As artes cênicas na formação educacional da criança surda
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As artes cênicas na formação educacional da criança surda - Airton Rodrigues
A gaivota cresceu e voa com suas próprias asas. Olho do mesmo modo como que poderia escutar. Meus olhos são meus ouvidos. Escrevo do mesmo modo que me exprimo por sinais. Minhas mãos são bilíngues. Ofereço-lhes minha diferença. Meu coração não é surdo a nada neste duplo mundo...
O voo da gaivota Emmanuelle Laborrit
AGRADECIMENTOS
À Diretora do Centro de Educação Para Surdos,
Professora Sabine Antonialli Arena Vergamini, e
Professora Adriana Maria Vieira.
Pela oportunidade e experiência de poder trabalhar com vocês, minha maior gratidão.
"Ao meu filho Gustavo Campi Rodrigues,
por ter me dado a oportunidade de ver,
perceber e conhecer o mundo surdo em
que habita".
SUMÁRIO
Capa
Folha de Rosto
Créditos
AGRADECIMENTOS
APRESENTAÇÃO
CAPÍTULO 1: O MUNDO PELOS SINAIS: A ESPECIFICIDADE DA SURDEZ E AS ARTES CÊNICAS
1.1 O PAPEL DA IMAGINAÇÃO NA APRENDIZAGEM DA CRIANÇA SURDA
1.2 O FAZ DE CONTA DA CRIANÇA SURDA
CAPÍTULO 2: A ESCOLA DE SURDOS
2.1 AS ARTES CÊNICAS NA ESCOLA DE SURDOS
2.2 APRENDER DRAMATIZANDO: A MONTAGEM TEATRAL
CAPÍTULO 3 - O CORPO COMO LINGUAGEM NAS ARTES CÊNICAS
3.1 A ESCOLA: UM CENÁRIO PRONTO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
Landmarks
Capa
Folha de Rosto
Página de Créditos
Sumário
Bibliografia
APRESENTAÇÃO
PENSEMOS NAS RELAÇÕES SOCIAIS QUE SÃO ESTABELECIDAS POR MEIO da linguagem oral, que aprendemos, desde pequenos, a usar de maneira persuasiva, com os recursos da entonação, criando muitas vezes um verdadeiro abismo entre o que sentimos em relação ao que falamos.
Por sua importância e significado, desde a Grécia antiga, Sócrates preocupava-se com a retórica, a arte da eloquência em qualquer tipo de discurso. Os sofistas utilizavam-se do domínio da oratória para convencer e persuadir, o que não era bem visto pelo filósofo, afinal não havia uma preocupação com os meios, apenas os fins eram considerados.
Uma sociedade que, considerada o berço da humanidade e de relevante importância em todas as áreas do conhecimento, tinha como prática, naquele período em que vivia o filósofo, descartar crianças recém-nascidas, quando estas apresentavam alguma alteração morfológica visível capaz de inabilitá-las, no futuro, em seu preparo para a guerra; ou, quando maiores, alguma outra limitação fosse percebida, julgava-se correto impedir que essas pessoas permanecessem vivas, afinal seriam pessoas improdutivas. Um exemplo disso seria a ausência da fala.
As relações se construíam e as hierarquias sociais se estabeleciam pela capacidade que alguns indivíduos tinham em expor os conhecimentos adquiridos para os demais membros da sociedade por meio da oralização.
Nesse sentido, não podemos imaginar a retórica sem considerar uma das principais características humanas a qual atribuímos, inclusive, ser a que nos diferencia das demais espécies: a fala. E por que algumas pessoas não falam? A resposta é simples: porque não ouvem.
Contudo, se pensarmos que o homem não fala porque não ouve, podemos também pensar que esse é um homem incompleto? Impossibilitado de viver uma vida plena? Qual é o seu lugar na sociedade de falantes e ouvintes? São seres humanos incapacitados, deficientes ou mesmo inferiores
?
Na sociedade ocidental contemporânea, somos obrigados a cumprir etapas como membros pertencentes a algumas instituições, sejam elas estatais ou particulares.
E creio ser a Escola, dentre todas as instituições, a que representa a única onde todas as pessoas em qualquer tempo de suas vidas estarão vinculadas. Instituição esta à qual se atribui ensinar a ler, escrever e, consequentemente, a falar, falar bem.
A escola, com o seu compromisso social, mediadora das relações de conduta e pretensa socializadora de conhecimentos, os quais somos obrigados a aprender, relaciona-se com este homem a quem a natureza não lhe facultou a audição?
Esses questionamentos foram o mote deste livro, que tem como pesquisa as Artes Cênicas (dramatização) aplicadas por meio de jogos teatrais e atividades corporais cênicas, na formação educacional de alunos surdos, estudantes do quinto ano do ensino fundamental.
A proposta da pesquisa foi motivada por um processo pessoal, na relação do objeto a ser estudado com minha experiência de vida.
Quando meu filho Gustavo completou oito meses de idade, foi acometido de uma grave infecção na bexiga e houve a necessidade de internação hospitalar.
No acompanhamento diário vivido nesse período, vi-me diante de uma nova situação, pois observava em meu filho a ausência das reações corporais a estímulos sonoros, aos quais ele não respondia, ou seja, ele não apresentava reações compatíveis quando da existência de sons, como o toque de campainhas, ou mesmo quando um objeto metálico caía no chão, o que é facilmente perceptível em crianças ouvintes nessa fase, que, ao ouvirem um determinado som, logo procuram localizar a fonte sonora movimentando a cabeça.
Assim, após exames complementares por mim solicitados, a equipe médica que o atendia decidiu realizar um procedimento (o mais indicado para crianças naquela faixa etária), chamado de BERA¹, que significa Audiometria de Tronco Cerebral. Este exame também é conhecido como PEATE (Potenciais Evocados Auditivos de Tronco Cerebral).
Neste procedimento, o paciente não precisa esboçar nenhuma reação ao som, pois eletrodos colocados em sua cabeça transferem para um programa de computador a resposta que o cérebro dá a cada estímulo sonoro. Descobriu-se, então, que ele nascera com surdez profunda bilateral.
A notícia, dada