu com força. Maria se estremeceu com a luz forte. Ela foi agarrada e tirada da cama a força. Com frenesi, ela se agarrou a um lençol para se cobrir enquanto muitos homens a expulsavam da casa, para as ruas. Ela olhou para o homem que estava nas sombras dos seus pecados, com seus olhos pedindo ajuda, mas ela recebeu apenas um olhar sarcástico em resposta.
Maria começou a gritar, e um dos homens a bateu no rosto. Cale a boca! Nenhuma palavra
Mas, o que-
Um outro tapa encerrou suas palavras, a transformando em lamuria.
Eu disse, fique quieta!
O que estava acontecendo? Por que eles estavam fazendo isso? O medo tomou conta de sua mente.
Era de conhecimento de todos que havia prostitutas em Jerusalém. Os oficiais, normalmente, faziam vista grossa para isso. Era muito comum, que os homens poderosos da cidade – os governadores e os sacerdotes – não só fingiam que nada acontecia, como também apreciavam os prazeres que ela tinha a oferecer. Com uma rápida olhada, percebeu que estes homens possuíam vestimentas de fariseus e escribas. E mesmo assim, ela conseguia reconhecer vários de seus próprios clientes na multidão a escorraçando pelas ruas.
Sua boca latejava no local onde tinha sido atingida, e ela se estremecia com dor, enquanto, com os seus pés descalços, era arrastada através de paralelepípedos irregulares. Desesperada, ela buscou por alguém que poderia a ajudar, mas as poucas pessoas que estavam na rua, cedo da manhã, corriam rapidamente, fugindo.
Quando eles a empurraram, através de um dos Portões de Huldah, Maria percebeu que estavam a levando em direção ao templo. O pânico tomou conta de sua mente, fazendo com que todo o seu corpo estremecesse de medo. Mesmo que algumas pessoas, normalmente, faziam vista grossa para as prostitutas da cidade, ela sabia muito bem